Histórias e experiências sobre o café

Opinião|O café e o Cerrado Mineiro


O Cerrado Mineiro comemora 50 anos de cafeicultura inovadora.

Por Ensei Neto

A região do Cerrado Mineiro teve plantios esporádicos de café desde o início do Século XX, principalmente em áreas mais próximas ao Sudoeste e Sul de Minas, nos arredores da Serra da Canastra. Para se ter idéia, ainda na década de 1950 a região se destacava como grande produtora de cafés lavados ou degomados em tanque, similar ao que é feito, por exemplo, na Colômbia e América Central, com produção média de 8.000 sacas (pasmem!) em fazenda em Córrego d'Anta.

Cafés despolpados ou lavados. Foto: Ensei Neto/Arquivo Pessoal.
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Em Patrocínio, há registros dos primeiros cafezais desde 1972, utilizando-se esse ano como o início da cafeicultora do Cerrado. Durante muito tempo, as terras do cerrado eram desprezadas em razão da acidez e pobreza de nutrientes, reservando-se quase que exclusivamente ao gado.

O ano era 1975. O Brasil tinha perspectiva de uma boa safra de café, cujas regiões produtoras basicamente se concentravam no Sul de Minas, São Paulo e na então poderosa cafeicultura do Norte do Paraná.

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O mês de julho abriu portas para as grandes geadas que mudaram definitivamente o mapa da cafeicultura brasileira ao arrasar com as lavouras do Norte do Paraná, Alta Paulista, Noroeste e parte do Sul de Minas. Ventos frios com temperaturas abaixo de zero fazem a chamada Geada Negra, que literalmente ressecam todos os vegetais que encontra pela frente, criando cenários pós apocalípticos de destruição.

Muitos cafeicultores que perderam suas plantações com a geada decidiram procurar por regiões onde não houvesse ocorrência de geadas para recomeçar a vida e ir mais ao norte era o caminho mais lógico. Correntes migratórias ocorreram regularmente, com cafeicultores da Alta Paulista, com Garça e Marília como cidades polo, estabelecendo-se na região de Patrocínio, enquanto aqueles do Norte do Paraná fixaram-se, inicialmente em Monte Carmelo e parte de Carmo do Paranaíba. Outra corrente, formada principalmente por meeiros do Norte Paranaense, escolheram Araguari como seu novo porto seguro.

De início, havia uma procura muito grande pelas terras de cor avermelhada, numa nítida referência à muito fértil terra roxa que predominava no Paraná, mas que se revelou ao contrário. Esse episódio despertou a preocupação em estabelecer alinhamento e cooperação com instituições de pesquisa, revelando o traço de inovação que ficou como característica do Cerrado Mineiro. Compreender o solo e o clima, criar formas de trabalho para que os resultados no campo fossem os melhores.

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Com isso veio a mecanização, uma vez que a topografia em sua maioria levemente inclinada permite essa facilidade.

Por outro lado, percebeu-se que o clima tinha maior definição entre períodos de chuva e de seca, fenômeno que foi bem interpretado pela torrefação italiana illy, que criou o primeiro concurso de qualidade de café do mundo, ao constatar que nas primeiras edições de seu concurso os vencedores eram em sua esmagadora maioria originados no Cerrado Mineiro.

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Cafeicultura moderna, regenerativa. Foto: Ensei Neto/Arquivo Pessoal.

 

O clima, junto da tecnologia constantemente incorporado, fez com que a região em pouco tempo ganhasse reconhecimento do mercado como origem de excelentes cafés, posicionando os cafés da região, dentro do grande mercado, como os mais valorizados.

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Grãos recém colhidos. Foto: Ensei Neto/Arquivo Pessoal.

Para se ter idéia da importância desse aspecto, é importante saber que a precificação do café tem como referência a uniformidade e pureza, entendendo-se como pureza ausência de grãos defeituosos. Portanto, uma região onde em média, ou seja, a grande maioria dos lotes produzidos, apresentam maior uniformidade e pureza, são mais valorizados porque proporcionam maior desempenho na torra.

