Para chefs e seus filhos, a cozinha se transforma em espaço de família


Bel Coelho, Roberta Julião, Janaína Rueda, Lisiane Arouca, Carla Pernambuco e Claudia Rezende falam sobre a relação com os filhos e a gastronomia

Por Matheus Mans
Chef Bel Coelho e seus filhos Francisco, de 8 anos, e José, de 5 anos Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A chama do fogão pode assustar, uma faca afiada pode machucar. Mas, ainda assim, a cozinha também pode ser um lugar para crianças. Nela, os pequenos podem usar o ambiente como espaço de comunicação e de criação, como garantem chefs mães que celebram a cozinha com seus filhos. 

Bel Coelho dispensa apresentações. Paulistana com vinte anos de carreira, ela comanda dois restaurantes estrelados, o Clandestino e o Canto da Bel. E, em casa, não esconde a alegria de ter os filhos Francisco e José, de seis e quatro anos, sempre pela cozinha.

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“Eu adoro que eles tenham bastante interesse e curiosidade em saber o que está sendo feito. Já chegam pedindo um banquinho para ficar na altura da bancada”, conta a chef. “Ensino sobretudo habilidades básicas de como manusear uma faca e o fogo para que eles não se machuquem. Hoje, a relação deles com a comida e a cozinha é natural e prazerosa. Acho que construímos isso porque sempre desejei que tivessem uma experiência saudável com o ato de comer e de cozinhar.”

O filho da chef Roberta Julião, do Da Feira ao Baile, ainda não está na idade de subir no banquinho – Matias tem apenas alguns meses. No entanto, Roberta já introduz o nenê no mundo colorido e saboroso da comida, indo muito além da papinha sem gosto. Não é à toa que, na conta oficial de Roberta no Instagram, é possível ver o pequeno experimentando até mesmo um pratão de chuchu com coentro.

“Comer vai muito além de se nutrir. É compartilhar, estar junto, apreciar, saborear. E quero passar essa paixão ao meu filho. Tento mostrar a importância do momento da refeição, o quanto pode ser prazeroso e divertido, um momento da família unida.”

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O pequeno Matias, de 8 meses, participa ativamente da rotina da chef Roberta Julião Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

É também uma forma de comunicação. “Sem dúvida. É um dos motivos pelos quais dou a ele a liberdade para descobrir a comida, comer como e quanto quiser, sendo o protagonista de sua introdução alimentar, sem pressa e respeitando o seu tempo.”

Dia a dia de mãe no restaurante

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Janaína Rueda, chef do Bar da Dona Onça e d’A Casa do Porco, também entende a cozinha de casa como espaço de convivência. Mas vai além, inserindo as crianças no seu dia a dia também nos restaurantes. Tanto que a história profissional da chef e de seu marido, Jefferson Rueda, se entrelaça com as memórias de João Pedro, hoje com 16 anos, e Joaquim José, de 12 anos. 

“Meus filhos praticamente nasceram e cresceram na cozinha. A primeira papinha do João saiu na imprensa, com receita e fotos dele”, lembra Janaína. “Eu cozinhei no fogão do Bar da Dona Onça, enjoando com o cheiro do alho, até os oito meses de gestação do Joaquim. E ele foi amamentado naquela cozinha. Tanto o João quanto o Joaquim já passaram pela cozinha do Hot Pork e, hoje, o primeiro emprego do João é como garde manger d’A Casa do Porco. É muito natural para eles, que têm mãe e pai cozinheiros. Está no nosso sangue. Mesmo que no futuro eles não queiram exercer a profissão, o aprendizado fica para a vida.”

Retrato da chef Janaína Rueda com os filhos Joaquim e João Pedro na cozinha da casa da família Foto: FOTO TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO
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Lisiane Arouca, sócia-proprietária e chef-pâtissière do Origem, tentou inserir as filhas Giulia, de 18 anos, e Luana, de 22, no cotidiano da cozinha. Mas cada uma seguiu por um caminho. “Tenho duas filhotas completamente diferentes uma da outra: a mais nova gosta de comer e sente prazer com a alimentação, enquanto para a mais velha tanto faz comer ou não comer, ela não liga. Tentei, desde que elas eram pequenininhas, fazer com que interagissem comigo na cozinha e quisessem aprender, até porque a minha maior preocupação era que fossem independentes.”

