Comer sem temer: restaurantes reabriram; é possível se sentir seguro neles?


'Paladar' visitou bares e restaurantes que reabriram o salão logo na primeira semana da fase amarela do Plano São Paulo; veja como foi a experiência

Por Danielle Nagase e Renata Mesquita

“Hoje é o primeiro dia e está bem estranho”, emendou o garçom do Barbacoa ao informar que o famoso (e caprichado) bufê de saladas da churrascaria – em que o cliente se servia à vontade de folhas, palmito, queijos, carpaccio de polvo, salmão defumado – está desativado até segunda ordem. Algumas das opções que costumavam figurar na bancada saem, a pedido, diretamente da cozinha, como o mix de folhas com palmito picadinho, mas não têm o mesmo brilho. “Os clientes entendem que é por conta da pandemia.” As carnes seguem circulando pelo salão – picanha, fraldinha, assado de tira, carré de cordeiro. Nem tudo foi perdido.

Salão do Charco, casa do chef Tuca Mezzomo. Foto: Felipe Rau/Estadão

Na segunda-feira (6), primeiro dia de reabertura para restaurantes e bares da capital paulista, o salão do Barbacoa estava com 100% de sua nova capacidade (dos 250 lugares de outrora, restam agora 100) preenchida no horário do almoço. Mesas espaçadas, totem de álcool em gel na entrada, equipe mascarada e equipada com viseira de acrílico. Logo que se entra: “Posso medir sua temperatura?”. Não é obrigatório?, rebatemos. “Sim, é. Perguntamos antes para não haver confusão”, relata a hostess. E quem não aceita medir? “Daí não entra.”

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Até que sejam encaminhados até a mesa, todos parecem seguir as regras à risca – a máscara só deve ser retirada enquanto o cliente está sentado. Na saída, porém, a coisa parece mudar de figura: na euforia de um almoço fora de casa que há tempos não se concretizava, alguns caminham até a porta sem máscara, transitando entre as mesas enquanto acabam de colocar o papo em dia. O Barbacoa afirma que a equipe está alerta e instruída a orientar o cliente quando necessário, oferecendo, inclusive, máscaras descartáveis para que ele circule sempre com a devida proteção.

Tira e põe a máscara

Uma vez sentado, onde acomodar a máscara de maneira segura? Na mesa? Jamais. No colo, sob o risco de derrubá-la ao se levantar? Dentro da bolsa, juntamente com outros objetos potencialmente contaminados? No Astor, tradicional bar da Vila Madalena, o garçom entrega gentilmente um saquinho de papel pardo para que você guarde seu novo item de vestimenta obrigatório. O cardápio, reduzido, pode ser consultado no seu próprio smartphone, via QR Code. As mesas, seguindo o protocolo firmado pela Prefeitura de São Paulo, acomodam grupos de até seis pessoas, no máximo. “A gente pode dividir a sobremesa?”, pergunta uma cliente assim que a mousse de chocolate, bem generosa, foi servida. “Não é o ideal, mas isso é com vocês”, recebeu em resposta. “Traz cinco colheres, então.”

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Consulado da Bahia ocupou mesas com namoradeiras para reforças distanciamento. Foto: Alex Silva/Estadão

Enquanto isso, nós, a dois metros de distância, na mesa ao lado, ainda estávamos na metade das calderetas de chope, quando o garçom colocou a conta sobre a mesa. Faltavam alguns minutos para o relógio marcar 17h: era hora de fechar as portas.

Atrás do Astor, outras casas da Cia. Tradicional de Comércio retomaram o serviço no salão nesta semana: Pirajá (Al. Santos e Faria Lima) e Pirajá Prainha, Lanchonete da Cidade (Pinheiros, Jardins e Moema), Bráz Elettrica (Pinheiros e Augusta), Ici Brasserie e Bráz Trattoria. “Estamos nos adequando desde o final de abril para a reabertura gradativa das casas, segundo um cronograma”, conta Vinícius Casella Abramides, diretor-geral do grupo. As pizzarias Bráz e Quintal do Bráz não devem abrir tão cedo. “Com a limitação do horário, ficou inviável.” Pelo mesmo motivo, por ora, o bar Original só abre de sexta a domingo.