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Para que todo o conhecimento gerado ao longo do tempo pudesse ser compartilhado e aplicado, os cafeicultores foram se organizando em associações, criando em seguida, uma entidade de coordenação que foi o CACCER - Conselho das Associações de Cafeicultores do Cerrado, que criou o nome Café do Cerrado. Pessoas como Juarez do Valle, criador da genial logomarca que identificou a região por décadas e Aguinaldo José de Lima, primeiro presidente da entidade e principal divulgador da região em seu princípio, além de diversas outras pessoas dos municípios que compõem a origem, que conseguiram tornar palpável um desejo único de reconhecimento do mercado à identidade e qualidade do café da região.

Juarez do Valle. 1ª participação em feira internacional. Foto: Divulgação.

 

Hoje, o CACCER deu lugar à Federação dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro, mantida por 7 associações como a pioneira de Araguari, a de Patrocínio e Monte Carmelo, entre outras, junto de cooperativas, algumas originadas como braços comerciais das associações.

O modelo de gestão institucional do Cerrado Mineiro é único no Brasil, que poderia ser replicado em qualquer região, pois coloca objetivos coletivos em primeiro plano e, por isso, beneficia de forma ampla os produtores de sua região demarcada.

Dentre os trabalhos e idéias inovadoras que as entidades do Cerrado Mineiro estabeleceram, podem ser contabilizados:

  • a Denominação de Origem para café, primeira do Brasil, e a segunda no mundo;
  • criação de uma entidade de fomento à pesquisa cafeeira, a FUNDACER;
  • sistema de certificação com poderosos mecanismos de rastreabilidade dos lotes de café;
  • seminários de grande porte para difusão de conhecimento, tecnologias e conexões com o mercado, incluindo o mais importante focado à irrigação do café, com sede em Araguari;
  • identidade regional com forte comprometimento dos cafeicultores.

 

Região do Cerrado Mineiro. Divulgação. Foto: Estadão

 

No último dia 30 de novembro, em Uberlândia, foram celebrados os 50 anos da região do Cerrado Mineiro, numa grande festa com a divulgação dos lotes vencedores do concurso de qualidade de 2022.

Vida longa ao Cerrado Mineiro!

A região do Cerrado Mineiro teve plantios esporádicos de café desde o início do Século XX, principalmente em áreas mais próximas ao Sudoeste e Sul de Minas, nos arredores da Serra da Canastra. Para se ter idéia, ainda na década de 1950 a região se destacava como grande produtora de cafés lavados ou degomados em tanque, similar ao que é feito, por exemplo, na Colômbia e América Central, com produção média de 8.000 sacas (pasmem!) em fazenda em Córrego d'Anta.

Cafés despolpados ou lavados. Foto: Ensei Neto/Arquivo Pessoal.

 

Em Patrocínio, há registros dos primeiros cafezais desde 1972, utilizando-se esse ano como o início da cafeicultora do Cerrado. Durante muito tempo, as terras do cerrado eram desprezadas em razão da acidez e pobreza de nutrientes, reservando-se quase que exclusivamente ao gado.

O ano era 1975. O Brasil tinha perspectiva de uma boa safra de café, cujas regiões produtoras basicamente se concentravam no Sul de Minas, São Paulo e na então poderosa cafeicultura do Norte do Paraná.

O mês de julho abriu portas para as grandes geadas que mudaram definitivamente o mapa da cafeicultura brasileira ao arrasar com as lavouras do Norte do Paraná, Alta Paulista, Noroeste e parte do Sul de Minas. Ventos frios com temperaturas abaixo de zero fazem a chamada Geada Negra, que literalmente ressecam todos os vegetais que encontra pela frente, criando cenários pós apocalípticos de destruição.

Muitos cafeicultores que perderam suas plantações com a geada decidiram procurar por regiões onde não houvesse ocorrência de geadas para recomeçar a vida e ir mais ao norte era o caminho mais lógico. Correntes migratórias ocorreram regularmente, com cafeicultores da Alta Paulista, com Garça e Marília como cidades polo, estabelecendo-se na região de Patrocínio, enquanto aqueles do Norte do Paraná fixaram-se, inicialmente em Monte Carmelo e parte de Carmo do Paranaíba. Outra corrente, formada principalmente por meeiros do Norte Paranaense, escolheram Araguari como seu novo porto seguro.

