Vamos beber e falar sobre cerveja

Presidente da Abracerva renuncia após vazamento de mensagens sexistas


Além de Carlo Lapolli, toda a diretoria da Associação Brasileira da Cerveja Artesanal deixou o cargo; Nadhine França assume interinamente

Por Heloisa Lupinacci

Vazamento de mensagens racistas e machistas levaram à renúncia, na noite de quarta, do presidente da Associação Brasileira da Cerveja Artesanal (Abracerva), Carlo Lapolli, e de toda a diretoria da associação. Além das trocas de conteúdo racista (assunto desta da coluna há duas semanas), circularam, nesta semana, novas mensagens, desta vez de teor sexista e escritas por Lapolli – ele havia se posicionado publicamente, admitindo ter feito parte do grupo, mas dizendo ter saído incomodado pelo teor do conteúdo trocado ali.

Carlo Napolli, que renunciou à presidência da Abracerva. Foto: Bruno Dupon

Com a saída de toda a cúpula da associação, Nadhine França assume a presidência interinamente. Você também conhece a Nadhine: ela coordena do Núcleo de Diversidade e apareceu aqui em Só de Birra há duas semanas, comentando a onda de ataques.

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Para entender a história, siga o breve retrospecto abaixo.

Entenda a história

Núcleo de Diversidade - No dia 23/6, a Abracerva anuncia a criação do Núcleo de Diversidade, liderado do Nadhine França.

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Ataque à Implicantes - No fim de junho, a primeira fábrica cervejeira negra no Brasil sofre ataque coordenado em páginas ligadas à cervejaria (e em grupos fechados).

Reação ao ataque - Sommeliers e blogueiros publicam textos abordando o racismo no mercado cervejeiro. Por outro lado, "piadas" racistas ganham força nos grupos.

Garrett Oliver - O ícone e cervejeiro da Brooklyn Brewery, à frente de um grande projeto de inclusão de minorias no mercado, elogia texto antirracista da sommelière Fernanda Meybom. O elogio gera nova onda de ataques racistas e machistas nos grupos cervejeiros (alguns direcionados a Meybom).

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Vazamento 'Illuminati'- Em 14/8, vaza compilado de imagens de mensagens do grupo Illuminati, criado em 2015, que reúne apenas homens do mercado cervejeiro. As mensagens cobrem um longo período e incluem a repercussão aos episódios recentes e ataques diretos a Sara Araújo, a @negracervejasommelier (que escreveu Só de Birra em meados de junho).

Entrevista ao Fantástico - Domingo, Araújo dá entrevista ao Fantástico, em reportagem sobre o racismo no mercado cervejeiro. Lapolli também – fala que fez parte do grupo e saiu e destaca a importância do Núcleo de Diversidade.

Novo vazamento - Na segunda, começam a circular imagens de mensagens de conteúdo sexista escritas por Lapolli.

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Repercussão - Sommelières e blogueiras se posicionam contra os ataques. Em comunicado aos membros da Abracerva, Lapolli afasta a possibilidade de renúncia.

Quarta-feira - Única mulher na diretoria da Abracerva por meses, a sommelière Taiga Cazarine renuncia pela manhã, incomodada com a falta de representatividade. À noite, Lapolli anuncia sua renúncia e convida toda a diretoria a sair, para uma renovação total. Nadhine França é escolhida para assumir a presidência interina até nova eleição, prevista para outubro.

Não acabou - Ainda na noite de quarta começaram a circular novas mensagens, de mais grupos que reúnem cervejeiros, com conteúdo racista e machista.

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Nadhine França,sommelièree cervejeira, assume interinamente presidência da Abracerva. Foto: Arquivo Pessoal

Conheça Nadhine França

Nadhine França, 34 anos,é recifense, mora em Pernambuco, é formada analista de sistemas, sommeliére (Ceres-Senac) e cervejeira (Instituto da Cerveja Brasil - ICB). É coordenadora do ICB-PE, diretora da Abracerva-PE, coordenadora do núcleo de diversidade da Abracerva e agora presidente-interina da associação. 

