Foi-se o tempo em que Yasmin Yonashiro e Simone Xirata precisavam explicar que ramen não fica pronto em três minutos e que caldos não têm nada de instantâneo, visto que podem levar dias até receberem noodles.
Dito isso, em pleno calor saariano, poderiam começar a dar motivos para se pedir um ramen numa noite de temperaturas mais próximas às do inferno do que do verão. Por sorte, com a abertura do Jojo em Santa Cecília não precisarão gastar muita saliva. Para começo de conversa, porque nem só de ramen vive a casinha especializada.
Na fervorosa Vila Buarque, o Jojo não repete os menus da Vila Mariana e do Paraíso. Acena com guiozas delicadíssimos de carne e gelatina de caldo de porco, que acompanham molhinho picante (R$ 32), com buns de karaage (frango frito, R$ 28) e com o chahan, um gohan puxado no wok em fogo alto, com carne de frango e de porco, finalizado com gema curada (R$ 45).
No novo endereço, também não repetirá o público. “No Paraíso recebemos muitas famílias e muitos japoneses de perfil mais conservador, aqui teremos não só mais jovens, mas gente mais aberta gastronomicamente”, aposta a administradora Simone.
Vai daí que Yasmin, sommelière, gestora de hospitalidade e agora sócia da marca, introduziu uma parede com torneiras de chopes artesanais (a witbier com gengibre Oishii, R$ 34,60; a pilsen com jasmim Japas, R$ 22, e a Mamangava, com toque de saquê, R$ 35), vinho laranja gaúcho (R$ 35) e o sake hakutsuru junmai dry (R$ 24). Com ele, inclusive, prepara dois coquetéis exclusivos, um com awamori (destilado de arroz típico de Okinawa) e outro com gim japonês (R$ 39 cada).
A proposta etílica enriquece ainda mais a vizinhança, que já conta com bares como o Elevado, o Bagaceira, o Krozta e o Koya88. Colado ao Tabuleiro do Acarajé, o novo Jojo ocupa o que era “um estúdio feio e cinza de tatuagens” que, reformado em três meses, foi povoado pela Marcenaria Taniguchi (uma autoridade em design e mobiliário nipônico) e pelos shisas (estátuas encontradas na frente das casas de Okinawa para afastar o azar) da ilustradora Adriana Marto para não ser só mais um bar na região.
Tampouco trata-se de um izakaya. Apesar da informalidade, tudo é pensado em detalhe. O acolhimento dos comensais mescla o conceito de omotenashi (que significa cuidar dos hóspedes com todo o coração) com a leveza do odori (dança de agradecimento) e a cozinha... Ai, a cozinha!
De uma viagem de pesquisas a Okinawa, arquipélago mais ao sul e terra de suas famílias, Simone e Yasmin trouxeram ingredientes como o sal que entrou no Guinness pela alta concentração de minerais e pelo “saborzinho diferente, que dá para sentir no shio”. Ali, o lámen mencionado (R$ 59) leva também hossomen (macarrão mais fino e pegajoso) caseiro, fatias de chashu (barriga e copa lombo), broto de bambu, cebolinha, nori e hanjuku tamago (ovo curado).
Para a nova vizinhança o Jojo traz ainda dois ramens inéditos, que contaram com ajustes do chef Meguru Baba, ex-D.O.M. convertido em pizzaiolo no Rio de Janeiro. Se cabe um aviso, o ryukyu é uma experiência sem voltas, graças ao refute, barriga de porco cozida e caramelizada no tarê artesanal à base de awamori (R$ 78).
Por pratos assim, não estranhe se mesmo que os termômetros insistirem em bater os 30°C, a fila se formar em frente da portinhola que abre oficialmente amanhã.
Jojo Ramen
R. Jesuíno Pascoal, 24, Santa Cecília. Ter., das 18h às 22h; qua. a sáb., das 12h às 15h e das 18h às 22h; domingo, das 12h às 18h.