Sem auxílio governamental, restaurantes devem quebrar em um mês


Com estabelecimentos fechados, chefs e restaurateurs afirmam não ter caixa para arcar com os custos fixos como a folha de pagamento

Por Danielle Nagase e Renata Mesquita

“Se o governo não ajudar, quebramos em um mês.” A reportagem do Paladar escutou essa afirmação repetidas vezes, em conversas com chefs e donos de restaurantes sobre a atual crise na restauração, causada pelo surto do coronavírus.

Apesar de o governo não ter ordenado o fechamento dos estabelecimentos – a orientação, por hora, é operar com capacidade reduzida do salão, com um metro de distanciamento entre as mesas – grande parte dos restaurateurs adiantaram-se à medida, na tentativa de contribuir com o isolamento social.

“Eu não quero as pessoas saiam de casa nesse momento. Que sentido tem eu ficar aberto?”, explicou o chef Luiz Filipe Souza, do italiano Evvai, que fechou as portas por tempo indeterminado na última terça-feira (17). Na tentativa de diminuir os danos ao faturamento, o restaurante estreou um sistema de delivery e take away (pegue e leve) temporário. “Hoje, o delivery é uma questão de sobrevivência”, diz Luiz Filipe.

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O chef Luiz Filipe Souza, do italiano Evvai Foto: Amanda Perobelli/Estadão

A mesma saída foi usada por outras dezenas de restaurantes, que correram para se cadastrar nos aplicativos de delivery - alguns utilizam sistema próprio de entrega -, adaptar cardápios e embalagens. A medida, porém, é suficiente para cobrir nem os custos fixos de um estabelecimento, que incluem aluguel, folha de pagamento dos funcionários, tributos e contas de consumo, como água e luz. 

Além do delivery outras medidas paliativas usadas pelos bares e restaurantes é a venda de vouchers, nos quais o cliente paga hoje e para usar depois da crise, assim como banco de horas e férias coletivas.

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Segundo Renata Vanzetto, chef e sócia dos cinco restaurantes do grupo Eme - que são Ema, MeGusta, Matilda, Muquifo e Mé - afirma que o delivery “está saindo bastante, mas nada se compara ao faturamento diário”, que segundo ela caiu 80%. O que entra agora “não paga nem o salário de quem ficou”, lamenta.

A chef contou à reportagem que na última terça-feira (17) precisou demitir 25 funcionários dos 120 que mantinha na empresa antes da crise. “Se a gente continuasse com a folha no volume que estava, a gente ia quebrar e todo mundo perderia o emprego.”

A chef Renata Vanzetto do grupo Eme Foto: Gabriela Biló/Estadão
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Como o salário da equipe é uma das principais preocupações do setor, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) reivindicou, em conversa com o presidente Jair Bolsonaro e o Ministro da Economia Paulo Guedes, que o Governo Federal arque com a folha de pagamento dos funcionários de restaurantes cadastrados no Simples Nacional.

“Se isso não acontecer, em 30 ou 40 dias, serão mais de 3 milhões de pessoas na rua, o que vai agravar ainda mais o problema”, afirma Percival Maricato, presidente da Abrasel em São Paulo. Em contrapartida, os restaurantes se comprometeriam a manter o quadro de funcionários e demais obrigações trabalhistas.

O Ministério da Economia já concedeu prazo maior para o pagamento dos tributos federais do Simples Nacional. Desta forma, o acerto referente aos meses de março, abril e maio deste ano fica postergado para outubro, novembro e dezembro, respectivamente. Sobre a folha de pagamento, Guedes afirmou aos representantes da Abrasel que a proposta segue em análise no ministério. 

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Em âmbito municipal e estadual, a Abrasel reivindica o adiamento no pagamento de impostos e taxas, como o IPTU, além da criação de linhas de financiamento viáveis para os estabelecimentos. “Existe um fundamento jurídico, o próprio governo está restringindo a atividade [dos restaurantes], diminuindo o faturamento dos mesmos. Ele não pode esperar que tenham dinheiro para arcar com as taxas e tributos”, afirma Maricato. Ainda segundo Maricato, “99% das empresas do setor não têm reservas técnicas”. 