Lisiane conta que sempre quis ter pelo menos uma das meninas nos restaurantes. “Até para que dessem continuidade às receitas e a tudo o que a gente faz”, diz. E ainda não perdeu as esperanças. “A mais nova, que hoje é artista e tem esse lado criativo, pode se interessar pela arte da gastronomia em algum momento. Ela já foi até garçonete do Ori, o que foi muito bacana.”

A cozinha como forma de reencontro entre mãe e filhos

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Mas não importa o caminho que os filhos possam seguir, o importante é que o tempo não apaga as memórias das chefs e de seus filhos na cozinha. O ambiente, mesmo com suas queimaduras e percalços, continua sendo um ponto de encontro ainda na idade adulta. Afinal, por mais que idas e vindas tenham marcado essas relações entre filhos e mãe, compartilhar o espaço da cozinha continua sendo uma forma de reencontro.

Floriana Breyer, 39 anos, filha mais velha da chef Carla Pernambuco, sempre participou do Carlota trazendo ingredientes novos para a cozinha do bistrô. “Floriana sempre foi a nossa ‘forager’, que pesquisava produtos e trazia essas novidades para o Carlota”, conta a chef.

Da vontade de levar esses sabores e saberes para mais gente, nasceu o SinestesiXLab, uma parceria entre mãe e filha que gera receitas, conteúdos audiovisuais, novos produtos para o mercado, aulas e experiências sinestésicas e biodiversas. “Estar ao lado da minha filha em um projeto tão bacana idealizado por ela agrega tanto para o Carlota quanto para a nossa relação de mãe e filha. Em um mundo tão corrido, é mais um motivo pra nos reunirmos”, se orgulha a chef.

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Outra boa história é da chef e padeira Claudia Rezende, da Zestzing Padaria Artesanal. Seus três filhos hoje estão com 26 e 28 anos. E amam cozinhar. “Em casa, sempre gostei de compartilhar com meus filhos e marido a cozinha. E hoje fico muito orgulhosa, pois sei que plantei essa semente neles, a de comer a comida feita por você mesmo”, explica a chef em entrevista ao Estadão.

Claudia Rezende, da Zestzing Padaria Artesanal, mostra que a cozinha pode permanecer como espaço de convivência com os filhos Foto: Michele Minerbo

  Cada um dos filhos tem uma relação diferente com a comida. Michele, de 26 anos, pediu um curso formal de gastronomia para a mãe na época em que foi morar fora. “Hoje, é ela quem faz muitas vezes o jantar”, conta Claudia. Rafael, da mesma idade, mora sozinho e cozinha muito bem. “Quando a família se reúne, ele faz a comida com ajuda dos irmãos, quase não me deixam entrar na cozinha.”

Camile, de 28 anos, decidiu se tornar vegana. “Ela fazia questão de preparar suas refeições. Nem me deixava comprar os ingredientes. Hoje ela mora em Portugal e nem preciso falar que se vira muito bem”, diz a padeira, que ainda dá pitacos na hora de cozinhar, mesmo com os filhos à frente do preparo: “[Eu quero] tentar mostrar sempre o melhor jeito de fazer. Coisa de chef. Ou seria de mãe?”

Chef Bel Coelho e seus filhos Francisco, de 8 anos, e José, de 5 anos Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A chama do fogão pode assustar, uma faca afiada pode machucar. Mas, ainda assim, a cozinha também pode ser um lugar para crianças. Nela, os pequenos podem usar o ambiente como espaço de comunicação e de criação, como garantem chefs mães que celebram a cozinha com seus filhos. 

Bel Coelho dispensa apresentações. Paulistana com vinte anos de carreira, ela comanda dois restaurantes estrelados, o Clandestino e o Canto da Bel. E, em casa, não esconde a alegria de ter os filhos Francisco e José, de seis e quatro anos, sempre pela cozinha.