De início, havia uma procura muito grande pelas terras de cor avermelhada, numa nítida referência à muito fértil terra roxa que predominava no Paraná, mas que se revelou ao contrário. Esse episódio despertou a preocupação em estabelecer alinhamento e cooperação com instituições de pesquisa, revelando o traço de inovação que ficou como característica do Cerrado Mineiro. Compreender o solo e o clima, criar formas de trabalho para que os resultados no campo fossem os melhores.

Com isso veio a mecanização, uma vez que a topografia em sua maioria levemente inclinada permite essa facilidade.

Por outro lado, percebeu-se que o clima tinha maior definição entre períodos de chuva e de seca, fenômeno que foi bem interpretado pela torrefação italiana illy, que criou o primeiro concurso de qualidade de café do mundo, ao constatar que nas primeiras edições de seu concurso os vencedores eram em sua esmagadora maioria originados no Cerrado Mineiro.

Cafeicultura moderna, regenerativa. Foto: Ensei Neto/Arquivo Pessoal.

 

O clima, junto da tecnologia constantemente incorporado, fez com que a região em pouco tempo ganhasse reconhecimento do mercado como origem de excelentes cafés, posicionando os cafés da região, dentro do grande mercado, como os mais valorizados.

Grãos recém colhidos. Foto: Ensei Neto/Arquivo Pessoal.

Para se ter idéia da importância desse aspecto, é importante saber que a precificação do café tem como referência a uniformidade e pureza, entendendo-se como pureza ausência de grãos defeituosos. Portanto, uma região onde em média, ou seja, a grande maioria dos lotes produzidos, apresentam maior uniformidade e pureza, são mais valorizados porque proporcionam maior desempenho na torra.

Para que todo o conhecimento gerado ao longo do tempo pudesse ser compartilhado e aplicado, os cafeicultores foram se organizando em associações, criando em seguida, uma entidade de coordenação que foi o CACCER - Conselho das Associações de Cafeicultores do Cerrado, que criou o nome Café do Cerrado. Pessoas como Juarez do Valle, criador da genial logomarca que identificou a região por décadas e Aguinaldo José de Lima, primeiro presidente da entidade e principal divulgador da região em seu princípio, além de diversas outras pessoas dos municípios que compõem a origem, que conseguiram tornar palpável um desejo único de reconhecimento do mercado à identidade e qualidade do café da região.

Juarez do Valle. 1ª participação em feira internacional. Foto: Divulgação.

 

Hoje, o CACCER deu lugar à Federação dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro, mantida por 7 associações como a pioneira de Araguari, a de Patrocínio e Monte Carmelo, entre outras, junto de cooperativas, algumas originadas como braços comerciais das associações.

O modelo de gestão institucional do Cerrado Mineiro é único no Brasil, que poderia ser replicado em qualquer região, pois coloca objetivos coletivos em primeiro plano e, por isso, beneficia de forma ampla os produtores de sua região demarcada.

Dentre os trabalhos e idéias inovadoras que as entidades do Cerrado Mineiro estabeleceram, podem ser contabilizados:

  • a Denominação de Origem para café, primeira do Brasil, e a segunda no mundo;
  • criação de uma entidade de fomento à pesquisa cafeeira, a FUNDACER;
  • sistema de certificação com poderosos mecanismos de rastreabilidade dos lotes de café;
  • seminários de grande porte para difusão de conhecimento, tecnologias e conexões com o mercado, incluindo o mais importante focado à irrigação do café, com sede em Araguari;
  • identidade regional com forte comprometimento dos cafeicultores.

 

Região do Cerrado Mineiro. Divulgação. Foto: Estadão

 

No último dia 30 de novembro, em Uberlândia, foram celebrados os 50 anos da região do Cerrado Mineiro, numa grande festa com a divulgação dos lotes vencedores do concurso de qualidade de 2022.

Vida longa ao Cerrado Mineiro!

