Eu devia ter uns 3 ou 4 anos quando descobri que a esfirra do Baalbeck, na Galeria Menescal, era uma delícia. A partir daí, sempre ia feliz ao pediatra que tinha consultório no prédio, porque depois teria parada nesta rotisseria árabe de Copacabana, que até hoje me emociona. Dali em diante a comida passou a ser um dos meus grandes interesses.
Meus pais e avós sempre gostaram de me levar a bares e restaurantes, e desde criança eu passei a comer com atenção. Conversava com os garçons, e no fim estava lá na cozinha, batendo papo com a equipe.
Um pouco mais tarde, com uns 8 ou 9 anos, outro evento marcante na minha vida. Era semana do Natal e a família estava toda reunida na casa de campo, em Teresópolis. Deveríamos ser umas 15 ou 20 pessoas ao todo. Fui para a cozinha pela primeira vez, sem avisar ninguém. Peguei um livro de receita de minha mãe e fiz um rocambole recheado com doce de leite de lata, desses feitos na panela de pressão - que eu havia pedido para alguém preparar para mim junto com o feijão do dia. Quando ficou pronto, levei para a sala o doce, e foi um sucesso total. Ali eu vi que esse negócio de comida é muito legal e que cozinhar para os outros é o maior barato. O rocambole acabou no dia, em pouco tempo, mas o assunto rendeu alguns dias.
Para mim, dura até hoje.
Praticamente em todos os fins de semana a gente ia a algum restaurante. Mas havia dias especiais, quando o almoço acontecia, por exemplo, no português Antiquarius, no italiano Satyricon, primeiro em Búzios, e depois em Ipanema, e na Dona Irene, restaurante russo em Teresópolis que está completando 60 anos em 2024, onde uma refeição para mim é sempre uma emoção. Dava para perceber o que era bom, o que era muito bom e o que era excelente, em todos os aspectos: ambiente, serviço, e a própria comida, obviamente.
Na adolescência eu era o churrasqueiro da galera, e gostava de cozinhar para os amigos. E as viagens sempre passaram a ter os bares e restaurantes como pontos importantes. Nos anos 1990 não era tão popular assim a gastronomia entre os jovens. Nem entre os mais velhos. Não havia tantos programas de TV, festivais e prêmios como vemos hoje. Chefs não eram celebridade. Era outro mundo.
Fui fazer jornalismo, ainda muito interessado em viagens e comidas. Porque uma coisa leva a outra. Mas, trabalhar na área não era um desejo muito viável, havia muito pouco conteúdo a respeito nos veículos. Imagine, por exemplo, que o Paladar, suplemento de gastronomia pioneiro no Brasil, foi lançado em 2005.
Sem ter muita noção do caminho a seguir na profissão, fui fazer Jornalismo. Acabei, em 2001, contratado como estagiário do Jornal do Brasil para trabalhar na editoria de automóveis, que também compreendia o suplemento de turismo. Foi a minha sorte, e o que me trouxe até aqui, junto com a esfirra do Baalbeck, com o rocambole pra família e com as visitas a restaurantes - foi uma cadeia de acontecimentos.
Logo o editor viu que eu gostava de viagens, e já tinha um bom acervo de reportagens na manga, a respeito de alguns roteiros recentes, pelo interior do Rio, Minas Gerais e Bahia. Assim, comecei a escrever meus primeiros textos de turismo, sempre tendo a gastronomia como norte, como assunto principal.
Penso que a comida é o melhor caminho para se perceber um lugar, para entender as pessoas e sua cultura. Além da mais divertida e naturalmente, saborosa. As pessoas sempre viajaram para comer e beber, mas nunca como agora. Para muita gente, hoje, os mais importantes pontos turísticos de um lugar são seus restaurantes e bares, suas vinícolas e cervejarias, e os produtores de alimentos e bebidas, de modo geral. E não mais seus monumentos e museus, suas praias etc.
Sou desses.
Pudera: não há meio melhor de entender um destino do que através da comida e da bebida locais. Seus bares e restaurantes contam mais sobre uma cidade do que qualquer outra coisa, é o que eu acredito.
E é por isso que eu estou aqui. Começando hoje a conversar com vocês neste blog, Seleção Carioca, uma expressão que uso há algum tempo, direto do Rio de Janeiro.
Nesta página, farei exatamente o que o nome sugere: elencar o que há de melhor no Rio de Janeiro quando o assunto é comer e beber. Muitas fotos, crônicas sobre bares e restaurantes da cidade, apresentando novidades, revisitando os clássicos, montando listas, trazendo convidados. Um espaço de compartilhamento de informações, de troca, de relacionamento.
Muito feliz e honrado com o convite, venho a partir de hoje ocupar esse nobre espaço dentro do Paladar com a missão de mandar notícias gastronômicas do Rio de Janeiro e também das viagens que faço.
Perguntas e comentários serão sempre muito bem-vindos.
Vamos juntos! Grato desde já pela companhia.