“Eu adoro que eles tenham bastante interesse e curiosidade em saber o que está sendo feito. Já chegam pedindo um banquinho para ficar na altura da bancada”, conta a chef. “Ensino sobretudo habilidades básicas de como manusear uma faca e o fogo para que eles não se machuquem. Hoje, a relação deles com a comida e a cozinha é natural e prazerosa. Acho que construímos isso porque sempre desejei que tivessem uma experiência saudável com o ato de comer e de cozinhar.”

O filho da chef Roberta Julião, do Da Feira ao Baile, ainda não está na idade de subir no banquinho – Matias tem apenas alguns meses. No entanto, Roberta já introduz o nenê no mundo colorido e saboroso da comida, indo muito além da papinha sem gosto. Não é à toa que, na conta oficial de Roberta no Instagram, é possível ver o pequeno experimentando até mesmo um pratão de chuchu com coentro.

“Comer vai muito além de se nutrir. É compartilhar, estar junto, apreciar, saborear. E quero passar essa paixão ao meu filho. Tento mostrar a importância do momento da refeição, o quanto pode ser prazeroso e divertido, um momento da família unida.”

O pequeno Matias, de 8 meses, participa ativamente da rotina da chef Roberta Julião Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

É também uma forma de comunicação. “Sem dúvida. É um dos motivos pelos quais dou a ele a liberdade para descobrir a comida, comer como e quanto quiser, sendo o protagonista de sua introdução alimentar, sem pressa e respeitando o seu tempo.”

Dia a dia de mãe no restaurante

Janaína Rueda, chef do Bar da Dona Onça e d’A Casa do Porco, também entende a cozinha de casa como espaço de convivência. Mas vai além, inserindo as crianças no seu dia a dia também nos restaurantes. Tanto que a história profissional da chef e de seu marido, Jefferson Rueda, se entrelaça com as memórias de João Pedro, hoje com 16 anos, e Joaquim José, de 12 anos. 

“Meus filhos praticamente nasceram e cresceram na cozinha. A primeira papinha do João saiu na imprensa, com receita e fotos dele”, lembra Janaína. “Eu cozinhei no fogão do Bar da Dona Onça, enjoando com o cheiro do alho, até os oito meses de gestação do Joaquim. E ele foi amamentado naquela cozinha. Tanto o João quanto o Joaquim já passaram pela cozinha do Hot Pork e, hoje, o primeiro emprego do João é como garde manger d’A Casa do Porco. É muito natural para eles, que têm mãe e pai cozinheiros. Está no nosso sangue. Mesmo que no futuro eles não queiram exercer a profissão, o aprendizado fica para a vida.”

Retrato da chef Janaína Rueda com os filhos Joaquim e João Pedro na cozinha da casa da família Foto: FOTO TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Lisiane Arouca, sócia-proprietária e chef-pâtissière do Origem, tentou inserir as filhas Giulia, de 18 anos, e Luana, de 22, no cotidiano da cozinha. Mas cada uma seguiu por um caminho. “Tenho duas filhotas completamente diferentes uma da outra: a mais nova gosta de comer e sente prazer com a alimentação, enquanto para a mais velha tanto faz comer ou não comer, ela não liga. Tentei, desde que elas eram pequenininhas, fazer com que interagissem comigo na cozinha e quisessem aprender, até porque a minha maior preocupação era que fossem independentes.”

Lisiane conta que sempre quis ter pelo menos uma das meninas nos restaurantes. “Até para que dessem continuidade às receitas e a tudo o que a gente faz”, diz. E ainda não perdeu as esperanças. “A mais nova, que hoje é artista e tem esse lado criativo, pode se interessar pela arte da gastronomia em algum momento. Ela já foi até garçonete do Ori, o que foi muito bacana.”

A cozinha como forma de reencontro entre mãe e filhos

Mas não importa o caminho que os filhos possam seguir, o importante é que o tempo não apaga as memórias das chefs e de seus filhos na cozinha. O ambiente, mesmo com suas queimaduras e percalços, continua sendo um ponto de encontro ainda na idade adulta. Afinal, por mais que idas e vindas tenham marcado essas relações entre filhos e mãe, compartilhar o espaço da cozinha continua sendo uma forma de reencontro.