A região do Cerrado Mineiro teve plantios esporádicos de café desde o início do Século XX, principalmente em áreas mais próximas ao Sudoeste e Sul de Minas, nos arredores da Serra da Canastra. Para se ter idéia, ainda na década de 1950 a região se destacava como grande produtora de cafés lavados ou degomados em tanque, similar ao que é feito, por exemplo, na Colômbia e América Central, com produção média de 8.000 sacas (pasmem!) em fazenda em Córrego d'Anta.

Cafés despolpados ou lavados. Foto: Ensei Neto/Arquivo Pessoal.

 

Em Patrocínio, há registros dos primeiros cafezais desde 1972, utilizando-se esse ano como o início da cafeicultora do Cerrado. Durante muito tempo, as terras do cerrado eram desprezadas em razão da acidez e pobreza de nutrientes, reservando-se quase que exclusivamente ao gado.

O ano era 1975. O Brasil tinha perspectiva de uma boa safra de café, cujas regiões produtoras basicamente se concentravam no Sul de Minas, São Paulo e na então poderosa cafeicultura do Norte do Paraná.

O mês de julho abriu portas para as grandes geadas que mudaram definitivamente o mapa da cafeicultura brasileira ao arrasar com as lavouras do Norte do Paraná, Alta Paulista, Noroeste e parte do Sul de Minas. Ventos frios com temperaturas abaixo de zero fazem a chamada Geada Negra, que literalmente ressecam todos os vegetais que encontra pela frente, criando cenários pós apocalípticos de destruição.

Muitos cafeicultores que perderam suas plantações com a geada decidiram procurar por regiões onde não houvesse ocorrência de geadas para recomeçar a vida e ir mais ao norte era o caminho mais lógico. Correntes migratórias ocorreram regularmente, com cafeicultores da Alta Paulista, com Garça e Marília como cidades polo, estabelecendo-se na região de Patrocínio, enquanto aqueles do Norte do Paraná fixaram-se, inicialmente em Monte Carmelo e parte de Carmo do Paranaíba. Outra corrente, formada principalmente por meeiros do Norte Paranaense, escolheram Araguari como seu novo porto seguro.

De início, havia uma procura muito grande pelas terras de cor avermelhada, numa nítida referência à muito fértil terra roxa que predominava no Paraná, mas que se revelou ao contrário. Esse episódio despertou a preocupação em estabelecer alinhamento e cooperação com instituições de pesquisa, revelando o traço de inovação que ficou como característica do Cerrado Mineiro. Compreender o solo e o clima, criar formas de trabalho para que os resultados no campo fossem os melhores.

Com isso veio a mecanização, uma vez que a topografia em sua maioria levemente inclinada permite essa facilidade.

Por outro lado, percebeu-se que o clima tinha maior definição entre períodos de chuva e de seca, fenômeno que foi bem interpretado pela torrefação italiana illy, que criou o primeiro concurso de qualidade de café do mundo, ao constatar que nas primeiras edições de seu concurso os vencedores eram em sua esmagadora maioria originados no Cerrado Mineiro.

Cafeicultura moderna, regenerativa. Foto: Ensei Neto/Arquivo Pessoal.

 

O clima, junto da tecnologia constantemente incorporado, fez com que a região em pouco tempo ganhasse reconhecimento do mercado como origem de excelentes cafés, posicionando os cafés da região, dentro do grande mercado, como os mais valorizados.

Grãos recém colhidos. Foto: Ensei Neto/Arquivo Pessoal.

Para se ter idéia da importância desse aspecto, é importante saber que a precificação do café tem como referência a uniformidade e pureza, entendendo-se como pureza ausência de grãos defeituosos. Portanto, uma região onde em média, ou seja, a grande maioria dos lotes produzidos, apresentam maior uniformidade e pureza, são mais valorizados porque proporcionam maior desempenho na torra.

Para que todo o conhecimento gerado ao longo do tempo pudesse ser compartilhado e aplicado, os cafeicultores foram se organizando em associações, criando em seguida, uma entidade de coordenação que foi o CACCER - Conselho das Associações de Cafeicultores do Cerrado, que criou o nome Café do Cerrado. Pessoas como Juarez do Valle, criador da genial logomarca que identificou a região por décadas e Aguinaldo José de Lima, primeiro presidente da entidade e principal divulgador da região em seu princípio, além de diversas outras pessoas dos municípios que compõem a origem, que conseguiram tornar palpável um desejo único de reconhecimento do mercado à identidade e qualidade do café da região.