Salão do restaurante Cais, na Vila Madalena Foto: Daniel Teixeira/Estadão

"O grande problema no caso dos restaurantes é que a gente vende hoje para pagar amanhã. É uma questão fluxo de caixa", afirma Guilherme Giraldi, do Cais, na Vila Madalena. O restaurante inaugurado há pouco mais de quatro meses fechou as portas por tempo indeterminado na última terça-feira. “Além do pouco tempo de operação, viemos de um mês de ruim, com o baixo movimento do carnaval. Agora com essa crise tive que renegociar o valor do aluguel e ir atrás de empréstimos para pagar o salário dos funcionários nesse mês”, conta Giraldi. 

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"O que precisamos é de mais abonos [de impostos e taxas]. O negócio é exonerar, não empurrar para frente. Se tivermos que pagar tudo integralmente, quebramos, e logo. O governo está sendo muito lento com adoção de medidas”, complementa Giraldi.

Ainda de portas abertas

Janaina Rueda, sócia d’A Casa do Porco e do Bar da Dona Onça, entre outros, diz que o grupo ainda mantém os restaurantes abertos - seguindo todas as orientações de prevenção à covid-19 da Organização Mundial da Saúde - como forma de pressionar o governo a adotar medidas de salvaguarda aos estabelecimentos. “Quando o governo decreta o fechamento devido à pandemia, há contrapartidas. Se você fecha espontaneamente, você arca com tudo sozinho. A ideia é ter poder de barganha, facilitando a negociação”, afirma a chef.

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Com 243 funcionários, Janaina reivindica a liberação de dois meses do seguro desemprego. “Nós pagaríamos um mês de férias e o governo arcaria com mais dois. Assim daria para manter os funcionários por, pelo menos, três meses em casa”, explica.

Janaina e Jefferson Rueda, chefs d'A Casa do Porco. Foto: Renata Mesquita/Estadão

Pelo mesmo motivo, Edrey Momo, do grupo da Esquina, também mantém as portas de suas casas abertas. “Uso o acordo coletivo e sobrevivo como empresário, ‘matando’ 350 irmãos, ou continuo funcionando e lutando para que o governo faça sua parte? Fico com a segunda opção. Quando me chamam de irresponsável, propagador de vírus, maluco e afins, digo que miséria, desemprego e fome são num país como o nosso talvez mais letais”, protesta Momo.

Mobilização

Também como forma de pressionar o governo, chefs e restaurateurs se organizam em grupos de Whatsapp para alinhar seus reivindicações. Nesta sexta-feira (20), um dos grupos, com mais 250 participantes, entre eles representantes dos restaurantes Ruella, Fitó, Firin Salonu, Tasca da Esquina, Evvai e A Casa do Porco, fazem o seguinte apelo. 

Alerta de colapso!

Mais de 6 milhões de pessoas podem perder o emprego! Precisamos da participação do governo para garantir:

1º O pagamento de funcionários durante a paralização (seja por FAT, Seguro Desemprego, qualquer que seja)

2°Suspensão de todas as obrigações de pagamento de impostos pelos proximos 90 dias. İncluindo as 3 esferas.

3°Criação de linha de crédito pelo Estado. Sabemos dos riscos que um restaurante aberto e a população nas ruas podem causar. Estamos fechando nossas portas e diminuindo as operações por isso. Mas somos responsáveis por uma indústria que movimenta milhões de empregos em todo o Brasil e precisamos garantir que tantas famílias não percam suas fontes de renda e cheguem a miséria.

E como fazer isso sem faturamento?

Todo mundo tem um restaurante do coração. Aquele lugar no qual celebrou uma data especial, ouviu boas notícias ou comemorou uma conquista.

Mas você já imaginou o quanto custa pra manter aquela estrutura ativa?

São aluguéis altos, muitos impostos, gastos elevados com aluguel, água, luz e gás. Mas principalmente, os custos que envolvem a mão de obra, nossos Colaboradores. Aqueles que se dispõe a servir para te proporcionar lazer, independente de ser aos finais de semana, feriados, férias, madrugadas.

Seres humanos, arrimos de família, que precisam daquele sustento.

O que fazemos com nossos colaboradores durante a paralização? Como quitar as dívidas com fornecedores que são pequenos como nós? E depois que tudo isso acabar, como continuaremos?

