O ano era 1969 e o homem pisava na Lua pela primeira vez, em viagem no histórico vôo da Apolo 11.
O mundo passava pelo auge da Guerra Fria, confronto bélico com capacidade de destruir o planeta Terra dezenas de vezes, porém totalmente silencioso, num jogo de forças entre a então União Soviética e os Estados Unidos e a conquista da Lua, com o simbólico fincar da bandeira norte americana, soava como um indiscutível trunfo entre muitas batalhas.
Era, ainda, um momento de fervilhante transição cultural com bandas de rock lançando grandes experiências psicodélicas, como o Pink Floyd de Sid Barrett, junto da introdução das transmissões coloridas nas TVs brasileiras, que se esbaldaram com a conquista do tricampeonato mundial de futebol pela seleção comandada por Pelé, Tostão e Gerson.
Por outro lado, timidamente, alguns restaurantes paulistanos exibiam as primeiras máquinas de espresso em seus balcões. Se servir um espresso era algo raro, o cappuccino era um acontecimento.
Nessa época, uma empresa paulistana de nome Dalca, localizada na Vila Mariana, próximo à hoje estação Ana Rosa, se destacava na produção de máquinas para encapsulamento de pós e de blisters, que são embalagens que contém cápsulas ou comprimidos em nichos individualizados. Seu proprietário era um italiano verdadeiramente "louco" por café e que tinha como idéia fixa criar uma forma de ter esse seu prazer a qualquer momento.
Logo, essa idéia se materializou na forma de uma pastilha mastigável feita com café solúvel. Nascia, assim, o primeiro café de bolso do Brasil, conceito genial e que recebeu o nome de Café do Astronauta pela sintonia com o que havia de mais moderno.
Embalado pelo sucesso das pastilhas de café, a criação seguinte foi uma formulação de pó que simulava o cappuccino, que foi registrado como tal.
O sucesso foi absoluto!
Esse produto foi fruto de pesquisa com base nos princípios da Química e repentes muito criativos. Tendo o café solúvel como base, foram adicionados dois ingredientes particularmente especiais: leite em pó e o bicarbonato de sódio, este num toque genial!
O bicarbonato de sódio, como é sabido, reage facilmente com a água, liberando o gás carbônico e, por consequência, formando bolhas que simulam com razoável aproximação a espuma do leite vaporizado. Para completar a receita, foram integrados o chocolate em pó, açúcar e algumas especiarias, principalmente a canela em pó.
Com o tempo, a formulação se tornou de domínio público e empresas líderes do mercado passaram também a oferecer o seu "preparado para cappuccino".
Com a natural evolução do mercado, as receitas foram, digamos, aperfeiçoadas, ganhando cada vez mais aditivos como espessantes, substâncias que conferem consistência à bebida, e estabilizantes, junto de uma carga crescente de aromatizantes com o objetivo de criar opções de sabores muito além do clássico chocolate.
A partir do crescimento do mercado consumidor, devido à popularização das cafeterias e suas máquinas de espresso, principalmente a partir dos anos 2.000, o autêntico cappuccino italiano, preparado com o leite vaporizado, tornou-se acessível.
Criado na Itália, terra mater do espresso, o cappuccino tem como receita básica 1 parte de um excelente espresso, 1 parte de leite vaporizado e 1 parte de espuma do leite vaporizado. Como bebida clássica, é item obrigatório nas competições dos baristas profissionais, pois exige habilidade e conhecimento técnico para uma execução impecável.
Espresso, leite vaporizado e espuma do leite vaporizado. É assim que o cappuccino é preparado e saboreado ao redor do mundo.
O outro, só no Brasil.