‘O Brasil precisa de uma identidade clara na gastronomia’, diz sócio da Cia Tradicional de Comércio


Executivo de uma das principais empresas do setor de gastronomia, Ricardo Garrido fala sobre os desafios, as inovações e as possibilidades do mercado

Por Matheus Mans
Atualização:

Foi numa mesa de bar, pensando sobre o futuro como funcionários de uma multinacional, que Edgard Bueno da Costa, Ricardo Garrido e Sérgio Bueno de Camargo pensaram como seria a vida de cada um deles se começassem a ganhar dinheiro de bar -- e não o contrário.

Vem conversa, vai conversa e o negócio ficou sério. Em 1996, os três amigos -- ao lado de Fernando Grinberg, Mario Gorski e, posteriormente, André Lima -- fundaram a Cia. Tradicional de Comércio. A ideia, no início, era ser uma empresa com marcas de bares espalhadas pelo País. Com o tempo, porém, a ideia foi além e abraçaram a gastronomia.

Garrido é executivo de uma das principais empresas do segmento de bares e restaurantes Foto: Bruno Geraldini/Divulgação
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Tudo começou com o bar Original, em Moema, que sempre buscou resgatar a simplicidade e informalidade dos botequins antigos. Hoje, ainda são os responsáveis por Pirajá, Astor, SubAstor, Bráz, Lanchonete da Cidade, Ici Brasserie, dentre outros bares e restaurantes. A marca, depois dessa conversa de bar, se tornou um dos nomes mais fortes no meio do mercado gastronômico.

Ao Paladar, Ricardo Garrido compartilha suas perspectivas sobre os desafios do mercado gastronômico, a importância da gestão de talentos, a adaptação às mudanças no comportamento do consumidor e a necessidade de resiliência frente a eventos macro.

Ele também fala sobre a inovação no setor, o posicionamento do Brasil no mercado global e as visões futuras para a Cia Tradicional de Comércio. “Hoje, a capacidade de inovação é fundamental”, diz o executivo. A seguir, confira os melhores trechos do papo com Garrido.

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Quais os principais desafios que existem, hoje, no mercado de gastronomia? Como superar isso?

Ricardo Garrido: Você começou com uma questão importante. Realmente, os desafios no setor são múltiplos e complexos. O setor de gastronomia é multifacetado, com aspectos de varejo, indústria, contato direto com o consumidor e operações ao vivo. A demanda pode variar bastante e há o ditado de que restaurantes são feitos para dar errado. No entanto, nossa paixão nos mantém dedicados.

Eu destacaria três grandes desafios. Primeiro, a gestão de talentos, já que o setor é predominantemente baseado no fator humano. A hospitalidade e a gastronomia dependem essencialmente das pessoas. A tecnologia ainda é limitada em muitos negócios de entretenimento e gastronomia, então a execução de uma boa proposta depende das equipes. Atrair, desenvolver, reter talentos e criar uma metodologia de trabalho eficaz são fundamentais para criar experiências duradouras e de qualidade.

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Depois, as mudanças no comportamento do consumidor. Acompanhar as transformações no comportamento dos consumidores é crucial. Não gosto muito do termo “tendência”, mas é vital estar atento às mudanças no estilo de vida e preferências dos clientes para se adaptar rapidamente e se manter relevante. Temos marcas com quase 30 anos, e nesse tempo vimos grandes transformações. Monitorar essas mudanças e manter nossas marcas atualizadas é um trabalho contínuo e desafiador.

Por fim, adaptação a eventos macro. Afinal, o setor também precisa lidar com eventos macro que impactam diretamente nossas operações, como crises econômicas ou pandemias. É essencial ser resiliente e se adaptar continuamente às mudanças externas para garantir a saúde e a estabilidade do negócio.

Hoje, o que faz a diferença no setor? Como se destacar? Qual dica daria para quem está começando?

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Houve muitas transformações no setor, especialmente com a revolução tecnológica ligada à informação. A maneira como nos comunicamos com nossos consumidores mudou drasticamente. Hoje, os clientes têm acesso a uma quantidade avassaladora de informações sobre bares e restaurantes do mundo inteiro, o que torna a relação mais desafiadora. A capacidade de inovação é fundamental. A tecnologia permite aperfeiçoamentos contínuos em produtos e serviços, desde a melhoria de insumos até a otimização de processos de cozinha e treinamento de colaboradores. A inovação deve ser equilibrada, evitando mudanças radicais que possam afastar clientes fiéis que buscam repetir experiências positivas anteriores.