Floriana Breyer, 39 anos, filha mais velha da chef Carla Pernambuco, sempre participou do Carlota trazendo ingredientes novos para a cozinha do bistrô. “Floriana sempre foi a nossa ‘forager’, que pesquisava produtos e trazia essas novidades para o Carlota”, conta a chef.

Da vontade de levar esses sabores e saberes para mais gente, nasceu o SinestesiXLab, uma parceria entre mãe e filha que gera receitas, conteúdos audiovisuais, novos produtos para o mercado, aulas e experiências sinestésicas e biodiversas. “Estar ao lado da minha filha em um projeto tão bacana idealizado por ela agrega tanto para o Carlota quanto para a nossa relação de mãe e filha. Em um mundo tão corrido, é mais um motivo pra nos reunirmos”, se orgulha a chef.

Outra boa história é da chef e padeira Claudia Rezende, da Zestzing Padaria Artesanal. Seus três filhos hoje estão com 26 e 28 anos. E amam cozinhar. “Em casa, sempre gostei de compartilhar com meus filhos e marido a cozinha. E hoje fico muito orgulhosa, pois sei que plantei essa semente neles, a de comer a comida feita por você mesmo”, explica a chef em entrevista ao Estadão.

Claudia Rezende, da Zestzing Padaria Artesanal, mostra que a cozinha pode permanecer como espaço de convivência com os filhos Foto: Michele Minerbo

  Cada um dos filhos tem uma relação diferente com a comida. Michele, de 26 anos, pediu um curso formal de gastronomia para a mãe na época em que foi morar fora. “Hoje, é ela quem faz muitas vezes o jantar”, conta Claudia. Rafael, da mesma idade, mora sozinho e cozinha muito bem. “Quando a família se reúne, ele faz a comida com ajuda dos irmãos, quase não me deixam entrar na cozinha.”

Camile, de 28 anos, decidiu se tornar vegana. “Ela fazia questão de preparar suas refeições. Nem me deixava comprar os ingredientes. Hoje ela mora em Portugal e nem preciso falar que se vira muito bem”, diz a padeira, que ainda dá pitacos na hora de cozinhar, mesmo com os filhos à frente do preparo: “[Eu quero] tentar mostrar sempre o melhor jeito de fazer. Coisa de chef. Ou seria de mãe?”

Chef Bel Coelho e seus filhos Francisco, de 8 anos, e José, de 5 anos Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A chama do fogão pode assustar, uma faca afiada pode machucar. Mas, ainda assim, a cozinha também pode ser um lugar para crianças. Nela, os pequenos podem usar o ambiente como espaço de comunicação e de criação, como garantem chefs mães que celebram a cozinha com seus filhos. 

Bel Coelho dispensa apresentações. Paulistana com vinte anos de carreira, ela comanda dois restaurantes estrelados, o Clandestino e o Canto da Bel. E, em casa, não esconde a alegria de ter os filhos Francisco e José, de seis e quatro anos, sempre pela cozinha.

“Eu adoro que eles tenham bastante interesse e curiosidade em saber o que está sendo feito. Já chegam pedindo um banquinho para ficar na altura da bancada”, conta a chef. “Ensino sobretudo habilidades básicas de como manusear uma faca e o fogo para que eles não se machuquem. Hoje, a relação deles com a comida e a cozinha é natural e prazerosa. Acho que construímos isso porque sempre desejei que tivessem uma experiência saudável com o ato de comer e de cozinhar.”

O filho da chef Roberta Julião, do Da Feira ao Baile, ainda não está na idade de subir no banquinho – Matias tem apenas alguns meses. No entanto, Roberta já introduz o nenê no mundo colorido e saboroso da comida, indo muito além da papinha sem gosto. Não é à toa que, na conta oficial de Roberta no Instagram, é possível ver o pequeno experimentando até mesmo um pratão de chuchu com coentro.

“Comer vai muito além de se nutrir. É compartilhar, estar junto, apreciar, saborear. E quero passar essa paixão ao meu filho. Tento mostrar a importância do momento da refeição, o quanto pode ser prazeroso e divertido, um momento da família unida.”

