Aventuras lácteas entre o Brasil e a França

Opinião|Cremes de leite e manteiga fermentados em teste na Belafazenda


Diário de viagem, parte 3 de 5. Nem queijo brasileiro nem francês, os cremes e manteigas roubaram a cena

Por Débora Pereira
Atualização:

Teve fabricação de gorgonzola, muçarela, feta, cheddar, todos queijos deliciosos, mas foram os cremes de leite e manteiga fermentada que mais inspiraram os alunos do curso de queijos europeus que eu e Pierre Coulon ensinamos na Belafazenda, queijaria em Bofete-SP, nos dias 3 e 4 de maio.

O francês Pierre Coulon na Belafazenda Foto: Débora Pereira/SerTãoBras

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"Não vejo a hora de começar a testar essas receitas com os cremes naturais das minhas vacas" disse a mineira Larissa Goulart, do queijo barão da canastra, que tem um leite bem gordo em Piumhi-MG. "Chegando na minha queijaria já vou separar o creme para experimentar," disse Érico Koyla da queijaria Pé do Morro que fica em Cabreúva-SP, na Serra do Japi.

As vacas Jersey, que dão leite gordo, enfeitavam a paisagem da janela do curso Foto: Débora Pereira/SerTãoBras

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Normalmente, a maioria dos cremes de leite e manteigas brasileiras são industriais, pasteurizados, até esterilizados e micro-filtrados através de centrífugas que explodem todos os glóbulos da gordura do leite. São poucos produtores de queijo que se lançam na fabricação de cremes e manteigas de leite cru e artesanais, com o creme manipulado de forma delicada, mantendo a integridade da gordura. Para cremes assim, o consumidor tem poucas opções no mercado.

Aluna de todos os nossos cursos, Heloisa Collins testa a massa filada Foto: Débora Pereira/SerTãoBras

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O creme, essa maravilha, é a gordura do leite, pode ser colhido naturalmente com uma colher ou concha assim que o leite repousa e esfria.  Um creme de leite fresquinho é suave, de sabor bem sutil e elegante, com a textura bem líquida. Mas temos cremes mais encorpados, que após serem fermentados têm uma textura tão firme que pode virar o pote que ele não cai. As amigas bactérias, como Lactococcus, Streptococcus ou Leuconostoc vão mudar a textura e também dar mais gosto e sabor aos cremes, trabalhinho que elas fazem em um dia. No curso, usamos a cultura DELVO TEC DX-33 DSL da Global Food.

Creme de leite fermentado e gelado, com bastante firmeza Foto: Débora Pereira/SerTãoBras

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Já a nata, pelo menos em Minas Gerais, é a camada durinha que se forma depois que fervemos o leite integral e colocamos na geladeira. No Sul do Brasil nata tem outro significado, é um creme fermentado, mais grosso. Nos Estados Unidos esse creme é chamado de sour cream, ótimo para sobremesas. Em Portugal eles batizaram o mesmo produto como natas azedas.  Ideal para sobremesas, como o da receita de verrine de creme e chocolate no final do texto.

Para obter uma textura encorpada, é preciso uma fase de maturação dura entre 16 e 20 horas e em uma temperatura entre 12 e 23°C. A ação dos fermentos engrossa o creme, aumenta ligeiramente sua acidez e age no aparecimento de novos sabores. É uma excelente idéia para aumentar a gama de produtos de uma queijaria.

No curso teve degustação de queijos de cabra da Capril do Bosque, cujo leite tem a gordura bem delicada  
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Outra vantagem de separar o creme do leite, principalmente de fazendas que têm vacas Gir e Jersey, que dão um leite muito gordo, é que o leite mais magro tem mais "queijabilidade".  Aprendi essa palavrinha em uma cerimônia da Guilde Internationale des Fromagers em Avignon, na França, em 2018. Eu fiz um discurso para apresentar a produtora Camila Almeida, da Estância Silvania, e me gabei que o leite das suas vacas Gir podem chegar a 5% de gordura. Logo em seguida, um queijeiro experiente veio me dizer: - "Nossa, mas esse leite não tem muita queijabilidade!". Ele me explicou que um leite muito gordo pode dar problemas técnicos na fabricação, o queijo tem mais dificuldade de dessorar e retém umidade na massa, que pode fermentar e formar furos indesejáveis. Por isso queijos tradicionais franceses grandes, de massa prensada e que curam muito tempo, como comté que pode pesar 40 kg são feitos sempre com leite parcialmente desnatado.