Juarez do Valle. 1ª participação em feira internacional. Foto: Divulgação.

 

Hoje, o CACCER deu lugar à Federação dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro, mantida por 7 associações como a pioneira de Araguari, a de Patrocínio e Monte Carmelo, entre outras, junto de cooperativas, algumas originadas como braços comerciais das associações.

O modelo de gestão institucional do Cerrado Mineiro é único no Brasil, que poderia ser replicado em qualquer região, pois coloca objetivos coletivos em primeiro plano e, por isso, beneficia de forma ampla os produtores de sua região demarcada.

Dentre os trabalhos e idéias inovadoras que as entidades do Cerrado Mineiro estabeleceram, podem ser contabilizados:

  • a Denominação de Origem para café, primeira do Brasil, e a segunda no mundo;
  • criação de uma entidade de fomento à pesquisa cafeeira, a FUNDACER;
  • sistema de certificação com poderosos mecanismos de rastreabilidade dos lotes de café;
  • seminários de grande porte para difusão de conhecimento, tecnologias e conexões com o mercado, incluindo o mais importante focado à irrigação do café, com sede em Araguari;
  • identidade regional com forte comprometimento dos cafeicultores.

 

Região do Cerrado Mineiro. Divulgação. Foto: Estadão

 

No último dia 30 de novembro, em Uberlândia, foram celebrados os 50 anos da região do Cerrado Mineiro, numa grande festa com a divulgação dos lotes vencedores do concurso de qualidade de 2022.

Vida longa ao Cerrado Mineiro!

A região do Cerrado Mineiro teve plantios esporádicos de café desde o início do Século XX, principalmente em áreas mais próximas ao Sudoeste e Sul de Minas, nos arredores da Serra da Canastra. Para se ter idéia, ainda na década de 1950 a região se destacava como grande produtora de cafés lavados ou degomados em tanque, similar ao que é feito, por exemplo, na Colômbia e América Central, com produção média de 8.000 sacas (pasmem!) em fazenda em Córrego d'Anta.

Cafés despolpados ou lavados. Foto: Ensei Neto/Arquivo Pessoal.

 

Em Patrocínio, há registros dos primeiros cafezais desde 1972, utilizando-se esse ano como o início da cafeicultora do Cerrado. Durante muito tempo, as terras do cerrado eram desprezadas em razão da acidez e pobreza de nutrientes, reservando-se quase que exclusivamente ao gado.

O ano era 1975. O Brasil tinha perspectiva de uma boa safra de café, cujas regiões produtoras basicamente se concentravam no Sul de Minas, São Paulo e na então poderosa cafeicultura do Norte do Paraná.

O mês de julho abriu portas para as grandes geadas que mudaram definitivamente o mapa da cafeicultura brasileira ao arrasar com as lavouras do Norte do Paraná, Alta Paulista, Noroeste e parte do Sul de Minas. Ventos frios com temperaturas abaixo de zero fazem a chamada Geada Negra, que literalmente ressecam todos os vegetais que encontra pela frente, criando cenários pós apocalípticos de destruição.

Muitos cafeicultores que perderam suas plantações com a geada decidiram procurar por regiões onde não houvesse ocorrência de geadas para recomeçar a vida e ir mais ao norte era o caminho mais lógico. Correntes migratórias ocorreram regularmente, com cafeicultores da Alta Paulista, com Garça e Marília como cidades polo, estabelecendo-se na região de Patrocínio, enquanto aqueles do Norte do Paraná fixaram-se, inicialmente em Monte Carmelo e parte de Carmo do Paranaíba. Outra corrente, formada principalmente por meeiros do Norte Paranaense, escolheram Araguari como seu novo porto seguro.