Lanchonete da Cidade é uma das marcas da Cia Tradicional de Comércio Foto: Divulgação

Como vê a chegada da inovação no setor de gastronomia? Há receptividade? O que vocês fazem aí na Cia. Tradicional de Comércio nesse sentido?

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A inovação no setor de gastronomia é complexa. Muitos consumidores buscam repetir experiências que já apreciam, o que pode limitar a receptividade a novidades. No entanto, é crucial para os restaurantes se renovarem continuamente para não se tornarem obsoletos. Enxergamos a inovação mais como aperfeiçoamento contínuo do que mudanças drásticas. Utilizamos novas tecnologias e insumos para melhorar pratos existentes e adaptar processos para torná-los mais eficientes, sempre buscando manter a essência do que já fazemos bem. Nosso foco é oferecer uma experiência consistente e de alta qualidade, mesmo enquanto introduzimos melhorias.

Em comparação com outros mercados globais, como o Brasil está posicionado no mercado de gastronomia? O que falta para ganhar mais força por aqui?

O Brasil tem um potencial imenso na gastronomia devido à diversidade, criatividade e hospitalidade do povo brasileiro. No entanto, falta uma identidade clara e coesa do que é a gastronomia brasileira. A falta de uma imagem inteligível e de iniciativas unificadas para promover nossa culinária globalmente nos coloca em desvantagem em comparação com países como Peru e México, que têm feito um trabalho excelente na exportação de suas culturas gastronômicas. A fragmentação dos imigrantes brasileiros também dificulta a disseminação de uma identidade culinária coesa. Precisamos de um esforço coordenado para qualificar e promover nossa gastronomia no exterior.

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Como vê a Cia. Tradicional de Comércio daqui cinco, dez, quinze anos? Como acredita que ela vai se transformar para se adequar às novas gerações?

Nossa visão é continuar contando nossas histórias gastronômicas para o maior número de pessoas possível, mantendo a essência e a qualidade que sempre prezamos. Acreditamos no crescimento orgânico e cuidadoso, levando nossas marcas para novos locais onde vemos potencial. O Brasil é grande e tem muitas oportunidades para expansão. Somos otimistas sobre o futuro do setor de gastronomia e hospitalidade no Brasil. À medida que mais regiões desenvolvem seu potencial de consumo, estamos prontos para levar nossas experiências a novos públicos, sempre mantendo a qualidade e a autenticidade que nos caracterizam.

Foi numa mesa de bar, pensando sobre o futuro como funcionários de uma multinacional, que Edgard Bueno da Costa, Ricardo Garrido e Sérgio Bueno de Camargo pensaram como seria a vida de cada um deles se começassem a ganhar dinheiro de bar -- e não o contrário.

Vem conversa, vai conversa e o negócio ficou sério. Em 1996, os três amigos -- ao lado de Fernando Grinberg, Mario Gorski e, posteriormente, André Lima -- fundaram a Cia. Tradicional de Comércio. A ideia, no início, era ser uma empresa com marcas de bares espalhadas pelo País. Com o tempo, porém, a ideia foi além e abraçaram a gastronomia.

Garrido é executivo de uma das principais empresas do segmento de bares e restaurantes Foto: Bruno Geraldini/Divulgação

Tudo começou com o bar Original, em Moema, que sempre buscou resgatar a simplicidade e informalidade dos botequins antigos. Hoje, ainda são os responsáveis por Pirajá, Astor, SubAstor, Bráz, Lanchonete da Cidade, Ici Brasserie, dentre outros bares e restaurantes. A marca, depois dessa conversa de bar, se tornou um dos nomes mais fortes no meio do mercado gastronômico.

Ao Paladar, Ricardo Garrido compartilha suas perspectivas sobre os desafios do mercado gastronômico, a importância da gestão de talentos, a adaptação às mudanças no comportamento do consumidor e a necessidade de resiliência frente a eventos macro.

Ele também fala sobre a inovação no setor, o posicionamento do Brasil no mercado global e as visões futuras para a Cia Tradicional de Comércio. “Hoje, a capacidade de inovação é fundamental”, diz o executivo. A seguir, confira os melhores trechos do papo com Garrido.

Quais os principais desafios que existem, hoje, no mercado de gastronomia? Como superar isso?