O pequeno Matias, de 8 meses, participa ativamente da rotina da chef Roberta Julião Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

É também uma forma de comunicação. “Sem dúvida. É um dos motivos pelos quais dou a ele a liberdade para descobrir a comida, comer como e quanto quiser, sendo o protagonista de sua introdução alimentar, sem pressa e respeitando o seu tempo.”

Dia a dia de mãe no restaurante

Janaína Rueda, chef do Bar da Dona Onça e d’A Casa do Porco, também entende a cozinha de casa como espaço de convivência. Mas vai além, inserindo as crianças no seu dia a dia também nos restaurantes. Tanto que a história profissional da chef e de seu marido, Jefferson Rueda, se entrelaça com as memórias de João Pedro, hoje com 16 anos, e Joaquim José, de 12 anos. 

“Meus filhos praticamente nasceram e cresceram na cozinha. A primeira papinha do João saiu na imprensa, com receita e fotos dele”, lembra Janaína. “Eu cozinhei no fogão do Bar da Dona Onça, enjoando com o cheiro do alho, até os oito meses de gestação do Joaquim. E ele foi amamentado naquela cozinha. Tanto o João quanto o Joaquim já passaram pela cozinha do Hot Pork e, hoje, o primeiro emprego do João é como garde manger d’A Casa do Porco. É muito natural para eles, que têm mãe e pai cozinheiros. Está no nosso sangue. Mesmo que no futuro eles não queiram exercer a profissão, o aprendizado fica para a vida.”

Retrato da chef Janaína Rueda com os filhos Joaquim e João Pedro na cozinha da casa da família Foto: FOTO TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Lisiane Arouca, sócia-proprietária e chef-pâtissière do Origem, tentou inserir as filhas Giulia, de 18 anos, e Luana, de 22, no cotidiano da cozinha. Mas cada uma seguiu por um caminho. “Tenho duas filhotas completamente diferentes uma da outra: a mais nova gosta de comer e sente prazer com a alimentação, enquanto para a mais velha tanto faz comer ou não comer, ela não liga. Tentei, desde que elas eram pequenininhas, fazer com que interagissem comigo na cozinha e quisessem aprender, até porque a minha maior preocupação era que fossem independentes.”

Lisiane conta que sempre quis ter pelo menos uma das meninas nos restaurantes. “Até para que dessem continuidade às receitas e a tudo o que a gente faz”, diz. E ainda não perdeu as esperanças. “A mais nova, que hoje é artista e tem esse lado criativo, pode se interessar pela arte da gastronomia em algum momento. Ela já foi até garçonete do Ori, o que foi muito bacana.”

A cozinha como forma de reencontro entre mãe e filhos

Mas não importa o caminho que os filhos possam seguir, o importante é que o tempo não apaga as memórias das chefs e de seus filhos na cozinha. O ambiente, mesmo com suas queimaduras e percalços, continua sendo um ponto de encontro ainda na idade adulta. Afinal, por mais que idas e vindas tenham marcado essas relações entre filhos e mãe, compartilhar o espaço da cozinha continua sendo uma forma de reencontro.

Floriana Breyer, 39 anos, filha mais velha da chef Carla Pernambuco, sempre participou do Carlota trazendo ingredientes novos para a cozinha do bistrô. “Floriana sempre foi a nossa ‘forager’, que pesquisava produtos e trazia essas novidades para o Carlota”, conta a chef.

Da vontade de levar esses sabores e saberes para mais gente, nasceu o SinestesiXLab, uma parceria entre mãe e filha que gera receitas, conteúdos audiovisuais, novos produtos para o mercado, aulas e experiências sinestésicas e biodiversas. “Estar ao lado da minha filha em um projeto tão bacana idealizado por ela agrega tanto para o Carlota quanto para a nossa relação de mãe e filha. Em um mundo tão corrido, é mais um motivo pra nos reunirmos”, se orgulha a chef.

Outra boa história é da chef e padeira Claudia Rezende, da Zestzing Padaria Artesanal. Seus três filhos hoje estão com 26 e 28 anos. E amam cozinhar. “Em casa, sempre gostei de compartilhar com meus filhos e marido a cozinha. E hoje fico muito orgulhosa, pois sei que plantei essa semente neles, a de comer a comida feita por você mesmo”, explica a chef em entrevista ao Estadão.

