Maripili: uma casa com alma


Dentro do pequeno e simpático restaurante na Chácara Santo Antônio você é transportado para uma bodega da Espanha, entre tapas e vinho (e sem gastar muito)

Por José Orenstein

Para escrever esta coluna visito um montão de restaurantes. Muitos novos, alguns mais velhos, que revisito. É bem comum ir a um restaurante e perceber que ele não vale a pena. Nem escrevo sobre o lugar. Ofereço meu estômago em vosso sacrifício, faminto leitor. E o que mais vejo, especialmente entre os novos restaurantes, são lugares medianos, sem alma. É: alma, aquela coisa indizível e tão óbvia.

Vai daí que quando entro num restaurante com alma é uma iluminação, uma pequena epifania. No Maripili é assim. Você abre a porta da casa de esquina, na Chácara Santo Antônio, e é como se atravessasse um portal para uma bodega na Espanha, ou para algum lugar caloroso da sua memória. Como acontece só nos restaurantes com alma, logo pensa em quem você gostaria de levar lá.

Pa amb tumacat(ou pão com tomate) para começar Foto: Amanda Perobelli|Estadão
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As poucas mesas estão cheias, tem fila para sentar, mas não tem estresse – nem dos comensais, nem dos garçons. Está todo mundo à vontade, orbitando aquele lugar num tempo outro, relaxado. Você pede uma taça de vinho, uma porção de croquetes cremosas (não estão cruas, é o molho bechamel) com jamón, e espera, molhando pão cortesia da casa em bom azeite espanhol. Mira a lousa com as sugestões do dia e começa a salivar.

Quando menos percebe, pinta um lugar ou então um dos garçons simpáticos, cheios de recursos e nenhum salamaleque, abre uma mesa para você na calçada. E desce uma tortilla especial, em que o excepcional casamento de ovos, batatas e cebolas promovido pelo Maripili fica ainda mais excepcional com bacalhau lascado. Desce pa amb tumacat, glória da nossa espécie legada ao mundo pela Catalunha, aqui reproduzida com esmero: fatias de pão crocante na borda e levemente umedecidas no miolo por tomate com alho, azeite e sal.

Se for seu dia de sorte e tiver coelho, você pede. Um coelho cozido por horas com ervas finas, vinho branco e azeitonas pretas chega à mesa se despregando do osso, perfumado e tenro. Como todo o resto do cardápio, ele é para dividir. Pois tudo no Maripili é para dividir: são as famosas tapas. Curiosamente o nome “tapas” nem aparece, nem precisa – é pressuposto, a mesa aqui é para compartilhar.

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Rabada para continuar Foto: Amanda Perobelli|Estadão
Torta galega para encerrar Foto: Amanda Perobelli|Estadão

E desce pulpo à galega (se tiver no dia), com seus tentáculos cortados em moedinhas grossas cozidas no ponto, sobre uma fina camada de batata macia e salpicados por azeite e páprica. E desce camarõezinhos no alho e óleo, uma rica rabada, uma porção de solomillo... Aí, claro, uma coisa leva a outra, e desce uma garrafa de vinho – e talvez mais uma, os preços são tão bons, por que não?

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É facílimo passar uma tarde inteira ali no loop eterno, tapas-vinho-tapas-vinho. A casa, porém, fecha cedo e por isso você será obrigado a fechar a refeição. E desce torta de Santiago, bolo fofo e leve de amêndoas, que atinge o ápice chuchada em natilla de turron, creme doce com torrone. Por fim, sorte suprema, pode ser que seja dia de pan de Calatrava: você pede – e recebe um pudim de pão com toques de canela que, ai, ai, inenarrável (um senhor de suspensórios e vozeirão castellano do meu lado narrou: “lo mejor! o melhor!”).

Aí chega la dolorosa, que nem dói tanto assim – os preços são bons, a conta sai super em conta. Bem-aventurados os moradores de Santo Amaro por ter o Maripili à mão.