Ricardo Garrido: Você começou com uma questão importante. Realmente, os desafios no setor são múltiplos e complexos. O setor de gastronomia é multifacetado, com aspectos de varejo, indústria, contato direto com o consumidor e operações ao vivo. A demanda pode variar bastante e há o ditado de que restaurantes são feitos para dar errado. No entanto, nossa paixão nos mantém dedicados.

Eu destacaria três grandes desafios. Primeiro, a gestão de talentos, já que o setor é predominantemente baseado no fator humano. A hospitalidade e a gastronomia dependem essencialmente das pessoas. A tecnologia ainda é limitada em muitos negócios de entretenimento e gastronomia, então a execução de uma boa proposta depende das equipes. Atrair, desenvolver, reter talentos e criar uma metodologia de trabalho eficaz são fundamentais para criar experiências duradouras e de qualidade.

Depois, as mudanças no comportamento do consumidor. Acompanhar as transformações no comportamento dos consumidores é crucial. Não gosto muito do termo “tendência”, mas é vital estar atento às mudanças no estilo de vida e preferências dos clientes para se adaptar rapidamente e se manter relevante. Temos marcas com quase 30 anos, e nesse tempo vimos grandes transformações. Monitorar essas mudanças e manter nossas marcas atualizadas é um trabalho contínuo e desafiador.

Por fim, adaptação a eventos macro. Afinal, o setor também precisa lidar com eventos macro que impactam diretamente nossas operações, como crises econômicas ou pandemias. É essencial ser resiliente e se adaptar continuamente às mudanças externas para garantir a saúde e a estabilidade do negócio.

Hoje, o que faz a diferença no setor? Como se destacar? Qual dica daria para quem está começando?

Houve muitas transformações no setor, especialmente com a revolução tecnológica ligada à informação. A maneira como nos comunicamos com nossos consumidores mudou drasticamente. Hoje, os clientes têm acesso a uma quantidade avassaladora de informações sobre bares e restaurantes do mundo inteiro, o que torna a relação mais desafiadora. A capacidade de inovação é fundamental. A tecnologia permite aperfeiçoamentos contínuos em produtos e serviços, desde a melhoria de insumos até a otimização de processos de cozinha e treinamento de colaboradores. A inovação deve ser equilibrada, evitando mudanças radicais que possam afastar clientes fiéis que buscam repetir experiências positivas anteriores.

Lanchonete da Cidade é uma das marcas da Cia Tradicional de Comércio Foto: Divulgação

Como vê a chegada da inovação no setor de gastronomia? Há receptividade? O que vocês fazem aí na Cia. Tradicional de Comércio nesse sentido?

A inovação no setor de gastronomia é complexa. Muitos consumidores buscam repetir experiências que já apreciam, o que pode limitar a receptividade a novidades. No entanto, é crucial para os restaurantes se renovarem continuamente para não se tornarem obsoletos. Enxergamos a inovação mais como aperfeiçoamento contínuo do que mudanças drásticas. Utilizamos novas tecnologias e insumos para melhorar pratos existentes e adaptar processos para torná-los mais eficientes, sempre buscando manter a essência do que já fazemos bem. Nosso foco é oferecer uma experiência consistente e de alta qualidade, mesmo enquanto introduzimos melhorias.

Em comparação com outros mercados globais, como o Brasil está posicionado no mercado de gastronomia? O que falta para ganhar mais força por aqui?

O Brasil tem um potencial imenso na gastronomia devido à diversidade, criatividade e hospitalidade do povo brasileiro. No entanto, falta uma identidade clara e coesa do que é a gastronomia brasileira. A falta de uma imagem inteligível e de iniciativas unificadas para promover nossa culinária globalmente nos coloca em desvantagem em comparação com países como Peru e México, que têm feito um trabalho excelente na exportação de suas culturas gastronômicas. A fragmentação dos imigrantes brasileiros também dificulta a disseminação de uma identidade culinária coesa. Precisamos de um esforço coordenado para qualificar e promover nossa gastronomia no exterior.

Como vê a Cia. Tradicional de Comércio daqui cinco, dez, quinze anos? Como acredita que ela vai se transformar para se adequar às novas gerações?

Nossa visão é continuar contando nossas histórias gastronômicas para o maior número de pessoas possível, mantendo a essência e a qualidade que sempre prezamos. Acreditamos no crescimento orgânico e cuidadoso, levando nossas marcas para novos locais onde vemos potencial. O Brasil é grande e tem muitas oportunidades para expansão. Somos otimistas sobre o futuro do setor de gastronomia e hospitalidade no Brasil. À medida que mais regiões desenvolvem seu potencial de consumo, estamos prontos para levar nossas experiências a novos públicos, sempre mantendo a qualidade e a autenticidade que nos caracterizam.