Claudia Rezende, da Zestzing Padaria Artesanal, mostra que a cozinha pode permanecer como espaço de convivência com os filhos Foto: Michele Minerbo

  Cada um dos filhos tem uma relação diferente com a comida. Michele, de 26 anos, pediu um curso formal de gastronomia para a mãe na época em que foi morar fora. “Hoje, é ela quem faz muitas vezes o jantar”, conta Claudia. Rafael, da mesma idade, mora sozinho e cozinha muito bem. “Quando a família se reúne, ele faz a comida com ajuda dos irmãos, quase não me deixam entrar na cozinha.”

Camile, de 28 anos, decidiu se tornar vegana. “Ela fazia questão de preparar suas refeições. Nem me deixava comprar os ingredientes. Hoje ela mora em Portugal e nem preciso falar que se vira muito bem”, diz a padeira, que ainda dá pitacos na hora de cozinhar, mesmo com os filhos à frente do preparo: “[Eu quero] tentar mostrar sempre o melhor jeito de fazer. Coisa de chef. Ou seria de mãe?”

Chef Bel Coelho e seus filhos Francisco, de 8 anos, e José, de 5 anos Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A chama do fogão pode assustar, uma faca afiada pode machucar. Mas, ainda assim, a cozinha também pode ser um lugar para crianças. Nela, os pequenos podem usar o ambiente como espaço de comunicação e de criação, como garantem chefs mães que celebram a cozinha com seus filhos. 

Bel Coelho dispensa apresentações. Paulistana com vinte anos de carreira, ela comanda dois restaurantes estrelados, o Clandestino e o Canto da Bel. E, em casa, não esconde a alegria de ter os filhos Francisco e José, de seis e quatro anos, sempre pela cozinha.

“Eu adoro que eles tenham bastante interesse e curiosidade em saber o que está sendo feito. Já chegam pedindo um banquinho para ficar na altura da bancada”, conta a chef. “Ensino sobretudo habilidades básicas de como manusear uma faca e o fogo para que eles não se machuquem. Hoje, a relação deles com a comida e a cozinha é natural e prazerosa. Acho que construímos isso porque sempre desejei que tivessem uma experiência saudável com o ato de comer e de cozinhar.”

O filho da chef Roberta Julião, do Da Feira ao Baile, ainda não está na idade de subir no banquinho – Matias tem apenas alguns meses. No entanto, Roberta já introduz o nenê no mundo colorido e saboroso da comida, indo muito além da papinha sem gosto. Não é à toa que, na conta oficial de Roberta no Instagram, é possível ver o pequeno experimentando até mesmo um pratão de chuchu com coentro.

“Comer vai muito além de se nutrir. É compartilhar, estar junto, apreciar, saborear. E quero passar essa paixão ao meu filho. Tento mostrar a importância do momento da refeição, o quanto pode ser prazeroso e divertido, um momento da família unida.”

O pequeno Matias, de 8 meses, participa ativamente da rotina da chef Roberta Julião Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

É também uma forma de comunicação. “Sem dúvida. É um dos motivos pelos quais dou a ele a liberdade para descobrir a comida, comer como e quanto quiser, sendo o protagonista de sua introdução alimentar, sem pressa e respeitando o seu tempo.”

Dia a dia de mãe no restaurante

Janaína Rueda, chef do Bar da Dona Onça e d’A Casa do Porco, também entende a cozinha de casa como espaço de convivência. Mas vai além, inserindo as crianças no seu dia a dia também nos restaurantes. Tanto que a história profissional da chef e de seu marido, Jefferson Rueda, se entrelaça com as memórias de João Pedro, hoje com 16 anos, e Joaquim José, de 12 anos. 

“Meus filhos praticamente nasceram e cresceram na cozinha. A primeira papinha do João saiu na imprensa, com receita e fotos dele”, lembra Janaína. “Eu cozinhei no fogão do Bar da Dona Onça, enjoando com o cheiro do alho, até os oito meses de gestação do Joaquim. E ele foi amamentado naquela cozinha. Tanto o João quanto o Joaquim já passaram pela cozinha do Hot Pork e, hoje, o primeiro emprego do João é como garde manger d’A Casa do Porco. É muito natural para eles, que têm mãe e pai cozinheiros. Está no nosso sangue. Mesmo que no futuro eles não queiram exercer a profissão, o aprendizado fica para a vida.”