Para evitar a quebra de muitos e a demissão em massa, precisamos de ajuda!

Por isso, compartilhe essa ideia. Ajude a sobrevivência dos nossos Colaboradores e #restaurantes ! #naodeixefecharaconta #sosbarestaurante

“Se o governo não ajudar, quebramos em um mês.” A reportagem do Paladar escutou essa afirmação repetidas vezes, em conversas com chefs e donos de restaurantes sobre a atual crise na restauração, causada pelo surto do coronavírus.

Apesar de o governo não ter ordenado o fechamento dos estabelecimentos – a orientação, por hora, é operar com capacidade reduzida do salão, com um metro de distanciamento entre as mesas – grande parte dos restaurateurs adiantaram-se à medida, na tentativa de contribuir com o isolamento social.

“Eu não quero as pessoas saiam de casa nesse momento. Que sentido tem eu ficar aberto?”, explicou o chef Luiz Filipe Souza, do italiano Evvai, que fechou as portas por tempo indeterminado na última terça-feira (17). Na tentativa de diminuir os danos ao faturamento, o restaurante estreou um sistema de delivery e take away (pegue e leve) temporário. “Hoje, o delivery é uma questão de sobrevivência”, diz Luiz Filipe.

O chef Luiz Filipe Souza, do italiano Evvai Foto: Amanda Perobelli/Estadão

A mesma saída foi usada por outras dezenas de restaurantes, que correram para se cadastrar nos aplicativos de delivery - alguns utilizam sistema próprio de entrega -, adaptar cardápios e embalagens. A medida, porém, é suficiente para cobrir nem os custos fixos de um estabelecimento, que incluem aluguel, folha de pagamento dos funcionários, tributos e contas de consumo, como água e luz. 

Além do delivery outras medidas paliativas usadas pelos bares e restaurantes é a venda de vouchers, nos quais o cliente paga hoje e para usar depois da crise, assim como banco de horas e férias coletivas.

Segundo Renata Vanzetto, chef e sócia dos cinco restaurantes do grupo Eme - que são Ema, MeGusta, Matilda, Muquifo e Mé - afirma que o delivery “está saindo bastante, mas nada se compara ao faturamento diário”, que segundo ela caiu 80%. O que entra agora “não paga nem o salário de quem ficou”, lamenta.

A chef contou à reportagem que na última terça-feira (17) precisou demitir 25 funcionários dos 120 que mantinha na empresa antes da crise. “Se a gente continuasse com a folha no volume que estava, a gente ia quebrar e todo mundo perderia o emprego.”

A chef Renata Vanzetto do grupo Eme Foto: Gabriela Biló/Estadão

Como o salário da equipe é uma das principais preocupações do setor, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) reivindicou, em conversa com o presidente Jair Bolsonaro e o Ministro da Economia Paulo Guedes, que o Governo Federal arque com a folha de pagamento dos funcionários de restaurantes cadastrados no Simples Nacional.

“Se isso não acontecer, em 30 ou 40 dias, serão mais de 3 milhões de pessoas na rua, o que vai agravar ainda mais o problema”, afirma Percival Maricato, presidente da Abrasel em São Paulo. Em contrapartida, os restaurantes se comprometeriam a manter o quadro de funcionários e demais obrigações trabalhistas.

O Ministério da Economia já concedeu prazo maior para o pagamento dos tributos federais do Simples Nacional. Desta forma, o acerto referente aos meses de março, abril e maio deste ano fica postergado para outubro, novembro e dezembro, respectivamente. Sobre a folha de pagamento, Guedes afirmou aos representantes da Abrasel que a proposta segue em análise no ministério. 

Em âmbito municipal e estadual, a Abrasel reivindica o adiamento no pagamento de impostos e taxas, como o IPTU, além da criação de linhas de financiamento viáveis para os estabelecimentos. “Existe um fundamento jurídico, o próprio governo está restringindo a atividade [dos restaurantes], diminuindo o faturamento dos mesmos. Ele não pode esperar que tenham dinheiro para arcar com as taxas e tributos”, afirma Maricato. Ainda segundo Maricato, “99% das empresas do setor não têm reservas técnicas”. 

