Embora a profissão seja ainda bem debutante no Brasil, seis candidatos ousaram aceitar o desafio da competição para eleger o Melhor Queijeiro do Brasil, concurso que acontece nos dias 15 e 17 de setembro no Teatro B32 em São Paulo, na praça da Baleia.
Queijista, um nome que antigamente era até pejorativo nas indústrias de queijo, agora virou sinônimo de comerciante de queijo conceituado, aquele que sabe explicar cultura, origem e sabores dos queijos.
A metodologia das provas foi pensada pela escola francesa Mons Formation e o concurso é parceiro do Mondial du Fromages et Produits Laitiers de Tours, que acontece na França de dois em dois anos. A última edição em 2021 e eu fui jurada. A melhor notícia é que o vencedor brasileiro já está selecionado para copa do mundo dos queijistas em 2023 e ganha de presente a passagem de avião.
Medindo criatividade e a convicção
No primeiro dia de provas, 15 de setembro, os candidatos vão com os jurados e uma equipe de filmagem do canal Sabor e Arte ao Mercado Municipal de São Paulo. Eles têm um orçamento de 500 reais para gastar em alimentos para suas receitas harmonizadas com queijos. De volta ao teatro, ingredientes guardados pela organização, eles têm prova teórica de múltipla escolha, teste de degustação às cegas. O último desafio é defender seu queijo preferido e seduzir os jurados, com história, sabor e convicção, em apenas cinco minutos.
No segundo dia, 17 de setembro as 9h, eles sobem no palco do teatro B32 para outras provas, dessa vez diante do público e das torcidas organizadas. Eles vão passar por provas de corte, venda de queijos, harmonização de queijos e alimentos e a tão esperada obra artística queijeira final: uma grande tábua de 60 cm x 1 m inspirada no tema "Queijo sem Fronteiras". Os queijos são fornecidos pela organização e o candidato conhece no início da prova, mas tem direito de levar 5 queijos de sua preferência. A obra deve ter uma escultura queijeira também.
Jurados internacionais e brasileiros
O comando do concurso está nas mãos de Flávia Rogoski, queijista da Bon Vivant desde 2004, no mercado municipal de Curitiba, e Hervé e Laurent Mons, da Maison Mons da França. O trio construiu o regulamento e adaptou as provas do concurso original à realidade brasileira. "Nós tivemos o cuidado de nos adaptarmos aos queijos brasileiros, aos terroirs e paisagens desse país tão grande, às nossas receitas e cultura. Os candidatos devem mostrar esses conhecimentos através das habilidades de venda. E devem trabalhar com precisão e higiene, originalidade, criatividade e ousadia," disse Flávia.
Há jurados brasileiros e internacionais, entre eles Susan Sturman, dos Estados Unidos, Jason Hinds, da Inglaterra, Laurent Dubois, MOF de Paris, Claudine Vigier Barthélémy, maître fromager da Guilde e Claude Maret, presidente da Federação dos Queijistas da França.
Conheça os candidatos
Eles vem do Distrito Federal, Minas, Rio Grande do Sul e São Paulo. Todos tem um percurso profissional de venda de queijos consolidado e já fizeram diversas formações no assunto. A competição vai ser dura...
Aline Biasuz, Amor pelo Queijo, Passo Fundo-RS
Nascida na Roça, ela mudou para a cidade aos 15 anos, mas foi aos 34 que decidiu estudar os queijos e lançou um serviço de degustações customizadas: Amor pelo Queijo. "Trabalho mais com queijos estrangeiros, mas estou muito empolgada com a oportunidade de estudar mais os queijos brasileiros para o concurso," confessa ela, que foi aluna da primeira turma do curso de vendas de queijos para brasileiros da escola Mons Formation, em 2018.
Ana Gabriela Cócolo, do Mercado Central de Belo Horizonte-MG
Ana Gabriela Cócolo é a engenheira de alimentos e sommelier no comando da loja Tupiguá, queijos, doces e cachaças. É jurada em concursos regionais e estaduais de Minas Gerais. Sua especialidade é casar queijos mineiros com cafés de alto nível e cachaças.
Carol Nalim e Guto Olliveira, La Fromagerie de Campinas-SP
Maria Carolina é queijista na Queijos e Amigos, também conhecida como La Fromagerie. Ela e o marido Guto Oliveira se inscreveram para fazer o concurso enquanto um casal, mas como o regulamento não permite, cada um resolveu concorrer sozinho.
"Nós estamos estudando juntos. Nossa loja de queijos e restaurante nos permite treinar novas criações e os clientes dão o retorno na hora" disse Carolina.
"Vender queijos é contar histórias, explicar os sabores e sensações, fazer os clientes viajarem, essa é minha parte preferida" disse Guto. Campinas conta então com chance dupla na competição.
Juliana Cavalcante, Lá do Interior
"Ensinar sobre queijos e divulgar a cultura queijeira brasileira, é uma paixão que me motiva a estar sempre atualizada e ativa," conta Juliana Pereira Cavalcante de Souza, da loja Lá do Interior, criada desde 2017 para vender queijo pela internet. Ela adora estudar fez várias formações de fabricação, cura, análise sensorial e venda de queijos. Desde o começo de 2022 ela e o marido Caio lançaram um roteiro de viagens gastronômicas, em parceria com produtores, para degustações de queijos, café e vinho.
Marina Cavechia, Teta Cheese Bar, de Brasília
Ela deixou a carreira de jornalista de Tv pela cerveja, e no caminho da fermentação chegou no queijo. Hoje, aos 39 ans, Marina pilota o Teta Cheese Bar em Brasília.
Para quem adora como eu visitar de lojas de queijos na França, uma boa sugestão é relembrar os queijos Fromagerie du Lac em Annecy ou da Maison Lorho em em Estrasburgo. Ou ainda a incrível história do jogador de futebol que se converteu em queijista pela paixão aos queijos em Metz.