Foi numa mesa de bar, pensando sobre o futuro como funcionários de uma multinacional, que Edgard Bueno da Costa, Ricardo Garrido e Sérgio Bueno de Camargo pensaram como seria a vida de cada um deles se começassem a ganhar dinheiro de bar -- e não o contrário.

Vem conversa, vai conversa e o negócio ficou sério. Em 1996, os três amigos -- ao lado de Fernando Grinberg, Mario Gorski e, posteriormente, André Lima -- fundaram a Cia. Tradicional de Comércio. A ideia, no início, era ser uma empresa com marcas de bares espalhadas pelo País. Com o tempo, porém, a ideia foi além e abraçaram a gastronomia.

Garrido é executivo de uma das principais empresas do segmento de bares e restaurantes Foto: Bruno Geraldini/Divulgação

Tudo começou com o bar Original, em Moema, que sempre buscou resgatar a simplicidade e informalidade dos botequins antigos. Hoje, ainda são os responsáveis por Pirajá, Astor, SubAstor, Bráz, Lanchonete da Cidade, Ici Brasserie, dentre outros bares e restaurantes. A marca, depois dessa conversa de bar, se tornou um dos nomes mais fortes no meio do mercado gastronômico.

Ao Paladar, Ricardo Garrido compartilha suas perspectivas sobre os desafios do mercado gastronômico, a importância da gestão de talentos, a adaptação às mudanças no comportamento do consumidor e a necessidade de resiliência frente a eventos macro.

Ele também fala sobre a inovação no setor, o posicionamento do Brasil no mercado global e as visões futuras para a Cia Tradicional de Comércio. “Hoje, a capacidade de inovação é fundamental”, diz o executivo. A seguir, confira os melhores trechos do papo com Garrido.

Quais os principais desafios que existem, hoje, no mercado de gastronomia? Como superar isso?

Ricardo Garrido: Você começou com uma questão importante. Realmente, os desafios no setor são múltiplos e complexos. O setor de gastronomia é multifacetado, com aspectos de varejo, indústria, contato direto com o consumidor e operações ao vivo. A demanda pode variar bastante e há o ditado de que restaurantes são feitos para dar errado. No entanto, nossa paixão nos mantém dedicados.

Eu destacaria três grandes desafios. Primeiro, a gestão de talentos, já que o setor é predominantemente baseado no fator humano. A hospitalidade e a gastronomia dependem essencialmente das pessoas. A tecnologia ainda é limitada em muitos negócios de entretenimento e gastronomia, então a execução de uma boa proposta depende das equipes. Atrair, desenvolver, reter talentos e criar uma metodologia de trabalho eficaz são fundamentais para criar experiências duradouras e de qualidade.

Depois, as mudanças no comportamento do consumidor. Acompanhar as transformações no comportamento dos consumidores é crucial. Não gosto muito do termo “tendência”, mas é vital estar atento às mudanças no estilo de vida e preferências dos clientes para se adaptar rapidamente e se manter relevante. Temos marcas com quase 30 anos, e nesse tempo vimos grandes transformações. Monitorar essas mudanças e manter nossas marcas atualizadas é um trabalho contínuo e desafiador.

Por fim, adaptação a eventos macro. Afinal, o setor também precisa lidar com eventos macro que impactam diretamente nossas operações, como crises econômicas ou pandemias. É essencial ser resiliente e se adaptar continuamente às mudanças externas para garantir a saúde e a estabilidade do negócio.

Hoje, o que faz a diferença no setor? Como se destacar? Qual dica daria para quem está começando?

Houve muitas transformações no setor, especialmente com a revolução tecnológica ligada à informação. A maneira como nos comunicamos com nossos consumidores mudou drasticamente. Hoje, os clientes têm acesso a uma quantidade avassaladora de informações sobre bares e restaurantes do mundo inteiro, o que torna a relação mais desafiadora. A capacidade de inovação é fundamental. A tecnologia permite aperfeiçoamentos contínuos em produtos e serviços, desde a melhoria de insumos até a otimização de processos de cozinha e treinamento de colaboradores. A inovação deve ser equilibrada, evitando mudanças radicais que possam afastar clientes fiéis que buscam repetir experiências positivas anteriores.