Salão do restaurante Cais, na Vila Madalena Foto: Daniel Teixeira/Estadão

"O grande problema no caso dos restaurantes é que a gente vende hoje para pagar amanhã. É uma questão fluxo de caixa", afirma Guilherme Giraldi, do Cais, na Vila Madalena. O restaurante inaugurado há pouco mais de quatro meses fechou as portas por tempo indeterminado na última terça-feira. “Além do pouco tempo de operação, viemos de um mês de ruim, com o baixo movimento do carnaval. Agora com essa crise tive que renegociar o valor do aluguel e ir atrás de empréstimos para pagar o salário dos funcionários nesse mês”, conta Giraldi. 

"O que precisamos é de mais abonos [de impostos e taxas]. O negócio é exonerar, não empurrar para frente. Se tivermos que pagar tudo integralmente, quebramos, e logo. O governo está sendo muito lento com adoção de medidas”, complementa Giraldi.

Ainda de portas abertas

Janaina Rueda, sócia d’A Casa do Porco e do Bar da Dona Onça, entre outros, diz que o grupo ainda mantém os restaurantes abertos - seguindo todas as orientações de prevenção à covid-19 da Organização Mundial da Saúde - como forma de pressionar o governo a adotar medidas de salvaguarda aos estabelecimentos. “Quando o governo decreta o fechamento devido à pandemia, há contrapartidas. Se você fecha espontaneamente, você arca com tudo sozinho. A ideia é ter poder de barganha, facilitando a negociação”, afirma a chef.

Com 243 funcionários, Janaina reivindica a liberação de dois meses do seguro desemprego. “Nós pagaríamos um mês de férias e o governo arcaria com mais dois. Assim daria para manter os funcionários por, pelo menos, três meses em casa”, explica.

Janaina e Jefferson Rueda, chefs d'A Casa do Porco. Foto: Renata Mesquita/Estadão

Pelo mesmo motivo, Edrey Momo, do grupo da Esquina, também mantém as portas de suas casas abertas. “Uso o acordo coletivo e sobrevivo como empresário, ‘matando’ 350 irmãos, ou continuo funcionando e lutando para que o governo faça sua parte? Fico com a segunda opção. Quando me chamam de irresponsável, propagador de vírus, maluco e afins, digo que miséria, desemprego e fome são num país como o nosso talvez mais letais”, protesta Momo.

Mobilização

Também como forma de pressionar o governo, chefs e restaurateurs se organizam em grupos de Whatsapp para alinhar seus reivindicações. Nesta sexta-feira (20), um dos grupos, com mais 250 participantes, entre eles representantes dos restaurantes Ruella, Fitó, Firin Salonu, Tasca da Esquina, Evvai e A Casa do Porco, fazem o seguinte apelo. 

Alerta de colapso!

Mais de 6 milhões de pessoas podem perder o emprego! Precisamos da participação do governo para garantir:

1º O pagamento de funcionários durante a paralização (seja por FAT, Seguro Desemprego, qualquer que seja)

2°Suspensão de todas as obrigações de pagamento de impostos pelos proximos 90 dias. İncluindo as 3 esferas.

3°Criação de linha de crédito pelo Estado. Sabemos dos riscos que um restaurante aberto e a população nas ruas podem causar. Estamos fechando nossas portas e diminuindo as operações por isso. Mas somos responsáveis por uma indústria que movimenta milhões de empregos em todo o Brasil e precisamos garantir que tantas famílias não percam suas fontes de renda e cheguem a miséria.

E como fazer isso sem faturamento?

Todo mundo tem um restaurante do coração. Aquele lugar no qual celebrou uma data especial, ouviu boas notícias ou comemorou uma conquista.

Mas você já imaginou o quanto custa pra manter aquela estrutura ativa?

São aluguéis altos, muitos impostos, gastos elevados com aluguel, água, luz e gás. Mas principalmente, os custos que envolvem a mão de obra, nossos Colaboradores. Aqueles que se dispõe a servir para te proporcionar lazer, independente de ser aos finais de semana, feriados, férias, madrugadas.

Seres humanos, arrimos de família, que precisam daquele sustento.

O que fazemos com nossos colaboradores durante a paralização? Como quitar as dívidas com fornecedores que são pequenos como nós? E depois que tudo isso acabar, como continuaremos?