CONTEXTO

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O Maripili abriu em 2009. Aos sete anos, mantém a originalidade, azeitou o serviço, não subiu demais os preços. Ganhou uma casa irmã em 2013, o Museo Veronica. E, anote aí, até o fim do ano a família cresce: o Carmen La Loca, dos mesmos donos, está em obras na casa ao lado do Maripili. 

O MELHOR E O PIOR

PROVE

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A tortilla. O basicão, muito bem feito. A versão clássica com ovosbatatas e cebola vem numa fatia alta e grossa. 

O pa amb tumacat. A Itália e a bruscheta que me desculpem, mas esse pão com tomate é sensacional.

As sugestões do dia. O coelho é excelente, assim como o cordeiro, e as croquetas. Cada vez tem alguma coisa.

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EVITE

Ir com pressa. O Maripili tem poucos lugares e as pessoas não parecem ter vontade de deixar a mesa.

Ir tarde. Quanto mais cedo, mais fácil conseguir mesa (no almoço e no jantar). Além disso, a casa fecha às 22h30.

Ambiente do Maripili,familiar e acolhedor Foto: Amanda Perobelli|Estadão

Estilo de cozinha: espanhol – simples, caprichado e familiar.

Bom para: almoços alongados e preguiçosos tarde adentro, ou um jantar entre amigos para por o papo em dia. 

Acústica: o ambiente é ruidoso, a casa é pequena e cheia livros, vinhos, objetos que acabam abafando um pouco a zoeira. 

Vinho: a carta é feita para nós, os mortais, que não torramos um salário mínimo em vinho. Há muitas opções de R$ 43 a R$ 170, que variam também a cada semana. Taças de R$ 11 a R$ 20. Taxa de rolha: não cobra para até duas garrafas.

Cerveja: é o calcanhar de Aquiles da casa – só Estrella Galicia Red e 1906, a R$ 8,50.

Água e café: o pão é cortesia, a água, não. Pena, mas a garrafinha custa justos R$ 3,50. O café expresso é bem tirado, da Lavazza, custa R$ 4.

Preços: entradas e porções (R$ 8 a R$ 35); pratos (R$ 30 a R$ 44 – as sugestões do dia podem chegar a R$ 55); sobremesas (R$ 7 a R$ 13).

Vou voltar? Sim, sempre. Uma lástima que eu more a 40 minutos de carro de lá – sem trânsito. 

SERVIÇO

MARIPILI

Rua Alexandre Dumas, 1152, Chácara Santo Antonio Tel.: 5181-4422 Horário de funcionamento: 12h/22h30 (sáb., 12h/16h e 19h/23h; dom., 12h/16h). Valet: não tem. Ciclovia a uma quadra (na Rua Fernandes Moreira). Não tem paraciclo. 

Para escrever esta coluna visito um montão de restaurantes. Muitos novos, alguns mais velhos, que revisito. É bem comum ir a um restaurante e perceber que ele não vale a pena. Nem escrevo sobre o lugar. Ofereço meu estômago em vosso sacrifício, faminto leitor. E o que mais vejo, especialmente entre os novos restaurantes, são lugares medianos, sem alma. É: alma, aquela coisa indizível e tão óbvia.

Vai daí que quando entro num restaurante com alma é uma iluminação, uma pequena epifania. No Maripili é assim. Você abre a porta da casa de esquina, na Chácara Santo Antônio, e é como se atravessasse um portal para uma bodega na Espanha, ou para algum lugar caloroso da sua memória. Como acontece só nos restaurantes com alma, logo pensa em quem você gostaria de levar lá.

Pa amb tumacat(ou pão com tomate) para começar Foto: Amanda Perobelli|Estadão

As poucas mesas estão cheias, tem fila para sentar, mas não tem estresse – nem dos comensais, nem dos garçons. Está todo mundo à vontade, orbitando aquele lugar num tempo outro, relaxado. Você pede uma taça de vinho, uma porção de croquetes cremosas (não estão cruas, é o molho bechamel) com jamón, e espera, molhando pão cortesia da casa em bom azeite espanhol. Mira a lousa com as sugestões do dia e começa a salivar.