Creme de leite fermentado de Bresse, com denominação de origem protegida da França Foto: Débora Pereira/SerTãoBras
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O queijo muito gordo pode dar problemas também durante a cura, ele fica super sensível a mudanças de temperatura. Qualquer golpe de calor pode fazer o queijo ter gosto de ranço, esse aroma de gordura oxidada que os brasileiros chamam de picante e ardido, e até apreciam.

A grande descoberta do final do curso foi a cerveja rabo de arraia, que tomamos com gruyère suíço e embutidos brasileiros  


Verrine de creme e chocolate

Tradução da receita do sindicato da manteiga e creme de Bresse DOP

Verrine com creme de Bresse DOP. Foto: Sindicato do Creme de Bresse AOP/Acervo Pessoal

Ingredientes 1 colher de sopa de açúcar 1 colher de sopa de manteiga 200g de chocolate 70% 25 cl de creme Bresse DOP um punhado de framboesas frescas 50cl Creme Bresse Meio Grosso 40 gramas de açúcar de confeiteiro

Preparação Ganache de chocolate: Aquecer o creme com a manteiga e o açúcar até levantar fervura. Misture para obter uma preparação homogênea. Fora do fogo, adicione os pedaços de chocolate. Deixar repousar 5 minutos e misturar até obter um creme homogéneo. Divida em verrines e deixe esfriar por várias horas.

Chantilly: Use creme bem frio. Despeje o creme em uma tigela e adicione o açúcar de confeiteiro. Bata com uma batedeira elétrica até obter um chantilly bem aerado.

Adicione o creme ao ganache frio. Adicione framboesas frescas esmagadas.

Diário de viagem

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Teve fabricação de gorgonzola, muçarela, feta, cheddar, todos queijos deliciosos, mas foram os cremes de leite e manteiga fermentada que mais inspiraram os alunos do curso de queijos europeus que eu e Pierre Coulon ensinamos na Belafazenda, queijaria em Bofete-SP, nos dias 3 e 4 de maio.

O francês Pierre Coulon na Belafazenda Foto: Débora Pereira/SerTãoBras

"Não vejo a hora de começar a testar essas receitas com os cremes naturais das minhas vacas" disse a mineira Larissa Goulart, do queijo barão da canastra, que tem um leite bem gordo em Piumhi-MG. "Chegando na minha queijaria já vou separar o creme para experimentar," disse Érico Koyla da queijaria Pé do Morro que fica em Cabreúva-SP, na Serra do Japi.

As vacas Jersey, que dão leite gordo, enfeitavam a paisagem da janela do curso Foto: Débora Pereira/SerTãoBras

Normalmente, a maioria dos cremes de leite e manteigas brasileiras são industriais, pasteurizados, até esterilizados e micro-filtrados através de centrífugas que explodem todos os glóbulos da gordura do leite. São poucos produtores de queijo que se lançam na fabricação de cremes e manteigas de leite cru e artesanais, com o creme manipulado de forma delicada, mantendo a integridade da gordura. Para cremes assim, o consumidor tem poucas opções no mercado.

Aluna de todos os nossos cursos, Heloisa Collins testa a massa filada Foto: Débora Pereira/SerTãoBras

O creme, essa maravilha, é a gordura do leite, pode ser colhido naturalmente com uma colher ou concha assim que o leite repousa e esfria.  Um creme de leite fresquinho é suave, de sabor bem sutil e elegante, com a textura bem líquida. Mas temos cremes mais encorpados, que após serem fermentados têm uma textura tão firme que pode virar o pote que ele não cai. As amigas bactérias, como Lactococcus, Streptococcus ou Leuconostoc vão mudar a textura e também dar mais gosto e sabor aos cremes, trabalhinho que elas fazem em um dia. No curso, usamos a cultura DELVO TEC DX-33 DSL da Global Food.

Creme de leite fermentado e gelado, com bastante firmeza Foto: Débora Pereira/SerTãoBras

Já a nata, pelo menos em Minas Gerais, é a camada durinha que se forma depois que fervemos o leite integral e colocamos na geladeira. No Sul do Brasil nata tem outro significado, é um creme fermentado, mais grosso. Nos Estados Unidos esse creme é chamado de sour cream, ótimo para sobremesas. Em Portugal eles batizaram o mesmo produto como natas azedas.  Ideal para sobremesas, como o da receita de verrine de creme e chocolate no final do texto.

