“Não deixe a conta fechar”, diz a hashtag que chefs e donos de bares e restaurantes têm publicado em suas redes sociais desde a noite de ontem, em protesto contra as novas restrições impostas pelo Plano SP que, segundo anunciou o governador João Dória, coloca todas as regiões do Estado de volta à fase vermelha, de segunda a sexta-feira, das 20h às 6h, e durante todo o dia nos finais de semana e feriados. Ou seja, para se manter dentro das novas regras, os estabelecimentos teriam que fechar suas portas às 20h durante a semana, além de não abrir aos sábados, domingos e feriados.
Paralelamente ao protesto virtual, houve também manifestação pacífica com pouco mais de 50 pessoas em frente ao Palácio dos Bandeirantes na manhã desta sexta-feira (22). "Nossa mesa não tem covid", diziam alguns dos cartazes do protesto. Para dia 27, próxima quarta-feira, eles organizam um segundo encontro, dessa vez na esquina das avenidas Morumbi e Giovanni Gronchi, às 15h.
Entre os chefs, funcionários e empresários do setor que compareceram à manifestação, estavam a chef Janaina Rueda, do Bar da Dona Onça e d’ACasa do Porco, o bartender Jean Ponce, do Guarita bar, e Júlia Fraga, proprietária dos bares Ambar e Tank Brewpub. “O setor de bares e restaurantes está sendo visto como o propagador da covid-19 e pagando a conta pela irresponsabilidade de outros", afirma Julia.
As medidas são a resposta do governo estadual ao aumento de casos, mortes e internações por coronavírus em São Paulo. A fase vermelha, de alerta máximo no plano de combate à pandemia, permite apenas a realização de atividades consideradas essenciais. As novas regras começam a valer na próxima segunda-feira, 25, e vão a princípio até o próximo dia 7 de fevereiro.
Por outro lado, chefs e restaurateurs alegam que estão respeitando as medidas de prevenção - que incluem o uso de máscaras, álcool em gel, distanciamento entre as mesas - e que os grandes culpados pelos aumentos das taxas são, em sua grande maioria, as festas clandestinas, viagens e aglomerações sem responsabilidade.
"Enquanto os ambientes controlados são fechados, as baladas clandestinas continuam abertas. Os casos não estão nos restaurantes, fechá-los vai tirar a única opção de entretenimento que existe atualmente, então as pessoas só poderão recorrer às festas clandestinas e encontros privados, o que só vai agravar os casos", analisa o chef Tuca Mezzomo, do restaurante Charco.
"O segundo pico não aconteceu por acidente. Aconteceu porque manadas de pessoas se reuniram em carnavais fora de época. A sua cerveja ou o seu jantar num restaurante não causaram nada. Do contrário, esse pico teria acontecido logo após a reabertura do comércio em agosto, não agora, seis meses depois”, afirma Janaina Rueda.
“Não contribuímos para a progressão da pandemia. Qualquer cidadão que frequenta restaurantes e bares que cumprem os protocolos sabe disso. Aponta-se sempre um ou outro bar que não cumpre o protocolo para justificar a punição de todos”, afirma Percival Maricato, presidente do conselho estadual da Abrasel. Segundo levantamento da associação, com as novas regras, outros 20 mil empregos podem ser perdidos no setor. Desde o começo da pandemia, 12 mil estabelecimentos fecharam as portas.
Exatamente o que relata o bartender Para Jean Ponce "Não temos mais fôlego financeiro. Vou ter que fechar o bar provisoriamente, por tempo inderteminado. Lutamos tanto para não demitir nenhum funcionário, mas não conseguimos segurar mais".
Para Julia Fraga, "se fechar o comércio, os governos precisarão dar suporte, auxílio, isenções, tanto às empresas, quanto aos funcionários. Não podem nos proibir de trabalhar, de exercer o que nos é de direito e mandarem a conta depois, é imoral".
Os chefs argumentam que há falta de fiscalização, e que aqueles que seguem todos os protocolos são prejudicados pelo restante, além da falta de diálogo com o setor. "Se a população não está sensível ao problema, a solução é fiscalizar. E fiscalizar, vale sempre ressaltar, não é apontar o dedo pro amiguinho por mais que seja tentador. É política de estado, pensada para ter eficácia e não para gerar engajamento nas redes", diz Janaina. "O restaurante, o bar, não são o problema. A fiscalização sim. As aglomerações vão continuar e não podemos pagar a conta de quem faz as coisas erradas. Não temos mais recurso" apoia Ponce. "Sobreviver é o novo sucesso no nosso setor".