Des Cucina atira em várias direções, acerta alguns alvos e erra outros


No novo restaurante em Perdizes, a cozinha tem sotaque italiano, mas também há ceviche (e certo exagero no azeite trufado)

Por José Orenstein

A primeira sensação ao entrar no Des Cucina é que estou em algum restaurante novo da moda no Itaim Bibi ou nos Jardins. Mas estou mesmo em Perdizes, venci ladeiras imensas da preguiça para chegar lá a pé.

O salão, pequeno, está cheio de gente e garçons; é do tipo caloroso, agradável. Apurando um pouco o olhar, noto que fui lançado para dentro de uma revista de decoração: tem viga aparente e lâmpada de filamento incandescente, mas tem também forro de gesso e parede texturizada. No piso, tem ladrilho hidráulico, mas também porcelanato que imita madeira. Tem parede de lousa desenhada com giz, mas também mesas com toalha de algodão branco e belos pratos de cerâmica do Studio Neves.

Para resumir: o estilo é medley, para se garantir no campo moderninho e no clássico. E esse hibridismo aparece também na comida – é notável o sotaque italiano, há brasato al barolo e carbonara, mas há ainda ceviche. 

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Pot-pourri. Casa tem clima variado e agradável Foto: Daniel Teixeira|Estadão

Chegamos então ao ponto. O Des Cucina atira em várias direções – erra alguns alvos e acerta outros tantos (acerta mais do que erra). 

Primeiro os desencontros: para que tanto azeite trufado, Dio mio, pergunta meu estômago faminto, porém meus olhos e meu nariz não perguntam nada, porque já anestesiados pelo óleo oloroso. Ele está na polenta, como entrada ou acompanhamento de principal, e no nhoque sem aviso prévio no cardápio (suspeito que seja infiltrado ainda noutros pratos). Com a devida notação no menu, contamina ainda o carpaccio e o ravioloni de gema. Nada contra trufas, pobre de mim, mas o problema é que a conserva delas em azeite resulta em ingrediente-trator de qualquer sutileza.

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Polenta com funghi e azeite trufado. Foto: Daniel Teixeira|Estadão

Outro tiro incerto da cozinha é a combinação inusual de sabores nalguns pratos. Ora, algumas misturas são inusuais porque não dão certo: a potência de um molho apurado de tomate, como o dos agnolotti, passa por cima da suavidade do limão-siciliano; o frescor lácteo de uma pannacotta some com o doce artificial do chocolate branco.

Ainda assim, pode-se comer muito bem no Des Cucina. Para começar, as saladas são superfrescas e a berinjela à parmegiana com pancetta crocante é ótima. As massas de fabricação própria são um dos atrativos da casa. Os garçons garantem que elas são abertas na hora de pedido (o que talvez explique, mas não justifique, uma certa demora além da conta para que cheguem à mesa). As recheadas como a com mascarpone e pistache torrado por cima, com molho de manteiga e sálvia, ou a lasanha à bolonhesa são grandes acertos. E, no geral, o básico funciona: os pontos das massas, risotos, carnes e peixes são respeitados. O queijo mascarpone também é muito bem tratado no tiramisù e no semifreddo com pistache crocante da sobremesa. Os garçons são do tipo experientes e numerosos, o serviço é, portanto, eficiente. 

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Caseiro. Ravióli de mascarpone é dos pontos altos do Des Foto: Daniel Teixeira|Estadão

Ao fim, a sensação inicial de certa forma se confirma: o Des Cucina é um versão com preços um pouco menores, em Perdizes, e em menor escala, de casas de outros bairros que não fazem propriamente alta cucina (penso em lugares como o Italy, o Piselli, o Tre), mas uma cozinha italiana, na média, competentemente executada. 

CONTEXTO

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O restaurante é uma empreitada dos donos do Desembargador, bar vizinho dos sócios Orestes Duarte e Luis Mendes. Eles chamaram o chef Sergio França, que passou por Italy e Brasserie des Arts, para comandar a cozinha.

O MELHOR E O PIOR

PROVE

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A berinjela à parmegiana. Soa pesada, mas é leve: tem acidez controlada e um belo molho de tomates de verdade, apurado. O ravióli de mascarpone. Queijo cremoso no interior da massa, que casa bem com o pistache e a manteiga com sálvia do molho. O tiramisù. É apresentado como uma fatia de bolo, com mascarpone de qualidade, bem aerado, e doce comedido.EVITE

O agnolotti com burrata. O recheio do queijo perde a textura sedosa, e o molho de tomate não combina com o toque de limão. A pannacotta. Ela é linda, mas ordinária: leva chocolate branco, que deixa o doce demais, enjoativo e massudo.