Quando menos percebe, pinta um lugar ou então um dos garçons simpáticos, cheios de recursos e nenhum salamaleque, abre uma mesa para você na calçada. E desce uma tortilla especial, em que o excepcional casamento de ovos, batatas e cebolas promovido pelo Maripili fica ainda mais excepcional com bacalhau lascado. Desce pa amb tumacat, glória da nossa espécie legada ao mundo pela Catalunha, aqui reproduzida com esmero: fatias de pão crocante na borda e levemente umedecidas no miolo por tomate com alho, azeite e sal.

Se for seu dia de sorte e tiver coelho, você pede. Um coelho cozido por horas com ervas finas, vinho branco e azeitonas pretas chega à mesa se despregando do osso, perfumado e tenro. Como todo o resto do cardápio, ele é para dividir. Pois tudo no Maripili é para dividir: são as famosas tapas. Curiosamente o nome “tapas” nem aparece, nem precisa – é pressuposto, a mesa aqui é para compartilhar.

Rabada para continuar Foto: Amanda Perobelli|Estadão
Torta galega para encerrar Foto: Amanda Perobelli|Estadão

E desce pulpo à galega (se tiver no dia), com seus tentáculos cortados em moedinhas grossas cozidas no ponto, sobre uma fina camada de batata macia e salpicados por azeite e páprica. E desce camarõezinhos no alho e óleo, uma rica rabada, uma porção de solomillo... Aí, claro, uma coisa leva a outra, e desce uma garrafa de vinho – e talvez mais uma, os preços são tão bons, por que não?

É facílimo passar uma tarde inteira ali no loop eterno, tapas-vinho-tapas-vinho. A casa, porém, fecha cedo e por isso você será obrigado a fechar a refeição. E desce torta de Santiago, bolo fofo e leve de amêndoas, que atinge o ápice chuchada em natilla de turron, creme doce com torrone. Por fim, sorte suprema, pode ser que seja dia de pan de Calatrava: você pede – e recebe um pudim de pão com toques de canela que, ai, ai, inenarrável (um senhor de suspensórios e vozeirão castellano do meu lado narrou: “lo mejor! o melhor!”).

Aí chega la dolorosa, que nem dói tanto assim – os preços são bons, a conta sai super em conta. Bem-aventurados os moradores de Santo Amaro por ter o Maripili à mão.

CONTEXTO

O Maripili abriu em 2009. Aos sete anos, mantém a originalidade, azeitou o serviço, não subiu demais os preços. Ganhou uma casa irmã em 2013, o Museo Veronica. E, anote aí, até o fim do ano a família cresce: o Carmen La Loca, dos mesmos donos, está em obras na casa ao lado do Maripili. 

O MELHOR E O PIOR

PROVE

A tortilla. O basicão, muito bem feito. A versão clássica com ovosbatatas e cebola vem numa fatia alta e grossa. 

O pa amb tumacat. A Itália e a bruscheta que me desculpem, mas esse pão com tomate é sensacional.

As sugestões do dia. O coelho é excelente, assim como o cordeiro, e as croquetas. Cada vez tem alguma coisa.

EVITE

Ir com pressa. O Maripili tem poucos lugares e as pessoas não parecem ter vontade de deixar a mesa.

Ir tarde. Quanto mais cedo, mais fácil conseguir mesa (no almoço e no jantar). Além disso, a casa fecha às 22h30.

Ambiente do Maripili,familiar e acolhedor Foto: Amanda Perobelli|Estadão

Estilo de cozinha: espanhol – simples, caprichado e familiar.

Bom para: almoços alongados e preguiçosos tarde adentro, ou um jantar entre amigos para por o papo em dia. 

Acústica: o ambiente é ruidoso, a casa é pequena e cheia livros, vinhos, objetos que acabam abafando um pouco a zoeira. 

Vinho: a carta é feita para nós, os mortais, que não torramos um salário mínimo em vinho. Há muitas opções de R$ 43 a R$ 170, que variam também a cada semana. Taças de R$ 11 a R$ 20. Taxa de rolha: não cobra para até duas garrafas.