Lanchonete da Cidade é uma das marcas da Cia Tradicional de Comércio Foto: Divulgação

Como vê a chegada da inovação no setor de gastronomia? Há receptividade? O que vocês fazem aí na Cia. Tradicional de Comércio nesse sentido?

A inovação no setor de gastronomia é complexa. Muitos consumidores buscam repetir experiências que já apreciam, o que pode limitar a receptividade a novidades. No entanto, é crucial para os restaurantes se renovarem continuamente para não se tornarem obsoletos. Enxergamos a inovação mais como aperfeiçoamento contínuo do que mudanças drásticas. Utilizamos novas tecnologias e insumos para melhorar pratos existentes e adaptar processos para torná-los mais eficientes, sempre buscando manter a essência do que já fazemos bem. Nosso foco é oferecer uma experiência consistente e de alta qualidade, mesmo enquanto introduzimos melhorias.

Em comparação com outros mercados globais, como o Brasil está posicionado no mercado de gastronomia? O que falta para ganhar mais força por aqui?

O Brasil tem um potencial imenso na gastronomia devido à diversidade, criatividade e hospitalidade do povo brasileiro. No entanto, falta uma identidade clara e coesa do que é a gastronomia brasileira. A falta de uma imagem inteligível e de iniciativas unificadas para promover nossa culinária globalmente nos coloca em desvantagem em comparação com países como Peru e México, que têm feito um trabalho excelente na exportação de suas culturas gastronômicas. A fragmentação dos imigrantes brasileiros também dificulta a disseminação de uma identidade culinária coesa. Precisamos de um esforço coordenado para qualificar e promover nossa gastronomia no exterior.

Como vê a Cia. Tradicional de Comércio daqui cinco, dez, quinze anos? Como acredita que ela vai se transformar para se adequar às novas gerações?

Nossa visão é continuar contando nossas histórias gastronômicas para o maior número de pessoas possível, mantendo a essência e a qualidade que sempre prezamos. Acreditamos no crescimento orgânico e cuidadoso, levando nossas marcas para novos locais onde vemos potencial. O Brasil é grande e tem muitas oportunidades para expansão. Somos otimistas sobre o futuro do setor de gastronomia e hospitalidade no Brasil. À medida que mais regiões desenvolvem seu potencial de consumo, estamos prontos para levar nossas experiências a novos públicos, sempre mantendo a qualidade e a autenticidade que nos caracterizam.

Foi numa mesa de bar, pensando sobre o futuro como funcionários de uma multinacional, que Edgard Bueno da Costa, Ricardo Garrido e Sérgio Bueno de Camargo pensaram como seria a vida de cada um deles se começassem a ganhar dinheiro de bar -- e não o contrário.

Vem conversa, vai conversa e o negócio ficou sério. Em 1996, os três amigos -- ao lado de Fernando Grinberg, Mario Gorski e, posteriormente, André Lima -- fundaram a Cia. Tradicional de Comércio. A ideia, no início, era ser uma empresa com marcas de bares espalhadas pelo País. Com o tempo, porém, a ideia foi além e abraçaram a gastronomia.

Garrido é executivo de uma das principais empresas do segmento de bares e restaurantes Foto: Bruno Geraldini/Divulgação

Tudo começou com o bar Original, em Moema, que sempre buscou resgatar a simplicidade e informalidade dos botequins antigos. Hoje, ainda são os responsáveis por Pirajá, Astor, SubAstor, Bráz, Lanchonete da Cidade, Ici Brasserie, dentre outros bares e restaurantes. A marca, depois dessa conversa de bar, se tornou um dos nomes mais fortes no meio do mercado gastronômico.

Ao Paladar, Ricardo Garrido compartilha suas perspectivas sobre os desafios do mercado gastronômico, a importância da gestão de talentos, a adaptação às mudanças no comportamento do consumidor e a necessidade de resiliência frente a eventos macro.

Ele também fala sobre a inovação no setor, o posicionamento do Brasil no mercado global e as visões futuras para a Cia Tradicional de Comércio. “Hoje, a capacidade de inovação é fundamental”, diz o executivo. A seguir, confira os melhores trechos do papo com Garrido.

Quais os principais desafios que existem, hoje, no mercado de gastronomia? Como superar isso?

Ricardo Garrido: Você começou com uma questão importante. Realmente, os desafios no setor são múltiplos e complexos. O setor de gastronomia é multifacetado, com aspectos de varejo, indústria, contato direto com o consumidor e operações ao vivo. A demanda pode variar bastante e há o ditado de que restaurantes são feitos para dar errado. No entanto, nossa paixão nos mantém dedicados.