A pannacotta. Ela é linda, mas ordinária: leva chocolate branco. que deixa o doce demais, enjoativo e massudo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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Estilo de cozinha: italiano, com massas recheadas feitas na casa e receitas clássicas de carne e peixe.Bom para: jantares mais caprichados durante a semana; almoços familiares no fim de semana. Acústica: o volume, especialmente no jantar, é controlado, mas ruídos do bar e da cozinha vazam para o salão. As mesas são bem próximas umas das outras, ouve-se a conversa vizinha sem esforço. 

Vinho: é bastante boa a oferta da carta, que passeia por produtores conhecidos. Preços vão de R$ 76 a R$ 320. São vendidos dois brancos e dois tintos em taça, a R$ 22 e R$ 24.Cerveja: não é o forte da casa, que oferece somente Stella (R$ 8), Cerpa (R$ 11), ambas em long neck, e Colorado em garrafa (R$ 19).

Água e café: garrafinhas plásticas de 310 ml de água custam R$ 4,50. Não desisto nunca: água filtrada da casa cairia bem! O expresso é da Lavazza (R$ 4,90).Preços: entradas (R$ 26 a R$ 39), pratos principais (R$ 42 a R$ 68) e sobremesas (R$ 12 a R$ 22).Vou voltar? É uma boa opção no bairro; sim.

SERVIÇO

DES CUCINA

Rua Desembargador do Vale, 233, Perdizes Tel.: 3872-0050 Horário de funcionamento: 18h30/0h (sex., até 0h30; sáb. e feriado, 12h/17h e 19h/ 0h30; dom., 12h/17h; fecha seg.). Valet: R$ 20. Não tem paraciclo.

A primeira sensação ao entrar no Des Cucina é que estou em algum restaurante novo da moda no Itaim Bibi ou nos Jardins. Mas estou mesmo em Perdizes, venci ladeiras imensas da preguiça para chegar lá a pé.

O salão, pequeno, está cheio de gente e garçons; é do tipo caloroso, agradável. Apurando um pouco o olhar, noto que fui lançado para dentro de uma revista de decoração: tem viga aparente e lâmpada de filamento incandescente, mas tem também forro de gesso e parede texturizada. No piso, tem ladrilho hidráulico, mas também porcelanato que imita madeira. Tem parede de lousa desenhada com giz, mas também mesas com toalha de algodão branco e belos pratos de cerâmica do Studio Neves.

Para resumir: o estilo é medley, para se garantir no campo moderninho e no clássico. E esse hibridismo aparece também na comida – é notável o sotaque italiano, há brasato al barolo e carbonara, mas há ainda ceviche. 

Pot-pourri. Casa tem clima variado e agradável Foto: Daniel Teixeira|Estadão

Chegamos então ao ponto. O Des Cucina atira em várias direções – erra alguns alvos e acerta outros tantos (acerta mais do que erra). 

Primeiro os desencontros: para que tanto azeite trufado, Dio mio, pergunta meu estômago faminto, porém meus olhos e meu nariz não perguntam nada, porque já anestesiados pelo óleo oloroso. Ele está na polenta, como entrada ou acompanhamento de principal, e no nhoque sem aviso prévio no cardápio (suspeito que seja infiltrado ainda noutros pratos). Com a devida notação no menu, contamina ainda o carpaccio e o ravioloni de gema. Nada contra trufas, pobre de mim, mas o problema é que a conserva delas em azeite resulta em ingrediente-trator de qualquer sutileza.

Polenta com funghi e azeite trufado. Foto: Daniel Teixeira|Estadão

Outro tiro incerto da cozinha é a combinação inusual de sabores nalguns pratos. Ora, algumas misturas são inusuais porque não dão certo: a potência de um molho apurado de tomate, como o dos agnolotti, passa por cima da suavidade do limão-siciliano; o frescor lácteo de uma pannacotta some com o doce artificial do chocolate branco.