Cerveja: é o calcanhar de Aquiles da casa – só Estrella Galicia Red e 1906, a R$ 8,50.

Água e café: o pão é cortesia, a água, não. Pena, mas a garrafinha custa justos R$ 3,50. O café expresso é bem tirado, da Lavazza, custa R$ 4.

Preços: entradas e porções (R$ 8 a R$ 35); pratos (R$ 30 a R$ 44 – as sugestões do dia podem chegar a R$ 55); sobremesas (R$ 7 a R$ 13).

Vou voltar? Sim, sempre. Uma lástima que eu more a 40 minutos de carro de lá – sem trânsito. 

SERVIÇO

MARIPILI

Rua Alexandre Dumas, 1152, Chácara Santo Antonio Tel.: 5181-4422 Horário de funcionamento: 12h/22h30 (sáb., 12h/16h e 19h/23h; dom., 12h/16h). Valet: não tem. Ciclovia a uma quadra (na Rua Fernandes Moreira). Não tem paraciclo. 

Para escrever esta coluna visito um montão de restaurantes. Muitos novos, alguns mais velhos, que revisito. É bem comum ir a um restaurante e perceber que ele não vale a pena. Nem escrevo sobre o lugar. Ofereço meu estômago em vosso sacrifício, faminto leitor. E o que mais vejo, especialmente entre os novos restaurantes, são lugares medianos, sem alma. É: alma, aquela coisa indizível e tão óbvia.

Vai daí que quando entro num restaurante com alma é uma iluminação, uma pequena epifania. No Maripili é assim. Você abre a porta da casa de esquina, na Chácara Santo Antônio, e é como se atravessasse um portal para uma bodega na Espanha, ou para algum lugar caloroso da sua memória. Como acontece só nos restaurantes com alma, logo pensa em quem você gostaria de levar lá.

Pa amb tumacat(ou pão com tomate) para começar Foto: Amanda Perobelli|Estadão

As poucas mesas estão cheias, tem fila para sentar, mas não tem estresse – nem dos comensais, nem dos garçons. Está todo mundo à vontade, orbitando aquele lugar num tempo outro, relaxado. Você pede uma taça de vinho, uma porção de croquetes cremosas (não estão cruas, é o molho bechamel) com jamón, e espera, molhando pão cortesia da casa em bom azeite espanhol. Mira a lousa com as sugestões do dia e começa a salivar.

Quando menos percebe, pinta um lugar ou então um dos garçons simpáticos, cheios de recursos e nenhum salamaleque, abre uma mesa para você na calçada. E desce uma tortilla especial, em que o excepcional casamento de ovos, batatas e cebolas promovido pelo Maripili fica ainda mais excepcional com bacalhau lascado. Desce pa amb tumacat, glória da nossa espécie legada ao mundo pela Catalunha, aqui reproduzida com esmero: fatias de pão crocante na borda e levemente umedecidas no miolo por tomate com alho, azeite e sal.

Se for seu dia de sorte e tiver coelho, você pede. Um coelho cozido por horas com ervas finas, vinho branco e azeitonas pretas chega à mesa se despregando do osso, perfumado e tenro. Como todo o resto do cardápio, ele é para dividir. Pois tudo no Maripili é para dividir: são as famosas tapas. Curiosamente o nome “tapas” nem aparece, nem precisa – é pressuposto, a mesa aqui é para compartilhar.

Rabada para continuar Foto: Amanda Perobelli|Estadão
Torta galega para encerrar Foto: Amanda Perobelli|Estadão

E desce pulpo à galega (se tiver no dia), com seus tentáculos cortados em moedinhas grossas cozidas no ponto, sobre uma fina camada de batata macia e salpicados por azeite e páprica. E desce camarõezinhos no alho e óleo, uma rica rabada, uma porção de solomillo... Aí, claro, uma coisa leva a outra, e desce uma garrafa de vinho – e talvez mais uma, os preços são tão bons, por que não?

