O coletivo de salvaguarda - produtores, curadores, associações e instituições - que gere os Modos de Fazer o Queijo Minas Artesanal, terminou de revisar seu plano de salvaguarda. É uma revalidação que deve acontecer a cada 10 anos, prevista por decreto do Iphan, mas atrasou pela dificuldade de reunir os produtores na pandemia e para ter mais tempo para todos darem seus palpites essenciais. Os encontros foram realizados em 2023 e 2024.
"Isso visa assegurar a salvaguarda de conhecimentos e técnicas relacionadas à produção de queijo, desenvolvidas ao longo dos últimos três séculos, por pequenos produtores rurais de Minas Gerais," explica Corina Moreira, cientista social do IPHAN. Com a antropóloga Tainah Leite e sua equipe, elas incorporaram no plano as mudanças que ocorreram desde 2008.
Saber material sempre muda
"Saber imaterial é algo vivo", disse Corina. No caso do queijo mineiro, ele está vivíssimo. A mudança mais visível, já no título do documento, é que o "Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas", no singular, contemplando antes três regiões: Serro, Canastra e Salitre-Alto Paranaíba, virou "Modos de Fazer" no plural. Entraram as regiões de Araxá, Triângulo Mineiro, Campo das Vertentes, Serras da Ibitipoca, Entre Serras da Piedade ao Caraça e Diamantina. É o único bem imaterial brasileiro que teve alteração no nome e na zona de abrangência.
O documento fala da preocupação dos produtores com o bem-estar animal, enfatiza o papel do queijo nas relações de boa vizinhança e na deliciosa hospitalidade e gastronomia mineira das comunidades rurais, que têm forte sentimento de pertencimento.
No coletivo, as discussões mais quentes foram em defesa da microbiodiversidade dos queijos de casca florida natural. Os produtores conseguiram não deixar entrar o pacotinho de fermento do comércio na receita, para não alterar a naturalidade e sabor do queijo. A próxima batalha é contra a proibição do uso de utensílios seculares de madeira, questão que promete...
O documento é um planejamento de ações a serem desenvolvidas a curto, médio e longo prazo. "Vai muito além de preservar o produto em si, é perenizar nossa cultura, nossas tradições e nossa identidade. Significa manter o orgulho de sermos mineiros e exaltar nosso modo de vida. Representa a garantia de geração de renda para inúmeras famílias de pequenos produtores rurais, com a perpetuação da nossa arte em forma de queijo", diz Ricardo Boscaro, do Sebrae-MG.
Plano fortalece candidatura ao Livro dos Saberes
Todos estamos na torcida para que os Modos de Fazer o Queijo Minas Artesanal entre para a lista representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A candidatura está em análise técnica pelo Comitê Intergovernamental da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco. A resposta está prevista para uma reunião na semana de 3 a 8 de dezembro no Paraguai.
Ações do plano de salvaguarda
Políticas para diminuir o êxodo rural, para promover sucessão familiar no campo e sustentabilidade, entre outros, foram elencadas como ações futuras e em andamento. Foi registrada a necessidade de aproximação com poderes públicos locais para concretizar o ICMS Patrimônio Cultural, que determina que municípios que têm bens reconhecidos pelo Iphan recebam verbas para ações de salvaguarda.