Para obter uma textura encorpada, é preciso uma fase de maturação dura entre 16 e 20 horas e em uma temperatura entre 12 e 23°C. A ação dos fermentos engrossa o creme, aumenta ligeiramente sua acidez e age no aparecimento de novos sabores. É uma excelente idéia para aumentar a gama de produtos de uma queijaria.

No curso teve degustação de queijos de cabra da Capril do Bosque, cujo leite tem a gordura bem delicada  

Outra vantagem de separar o creme do leite, principalmente de fazendas que têm vacas Gir e Jersey, que dão um leite muito gordo, é que o leite mais magro tem mais "queijabilidade".  Aprendi essa palavrinha em uma cerimônia da Guilde Internationale des Fromagers em Avignon, na França, em 2018. Eu fiz um discurso para apresentar a produtora Camila Almeida, da Estância Silvania, e me gabei que o leite das suas vacas Gir podem chegar a 5% de gordura. Logo em seguida, um queijeiro experiente veio me dizer: - "Nossa, mas esse leite não tem muita queijabilidade!". Ele me explicou que um leite muito gordo pode dar problemas técnicos na fabricação, o queijo tem mais dificuldade de dessorar e retém umidade na massa, que pode fermentar e formar furos indesejáveis. Por isso queijos tradicionais franceses grandes, de massa prensada e que curam muito tempo, como comté que pode pesar 40 kg são feitos sempre com leite parcialmente desnatado.

Creme de leite fermentado de Bresse, com denominação de origem protegida da França Foto: Débora Pereira/SerTãoBras

O queijo muito gordo pode dar problemas também durante a cura, ele fica super sensível a mudanças de temperatura. Qualquer golpe de calor pode fazer o queijo ter gosto de ranço, esse aroma de gordura oxidada que os brasileiros chamam de picante e ardido, e até apreciam.

A grande descoberta do final do curso foi a cerveja rabo de arraia, que tomamos com gruyère suíço e embutidos brasileiros  


Verrine de creme e chocolate

Tradução da receita do sindicato da manteiga e creme de Bresse DOP

Verrine com creme de Bresse DOP. Foto: Sindicato do Creme de Bresse AOP/Acervo Pessoal

Ingredientes 1 colher de sopa de açúcar 1 colher de sopa de manteiga 200g de chocolate 70% 25 cl de creme Bresse DOP um punhado de framboesas frescas 50cl Creme Bresse Meio Grosso 40 gramas de açúcar de confeiteiro

Preparação Ganache de chocolate: Aquecer o creme com a manteiga e o açúcar até levantar fervura. Misture para obter uma preparação homogênea. Fora do fogo, adicione os pedaços de chocolate. Deixar repousar 5 minutos e misturar até obter um creme homogéneo. Divida em verrines e deixe esfriar por várias horas.

Chantilly: Use creme bem frio. Despeje o creme em uma tigela e adicione o açúcar de confeiteiro. Bata com uma batedeira elétrica até obter um chantilly bem aerado.

Adicione o creme ao ganache frio. Adicione framboesas frescas esmagadas.

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Teve fabricação de gorgonzola, muçarela, feta, cheddar, todos queijos deliciosos, mas foram os cremes de leite e manteiga fermentada que mais inspiraram os alunos do curso de queijos europeus que eu e Pierre Coulon ensinamos na Belafazenda, queijaria em Bofete-SP, nos dias 3 e 4 de maio.

O francês Pierre Coulon na Belafazenda Foto: Débora Pereira/SerTãoBras

"Não vejo a hora de começar a testar essas receitas com os cremes naturais das minhas vacas" disse a mineira Larissa Goulart, do queijo barão da canastra, que tem um leite bem gordo em Piumhi-MG. "Chegando na minha queijaria já vou separar o creme para experimentar," disse Érico Koyla da queijaria Pé do Morro que fica em Cabreúva-SP, na Serra do Japi.

As vacas Jersey, que dão leite gordo, enfeitavam a paisagem da janela do curso Foto: Débora Pereira/SerTãoBras

Normalmente, a maioria dos cremes de leite e manteigas brasileiras são industriais, pasteurizados, até esterilizados e micro-filtrados através de centrífugas que explodem todos os glóbulos da gordura do leite. São poucos produtores de queijo que se lançam na fabricação de cremes e manteigas de leite cru e artesanais, com o creme manipulado de forma delicada, mantendo a integridade da gordura. Para cremes assim, o consumidor tem poucas opções no mercado.