É facílimo passar uma tarde inteira ali no loop eterno, tapas-vinho-tapas-vinho. A casa, porém, fecha cedo e por isso você será obrigado a fechar a refeição. E desce torta de Santiago, bolo fofo e leve de amêndoas, que atinge o ápice chuchada em natilla de turron, creme doce com torrone. Por fim, sorte suprema, pode ser que seja dia de pan de Calatrava: você pede – e recebe um pudim de pão com toques de canela que, ai, ai, inenarrável (um senhor de suspensórios e vozeirão castellano do meu lado narrou: “lo mejor! o melhor!”).

Aí chega la dolorosa, que nem dói tanto assim – os preços são bons, a conta sai super em conta. Bem-aventurados os moradores de Santo Amaro por ter o Maripili à mão.

CONTEXTO

O Maripili abriu em 2009. Aos sete anos, mantém a originalidade, azeitou o serviço, não subiu demais os preços. Ganhou uma casa irmã em 2013, o Museo Veronica. E, anote aí, até o fim do ano a família cresce: o Carmen La Loca, dos mesmos donos, está em obras na casa ao lado do Maripili. 

O MELHOR E O PIOR

PROVE

A tortilla. O basicão, muito bem feito. A versão clássica com ovosbatatas e cebola vem numa fatia alta e grossa. 

O pa amb tumacat. A Itália e a bruscheta que me desculpem, mas esse pão com tomate é sensacional.

As sugestões do dia. O coelho é excelente, assim como o cordeiro, e as croquetas. Cada vez tem alguma coisa.

EVITE

Ir com pressa. O Maripili tem poucos lugares e as pessoas não parecem ter vontade de deixar a mesa.

Ir tarde. Quanto mais cedo, mais fácil conseguir mesa (no almoço e no jantar). Além disso, a casa fecha às 22h30.

Ambiente do Maripili,familiar e acolhedor Foto: Amanda Perobelli|Estadão

Estilo de cozinha: espanhol – simples, caprichado e familiar.

Bom para: almoços alongados e preguiçosos tarde adentro, ou um jantar entre amigos para por o papo em dia. 

Acústica: o ambiente é ruidoso, a casa é pequena e cheia livros, vinhos, objetos que acabam abafando um pouco a zoeira. 

Vinho: a carta é feita para nós, os mortais, que não torramos um salário mínimo em vinho. Há muitas opções de R$ 43 a R$ 170, que variam também a cada semana. Taças de R$ 11 a R$ 20. Taxa de rolha: não cobra para até duas garrafas.

Cerveja: é o calcanhar de Aquiles da casa – só Estrella Galicia Red e 1906, a R$ 8,50.

Água e café: o pão é cortesia, a água, não. Pena, mas a garrafinha custa justos R$ 3,50. O café expresso é bem tirado, da Lavazza, custa R$ 4.

Preços: entradas e porções (R$ 8 a R$ 35); pratos (R$ 30 a R$ 44 – as sugestões do dia podem chegar a R$ 55); sobremesas (R$ 7 a R$ 13).

Vou voltar? Sim, sempre. Uma lástima que eu more a 40 minutos de carro de lá – sem trânsito. 

SERVIÇO

MARIPILI

Rua Alexandre Dumas, 1152, Chácara Santo Antonio Tel.: 5181-4422 Horário de funcionamento: 12h/22h30 (sáb., 12h/16h e 19h/23h; dom., 12h/16h). Valet: não tem. Ciclovia a uma quadra (na Rua Fernandes Moreira). Não tem paraciclo. 

Para escrever esta coluna visito um montão de restaurantes. Muitos novos, alguns mais velhos, que revisito. É bem comum ir a um restaurante e perceber que ele não vale a pena. Nem escrevo sobre o lugar. Ofereço meu estômago em vosso sacrifício, faminto leitor. E o que mais vejo, especialmente entre os novos restaurantes, são lugares medianos, sem alma. É: alma, aquela coisa indizível e tão óbvia.

Vai daí que quando entro num restaurante com alma é uma iluminação, uma pequena epifania. No Maripili é assim. Você abre a porta da casa de esquina, na Chácara Santo Antônio, e é como se atravessasse um portal para uma bodega na Espanha, ou para algum lugar caloroso da sua memória. Como acontece só nos restaurantes com alma, logo pensa em quem você gostaria de levar lá.

