Da Avenida Warnes a Plaza Itália, bem no meio de Palermo, a Rua Thames ultrapassa 30 quadras. Meia dúzia delas concentra La Carnicería, a parrilla asiática Niño Gordo, a casa especializada em choripán Chori, a taquería Juan Pedro Caballero e o bar de tapas Paquito.
Cinco restaurantes inovadores, abertos entre 2014 e 2021, somando mais de 16 mil clientes por mês e mais de 300 mil seguidores no Instagram. Os responsáveis? Germán Sitz, 34, e o colombiano Pedro Peña, 38.
A amizade vem de 2009, quando trabalharam juntos no extinto Tipula. Solidificou-se em 2014, quando convenceram uma tia de Germán a fazer um empréstimo para uma ideia tão hipster quanto ousada: o La Carnicería – literalmente, açougue.
Bem antes do sucesso, das premiações mundiais (atual 3° melhor restaurante da América Latina) e da estrela Michelin do Don Julio, a parrilla dos “chicos” provocava chefs e imprensa local, com apenas 11 mesas, carnes empratadas, incluindo sempre um corte defumado, e acompanhamentos criativos, distintos das casas tradicionais de Buenos Aires.
Naturalmente, tornou-se também um hotspot para turistas. “Foram meses para entenderem nossa proposta. De 70 pessoas que entravam, sessenta pediam uma parrillada para dois. Dez ficavam e o resto dizia que tinha vindo pela parrillada, levantava e saia”, relembra sorrindo Germán.
Reflexo do sucesso, hoje a Carni, para os íntimos, tem menção no Michelin sem mudar nada. Em parte pelo DNA argentino, em parte por ser da quarta geração de imigrantes judeus que fundou uma cooperativa de gado na província de La Pampa, Germán sempre recorreu à carne criada no pasto familiar.
A mesma carne protagoniza o sanduba mais sexy da Argentina, o katsu sando do Niño Gordo, espevitado irmão, igualmente contemplado pelo Michelin. O tenríssimo bife de chorizo “é de um animal especialmente criado para nos dar estas condições de alta maciez, que simula a textura do nosso pão fofinho. Para acompanhar, fazemos um molho tonkatsu com umeboshi e uma maionese japonesa temperada com wasabi e soja”, explica Sitz.
Por ora, contudo, a nobre matéria prima aparece apenas em sugestões no novo Los jardines de Las Barquin. Há coisa de dois meses, a dupla se juntou com outro amigo, Alejandro Féraud, do Alo’s, atual 37º melhor restaurante da América Latina.
No quintal do Fernández Blanco, museu especializado em arte hispano-americana e localizado nos arredores da Recoleta, abriram um café. Diferente do salão fervido do Niño, o jardim é onde os próprios chefs levam os filhos – os dois de Germán, os quatro de Ale e as duas whippets de Pedro. É também onde revalorizam os cereais, “os verdadeiros motores da cultura alimentar argentina”, segundo eles.
Vai daí que das 10 da manhã às 6 da tarde, o trio aposta em granola com iogurte, coco, mel e hortelã ($ 4100, aproximadamente R$ 25), empanadas de centeio com cogumelos, agrião, ricota fumada, trigo sarraceno e cebola ($ 5400, cerca de R$ 33 a porção), porco empanado com sementes e servido com abobrinha, abacate e aspargos ($ 13.200 ou uns R$ 80) e risoto de cevada com espinafre, fava, ervilha, praline de sementes de girassol e queijo ($ 10.700 ou cerca de R$ 65).
Nada que impeça escolhas como as tostadas de pão artesanal de longa fermentação com hummus de feijão ou shakshuka, nem os croissants e medialunas que Ale prepara em Boulogne, cidade vizinha a Buenos Aires. Para acompanhar as gulodices e os dias de sol no belo quintal, há diferentes cafés, infusões e uma carta enxuta e divertida de vinhos.
Los Jardines de Las Barquin
Museo Fernández Blanco - Suipacha, 1424, Retiro. Qua. a seg., das 10h às 18h.