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Ela entrou na cerveja artesanal por meio da Confraria Feminina Maria Bonita, mergulhou nos estudos e foi em busca de espaço no mercado cervejeiro. No ano passado, apresentou a proposta da criação do Núcleo de Diversidade à Abracerva. "Com o estopim dos protestos antirracistas nos EUA e toda a movimentação que isso gerou aqui, tomamos fôlego para recuperar a proposta", conta. Com poucos meses de criação, o núcleo, além de debates promovidos via lives, apresentou para discussão pública um código de ética a ser adotado pela Abracerva a partir dos recentes episódios. 

Repercussão

“Da tempestade, o sol. Eu sinceramente espero que esse passo seja plena luz à pluralidade e representatividade na comunidade cervejeira brasileira. Precisamos muito dessa mudança de rota de comportamento. Não cabe - nunca coube - a covardia da violência. Nadhine França é a personificação do grito ‘basta’ de muitos de nós.”

Cilene Saorin, mestre-cervejeira e sommelière

"Talvez quem bebe a cerveja, sem conexão nenhuma com o que está submerso, não queira saber deste 'novo normal' politizado. Mas a coerência e a ética precisam ser trazidas à tona. De quem é essa responsabilidade? Das empresas, das associações, dos profissionais individualmente, dos cidadãos civilizados."

Bia Amorim, sommelière

Vazamento de mensagens racistas e machistas levaram à renúncia, na noite de quarta, do presidente da Associação Brasileira da Cerveja Artesanal (Abracerva), Carlo Lapolli, e de toda a diretoria da associação. Além das trocas de conteúdo racista (assunto desta da coluna há duas semanas), circularam, nesta semana, novas mensagens, desta vez de teor sexista e escritas por Lapolli – ele havia se posicionado publicamente, admitindo ter feito parte do grupo, mas dizendo ter saído incomodado pelo teor do conteúdo trocado ali.

Carlo Napolli, que renunciou à presidência da Abracerva. Foto: Bruno Dupon

Com a saída de toda a cúpula da associação, Nadhine França assume a presidência interinamente. Você também conhece a Nadhine: ela coordena do Núcleo de Diversidade e apareceu aqui em Só de Birra há duas semanas, comentando a onda de ataques.

Para entender a história, siga o breve retrospecto abaixo.

Entenda a história

Núcleo de Diversidade - No dia 23/6, a Abracerva anuncia a criação do Núcleo de Diversidade, liderado do Nadhine França.

Ataque à Implicantes - No fim de junho, a primeira fábrica cervejeira negra no Brasil sofre ataque coordenado em páginas ligadas à cervejaria (e em grupos fechados).

Reação ao ataque - Sommeliers e blogueiros publicam textos abordando o racismo no mercado cervejeiro. Por outro lado, "piadas" racistas ganham força nos grupos.

Garrett Oliver - O ícone e cervejeiro da Brooklyn Brewery, à frente de um grande projeto de inclusão de minorias no mercado, elogia texto antirracista da sommelière Fernanda Meybom. O elogio gera nova onda de ataques racistas e machistas nos grupos cervejeiros (alguns direcionados a Meybom).

Vazamento 'Illuminati'- Em 14/8, vaza compilado de imagens de mensagens do grupo Illuminati, criado em 2015, que reúne apenas homens do mercado cervejeiro. As mensagens cobrem um longo período e incluem a repercussão aos episódios recentes e ataques diretos a Sara Araújo, a @negracervejasommelier (que escreveu Só de Birra em meados de junho).

Entrevista ao Fantástico - Domingo, Araújo dá entrevista ao Fantástico, em reportagem sobre o racismo no mercado cervejeiro. Lapolli também – fala que fez parte do grupo e saiu e destaca a importância do Núcleo de Diversidade.