Pa amb tumacat(ou pão com tomate) para começar Foto: Amanda Perobelli|Estadão

As poucas mesas estão cheias, tem fila para sentar, mas não tem estresse – nem dos comensais, nem dos garçons. Está todo mundo à vontade, orbitando aquele lugar num tempo outro, relaxado. Você pede uma taça de vinho, uma porção de croquetes cremosas (não estão cruas, é o molho bechamel) com jamón, e espera, molhando pão cortesia da casa em bom azeite espanhol. Mira a lousa com as sugestões do dia e começa a salivar.

Quando menos percebe, pinta um lugar ou então um dos garçons simpáticos, cheios de recursos e nenhum salamaleque, abre uma mesa para você na calçada. E desce uma tortilla especial, em que o excepcional casamento de ovos, batatas e cebolas promovido pelo Maripili fica ainda mais excepcional com bacalhau lascado. Desce pa amb tumacat, glória da nossa espécie legada ao mundo pela Catalunha, aqui reproduzida com esmero: fatias de pão crocante na borda e levemente umedecidas no miolo por tomate com alho, azeite e sal.

Se for seu dia de sorte e tiver coelho, você pede. Um coelho cozido por horas com ervas finas, vinho branco e azeitonas pretas chega à mesa se despregando do osso, perfumado e tenro. Como todo o resto do cardápio, ele é para dividir. Pois tudo no Maripili é para dividir: são as famosas tapas. Curiosamente o nome “tapas” nem aparece, nem precisa – é pressuposto, a mesa aqui é para compartilhar.

Rabada para continuar Foto: Amanda Perobelli|Estadão
Torta galega para encerrar Foto: Amanda Perobelli|Estadão

E desce pulpo à galega (se tiver no dia), com seus tentáculos cortados em moedinhas grossas cozidas no ponto, sobre uma fina camada de batata macia e salpicados por azeite e páprica. E desce camarõezinhos no alho e óleo, uma rica rabada, uma porção de solomillo... Aí, claro, uma coisa leva a outra, e desce uma garrafa de vinho – e talvez mais uma, os preços são tão bons, por que não?

É facílimo passar uma tarde inteira ali no loop eterno, tapas-vinho-tapas-vinho. A casa, porém, fecha cedo e por isso você será obrigado a fechar a refeição. E desce torta de Santiago, bolo fofo e leve de amêndoas, que atinge o ápice chuchada em natilla de turron, creme doce com torrone. Por fim, sorte suprema, pode ser que seja dia de pan de Calatrava: você pede – e recebe um pudim de pão com toques de canela que, ai, ai, inenarrável (um senhor de suspensórios e vozeirão castellano do meu lado narrou: “lo mejor! o melhor!”).

Aí chega la dolorosa, que nem dói tanto assim – os preços são bons, a conta sai super em conta. Bem-aventurados os moradores de Santo Amaro por ter o Maripili à mão.

CONTEXTO

O Maripili abriu em 2009. Aos sete anos, mantém a originalidade, azeitou o serviço, não subiu demais os preços. Ganhou uma casa irmã em 2013, o Museo Veronica. E, anote aí, até o fim do ano a família cresce: o Carmen La Loca, dos mesmos donos, está em obras na casa ao lado do Maripili. 

O MELHOR E O PIOR

PROVE

A tortilla. O basicão, muito bem feito. A versão clássica com ovosbatatas e cebola vem numa fatia alta e grossa. 

O pa amb tumacat. A Itália e a bruscheta que me desculpem, mas esse pão com tomate é sensacional.

As sugestões do dia. O coelho é excelente, assim como o cordeiro, e as croquetas. Cada vez tem alguma coisa.

EVITE

Ir com pressa. O Maripili tem poucos lugares e as pessoas não parecem ter vontade de deixar a mesa.

Ir tarde. Quanto mais cedo, mais fácil conseguir mesa (no almoço e no jantar). Além disso, a casa fecha às 22h30.