De início, havia uma procura muito grande pelas terras de cor avermelhada, numa nítida referência à muito fértil terra roxa que predominava no Paraná, mas que se revelou ao contrário. Esse episódio despertou a preocupação em estabelecer alinhamento e cooperação com instituições de pesquisa, revelando o traço de inovação que ficou como característica do Cerrado Mineiro. Compreender o solo e o clima, criar formas de trabalho para que os resultados no campo fossem os melhores.

Com isso veio a mecanização, uma vez que a topografia em sua maioria levemente inclinada permite essa facilidade.

Por outro lado, percebeu-se que o clima tinha maior definição entre períodos de chuva e de seca, fenômeno que foi bem interpretado pela torrefação italiana illy, que criou o primeiro concurso de qualidade de café do mundo, ao constatar que nas primeiras edições de seu concurso os vencedores eram em sua esmagadora maioria originados no Cerrado Mineiro.

Cafeicultura moderna, regenerativa. Foto: Ensei Neto/Arquivo Pessoal.

 

O clima, junto da tecnologia constantemente incorporado, fez com que a região em pouco tempo ganhasse reconhecimento do mercado como origem de excelentes cafés, posicionando os cafés da região, dentro do grande mercado, como os mais valorizados.

Grãos recém colhidos. Foto: Ensei Neto/Arquivo Pessoal.

Para se ter idéia da importância desse aspecto, é importante saber que a precificação do café tem como referência a uniformidade e pureza, entendendo-se como pureza ausência de grãos defeituosos. Portanto, uma região onde em média, ou seja, a grande maioria dos lotes produzidos, apresentam maior uniformidade e pureza, são mais valorizados porque proporcionam maior desempenho na torra.

Para que todo o conhecimento gerado ao longo do tempo pudesse ser compartilhado e aplicado, os cafeicultores foram se organizando em associações, criando em seguida, uma entidade de coordenação que foi o CACCER - Conselho das Associações de Cafeicultores do Cerrado, que criou o nome Café do Cerrado. Pessoas como Juarez do Valle, criador da genial logomarca que identificou a região por décadas e Aguinaldo José de Lima, primeiro presidente da entidade e principal divulgador da região em seu princípio, além de diversas outras pessoas dos municípios que compõem a origem, que conseguiram tornar palpável um desejo único de reconhecimento do mercado à identidade e qualidade do café da região.

Juarez do Valle. 1ª participação em feira internacional. Foto: Divulgação.

 

Hoje, o CACCER deu lugar à Federação dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro, mantida por 7 associações como a pioneira de Araguari, a de Patrocínio e Monte Carmelo, entre outras, junto de cooperativas, algumas originadas como braços comerciais das associações.

O modelo de gestão institucional do Cerrado Mineiro é único no Brasil, que poderia ser replicado em qualquer região, pois coloca objetivos coletivos em primeiro plano e, por isso, beneficia de forma ampla os produtores de sua região demarcada.

Dentre os trabalhos e idéias inovadoras que as entidades do Cerrado Mineiro estabeleceram, podem ser contabilizados:

  • a Denominação de Origem para café, primeira do Brasil, e a segunda no mundo;
  • criação de uma entidade de fomento à pesquisa cafeeira, a FUNDACER;
  • sistema de certificação com poderosos mecanismos de rastreabilidade dos lotes de café;
  • seminários de grande porte para difusão de conhecimento, tecnologias e conexões com o mercado, incluindo o mais importante focado à irrigação do café, com sede em Araguari;
  • identidade regional com forte comprometimento dos cafeicultores.

 

Região do Cerrado Mineiro. Divulgação. Foto: Estadão

 

No último dia 30 de novembro, em Uberlândia, foram celebrados os 50 anos da região do Cerrado Mineiro, numa grande festa com a divulgação dos lotes vencedores do concurso de qualidade de 2022.

Vida longa ao Cerrado Mineiro!

A região do Cerrado Mineiro teve plantios esporádicos de café desde o início do Século XX, principalmente em áreas mais próximas ao Sudoeste e Sul de Minas, nos arredores da Serra da Canastra. Para se ter idéia, ainda na década de 1950 a região se destacava como grande produtora de cafés lavados ou degomados em tanque, similar ao que é feito, por exemplo, na Colômbia e América Central, com produção média de 8.000 sacas (pasmem!) em fazenda em Córrego d'Anta.