Novo vazamento - Na segunda, começam a circular imagens de mensagens de conteúdo sexista escritas por Lapolli.

Repercussão - Sommelières e blogueiras se posicionam contra os ataques. Em comunicado aos membros da Abracerva, Lapolli afasta a possibilidade de renúncia.

Quarta-feira - Única mulher na diretoria da Abracerva por meses, a sommelière Taiga Cazarine renuncia pela manhã, incomodada com a falta de representatividade. À noite, Lapolli anuncia sua renúncia e convida toda a diretoria a sair, para uma renovação total. Nadhine França é escolhida para assumir a presidência interina até nova eleição, prevista para outubro.

Não acabou - Ainda na noite de quarta começaram a circular novas mensagens, de mais grupos que reúnem cervejeiros, com conteúdo racista e machista.

Nadhine França,sommelièree cervejeira, assume interinamente presidência da Abracerva. Foto: Arquivo Pessoal

Conheça Nadhine França

Nadhine França, 34 anos,é recifense, mora em Pernambuco, é formada analista de sistemas, sommeliére (Ceres-Senac) e cervejeira (Instituto da Cerveja Brasil - ICB). É coordenadora do ICB-PE, diretora da Abracerva-PE, coordenadora do núcleo de diversidade da Abracerva e agora presidente-interina da associação. 

Ela entrou na cerveja artesanal por meio da Confraria Feminina Maria Bonita, mergulhou nos estudos e foi em busca de espaço no mercado cervejeiro. No ano passado, apresentou a proposta da criação do Núcleo de Diversidade à Abracerva. "Com o estopim dos protestos antirracistas nos EUA e toda a movimentação que isso gerou aqui, tomamos fôlego para recuperar a proposta", conta. Com poucos meses de criação, o núcleo, além de debates promovidos via lives, apresentou para discussão pública um código de ética a ser adotado pela Abracerva a partir dos recentes episódios. 

Repercussão

“Da tempestade, o sol. Eu sinceramente espero que esse passo seja plena luz à pluralidade e representatividade na comunidade cervejeira brasileira. Precisamos muito dessa mudança de rota de comportamento. Não cabe - nunca coube - a covardia da violência. Nadhine França é a personificação do grito ‘basta’ de muitos de nós.”

Cilene Saorin, mestre-cervejeira e sommelière

"Talvez quem bebe a cerveja, sem conexão nenhuma com o que está submerso, não queira saber deste 'novo normal' politizado. Mas a coerência e a ética precisam ser trazidas à tona. De quem é essa responsabilidade? Das empresas, das associações, dos profissionais individualmente, dos cidadãos civilizados."

Bia Amorim, sommelière

Vazamento de mensagens racistas e machistas levaram à renúncia, na noite de quarta, do presidente da Associação Brasileira da Cerveja Artesanal (Abracerva), Carlo Lapolli, e de toda a diretoria da associação. Além das trocas de conteúdo racista (assunto desta da coluna há duas semanas), circularam, nesta semana, novas mensagens, desta vez de teor sexista e escritas por Lapolli – ele havia se posicionado publicamente, admitindo ter feito parte do grupo, mas dizendo ter saído incomodado pelo teor do conteúdo trocado ali.

Carlo Napolli, que renunciou à presidência da Abracerva. Foto: Bruno Dupon

Com a saída de toda a cúpula da associação, Nadhine França assume a presidência interinamente. Você também conhece a Nadhine: ela coordena do Núcleo de Diversidade e apareceu aqui em Só de Birra há duas semanas, comentando a onda de ataques.

Para entender a história, siga o breve retrospecto abaixo.

Entenda a história

Núcleo de Diversidade - No dia 23/6, a Abracerva anuncia a criação do Núcleo de Diversidade, liderado do Nadhine França.

