ANÁLISE
O Guia Michelin Rio e São Paulo 2017 traz poucas emoções. A publicação, que chega às livrarias na próxima semana e foi lançada numa belíssima festa na noite da última segunda-feira (8) no Hotel Unique, em São Paulo, repete algumas das classificações que causaram espanto na edição do ano passado e no anterior. Direto ao ponto: mais uma vez, o Michelin iguala casas bastante distintas e separa restaurantes que deveriam estar na mesma faixa.
Rankings, premiações e avaliações são sempre polêmicos. E o centenário guia vermelho de restaurantes, apesar de muito respeitado, não tem sido poupado das críticas aos longo dos anos, isso não é novidade. No Brasil há apenas três edições, o guia causou polêmica desde o início, ao considerar que o País não tem sequer um restaurante “excepcional” apto a receber a classificação máxima de três estrelas.
Se o Michelin deixou de considerar toalhas de linho, cristais e prataria como requisito para as estrelas e atualmente leva em conta apenas a comida (como declara), é de estranhar a distância imposta entre o paulistano D.O.M., o único classificado com duas estrelas, e casas de cozinha igualmente sofisticada como o Maní (em São Paulo), o Lasai e o Olympe (esses dois no Rio), para citar apenas as declaradamente contemporâneas.
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Outra questão controversa é igualar restaurantes japoneses como Jun Sakamoto e Kinoshita ao Huto e ao Kosushi, com suas concessões ao paladar ocidental. E o excelente Shin Zushi, o lugar para onde todos os chefs vão quando querem sushi, por que continua sem estrela? Será que o já notório mau humor do dono espantou o inspetor do guia?
A concessão da primeira estrela ao paulistano Picchi é uma boa notícia, mas o que torna o restaurante de Pier Paolo Picchi tão superior ao Gero e ao Tre Bicchieri, outros italianos de cozinha semelhante a do novo estrelado?
A Casa do Porco tem a vocação de Bib Gourmand, seleção para a qual acaba de entrar. Mas isso faz pensar nos critérios de classificação do guia – os tempos mudaram e o espírito do público idem. Perguntei a quase todos os chefs estrangeiros célebres que estiveram no Brasil nos últimos meses quais os lugares de que mais gostaram. A resposta foi unânime: A Casa do Porco.
A fila é puxada pelo catalão Albert Adrià, que esteve lá três vezes na mesma semana e saiu elogiando a comida, a ideia, o ambiente. As longas filas de espera atestam que público e chefs estrangeiros estão com o mesmo espírito – e quem se interessa pelos rumos da gastronomia tem aí um bom caso para analisar.