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A redução do horário para seis horas diárias, restrito até as 17h, como estabelece o protocolo, aliás, é motivo de descontentamento entre chefs e donos de restaurantes. Pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), no início desta semana, mostra que o limite de funcionamento fez com que 59% dos estabelecimentos continuassem fechados. Entre os bares, o índice chega a 80%.

Restaurantes rearanjam salão para se adequar às normas do Plano São Paulo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Entre os que optaram abrir as portas esta semana, alguns tiveram que se adaptar para adotar o novo horário de funcionamento. Estabelecimentos que operavam apenas no jantar, com cardápios mais elaborados, viram-se obrigados a repensar seu modelo. No Ema, da chef Renata Vanzetto, o menu-degustação deu lugar a pedidas com mais cara de almoço.

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No Charco, a história se repete. Comandada pelo casal de gaúchos Tuca Mezzomo e Nathalia Gonçalves, a casa reabriu as portas na quinta-feira (9). No contato por telefone, a equipe informa as condições para receber os clientes, “somente com reserva”, além de passar todo um script de boas práticas enquanto o cliente estiver no restaurante. A atendente também solicita um e-mail de contato para que o cliente seja informado sobre qualquer “episódio” na casa. Clientes, por sua vez, são orientados a utilizar o mesmo canal para avisar ao restaurante acaso algum caso de covid-19 seja confirmado no seu entorno após a visita. “Pedimos que nos informe o quanto antes.”

Já sentadas, o garçom, com luvas descartáveis, entrega os cardápios plastificados, monta a mesa, até então “em branco”, com talheres de prata, guardanapos de papel e taças. “Aceitam o couvert? Temos pão da casa fresquinho (extremamente cheiroso) com manteiga fermentada.” Seguido de: “Querem recomendações? Nosso purê de milho tostado com cebolas assadas é imperdível”.

Nova disposição do salão do Ici Bistrô, com distanciamento entre as mesas. Foto: Renato Ades
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Na terça (7), o Sushi Lika, na Liberdade, estava com peixes, ovas e frutos do mar porcionados e prontos para compor sushis, sashimis e tirashis. Foram poucos os saudosos que encararam sair de casa para comer as iguarias japonesas cruas. Quem se aventurou por ali teve temperatura tirada na porta e acesso ao menu via QR Code. Enquanto em restaurantes os saleiros foram substituídos por versões individuais em sachês, no Lika o shoyu não fica mais ao alcance do cliente. É a própria garçonete quem faz a reposição. “Shoyu nacional ou japonês?”, pergunta.

“Vim no último dia [antes da quarentena] e voltei no primeiro”, contou uma cliente enquanto ocupava um dos poucos lugares que agora restam em frente ao sushiman. Intercaladas, algumas banquetas estão sinalizadas com o aviso “não usar”, escrito à mão, num papel sulfite improvisado. Já no Consulado da Bahia, a solução, mais simpática, foi colocar namoradeiras nas mesas onde não é permitido se sentar.

Fechar ou se readpatar durante a quarentena

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A permissão para reabertura do setor trouxe à tona o anúncio do fechamento de casas renomadas. Estão nessa lista o francês Marcel, que neste ano completou 65 anos, o Clandestino, da chef Bel Coelho, e a padaria Deli Garage (que fechou o ponto na Medeiros de Albuquerque, mas segue com sua fábrica e delivery).

Mas há quem se adaptou para continuar. O Tappo, que em tempos normais comportava 28 pessoas bem juntinhas (considerado um charme até então) no seu estreito salão, precisou mudar de endereço. Seguir as normas de apenas 40% da capacidade e distanciamento de dois metros entre as mesas faria com que a reabertura fosse inviável no antigo endereço. Por isso, em breve, ele vai ocupar o andar de cima do Ici Bistrô, que também reabriu esta semana. A cozinha, agora, tem dupla nacionalidade: prepara tanto os pratos de bistrô como as massas do Tappo.