Ataque à Implicantes - No fim de junho, a primeira fábrica cervejeira negra no Brasil sofre ataque coordenado em páginas ligadas à cervejaria (e em grupos fechados).

Reação ao ataque - Sommeliers e blogueiros publicam textos abordando o racismo no mercado cervejeiro. Por outro lado, "piadas" racistas ganham força nos grupos.

Garrett Oliver - O ícone e cervejeiro da Brooklyn Brewery, à frente de um grande projeto de inclusão de minorias no mercado, elogia texto antirracista da sommelière Fernanda Meybom. O elogio gera nova onda de ataques racistas e machistas nos grupos cervejeiros (alguns direcionados a Meybom).

Vazamento 'Illuminati'- Em 14/8, vaza compilado de imagens de mensagens do grupo Illuminati, criado em 2015, que reúne apenas homens do mercado cervejeiro. As mensagens cobrem um longo período e incluem a repercussão aos episódios recentes e ataques diretos a Sara Araújo, a @negracervejasommelier (que escreveu Só de Birra em meados de junho).

Entrevista ao Fantástico - Domingo, Araújo dá entrevista ao Fantástico, em reportagem sobre o racismo no mercado cervejeiro. Lapolli também – fala que fez parte do grupo e saiu e destaca a importância do Núcleo de Diversidade.

Novo vazamento - Na segunda, começam a circular imagens de mensagens de conteúdo sexista escritas por Lapolli.

Repercussão - Sommelières e blogueiras se posicionam contra os ataques. Em comunicado aos membros da Abracerva, Lapolli afasta a possibilidade de renúncia.

Quarta-feira - Única mulher na diretoria da Abracerva por meses, a sommelière Taiga Cazarine renuncia pela manhã, incomodada com a falta de representatividade. À noite, Lapolli anuncia sua renúncia e convida toda a diretoria a sair, para uma renovação total. Nadhine França é escolhida para assumir a presidência interina até nova eleição, prevista para outubro.

Não acabou - Ainda na noite de quarta começaram a circular novas mensagens, de mais grupos que reúnem cervejeiros, com conteúdo racista e machista.

Nadhine França,sommelièree cervejeira, assume interinamente presidência da Abracerva. Foto: Arquivo Pessoal

Conheça Nadhine França

Nadhine França, 34 anos,é recifense, mora em Pernambuco, é formada analista de sistemas, sommeliére (Ceres-Senac) e cervejeira (Instituto da Cerveja Brasil - ICB). É coordenadora do ICB-PE, diretora da Abracerva-PE, coordenadora do núcleo de diversidade da Abracerva e agora presidente-interina da associação. 

Ela entrou na cerveja artesanal por meio da Confraria Feminina Maria Bonita, mergulhou nos estudos e foi em busca de espaço no mercado cervejeiro. No ano passado, apresentou a proposta da criação do Núcleo de Diversidade à Abracerva. "Com o estopim dos protestos antirracistas nos EUA e toda a movimentação que isso gerou aqui, tomamos fôlego para recuperar a proposta", conta. Com poucos meses de criação, o núcleo, além de debates promovidos via lives, apresentou para discussão pública um código de ética a ser adotado pela Abracerva a partir dos recentes episódios. 

Repercussão

“Da tempestade, o sol. Eu sinceramente espero que esse passo seja plena luz à pluralidade e representatividade na comunidade cervejeira brasileira. Precisamos muito dessa mudança de rota de comportamento. Não cabe - nunca coube - a covardia da violência. Nadhine França é a personificação do grito ‘basta’ de muitos de nós.”

Cilene Saorin, mestre-cervejeira e sommelière

"Talvez quem bebe a cerveja, sem conexão nenhuma com o que está submerso, não queira saber deste 'novo normal' politizado. Mas a coerência e a ética precisam ser trazidas à tona. De quem é essa responsabilidade? Das empresas, das associações, dos profissionais individualmente, dos cidadãos civilizados."

Bia Amorim, sommelière

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