Ainda assim, pode-se comer muito bem no Des Cucina. Para começar, as saladas são superfrescas e a berinjela à parmegiana com pancetta crocante é ótima. As massas de fabricação própria são um dos atrativos da casa. Os garçons garantem que elas são abertas na hora de pedido (o que talvez explique, mas não justifique, uma certa demora além da conta para que cheguem à mesa). As recheadas como a com mascarpone e pistache torrado por cima, com molho de manteiga e sálvia, ou a lasanha à bolonhesa são grandes acertos. E, no geral, o básico funciona: os pontos das massas, risotos, carnes e peixes são respeitados. O queijo mascarpone também é muito bem tratado no tiramisù e no semifreddo com pistache crocante da sobremesa. Os garçons são do tipo experientes e numerosos, o serviço é, portanto, eficiente. 

Caseiro. Ravióli de mascarpone é dos pontos altos do Des Foto: Daniel Teixeira|Estadão

Ao fim, a sensação inicial de certa forma se confirma: o Des Cucina é um versão com preços um pouco menores, em Perdizes, e em menor escala, de casas de outros bairros que não fazem propriamente alta cucina (penso em lugares como o Italy, o Piselli, o Tre), mas uma cozinha italiana, na média, competentemente executada. 

CONTEXTO

O restaurante é uma empreitada dos donos do Desembargador, bar vizinho dos sócios Orestes Duarte e Luis Mendes. Eles chamaram o chef Sergio França, que passou por Italy e Brasserie des Arts, para comandar a cozinha.

O MELHOR E O PIOR

PROVE

A berinjela à parmegiana. Soa pesada, mas é leve: tem acidez controlada e um belo molho de tomates de verdade, apurado. O ravióli de mascarpone. Queijo cremoso no interior da massa, que casa bem com o pistache e a manteiga com sálvia do molho. O tiramisù. É apresentado como uma fatia de bolo, com mascarpone de qualidade, bem aerado, e doce comedido.EVITE

O agnolotti com burrata. O recheio do queijo perde a textura sedosa, e o molho de tomate não combina com o toque de limão. A pannacotta. Ela é linda, mas ordinária: leva chocolate branco, que deixa o doce demais, enjoativo e massudo.

A pannacotta. Ela é linda, mas ordinária: leva chocolate branco. que deixa o doce demais, enjoativo e massudo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Estilo de cozinha: italiano, com massas recheadas feitas na casa e receitas clássicas de carne e peixe.Bom para: jantares mais caprichados durante a semana; almoços familiares no fim de semana. Acústica: o volume, especialmente no jantar, é controlado, mas ruídos do bar e da cozinha vazam para o salão. As mesas são bem próximas umas das outras, ouve-se a conversa vizinha sem esforço. 

Vinho: é bastante boa a oferta da carta, que passeia por produtores conhecidos. Preços vão de R$ 76 a R$ 320. São vendidos dois brancos e dois tintos em taça, a R$ 22 e R$ 24.Cerveja: não é o forte da casa, que oferece somente Stella (R$ 8), Cerpa (R$ 11), ambas em long neck, e Colorado em garrafa (R$ 19).

Água e café: garrafinhas plásticas de 310 ml de água custam R$ 4,50. Não desisto nunca: água filtrada da casa cairia bem! O expresso é da Lavazza (R$ 4,90).Preços: entradas (R$ 26 a R$ 39), pratos principais (R$ 42 a R$ 68) e sobremesas (R$ 12 a R$ 22).Vou voltar? É uma boa opção no bairro; sim.

SERVIÇO

DES CUCINA

Rua Desembargador do Vale, 233, Perdizes Tel.: 3872-0050 Horário de funcionamento: 18h30/0h (sex., até 0h30; sáb. e feriado, 12h/17h e 19h/ 0h30; dom., 12h/17h; fecha seg.). Valet: R$ 20. Não tem paraciclo.

A primeira sensação ao entrar no Des Cucina é que estou em algum restaurante novo da moda no Itaim Bibi ou nos Jardins. Mas estou mesmo em Perdizes, venci ladeiras imensas da preguiça para chegar lá a pé.

O salão, pequeno, está cheio de gente e garçons; é do tipo caloroso, agradável. Apurando um pouco o olhar, noto que fui lançado para dentro de uma revista de decoração: tem viga aparente e lâmpada de filamento incandescente, mas tem também forro de gesso e parede texturizada. No piso, tem ladrilho hidráulico, mas também porcelanato que imita madeira. Tem parede de lousa desenhada com giz, mas também mesas com toalha de algodão branco e belos pratos de cerâmica do Studio Neves.