Afinal, é seguro frequentar restaurantes novamente? O ideal é continuar dentro de casa. Mas eles estão, sim, fazendo a sua parte. Dá medo? Dá. Mas foi gostoso reviver a experiência. Cabe aos que querem matar a saudade seguir e respeitar os protocolos, os funcionários e os demais clientes. 

“Hoje é o primeiro dia e está bem estranho”, emendou o garçom do Barbacoa ao informar que o famoso (e caprichado) bufê de saladas da churrascaria – em que o cliente se servia à vontade de folhas, palmito, queijos, carpaccio de polvo, salmão defumado – está desativado até segunda ordem. Algumas das opções que costumavam figurar na bancada saem, a pedido, diretamente da cozinha, como o mix de folhas com palmito picadinho, mas não têm o mesmo brilho. “Os clientes entendem que é por conta da pandemia.” As carnes seguem circulando pelo salão – picanha, fraldinha, assado de tira, carré de cordeiro. Nem tudo foi perdido.

Salão do Charco, casa do chef Tuca Mezzomo. Foto: Felipe Rau/Estadão

Na segunda-feira (6), primeiro dia de reabertura para restaurantes e bares da capital paulista, o salão do Barbacoa estava com 100% de sua nova capacidade (dos 250 lugares de outrora, restam agora 100) preenchida no horário do almoço. Mesas espaçadas, totem de álcool em gel na entrada, equipe mascarada e equipada com viseira de acrílico. Logo que se entra: “Posso medir sua temperatura?”. Não é obrigatório?, rebatemos. “Sim, é. Perguntamos antes para não haver confusão”, relata a hostess. E quem não aceita medir? “Daí não entra.”

Até que sejam encaminhados até a mesa, todos parecem seguir as regras à risca – a máscara só deve ser retirada enquanto o cliente está sentado. Na saída, porém, a coisa parece mudar de figura: na euforia de um almoço fora de casa que há tempos não se concretizava, alguns caminham até a porta sem máscara, transitando entre as mesas enquanto acabam de colocar o papo em dia. O Barbacoa afirma que a equipe está alerta e instruída a orientar o cliente quando necessário, oferecendo, inclusive, máscaras descartáveis para que ele circule sempre com a devida proteção.

Tira e põe a máscara

Uma vez sentado, onde acomodar a máscara de maneira segura? Na mesa? Jamais. No colo, sob o risco de derrubá-la ao se levantar? Dentro da bolsa, juntamente com outros objetos potencialmente contaminados? No Astor, tradicional bar da Vila Madalena, o garçom entrega gentilmente um saquinho de papel pardo para que você guarde seu novo item de vestimenta obrigatório. O cardápio, reduzido, pode ser consultado no seu próprio smartphone, via QR Code. As mesas, seguindo o protocolo firmado pela Prefeitura de São Paulo, acomodam grupos de até seis pessoas, no máximo. “A gente pode dividir a sobremesa?”, pergunta uma cliente assim que a mousse de chocolate, bem generosa, foi servida. “Não é o ideal, mas isso é com vocês”, recebeu em resposta. “Traz cinco colheres, então.”

Consulado da Bahia ocupou mesas com namoradeiras para reforças distanciamento. Foto: Alex Silva/Estadão

Enquanto isso, nós, a dois metros de distância, na mesa ao lado, ainda estávamos na metade das calderetas de chope, quando o garçom colocou a conta sobre a mesa. Faltavam alguns minutos para o relógio marcar 17h: era hora de fechar as portas.

Atrás do Astor, outras casas da Cia. Tradicional de Comércio retomaram o serviço no salão nesta semana: Pirajá (Al. Santos e Faria Lima) e Pirajá Prainha, Lanchonete da Cidade (Pinheiros, Jardins e Moema), Bráz Elettrica (Pinheiros e Augusta), Ici Brasserie e Bráz Trattoria. “Estamos nos adequando desde o final de abril para a reabertura gradativa das casas, segundo um cronograma”, conta Vinícius Casella Abramides, diretor-geral do grupo. As pizzarias Bráz e Quintal do Bráz não devem abrir tão cedo. “Com a limitação do horário, ficou inviável.” Pelo mesmo motivo, por ora, o bar Original só abre de sexta a domingo.

