O ano de 2024 foi bem generoso para os produtores de queijo artesanal, pois os preços continuam super valorizados. O queijo autoral então, feito por uma nova geração de produtores especialmente paulistas, vale um rim. Muitos novos queijos foram lançados no ano que passou, como os de textura marmorizada chamados de amazonito, pampa e goró, da queijaria Belafazenda, de Bofete-SP.
A Pardinho artesanal também aumentou a sua gama em 2024 com o lançamento do azul da pardinho e a Capril do Bosque lançou o gigante, seu primeiro queijo de massa dura.
Carioca radicada em Bananal-SP, a neo produtora Mônica Alvarenga balançou os corações com o seu queijinho paixão absoluta, de mofo branco com pó de shitake, feito de leite cru de cabras felizes que vivem soltas na mata atlântica. Tem fila de espera para comprar...
Em fevereiro, o também paulista queijo primavera, envolto em flores, da Estância Silvania, brilhou na mesa de queijos de um dos candidatos do concurso Lyre d'Or, que elegeu o melhor queijista do Salon du Fromage de Paris.
O namoro ostentação do Brasil com a França, em março de 2024, ajudou a dar visibilidade para produtores e queijistas, quando Lula deu queijos brasileiro para Macron. Pena que a França saiu magoada no acordo União Europeia - Mercosul no final do ano.
Em abril de 2024, o Mundial do Queijo reuniu quase dois mil queijos - um recorde - em seu concurso internacional por quatro dias na Praça da Baleia, avenida Faria Lima, em São Paulo. Junto com a feira de produtores e mais três outros concursos, de melhor queijeiro (fabricante), de melhor queijista (comerciante) e de melhor fondue, o evento atraiu 50 mil pessoas. O Mundial acontece de dois em dois anos e é parceiro do Mondial du Fromage de Tours, na França, que acontece de 14 a 16 de setembro de 2025, para o qual os brasileiros já estão se organizando.
Foi em abril também que aconteceu o Roteiro Gastronômico do queijo em São Paulo, quando uma dúzia de restaurantes criaram novos pratos com queijos de pequenos produtores. Ideia a ser repetida!
Em maio, foi lindo ver a motivação dos queijistas da Associação Comerqueijo para ajudar a escoar uma parte da produção de agricultores familiares do Rio Grande do Sul, 2,5 toneladas foram enviadas para São Paulo, Rio, Minas e Nordeste.
Eu continuei na vida cigana de viagens de reportagens queijeiras e, sem dúvidas, um dos melhores momentos foi conhecer o queijo mahon na ilha espanhola de Menorca, de leite cru, casca curada com azeite e páprika e sabores ácidos, iodados e picantes.
Em setembro eu fique na maior alegria de ver, pela primeira vez, uma produtora de queijo brasileiro na capa da revista francesa Profession Fromager. Quem brilhou foi Cecília Pinheiro, do queijo de Marajó.
Boa notícia em outubro de 2024 foram as novas pesquisas mostrando a importância de dar queijo de leite cru para crianças, com seus bons micróbios, para fortalecer a imunidade em um mundo cada vez mais povoado de bactérias bizarras.
Em novembro, no World Cheese Awards, que esse ano aconteceu em Portugal, o queijo passionata, da queijaria paranaense Biopark, ficou entre os 10 melhores do mundo, à frente de mais de 4 mil queijos. Ele foi defendido por ninguém menos que Jason Hinds, o famoso queijista inglês que já o tinha provado no Mundial do Queijo em São Paulo, onde seu autor faturou o prêmio de melhor queijeiro.
Para fechar o ano com chave de ouro, o modo de fazer queijo artesanal de Minas Gerais foi o primeiro do planeta, na categoria queijo, a entrar para a lista dos saberes protegidos pela Unesco, uma vitória para todos os produtores.
Talvez para o consumidor não seja uma boa notícia que o queijo artesanal e autoral esteja cada vez mais caro no Brasil. Mas produzir leite de qualidade e ainda obedecer a todas as regras impostas pelas legislações vigentes custa super caro para o pequeno produtor. Vítima do raio gourmetizador já há alguns anos, desde que um primeiro queijo brasileiro ganhou medalha na França em 2015, nosso alimento mais queridinho do Brasil virou comida de elite. Mas, como este ainda é o país das desigualdades, não tem mercado pra todo mundo. Prova é que, dos 9 mil produtores de queijo Minas artesanal estimados pela Emater em Minas Gerais, nem duzentos têm acesso ao mercado formal, e acabam vendendo seus queijos por menos de 20 reais o quilo.
Já a Secretaria de Agricultura de São Paulo saiu na frente em políticas públicas para o queijo, liberando o fluxo na queijarias artesanais e sendo mais pedagógica e menos punitiva.
Enquanto velhas promessas de novas políticas públicas não acontecem, a saída dos produtores têm sido agregar valor com premiações, aparições midiáticas, performances com chefs estrelados, ou seja, a tal da filosofia da gourmetização. E por aí vai...