Para resumir: o estilo é medley, para se garantir no campo moderninho e no clássico. E esse hibridismo aparece também na comida – é notável o sotaque italiano, há brasato al barolo e carbonara, mas há ainda ceviche. 

Pot-pourri. Casa tem clima variado e agradável Foto: Daniel Teixeira|Estadão

Chegamos então ao ponto. O Des Cucina atira em várias direções – erra alguns alvos e acerta outros tantos (acerta mais do que erra). 

Primeiro os desencontros: para que tanto azeite trufado, Dio mio, pergunta meu estômago faminto, porém meus olhos e meu nariz não perguntam nada, porque já anestesiados pelo óleo oloroso. Ele está na polenta, como entrada ou acompanhamento de principal, e no nhoque sem aviso prévio no cardápio (suspeito que seja infiltrado ainda noutros pratos). Com a devida notação no menu, contamina ainda o carpaccio e o ravioloni de gema. Nada contra trufas, pobre de mim, mas o problema é que a conserva delas em azeite resulta em ingrediente-trator de qualquer sutileza.

Polenta com funghi e azeite trufado. Foto: Daniel Teixeira|Estadão

Outro tiro incerto da cozinha é a combinação inusual de sabores nalguns pratos. Ora, algumas misturas são inusuais porque não dão certo: a potência de um molho apurado de tomate, como o dos agnolotti, passa por cima da suavidade do limão-siciliano; o frescor lácteo de uma pannacotta some com o doce artificial do chocolate branco.

Ainda assim, pode-se comer muito bem no Des Cucina. Para começar, as saladas são superfrescas e a berinjela à parmegiana com pancetta crocante é ótima. As massas de fabricação própria são um dos atrativos da casa. Os garçons garantem que elas são abertas na hora de pedido (o que talvez explique, mas não justifique, uma certa demora além da conta para que cheguem à mesa). As recheadas como a com mascarpone e pistache torrado por cima, com molho de manteiga e sálvia, ou a lasanha à bolonhesa são grandes acertos. E, no geral, o básico funciona: os pontos das massas, risotos, carnes e peixes são respeitados. O queijo mascarpone também é muito bem tratado no tiramisù e no semifreddo com pistache crocante da sobremesa. Os garçons são do tipo experientes e numerosos, o serviço é, portanto, eficiente. 

Caseiro. Ravióli de mascarpone é dos pontos altos do Des Foto: Daniel Teixeira|Estadão

Ao fim, a sensação inicial de certa forma se confirma: o Des Cucina é um versão com preços um pouco menores, em Perdizes, e em menor escala, de casas de outros bairros que não fazem propriamente alta cucina (penso em lugares como o Italy, o Piselli, o Tre), mas uma cozinha italiana, na média, competentemente executada. 

CONTEXTO

O restaurante é uma empreitada dos donos do Desembargador, bar vizinho dos sócios Orestes Duarte e Luis Mendes. Eles chamaram o chef Sergio França, que passou por Italy e Brasserie des Arts, para comandar a cozinha.

O MELHOR E O PIOR

PROVE

A berinjela à parmegiana. Soa pesada, mas é leve: tem acidez controlada e um belo molho de tomates de verdade, apurado. O ravióli de mascarpone. Queijo cremoso no interior da massa, que casa bem com o pistache e a manteiga com sálvia do molho. O tiramisù. É apresentado como uma fatia de bolo, com mascarpone de qualidade, bem aerado, e doce comedido.EVITE

O agnolotti com burrata. O recheio do queijo perde a textura sedosa, e o molho de tomate não combina com o toque de limão. A pannacotta. Ela é linda, mas ordinária: leva chocolate branco, que deixa o doce demais, enjoativo e massudo.

A pannacotta. Ela é linda, mas ordinária: leva chocolate branco. que deixa o doce demais, enjoativo e massudo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Estilo de cozinha: italiano, com massas recheadas feitas na casa e receitas clássicas de carne e peixe.Bom para: jantares mais caprichados durante a semana; almoços familiares no fim de semana. Acústica: o volume, especialmente no jantar, é controlado, mas ruídos do bar e da cozinha vazam para o salão. As mesas são bem próximas umas das outras, ouve-se a conversa vizinha sem esforço. 