Aluna de todos os nossos cursos, Heloisa Collins testa a massa filada Foto: Débora Pereira/SerTãoBras

O creme, essa maravilha, é a gordura do leite, pode ser colhido naturalmente com uma colher ou concha assim que o leite repousa e esfria.  Um creme de leite fresquinho é suave, de sabor bem sutil e elegante, com a textura bem líquida. Mas temos cremes mais encorpados, que após serem fermentados têm uma textura tão firme que pode virar o pote que ele não cai. As amigas bactérias, como Lactococcus, Streptococcus ou Leuconostoc vão mudar a textura e também dar mais gosto e sabor aos cremes, trabalhinho que elas fazem em um dia. No curso, usamos a cultura DELVO TEC DX-33 DSL da Global Food.

Creme de leite fermentado e gelado, com bastante firmeza Foto: Débora Pereira/SerTãoBras

Já a nata, pelo menos em Minas Gerais, é a camada durinha que se forma depois que fervemos o leite integral e colocamos na geladeira. No Sul do Brasil nata tem outro significado, é um creme fermentado, mais grosso. Nos Estados Unidos esse creme é chamado de sour cream, ótimo para sobremesas. Em Portugal eles batizaram o mesmo produto como natas azedas.  Ideal para sobremesas, como o da receita de verrine de creme e chocolate no final do texto.

Para obter uma textura encorpada, é preciso uma fase de maturação dura entre 16 e 20 horas e em uma temperatura entre 12 e 23°C. A ação dos fermentos engrossa o creme, aumenta ligeiramente sua acidez e age no aparecimento de novos sabores. É uma excelente idéia para aumentar a gama de produtos de uma queijaria.

No curso teve degustação de queijos de cabra da Capril do Bosque, cujo leite tem a gordura bem delicada  

Outra vantagem de separar o creme do leite, principalmente de fazendas que têm vacas Gir e Jersey, que dão um leite muito gordo, é que o leite mais magro tem mais "queijabilidade".  Aprendi essa palavrinha em uma cerimônia da Guilde Internationale des Fromagers em Avignon, na França, em 2018. Eu fiz um discurso para apresentar a produtora Camila Almeida, da Estância Silvania, e me gabei que o leite das suas vacas Gir podem chegar a 5% de gordura. Logo em seguida, um queijeiro experiente veio me dizer: - "Nossa, mas esse leite não tem muita queijabilidade!". Ele me explicou que um leite muito gordo pode dar problemas técnicos na fabricação, o queijo tem mais dificuldade de dessorar e retém umidade na massa, que pode fermentar e formar furos indesejáveis. Por isso queijos tradicionais franceses grandes, de massa prensada e que curam muito tempo, como comté que pode pesar 40 kg são feitos sempre com leite parcialmente desnatado.

Creme de leite fermentado de Bresse, com denominação de origem protegida da França Foto: Débora Pereira/SerTãoBras

O queijo muito gordo pode dar problemas também durante a cura, ele fica super sensível a mudanças de temperatura. Qualquer golpe de calor pode fazer o queijo ter gosto de ranço, esse aroma de gordura oxidada que os brasileiros chamam de picante e ardido, e até apreciam.

A grande descoberta do final do curso foi a cerveja rabo de arraia, que tomamos com gruyère suíço e embutidos brasileiros  


Verrine de creme e chocolate

Tradução da receita do sindicato da manteiga e creme de Bresse DOP

Verrine com creme de Bresse DOP. Foto: Sindicato do Creme de Bresse AOP/Acervo Pessoal

Ingredientes 1 colher de sopa de açúcar 1 colher de sopa de manteiga 200g de chocolate 70% 25 cl de creme Bresse DOP um punhado de framboesas frescas 50cl Creme Bresse Meio Grosso 40 gramas de açúcar de confeiteiro

Preparação Ganache de chocolate: Aquecer o creme com a manteiga e o açúcar até levantar fervura. Misture para obter uma preparação homogênea. Fora do fogo, adicione os pedaços de chocolate. Deixar repousar 5 minutos e misturar até obter um creme homogéneo. Divida em verrines e deixe esfriar por várias horas.

Chantilly: Use creme bem frio. Despeje o creme em uma tigela e adicione o açúcar de confeiteiro. Bata com uma batedeira elétrica até obter um chantilly bem aerado.

Adicione o creme ao ganache frio. Adicione framboesas frescas esmagadas.

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