Eu destacaria três grandes desafios. Primeiro, a gestão de talentos, já que o setor é predominantemente baseado no fator humano. A hospitalidade e a gastronomia dependem essencialmente das pessoas. A tecnologia ainda é limitada em muitos negócios de entretenimento e gastronomia, então a execução de uma boa proposta depende das equipes. Atrair, desenvolver, reter talentos e criar uma metodologia de trabalho eficaz são fundamentais para criar experiências duradouras e de qualidade.

Depois, as mudanças no comportamento do consumidor. Acompanhar as transformações no comportamento dos consumidores é crucial. Não gosto muito do termo “tendência”, mas é vital estar atento às mudanças no estilo de vida e preferências dos clientes para se adaptar rapidamente e se manter relevante. Temos marcas com quase 30 anos, e nesse tempo vimos grandes transformações. Monitorar essas mudanças e manter nossas marcas atualizadas é um trabalho contínuo e desafiador.

Por fim, adaptação a eventos macro. Afinal, o setor também precisa lidar com eventos macro que impactam diretamente nossas operações, como crises econômicas ou pandemias. É essencial ser resiliente e se adaptar continuamente às mudanças externas para garantir a saúde e a estabilidade do negócio.

Hoje, o que faz a diferença no setor? Como se destacar? Qual dica daria para quem está começando?

Houve muitas transformações no setor, especialmente com a revolução tecnológica ligada à informação. A maneira como nos comunicamos com nossos consumidores mudou drasticamente. Hoje, os clientes têm acesso a uma quantidade avassaladora de informações sobre bares e restaurantes do mundo inteiro, o que torna a relação mais desafiadora. A capacidade de inovação é fundamental. A tecnologia permite aperfeiçoamentos contínuos em produtos e serviços, desde a melhoria de insumos até a otimização de processos de cozinha e treinamento de colaboradores. A inovação deve ser equilibrada, evitando mudanças radicais que possam afastar clientes fiéis que buscam repetir experiências positivas anteriores.

Lanchonete da Cidade é uma das marcas da Cia Tradicional de Comércio Foto: Divulgação

Como vê a chegada da inovação no setor de gastronomia? Há receptividade? O que vocês fazem aí na Cia. Tradicional de Comércio nesse sentido?

A inovação no setor de gastronomia é complexa. Muitos consumidores buscam repetir experiências que já apreciam, o que pode limitar a receptividade a novidades. No entanto, é crucial para os restaurantes se renovarem continuamente para não se tornarem obsoletos. Enxergamos a inovação mais como aperfeiçoamento contínuo do que mudanças drásticas. Utilizamos novas tecnologias e insumos para melhorar pratos existentes e adaptar processos para torná-los mais eficientes, sempre buscando manter a essência do que já fazemos bem. Nosso foco é oferecer uma experiência consistente e de alta qualidade, mesmo enquanto introduzimos melhorias.

Em comparação com outros mercados globais, como o Brasil está posicionado no mercado de gastronomia? O que falta para ganhar mais força por aqui?

O Brasil tem um potencial imenso na gastronomia devido à diversidade, criatividade e hospitalidade do povo brasileiro. No entanto, falta uma identidade clara e coesa do que é a gastronomia brasileira. A falta de uma imagem inteligível e de iniciativas unificadas para promover nossa culinária globalmente nos coloca em desvantagem em comparação com países como Peru e México, que têm feito um trabalho excelente na exportação de suas culturas gastronômicas. A fragmentação dos imigrantes brasileiros também dificulta a disseminação de uma identidade culinária coesa. Precisamos de um esforço coordenado para qualificar e promover nossa gastronomia no exterior.

Como vê a Cia. Tradicional de Comércio daqui cinco, dez, quinze anos? Como acredita que ela vai se transformar para se adequar às novas gerações?

Nossa visão é continuar contando nossas histórias gastronômicas para o maior número de pessoas possível, mantendo a essência e a qualidade que sempre prezamos. Acreditamos no crescimento orgânico e cuidadoso, levando nossas marcas para novos locais onde vemos potencial. O Brasil é grande e tem muitas oportunidades para expansão. Somos otimistas sobre o futuro do setor de gastronomia e hospitalidade no Brasil. À medida que mais regiões desenvolvem seu potencial de consumo, estamos prontos para levar nossas experiências a novos públicos, sempre mantendo a qualidade e a autenticidade que nos caracterizam.

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