Vinho: é bastante boa a oferta da carta, que passeia por produtores conhecidos. Preços vão de R$ 76 a R$ 320. São vendidos dois brancos e dois tintos em taça, a R$ 22 e R$ 24.Cerveja: não é o forte da casa, que oferece somente Stella (R$ 8), Cerpa (R$ 11), ambas em long neck, e Colorado em garrafa (R$ 19).

Água e café: garrafinhas plásticas de 310 ml de água custam R$ 4,50. Não desisto nunca: água filtrada da casa cairia bem! O expresso é da Lavazza (R$ 4,90).Preços: entradas (R$ 26 a R$ 39), pratos principais (R$ 42 a R$ 68) e sobremesas (R$ 12 a R$ 22).Vou voltar? É uma boa opção no bairro; sim.

SERVIÇO

DES CUCINA

Rua Desembargador do Vale, 233, Perdizes Tel.: 3872-0050 Horário de funcionamento: 18h30/0h (sex., até 0h30; sáb. e feriado, 12h/17h e 19h/ 0h30; dom., 12h/17h; fecha seg.). Valet: R$ 20. Não tem paraciclo.

A primeira sensação ao entrar no Des Cucina é que estou em algum restaurante novo da moda no Itaim Bibi ou nos Jardins. Mas estou mesmo em Perdizes, venci ladeiras imensas da preguiça para chegar lá a pé.

O salão, pequeno, está cheio de gente e garçons; é do tipo caloroso, agradável. Apurando um pouco o olhar, noto que fui lançado para dentro de uma revista de decoração: tem viga aparente e lâmpada de filamento incandescente, mas tem também forro de gesso e parede texturizada. No piso, tem ladrilho hidráulico, mas também porcelanato que imita madeira. Tem parede de lousa desenhada com giz, mas também mesas com toalha de algodão branco e belos pratos de cerâmica do Studio Neves.

Para resumir: o estilo é medley, para se garantir no campo moderninho e no clássico. E esse hibridismo aparece também na comida – é notável o sotaque italiano, há brasato al barolo e carbonara, mas há ainda ceviche. 

Pot-pourri. Casa tem clima variado e agradável Foto: Daniel Teixeira|Estadão

Chegamos então ao ponto. O Des Cucina atira em várias direções – erra alguns alvos e acerta outros tantos (acerta mais do que erra). 

Primeiro os desencontros: para que tanto azeite trufado, Dio mio, pergunta meu estômago faminto, porém meus olhos e meu nariz não perguntam nada, porque já anestesiados pelo óleo oloroso. Ele está na polenta, como entrada ou acompanhamento de principal, e no nhoque sem aviso prévio no cardápio (suspeito que seja infiltrado ainda noutros pratos). Com a devida notação no menu, contamina ainda o carpaccio e o ravioloni de gema. Nada contra trufas, pobre de mim, mas o problema é que a conserva delas em azeite resulta em ingrediente-trator de qualquer sutileza.

Polenta com funghi e azeite trufado. Foto: Daniel Teixeira|Estadão

Outro tiro incerto da cozinha é a combinação inusual de sabores nalguns pratos. Ora, algumas misturas são inusuais porque não dão certo: a potência de um molho apurado de tomate, como o dos agnolotti, passa por cima da suavidade do limão-siciliano; o frescor lácteo de uma pannacotta some com o doce artificial do chocolate branco.

Ainda assim, pode-se comer muito bem no Des Cucina. Para começar, as saladas são superfrescas e a berinjela à parmegiana com pancetta crocante é ótima. As massas de fabricação própria são um dos atrativos da casa. Os garçons garantem que elas são abertas na hora de pedido (o que talvez explique, mas não justifique, uma certa demora além da conta para que cheguem à mesa). As recheadas como a com mascarpone e pistache torrado por cima, com molho de manteiga e sálvia, ou a lasanha à bolonhesa são grandes acertos. E, no geral, o básico funciona: os pontos das massas, risotos, carnes e peixes são respeitados. O queijo mascarpone também é muito bem tratado no tiramisù e no semifreddo com pistache crocante da sobremesa. Os garçons são do tipo experientes e numerosos, o serviço é, portanto, eficiente. 

Caseiro. Ravióli de mascarpone é dos pontos altos do Des Foto: Daniel Teixeira|Estadão

Ao fim, a sensação inicial de certa forma se confirma: o Des Cucina é um versão com preços um pouco menores, em Perdizes, e em menor escala, de casas de outros bairros que não fazem propriamente alta cucina (penso em lugares como o Italy, o Piselli, o Tre), mas uma cozinha italiana, na média, competentemente executada. 