A redução do horário para seis horas diárias, restrito até as 17h, como estabelece o protocolo, aliás, é motivo de descontentamento entre chefs e donos de restaurantes. Pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), no início desta semana, mostra que o limite de funcionamento fez com que 59% dos estabelecimentos continuassem fechados. Entre os bares, o índice chega a 80%.

Restaurantes rearanjam salão para se adequar às normas do Plano São Paulo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Entre os que optaram abrir as portas esta semana, alguns tiveram que se adaptar para adotar o novo horário de funcionamento. Estabelecimentos que operavam apenas no jantar, com cardápios mais elaborados, viram-se obrigados a repensar seu modelo. No Ema, da chef Renata Vanzetto, o menu-degustação deu lugar a pedidas com mais cara de almoço.

No Charco, a história se repete. Comandada pelo casal de gaúchos Tuca Mezzomo e Nathalia Gonçalves, a casa reabriu as portas na quinta-feira (9). No contato por telefone, a equipe informa as condições para receber os clientes, “somente com reserva”, além de passar todo um script de boas práticas enquanto o cliente estiver no restaurante. A atendente também solicita um e-mail de contato para que o cliente seja informado sobre qualquer “episódio” na casa. Clientes, por sua vez, são orientados a utilizar o mesmo canal para avisar ao restaurante acaso algum caso de covid-19 seja confirmado no seu entorno após a visita. “Pedimos que nos informe o quanto antes.”

Já sentadas, o garçom, com luvas descartáveis, entrega os cardápios plastificados, monta a mesa, até então “em branco”, com talheres de prata, guardanapos de papel e taças. “Aceitam o couvert? Temos pão da casa fresquinho (extremamente cheiroso) com manteiga fermentada.” Seguido de: “Querem recomendações? Nosso purê de milho tostado com cebolas assadas é imperdível”.

Nova disposição do salão do Ici Bistrô, com distanciamento entre as mesas. Foto: Renato Ades

Na terça (7), o Sushi Lika, na Liberdade, estava com peixes, ovas e frutos do mar porcionados e prontos para compor sushis, sashimis e tirashis. Foram poucos os saudosos que encararam sair de casa para comer as iguarias japonesas cruas. Quem se aventurou por ali teve temperatura tirada na porta e acesso ao menu via QR Code. Enquanto em restaurantes os saleiros foram substituídos por versões individuais em sachês, no Lika o shoyu não fica mais ao alcance do cliente. É a própria garçonete quem faz a reposição. “Shoyu nacional ou japonês?”, pergunta.

“Vim no último dia [antes da quarentena] e voltei no primeiro”, contou uma cliente enquanto ocupava um dos poucos lugares que agora restam em frente ao sushiman. Intercaladas, algumas banquetas estão sinalizadas com o aviso “não usar”, escrito à mão, num papel sulfite improvisado. Já no Consulado da Bahia, a solução, mais simpática, foi colocar namoradeiras nas mesas onde não é permitido se sentar.

Fechar ou se readpatar durante a quarentena

A permissão para reabertura do setor trouxe à tona o anúncio do fechamento de casas renomadas. Estão nessa lista o francês Marcel, que neste ano completou 65 anos, o Clandestino, da chef Bel Coelho, e a padaria Deli Garage (que fechou o ponto na Medeiros de Albuquerque, mas segue com sua fábrica e delivery).

Mas há quem se adaptou para continuar. O Tappo, que em tempos normais comportava 28 pessoas bem juntinhas (considerado um charme até então) no seu estreito salão, precisou mudar de endereço. Seguir as normas de apenas 40% da capacidade e distanciamento de dois metros entre as mesas faria com que a reabertura fosse inviável no antigo endereço. Por isso, em breve, ele vai ocupar o andar de cima do Ici Bistrô, que também reabriu esta semana. A cozinha, agora, tem dupla nacionalidade: prepara tanto os pratos de bistrô como as massas do Tappo.

Afinal, é seguro frequentar restaurantes novamente? O ideal é continuar dentro de casa. Mas eles estão, sim, fazendo a sua parte. Dá medo? Dá. Mas foi gostoso reviver a experiência. Cabe aos que querem matar a saudade seguir e respeitar os protocolos, os funcionários e os demais clientes. 