Para evitar a quebra de muitos e a demissão em massa, precisamos de ajuda!

Por isso, compartilhe essa ideia. Ajude a sobrevivência dos nossos Colaboradores e #restaurantes ! #naodeixefecharaconta #sosbarestaurante

“Se o governo não ajudar, quebramos em um mês.” A reportagem do Paladar escutou essa afirmação repetidas vezes, em conversas com chefs e donos de restaurantes sobre a atual crise na restauração, causada pelo surto do coronavírus.

Apesar de o governo não ter ordenado o fechamento dos estabelecimentos – a orientação, por hora, é operar com capacidade reduzida do salão, com um metro de distanciamento entre as mesas – grande parte dos restaurateurs adiantaram-se à medida, na tentativa de contribuir com o isolamento social.

“Eu não quero as pessoas saiam de casa nesse momento. Que sentido tem eu ficar aberto?”, explicou o chef Luiz Filipe Souza, do italiano Evvai, que fechou as portas por tempo indeterminado na última terça-feira (17). Na tentativa de diminuir os danos ao faturamento, o restaurante estreou um sistema de delivery e take away (pegue e leve) temporário. “Hoje, o delivery é uma questão de sobrevivência”, diz Luiz Filipe.

O chef Luiz Filipe Souza, do italiano Evvai Foto: Amanda Perobelli/Estadão

A mesma saída foi usada por outras dezenas de restaurantes, que correram para se cadastrar nos aplicativos de delivery - alguns utilizam sistema próprio de entrega -, adaptar cardápios e embalagens. A medida, porém, é suficiente para cobrir nem os custos fixos de um estabelecimento, que incluem aluguel, folha de pagamento dos funcionários, tributos e contas de consumo, como água e luz. 

Além do delivery outras medidas paliativas usadas pelos bares e restaurantes é a venda de vouchers, nos quais o cliente paga hoje e para usar depois da crise, assim como banco de horas e férias coletivas.

Segundo Renata Vanzetto, chef e sócia dos cinco restaurantes do grupo Eme - que são Ema, MeGusta, Matilda, Muquifo e Mé - afirma que o delivery “está saindo bastante, mas nada se compara ao faturamento diário”, que segundo ela caiu 80%. O que entra agora “não paga nem o salário de quem ficou”, lamenta.

A chef contou à reportagem que na última terça-feira (17) precisou demitir 25 funcionários dos 120 que mantinha na empresa antes da crise. “Se a gente continuasse com a folha no volume que estava, a gente ia quebrar e todo mundo perderia o emprego.”

A chef Renata Vanzetto do grupo Eme Foto: Gabriela Biló/Estadão

Como o salário da equipe é uma das principais preocupações do setor, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) reivindicou, em conversa com o presidente Jair Bolsonaro e o Ministro da Economia Paulo Guedes, que o Governo Federal arque com a folha de pagamento dos funcionários de restaurantes cadastrados no Simples Nacional.

“Se isso não acontecer, em 30 ou 40 dias, serão mais de 3 milhões de pessoas na rua, o que vai agravar ainda mais o problema”, afirma Percival Maricato, presidente da Abrasel em São Paulo. Em contrapartida, os restaurantes se comprometeriam a manter o quadro de funcionários e demais obrigações trabalhistas.

O Ministério da Economia já concedeu prazo maior para o pagamento dos tributos federais do Simples Nacional. Desta forma, o acerto referente aos meses de março, abril e maio deste ano fica postergado para outubro, novembro e dezembro, respectivamente. Sobre a folha de pagamento, Guedes afirmou aos representantes da Abrasel que a proposta segue em análise no ministério. 

Em âmbito municipal e estadual, a Abrasel reivindica o adiamento no pagamento de impostos e taxas, como o IPTU, além da criação de linhas de financiamento viáveis para os estabelecimentos. “Existe um fundamento jurídico, o próprio governo está restringindo a atividade [dos restaurantes], diminuindo o faturamento dos mesmos. Ele não pode esperar que tenham dinheiro para arcar com as taxas e tributos”, afirma Maricato. Ainda segundo Maricato, “99% das empresas do setor não têm reservas técnicas”. 