Ambiente do Maripili,familiar e acolhedor Foto: Amanda Perobelli|Estadão

Estilo de cozinha: espanhol – simples, caprichado e familiar.

Bom para: almoços alongados e preguiçosos tarde adentro, ou um jantar entre amigos para por o papo em dia. 

Acústica: o ambiente é ruidoso, a casa é pequena e cheia livros, vinhos, objetos que acabam abafando um pouco a zoeira. 

Vinho: a carta é feita para nós, os mortais, que não torramos um salário mínimo em vinho. Há muitas opções de R$ 43 a R$ 170, que variam também a cada semana. Taças de R$ 11 a R$ 20. Taxa de rolha: não cobra para até duas garrafas.

Cerveja: é o calcanhar de Aquiles da casa – só Estrella Galicia Red e 1906, a R$ 8,50.

Água e café: o pão é cortesia, a água, não. Pena, mas a garrafinha custa justos R$ 3,50. O café expresso é bem tirado, da Lavazza, custa R$ 4.

Preços: entradas e porções (R$ 8 a R$ 35); pratos (R$ 30 a R$ 44 – as sugestões do dia podem chegar a R$ 55); sobremesas (R$ 7 a R$ 13).

Vou voltar? Sim, sempre. Uma lástima que eu more a 40 minutos de carro de lá – sem trânsito. 

SERVIÇO

MARIPILI

Rua Alexandre Dumas, 1152, Chácara Santo Antonio Tel.: 5181-4422 Horário de funcionamento: 12h/22h30 (sáb., 12h/16h e 19h/23h; dom., 12h/16h). Valet: não tem. Ciclovia a uma quadra (na Rua Fernandes Moreira). Não tem paraciclo. 

Para escrever esta coluna visito um montão de restaurantes. Muitos novos, alguns mais velhos, que revisito. É bem comum ir a um restaurante e perceber que ele não vale a pena. Nem escrevo sobre o lugar. Ofereço meu estômago em vosso sacrifício, faminto leitor. E o que mais vejo, especialmente entre os novos restaurantes, são lugares medianos, sem alma. É: alma, aquela coisa indizível e tão óbvia.

Vai daí que quando entro num restaurante com alma é uma iluminação, uma pequena epifania. No Maripili é assim. Você abre a porta da casa de esquina, na Chácara Santo Antônio, e é como se atravessasse um portal para uma bodega na Espanha, ou para algum lugar caloroso da sua memória. Como acontece só nos restaurantes com alma, logo pensa em quem você gostaria de levar lá.

Pa amb tumacat(ou pão com tomate) para começar Foto: Amanda Perobelli|Estadão

As poucas mesas estão cheias, tem fila para sentar, mas não tem estresse – nem dos comensais, nem dos garçons. Está todo mundo à vontade, orbitando aquele lugar num tempo outro, relaxado. Você pede uma taça de vinho, uma porção de croquetes cremosas (não estão cruas, é o molho bechamel) com jamón, e espera, molhando pão cortesia da casa em bom azeite espanhol. Mira a lousa com as sugestões do dia e começa a salivar.

Quando menos percebe, pinta um lugar ou então um dos garçons simpáticos, cheios de recursos e nenhum salamaleque, abre uma mesa para você na calçada. E desce uma tortilla especial, em que o excepcional casamento de ovos, batatas e cebolas promovido pelo Maripili fica ainda mais excepcional com bacalhau lascado. Desce pa amb tumacat, glória da nossa espécie legada ao mundo pela Catalunha, aqui reproduzida com esmero: fatias de pão crocante na borda e levemente umedecidas no miolo por tomate com alho, azeite e sal.

Se for seu dia de sorte e tiver coelho, você pede. Um coelho cozido por horas com ervas finas, vinho branco e azeitonas pretas chega à mesa se despregando do osso, perfumado e tenro. Como todo o resto do cardápio, ele é para dividir. Pois tudo no Maripili é para dividir: são as famosas tapas. Curiosamente o nome “tapas” nem aparece, nem precisa – é pressuposto, a mesa aqui é para compartilhar.