“Hoje é o primeiro dia e está bem estranho”, emendou o garçom do Barbacoa ao informar que o famoso (e caprichado) bufê de saladas da churrascaria – em que o cliente se servia à vontade de folhas, palmito, queijos, carpaccio de polvo, salmão defumado – está desativado até segunda ordem. Algumas das opções que costumavam figurar na bancada saem, a pedido, diretamente da cozinha, como o mix de folhas com palmito picadinho, mas não têm o mesmo brilho. “Os clientes entendem que é por conta da pandemia.” As carnes seguem circulando pelo salão – picanha, fraldinha, assado de tira, carré de cordeiro. Nem tudo foi perdido.

Salão do Charco, casa do chef Tuca Mezzomo. Foto: Felipe Rau/Estadão

Na segunda-feira (6), primeiro dia de reabertura para restaurantes e bares da capital paulista, o salão do Barbacoa estava com 100% de sua nova capacidade (dos 250 lugares de outrora, restam agora 100) preenchida no horário do almoço. Mesas espaçadas, totem de álcool em gel na entrada, equipe mascarada e equipada com viseira de acrílico. Logo que se entra: “Posso medir sua temperatura?”. Não é obrigatório?, rebatemos. “Sim, é. Perguntamos antes para não haver confusão”, relata a hostess. E quem não aceita medir? “Daí não entra.”

Até que sejam encaminhados até a mesa, todos parecem seguir as regras à risca – a máscara só deve ser retirada enquanto o cliente está sentado. Na saída, porém, a coisa parece mudar de figura: na euforia de um almoço fora de casa que há tempos não se concretizava, alguns caminham até a porta sem máscara, transitando entre as mesas enquanto acabam de colocar o papo em dia. O Barbacoa afirma que a equipe está alerta e instruída a orientar o cliente quando necessário, oferecendo, inclusive, máscaras descartáveis para que ele circule sempre com a devida proteção.

Tira e põe a máscara

Uma vez sentado, onde acomodar a máscara de maneira segura? Na mesa? Jamais. No colo, sob o risco de derrubá-la ao se levantar? Dentro da bolsa, juntamente com outros objetos potencialmente contaminados? No Astor, tradicional bar da Vila Madalena, o garçom entrega gentilmente um saquinho de papel pardo para que você guarde seu novo item de vestimenta obrigatório. O cardápio, reduzido, pode ser consultado no seu próprio smartphone, via QR Code. As mesas, seguindo o protocolo firmado pela Prefeitura de São Paulo, acomodam grupos de até seis pessoas, no máximo. “A gente pode dividir a sobremesa?”, pergunta uma cliente assim que a mousse de chocolate, bem generosa, foi servida. “Não é o ideal, mas isso é com vocês”, recebeu em resposta. “Traz cinco colheres, então.”

Consulado da Bahia ocupou mesas com namoradeiras para reforças distanciamento. Foto: Alex Silva/Estadão

Enquanto isso, nós, a dois metros de distância, na mesa ao lado, ainda estávamos na metade das calderetas de chope, quando o garçom colocou a conta sobre a mesa. Faltavam alguns minutos para o relógio marcar 17h: era hora de fechar as portas.

Atrás do Astor, outras casas da Cia. Tradicional de Comércio retomaram o serviço no salão nesta semana: Pirajá (Al. Santos e Faria Lima) e Pirajá Prainha, Lanchonete da Cidade (Pinheiros, Jardins e Moema), Bráz Elettrica (Pinheiros e Augusta), Ici Brasserie e Bráz Trattoria. “Estamos nos adequando desde o final de abril para a reabertura gradativa das casas, segundo um cronograma”, conta Vinícius Casella Abramides, diretor-geral do grupo. As pizzarias Bráz e Quintal do Bráz não devem abrir tão cedo. “Com a limitação do horário, ficou inviável.” Pelo mesmo motivo, por ora, o bar Original só abre de sexta a domingo.