Retrato da chef Janaína Rueda com os filhos Joaquim e João Pedro na cozinha da casa da família Foto: FOTO TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Lisiane Arouca, sócia-proprietária e chef-pâtissière do Origem, tentou inserir as filhas Giulia, de 18 anos, e Luana, de 22, no cotidiano da cozinha. Mas cada uma seguiu por um caminho. “Tenho duas filhotas completamente diferentes uma da outra: a mais nova gosta de comer e sente prazer com a alimentação, enquanto para a mais velha tanto faz comer ou não comer, ela não liga. Tentei, desde que elas eram pequenininhas, fazer com que interagissem comigo na cozinha e quisessem aprender, até porque a minha maior preocupação era que fossem independentes.”

Lisiane conta que sempre quis ter pelo menos uma das meninas nos restaurantes. “Até para que dessem continuidade às receitas e a tudo o que a gente faz”, diz. E ainda não perdeu as esperanças. “A mais nova, que hoje é artista e tem esse lado criativo, pode se interessar pela arte da gastronomia em algum momento. Ela já foi até garçonete do Ori, o que foi muito bacana.”

A cozinha como forma de reencontro entre mãe e filhos

Mas não importa o caminho que os filhos possam seguir, o importante é que o tempo não apaga as memórias das chefs e de seus filhos na cozinha. O ambiente, mesmo com suas queimaduras e percalços, continua sendo um ponto de encontro ainda na idade adulta. Afinal, por mais que idas e vindas tenham marcado essas relações entre filhos e mãe, compartilhar o espaço da cozinha continua sendo uma forma de reencontro.

Floriana Breyer, 39 anos, filha mais velha da chef Carla Pernambuco, sempre participou do Carlota trazendo ingredientes novos para a cozinha do bistrô. “Floriana sempre foi a nossa ‘forager’, que pesquisava produtos e trazia essas novidades para o Carlota”, conta a chef.

Da vontade de levar esses sabores e saberes para mais gente, nasceu o SinestesiXLab, uma parceria entre mãe e filha que gera receitas, conteúdos audiovisuais, novos produtos para o mercado, aulas e experiências sinestésicas e biodiversas. “Estar ao lado da minha filha em um projeto tão bacana idealizado por ela agrega tanto para o Carlota quanto para a nossa relação de mãe e filha. Em um mundo tão corrido, é mais um motivo pra nos reunirmos”, se orgulha a chef.

Outra boa história é da chef e padeira Claudia Rezende, da Zestzing Padaria Artesanal. Seus três filhos hoje estão com 26 e 28 anos. E amam cozinhar. “Em casa, sempre gostei de compartilhar com meus filhos e marido a cozinha. E hoje fico muito orgulhosa, pois sei que plantei essa semente neles, a de comer a comida feita por você mesmo”, explica a chef em entrevista ao Estadão.

Claudia Rezende, da Zestzing Padaria Artesanal, mostra que a cozinha pode permanecer como espaço de convivência com os filhos Foto: Michele Minerbo

  Cada um dos filhos tem uma relação diferente com a comida. Michele, de 26 anos, pediu um curso formal de gastronomia para a mãe na época em que foi morar fora. “Hoje, é ela quem faz muitas vezes o jantar”, conta Claudia. Rafael, da mesma idade, mora sozinho e cozinha muito bem. “Quando a família se reúne, ele faz a comida com ajuda dos irmãos, quase não me deixam entrar na cozinha.”

Camile, de 28 anos, decidiu se tornar vegana. “Ela fazia questão de preparar suas refeições. Nem me deixava comprar os ingredientes. Hoje ela mora em Portugal e nem preciso falar que se vira muito bem”, diz a padeira, que ainda dá pitacos na hora de cozinhar, mesmo com os filhos à frente do preparo: “[Eu quero] tentar mostrar sempre o melhor jeito de fazer. Coisa de chef. Ou seria de mãe?”

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