Rabada para continuar Foto: Amanda Perobelli|Estadão
Torta galega para encerrar Foto: Amanda Perobelli|Estadão

E desce pulpo à galega (se tiver no dia), com seus tentáculos cortados em moedinhas grossas cozidas no ponto, sobre uma fina camada de batata macia e salpicados por azeite e páprica. E desce camarõezinhos no alho e óleo, uma rica rabada, uma porção de solomillo... Aí, claro, uma coisa leva a outra, e desce uma garrafa de vinho – e talvez mais uma, os preços são tão bons, por que não?

É facílimo passar uma tarde inteira ali no loop eterno, tapas-vinho-tapas-vinho. A casa, porém, fecha cedo e por isso você será obrigado a fechar a refeição. E desce torta de Santiago, bolo fofo e leve de amêndoas, que atinge o ápice chuchada em natilla de turron, creme doce com torrone. Por fim, sorte suprema, pode ser que seja dia de pan de Calatrava: você pede – e recebe um pudim de pão com toques de canela que, ai, ai, inenarrável (um senhor de suspensórios e vozeirão castellano do meu lado narrou: “lo mejor! o melhor!”).

Aí chega la dolorosa, que nem dói tanto assim – os preços são bons, a conta sai super em conta. Bem-aventurados os moradores de Santo Amaro por ter o Maripili à mão.

CONTEXTO

O Maripili abriu em 2009. Aos sete anos, mantém a originalidade, azeitou o serviço, não subiu demais os preços. Ganhou uma casa irmã em 2013, o Museo Veronica. E, anote aí, até o fim do ano a família cresce: o Carmen La Loca, dos mesmos donos, está em obras na casa ao lado do Maripili. 

O MELHOR E O PIOR

PROVE

A tortilla. O basicão, muito bem feito. A versão clássica com ovosbatatas e cebola vem numa fatia alta e grossa. 

O pa amb tumacat. A Itália e a bruscheta que me desculpem, mas esse pão com tomate é sensacional.

As sugestões do dia. O coelho é excelente, assim como o cordeiro, e as croquetas. Cada vez tem alguma coisa.

EVITE

Ir com pressa. O Maripili tem poucos lugares e as pessoas não parecem ter vontade de deixar a mesa.

Ir tarde. Quanto mais cedo, mais fácil conseguir mesa (no almoço e no jantar). Além disso, a casa fecha às 22h30.

Ambiente do Maripili,familiar e acolhedor Foto: Amanda Perobelli|Estadão

Estilo de cozinha: espanhol – simples, caprichado e familiar.

Bom para: almoços alongados e preguiçosos tarde adentro, ou um jantar entre amigos para por o papo em dia. 

Acústica: o ambiente é ruidoso, a casa é pequena e cheia livros, vinhos, objetos que acabam abafando um pouco a zoeira. 

Vinho: a carta é feita para nós, os mortais, que não torramos um salário mínimo em vinho. Há muitas opções de R$ 43 a R$ 170, que variam também a cada semana. Taças de R$ 11 a R$ 20. Taxa de rolha: não cobra para até duas garrafas.

Cerveja: é o calcanhar de Aquiles da casa – só Estrella Galicia Red e 1906, a R$ 8,50.

Água e café: o pão é cortesia, a água, não. Pena, mas a garrafinha custa justos R$ 3,50. O café expresso é bem tirado, da Lavazza, custa R$ 4.

Preços: entradas e porções (R$ 8 a R$ 35); pratos (R$ 30 a R$ 44 – as sugestões do dia podem chegar a R$ 55); sobremesas (R$ 7 a R$ 13).

Vou voltar? Sim, sempre. Uma lástima que eu more a 40 minutos de carro de lá – sem trânsito. 

SERVIÇO

MARIPILI

Rua Alexandre Dumas, 1152, Chácara Santo Antonio Tel.: 5181-4422 Horário de funcionamento: 12h/22h30 (sáb., 12h/16h e 19h/23h; dom., 12h/16h). Valet: não tem. Ciclovia a uma quadra (na Rua Fernandes Moreira). Não tem paraciclo. 

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