Salão do restaurante Cais, na Vila Madalena Foto: Daniel Teixeira/Estadão

"O grande problema no caso dos restaurantes é que a gente vende hoje para pagar amanhã. É uma questão fluxo de caixa", afirma Guilherme Giraldi, do Cais, na Vila Madalena. O restaurante inaugurado há pouco mais de quatro meses fechou as portas por tempo indeterminado na última terça-feira. “Além do pouco tempo de operação, viemos de um mês de ruim, com o baixo movimento do carnaval. Agora com essa crise tive que renegociar o valor do aluguel e ir atrás de empréstimos para pagar o salário dos funcionários nesse mês”, conta Giraldi. 

"O que precisamos é de mais abonos [de impostos e taxas]. O negócio é exonerar, não empurrar para frente. Se tivermos que pagar tudo integralmente, quebramos, e logo. O governo está sendo muito lento com adoção de medidas”, complementa Giraldi.

Ainda de portas abertas

Janaina Rueda, sócia d’A Casa do Porco e do Bar da Dona Onça, entre outros, diz que o grupo ainda mantém os restaurantes abertos - seguindo todas as orientações de prevenção à covid-19 da Organização Mundial da Saúde - como forma de pressionar o governo a adotar medidas de salvaguarda aos estabelecimentos. “Quando o governo decreta o fechamento devido à pandemia, há contrapartidas. Se você fecha espontaneamente, você arca com tudo sozinho. A ideia é ter poder de barganha, facilitando a negociação”, afirma a chef.

Com 243 funcionários, Janaina reivindica a liberação de dois meses do seguro desemprego. “Nós pagaríamos um mês de férias e o governo arcaria com mais dois. Assim daria para manter os funcionários por, pelo menos, três meses em casa”, explica.

Janaina e Jefferson Rueda, chefs d'A Casa do Porco. Foto: Renata Mesquita/Estadão

Pelo mesmo motivo, Edrey Momo, do grupo da Esquina, também mantém as portas de suas casas abertas. “Uso o acordo coletivo e sobrevivo como empresário, ‘matando’ 350 irmãos, ou continuo funcionando e lutando para que o governo faça sua parte? Fico com a segunda opção. Quando me chamam de irresponsável, propagador de vírus, maluco e afins, digo que miséria, desemprego e fome são num país como o nosso talvez mais letais”, protesta Momo.

Mobilização

Também como forma de pressionar o governo, chefs e restaurateurs se organizam em grupos de Whatsapp para alinhar seus reivindicações. Nesta sexta-feira (20), um dos grupos, com mais 250 participantes, entre eles representantes dos restaurantes Ruella, Fitó, Firin Salonu, Tasca da Esquina, Evvai e A Casa do Porco, fazem o seguinte apelo. 

Alerta de colapso!

Mais de 6 milhões de pessoas podem perder o emprego! Precisamos da participação do governo para garantir:

1º O pagamento de funcionários durante a paralização (seja por FAT, Seguro Desemprego, qualquer que seja)

2°Suspensão de todas as obrigações de pagamento de impostos pelos proximos 90 dias. İncluindo as 3 esferas.

3°Criação de linha de crédito pelo Estado. Sabemos dos riscos que um restaurante aberto e a população nas ruas podem causar. Estamos fechando nossas portas e diminuindo as operações por isso. Mas somos responsáveis por uma indústria que movimenta milhões de empregos em todo o Brasil e precisamos garantir que tantas famílias não percam suas fontes de renda e cheguem a miséria.

E como fazer isso sem faturamento?

Todo mundo tem um restaurante do coração. Aquele lugar no qual celebrou uma data especial, ouviu boas notícias ou comemorou uma conquista.

Mas você já imaginou o quanto custa pra manter aquela estrutura ativa?

São aluguéis altos, muitos impostos, gastos elevados com aluguel, água, luz e gás. Mas principalmente, os custos que envolvem a mão de obra, nossos Colaboradores. Aqueles que se dispõe a servir para te proporcionar lazer, independente de ser aos finais de semana, feriados, férias, madrugadas.

Seres humanos, arrimos de família, que precisam daquele sustento.

O que fazemos com nossos colaboradores durante a paralização? Como quitar as dívidas com fornecedores que são pequenos como nós? E depois que tudo isso acabar, como continuaremos?

Para evitar a quebra de muitos e a demissão em massa, precisamos de ajuda!