CONTEXTO

O restaurante é uma empreitada dos donos do Desembargador, bar vizinho dos sócios Orestes Duarte e Luis Mendes. Eles chamaram o chef Sergio França, que passou por Italy e Brasserie des Arts, para comandar a cozinha.

O MELHOR E O PIOR

PROVE

A berinjela à parmegiana. Soa pesada, mas é leve: tem acidez controlada e um belo molho de tomates de verdade, apurado. O ravióli de mascarpone. Queijo cremoso no interior da massa, que casa bem com o pistache e a manteiga com sálvia do molho. O tiramisù. É apresentado como uma fatia de bolo, com mascarpone de qualidade, bem aerado, e doce comedido.EVITE

O agnolotti com burrata. O recheio do queijo perde a textura sedosa, e o molho de tomate não combina com o toque de limão. A pannacotta. Ela é linda, mas ordinária: leva chocolate branco, que deixa o doce demais, enjoativo e massudo.

A pannacotta. Ela é linda, mas ordinária: leva chocolate branco. que deixa o doce demais, enjoativo e massudo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Estilo de cozinha: italiano, com massas recheadas feitas na casa e receitas clássicas de carne e peixe.Bom para: jantares mais caprichados durante a semana; almoços familiares no fim de semana. Acústica: o volume, especialmente no jantar, é controlado, mas ruídos do bar e da cozinha vazam para o salão. As mesas são bem próximas umas das outras, ouve-se a conversa vizinha sem esforço. 

Vinho: é bastante boa a oferta da carta, que passeia por produtores conhecidos. Preços vão de R$ 76 a R$ 320. São vendidos dois brancos e dois tintos em taça, a R$ 22 e R$ 24.Cerveja: não é o forte da casa, que oferece somente Stella (R$ 8), Cerpa (R$ 11), ambas em long neck, e Colorado em garrafa (R$ 19).

Água e café: garrafinhas plásticas de 310 ml de água custam R$ 4,50. Não desisto nunca: água filtrada da casa cairia bem! O expresso é da Lavazza (R$ 4,90).Preços: entradas (R$ 26 a R$ 39), pratos principais (R$ 42 a R$ 68) e sobremesas (R$ 12 a R$ 22).Vou voltar? É uma boa opção no bairro; sim.

SERVIÇO

DES CUCINA

Rua Desembargador do Vale, 233, Perdizes Tel.: 3872-0050 Horário de funcionamento: 18h30/0h (sex., até 0h30; sáb. e feriado, 12h/17h e 19h/ 0h30; dom., 12h/17h; fecha seg.). Valet: R$ 20. Não tem paraciclo.

A primeira sensação ao entrar no Des Cucina é que estou em algum restaurante novo da moda no Itaim Bibi ou nos Jardins. Mas estou mesmo em Perdizes, venci ladeiras imensas da preguiça para chegar lá a pé.

O salão, pequeno, está cheio de gente e garçons; é do tipo caloroso, agradável. Apurando um pouco o olhar, noto que fui lançado para dentro de uma revista de decoração: tem viga aparente e lâmpada de filamento incandescente, mas tem também forro de gesso e parede texturizada. No piso, tem ladrilho hidráulico, mas também porcelanato que imita madeira. Tem parede de lousa desenhada com giz, mas também mesas com toalha de algodão branco e belos pratos de cerâmica do Studio Neves.

Para resumir: o estilo é medley, para se garantir no campo moderninho e no clássico. E esse hibridismo aparece também na comida – é notável o sotaque italiano, há brasato al barolo e carbonara, mas há ainda ceviche. 

Pot-pourri. Casa tem clima variado e agradável Foto: Daniel Teixeira|Estadão

Chegamos então ao ponto. O Des Cucina atira em várias direções – erra alguns alvos e acerta outros tantos (acerta mais do que erra). 

Primeiro os desencontros: para que tanto azeite trufado, Dio mio, pergunta meu estômago faminto, porém meus olhos e meu nariz não perguntam nada, porque já anestesiados pelo óleo oloroso. Ele está na polenta, como entrada ou acompanhamento de principal, e no nhoque sem aviso prévio no cardápio (suspeito que seja infiltrado ainda noutros pratos). Com a devida notação no menu, contamina ainda o carpaccio e o ravioloni de gema. Nada contra trufas, pobre de mim, mas o problema é que a conserva delas em azeite resulta em ingrediente-trator de qualquer sutileza.