A redução do horário para seis horas diárias, restrito até as 17h, como estabelece o protocolo, aliás, é motivo de descontentamento entre chefs e donos de restaurantes. Pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), no início desta semana, mostra que o limite de funcionamento fez com que 59% dos estabelecimentos continuassem fechados. Entre os bares, o índice chega a 80%.

Restaurantes rearanjam salão para se adequar às normas do Plano São Paulo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Entre os que optaram abrir as portas esta semana, alguns tiveram que se adaptar para adotar o novo horário de funcionamento. Estabelecimentos que operavam apenas no jantar, com cardápios mais elaborados, viram-se obrigados a repensar seu modelo. No Ema, da chef Renata Vanzetto, o menu-degustação deu lugar a pedidas com mais cara de almoço.

No Charco, a história se repete. Comandada pelo casal de gaúchos Tuca Mezzomo e Nathalia Gonçalves, a casa reabriu as portas na quinta-feira (9). No contato por telefone, a equipe informa as condições para receber os clientes, “somente com reserva”, além de passar todo um script de boas práticas enquanto o cliente estiver no restaurante. A atendente também solicita um e-mail de contato para que o cliente seja informado sobre qualquer “episódio” na casa. Clientes, por sua vez, são orientados a utilizar o mesmo canal para avisar ao restaurante acaso algum caso de covid-19 seja confirmado no seu entorno após a visita. “Pedimos que nos informe o quanto antes.”

Já sentadas, o garçom, com luvas descartáveis, entrega os cardápios plastificados, monta a mesa, até então “em branco”, com talheres de prata, guardanapos de papel e taças. “Aceitam o couvert? Temos pão da casa fresquinho (extremamente cheiroso) com manteiga fermentada.” Seguido de: “Querem recomendações? Nosso purê de milho tostado com cebolas assadas é imperdível”.

Nova disposição do salão do Ici Bistrô, com distanciamento entre as mesas. Foto: Renato Ades

Na terça (7), o Sushi Lika, na Liberdade, estava com peixes, ovas e frutos do mar porcionados e prontos para compor sushis, sashimis e tirashis. Foram poucos os saudosos que encararam sair de casa para comer as iguarias japonesas cruas. Quem se aventurou por ali teve temperatura tirada na porta e acesso ao menu via QR Code. Enquanto em restaurantes os saleiros foram substituídos por versões individuais em sachês, no Lika o shoyu não fica mais ao alcance do cliente. É a própria garçonete quem faz a reposição. “Shoyu nacional ou japonês?”, pergunta.

“Vim no último dia [antes da quarentena] e voltei no primeiro”, contou uma cliente enquanto ocupava um dos poucos lugares que agora restam em frente ao sushiman. Intercaladas, algumas banquetas estão sinalizadas com o aviso “não usar”, escrito à mão, num papel sulfite improvisado. Já no Consulado da Bahia, a solução, mais simpática, foi colocar namoradeiras nas mesas onde não é permitido se sentar.

Fechar ou se readpatar durante a quarentena

A permissão para reabertura do setor trouxe à tona o anúncio do fechamento de casas renomadas. Estão nessa lista o francês Marcel, que neste ano completou 65 anos, o Clandestino, da chef Bel Coelho, e a padaria Deli Garage (que fechou o ponto na Medeiros de Albuquerque, mas segue com sua fábrica e delivery).

Mas há quem se adaptou para continuar. O Tappo, que em tempos normais comportava 28 pessoas bem juntinhas (considerado um charme até então) no seu estreito salão, precisou mudar de endereço. Seguir as normas de apenas 40% da capacidade e distanciamento de dois metros entre as mesas faria com que a reabertura fosse inviável no antigo endereço. Por isso, em breve, ele vai ocupar o andar de cima do Ici Bistrô, que também reabriu esta semana. A cozinha, agora, tem dupla nacionalidade: prepara tanto os pratos de bistrô como as massas do Tappo.

Afinal, é seguro frequentar restaurantes novamente? O ideal é continuar dentro de casa. Mas eles estão, sim, fazendo a sua parte. Dá medo? Dá. Mas foi gostoso reviver a experiência. Cabe aos que querem matar a saudade seguir e respeitar os protocolos, os funcionários e os demais clientes. 

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