Por isso, compartilhe essa ideia. Ajude a sobrevivência dos nossos Colaboradores e #restaurantes ! #naodeixefecharaconta #sosbarestaurante

“Se o governo não ajudar, quebramos em um mês.” A reportagem do Paladar escutou essa afirmação repetidas vezes, em conversas com chefs e donos de restaurantes sobre a atual crise na restauração, causada pelo surto do coronavírus.

Apesar de o governo não ter ordenado o fechamento dos estabelecimentos – a orientação, por hora, é operar com capacidade reduzida do salão, com um metro de distanciamento entre as mesas – grande parte dos restaurateurs adiantaram-se à medida, na tentativa de contribuir com o isolamento social.

“Eu não quero as pessoas saiam de casa nesse momento. Que sentido tem eu ficar aberto?”, explicou o chef Luiz Filipe Souza, do italiano Evvai, que fechou as portas por tempo indeterminado na última terça-feira (17). Na tentativa de diminuir os danos ao faturamento, o restaurante estreou um sistema de delivery e take away (pegue e leve) temporário. “Hoje, o delivery é uma questão de sobrevivência”, diz Luiz Filipe.

O chef Luiz Filipe Souza, do italiano Evvai Foto: Amanda Perobelli/Estadão

A mesma saída foi usada por outras dezenas de restaurantes, que correram para se cadastrar nos aplicativos de delivery - alguns utilizam sistema próprio de entrega -, adaptar cardápios e embalagens. A medida, porém, é suficiente para cobrir nem os custos fixos de um estabelecimento, que incluem aluguel, folha de pagamento dos funcionários, tributos e contas de consumo, como água e luz. 

Além do delivery outras medidas paliativas usadas pelos bares e restaurantes é a venda de vouchers, nos quais o cliente paga hoje e para usar depois da crise, assim como banco de horas e férias coletivas.

Segundo Renata Vanzetto, chef e sócia dos cinco restaurantes do grupo Eme - que são Ema, MeGusta, Matilda, Muquifo e Mé - afirma que o delivery “está saindo bastante, mas nada se compara ao faturamento diário”, que segundo ela caiu 80%. O que entra agora “não paga nem o salário de quem ficou”, lamenta.

A chef contou à reportagem que na última terça-feira (17) precisou demitir 25 funcionários dos 120 que mantinha na empresa antes da crise. “Se a gente continuasse com a folha no volume que estava, a gente ia quebrar e todo mundo perderia o emprego.”

A chef Renata Vanzetto do grupo Eme Foto: Gabriela Biló/Estadão

Como o salário da equipe é uma das principais preocupações do setor, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) reivindicou, em conversa com o presidente Jair Bolsonaro e o Ministro da Economia Paulo Guedes, que o Governo Federal arque com a folha de pagamento dos funcionários de restaurantes cadastrados no Simples Nacional.

“Se isso não acontecer, em 30 ou 40 dias, serão mais de 3 milhões de pessoas na rua, o que vai agravar ainda mais o problema”, afirma Percival Maricato, presidente da Abrasel em São Paulo. Em contrapartida, os restaurantes se comprometeriam a manter o quadro de funcionários e demais obrigações trabalhistas.

O Ministério da Economia já concedeu prazo maior para o pagamento dos tributos federais do Simples Nacional. Desta forma, o acerto referente aos meses de março, abril e maio deste ano fica postergado para outubro, novembro e dezembro, respectivamente. Sobre a folha de pagamento, Guedes afirmou aos representantes da Abrasel que a proposta segue em análise no ministério. 

Em âmbito municipal e estadual, a Abrasel reivindica o adiamento no pagamento de impostos e taxas, como o IPTU, além da criação de linhas de financiamento viáveis para os estabelecimentos. “Existe um fundamento jurídico, o próprio governo está restringindo a atividade [dos restaurantes], diminuindo o faturamento dos mesmos. Ele não pode esperar que tenham dinheiro para arcar com as taxas e tributos”, afirma Maricato. Ainda segundo Maricato, “99% das empresas do setor não têm reservas técnicas”. 