Polenta com funghi e azeite trufado. Foto: Daniel Teixeira|Estadão

Outro tiro incerto da cozinha é a combinação inusual de sabores nalguns pratos. Ora, algumas misturas são inusuais porque não dão certo: a potência de um molho apurado de tomate, como o dos agnolotti, passa por cima da suavidade do limão-siciliano; o frescor lácteo de uma pannacotta some com o doce artificial do chocolate branco.

Ainda assim, pode-se comer muito bem no Des Cucina. Para começar, as saladas são superfrescas e a berinjela à parmegiana com pancetta crocante é ótima. As massas de fabricação própria são um dos atrativos da casa. Os garçons garantem que elas são abertas na hora de pedido (o que talvez explique, mas não justifique, uma certa demora além da conta para que cheguem à mesa). As recheadas como a com mascarpone e pistache torrado por cima, com molho de manteiga e sálvia, ou a lasanha à bolonhesa são grandes acertos. E, no geral, o básico funciona: os pontos das massas, risotos, carnes e peixes são respeitados. O queijo mascarpone também é muito bem tratado no tiramisù e no semifreddo com pistache crocante da sobremesa. Os garçons são do tipo experientes e numerosos, o serviço é, portanto, eficiente. 

Caseiro. Ravióli de mascarpone é dos pontos altos do Des Foto: Daniel Teixeira|Estadão

Ao fim, a sensação inicial de certa forma se confirma: o Des Cucina é um versão com preços um pouco menores, em Perdizes, e em menor escala, de casas de outros bairros que não fazem propriamente alta cucina (penso em lugares como o Italy, o Piselli, o Tre), mas uma cozinha italiana, na média, competentemente executada. 

CONTEXTO

O restaurante é uma empreitada dos donos do Desembargador, bar vizinho dos sócios Orestes Duarte e Luis Mendes. Eles chamaram o chef Sergio França, que passou por Italy e Brasserie des Arts, para comandar a cozinha.

O MELHOR E O PIOR

PROVE

A berinjela à parmegiana. Soa pesada, mas é leve: tem acidez controlada e um belo molho de tomates de verdade, apurado. O ravióli de mascarpone. Queijo cremoso no interior da massa, que casa bem com o pistache e a manteiga com sálvia do molho. O tiramisù. É apresentado como uma fatia de bolo, com mascarpone de qualidade, bem aerado, e doce comedido.EVITE

O agnolotti com burrata. O recheio do queijo perde a textura sedosa, e o molho de tomate não combina com o toque de limão. A pannacotta. Ela é linda, mas ordinária: leva chocolate branco, que deixa o doce demais, enjoativo e massudo.

A pannacotta. Ela é linda, mas ordinária: leva chocolate branco. que deixa o doce demais, enjoativo e massudo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Estilo de cozinha: italiano, com massas recheadas feitas na casa e receitas clássicas de carne e peixe.Bom para: jantares mais caprichados durante a semana; almoços familiares no fim de semana. Acústica: o volume, especialmente no jantar, é controlado, mas ruídos do bar e da cozinha vazam para o salão. As mesas são bem próximas umas das outras, ouve-se a conversa vizinha sem esforço. 

Vinho: é bastante boa a oferta da carta, que passeia por produtores conhecidos. Preços vão de R$ 76 a R$ 320. São vendidos dois brancos e dois tintos em taça, a R$ 22 e R$ 24.Cerveja: não é o forte da casa, que oferece somente Stella (R$ 8), Cerpa (R$ 11), ambas em long neck, e Colorado em garrafa (R$ 19).

Água e café: garrafinhas plásticas de 310 ml de água custam R$ 4,50. Não desisto nunca: água filtrada da casa cairia bem! O expresso é da Lavazza (R$ 4,90).Preços: entradas (R$ 26 a R$ 39), pratos principais (R$ 42 a R$ 68) e sobremesas (R$ 12 a R$ 22).Vou voltar? É uma boa opção no bairro; sim.

SERVIÇO

DES CUCINA

Rua Desembargador do Vale, 233, Perdizes Tel.: 3872-0050 Horário de funcionamento: 18h30/0h (sex., até 0h30; sáb. e feriado, 12h/17h e 19h/ 0h30; dom., 12h/17h; fecha seg.). Valet: R$ 20. Não tem paraciclo.

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