Salão do restaurante Cais, na Vila Madalena Foto: Daniel Teixeira/Estadão

"O grande problema no caso dos restaurantes é que a gente vende hoje para pagar amanhã. É uma questão fluxo de caixa", afirma Guilherme Giraldi, do Cais, na Vila Madalena. O restaurante inaugurado há pouco mais de quatro meses fechou as portas por tempo indeterminado na última terça-feira. “Além do pouco tempo de operação, viemos de um mês de ruim, com o baixo movimento do carnaval. Agora com essa crise tive que renegociar o valor do aluguel e ir atrás de empréstimos para pagar o salário dos funcionários nesse mês”, conta Giraldi. 

"O que precisamos é de mais abonos [de impostos e taxas]. O negócio é exonerar, não empurrar para frente. Se tivermos que pagar tudo integralmente, quebramos, e logo. O governo está sendo muito lento com adoção de medidas”, complementa Giraldi.

Ainda de portas abertas

Janaina Rueda, sócia d’A Casa do Porco e do Bar da Dona Onça, entre outros, diz que o grupo ainda mantém os restaurantes abertos - seguindo todas as orientações de prevenção à covid-19 da Organização Mundial da Saúde - como forma de pressionar o governo a adotar medidas de salvaguarda aos estabelecimentos. “Quando o governo decreta o fechamento devido à pandemia, há contrapartidas. Se você fecha espontaneamente, você arca com tudo sozinho. A ideia é ter poder de barganha, facilitando a negociação”, afirma a chef.

Com 243 funcionários, Janaina reivindica a liberação de dois meses do seguro desemprego. “Nós pagaríamos um mês de férias e o governo arcaria com mais dois. Assim daria para manter os funcionários por, pelo menos, três meses em casa”, explica.

Janaina e Jefferson Rueda, chefs d'A Casa do Porco. Foto: Renata Mesquita/Estadão

Pelo mesmo motivo, Edrey Momo, do grupo da Esquina, também mantém as portas de suas casas abertas. “Uso o acordo coletivo e sobrevivo como empresário, ‘matando’ 350 irmãos, ou continuo funcionando e lutando para que o governo faça sua parte? Fico com a segunda opção. Quando me chamam de irresponsável, propagador de vírus, maluco e afins, digo que miséria, desemprego e fome são num país como o nosso talvez mais letais”, protesta Momo.

Mobilização

Também como forma de pressionar o governo, chefs e restaurateurs se organizam em grupos de Whatsapp para alinhar seus reivindicações. Nesta sexta-feira (20), um dos grupos, com mais 250 participantes, entre eles representantes dos restaurantes Ruella, Fitó, Firin Salonu, Tasca da Esquina, Evvai e A Casa do Porco, fazem o seguinte apelo. 

Alerta de colapso!

Mais de 6 milhões de pessoas podem perder o emprego! Precisamos da participação do governo para garantir:

1º O pagamento de funcionários durante a paralização (seja por FAT, Seguro Desemprego, qualquer que seja)

2°Suspensão de todas as obrigações de pagamento de impostos pelos proximos 90 dias. İncluindo as 3 esferas.

3°Criação de linha de crédito pelo Estado. Sabemos dos riscos que um restaurante aberto e a população nas ruas podem causar. Estamos fechando nossas portas e diminuindo as operações por isso. Mas somos responsáveis por uma indústria que movimenta milhões de empregos em todo o Brasil e precisamos garantir que tantas famílias não percam suas fontes de renda e cheguem a miséria.

E como fazer isso sem faturamento?

Todo mundo tem um restaurante do coração. Aquele lugar no qual celebrou uma data especial, ouviu boas notícias ou comemorou uma conquista.

Mas você já imaginou o quanto custa pra manter aquela estrutura ativa?

São aluguéis altos, muitos impostos, gastos elevados com aluguel, água, luz e gás. Mas principalmente, os custos que envolvem a mão de obra, nossos Colaboradores. Aqueles que se dispõe a servir para te proporcionar lazer, independente de ser aos finais de semana, feriados, férias, madrugadas.

Seres humanos, arrimos de família, que precisam daquele sustento.

O que fazemos com nossos colaboradores durante a paralização? Como quitar as dívidas com fornecedores que são pequenos como nós? E depois que tudo isso acabar, como continuaremos?

Para evitar a quebra de muitos e a demissão em massa, precisamos de ajuda!

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