Cafés despolpados ou lavados. Foto: Ensei Neto/Arquivo Pessoal.

 

Em Patrocínio, há registros dos primeiros cafezais desde 1972, utilizando-se esse ano como o início da cafeicultora do Cerrado. Durante muito tempo, as terras do cerrado eram desprezadas em razão da acidez e pobreza de nutrientes, reservando-se quase que exclusivamente ao gado.

O ano era 1975. O Brasil tinha perspectiva de uma boa safra de café, cujas regiões produtoras basicamente se concentravam no Sul de Minas, São Paulo e na então poderosa cafeicultura do Norte do Paraná.

O mês de julho abriu portas para as grandes geadas que mudaram definitivamente o mapa da cafeicultura brasileira ao arrasar com as lavouras do Norte do Paraná, Alta Paulista, Noroeste e parte do Sul de Minas. Ventos frios com temperaturas abaixo de zero fazem a chamada Geada Negra, que literalmente ressecam todos os vegetais que encontra pela frente, criando cenários pós apocalípticos de destruição.

Muitos cafeicultores que perderam suas plantações com a geada decidiram procurar por regiões onde não houvesse ocorrência de geadas para recomeçar a vida e ir mais ao norte era o caminho mais lógico. Correntes migratórias ocorreram regularmente, com cafeicultores da Alta Paulista, com Garça e Marília como cidades polo, estabelecendo-se na região de Patrocínio, enquanto aqueles do Norte do Paraná fixaram-se, inicialmente em Monte Carmelo e parte de Carmo do Paranaíba. Outra corrente, formada principalmente por meeiros do Norte Paranaense, escolheram Araguari como seu novo porto seguro.

De início, havia uma procura muito grande pelas terras de cor avermelhada, numa nítida referência à muito fértil terra roxa que predominava no Paraná, mas que se revelou ao contrário. Esse episódio despertou a preocupação em estabelecer alinhamento e cooperação com instituições de pesquisa, revelando o traço de inovação que ficou como característica do Cerrado Mineiro. Compreender o solo e o clima, criar formas de trabalho para que os resultados no campo fossem os melhores.

Com isso veio a mecanização, uma vez que a topografia em sua maioria levemente inclinada permite essa facilidade.

Por outro lado, percebeu-se que o clima tinha maior definição entre períodos de chuva e de seca, fenômeno que foi bem interpretado pela torrefação italiana illy, que criou o primeiro concurso de qualidade de café do mundo, ao constatar que nas primeiras edições de seu concurso os vencedores eram em sua esmagadora maioria originados no Cerrado Mineiro.

Cafeicultura moderna, regenerativa. Foto: Ensei Neto/Arquivo Pessoal.

 

O clima, junto da tecnologia constantemente incorporado, fez com que a região em pouco tempo ganhasse reconhecimento do mercado como origem de excelentes cafés, posicionando os cafés da região, dentro do grande mercado, como os mais valorizados.

Grãos recém colhidos. Foto: Ensei Neto/Arquivo Pessoal.

Para se ter idéia da importância desse aspecto, é importante saber que a precificação do café tem como referência a uniformidade e pureza, entendendo-se como pureza ausência de grãos defeituosos. Portanto, uma região onde em média, ou seja, a grande maioria dos lotes produzidos, apresentam maior uniformidade e pureza, são mais valorizados porque proporcionam maior desempenho na torra.

Para que todo o conhecimento gerado ao longo do tempo pudesse ser compartilhado e aplicado, os cafeicultores foram se organizando em associações, criando em seguida, uma entidade de coordenação que foi o CACCER - Conselho das Associações de Cafeicultores do Cerrado, que criou o nome Café do Cerrado. Pessoas como Juarez do Valle, criador da genial logomarca que identificou a região por décadas e Aguinaldo José de Lima, primeiro presidente da entidade e principal divulgador da região em seu princípio, além de diversas outras pessoas dos municípios que compõem a origem, que conseguiram tornar palpável um desejo único de reconhecimento do mercado à identidade e qualidade do café da região.

Juarez do Valle. 1ª participação em feira internacional. Foto: Divulgação.

 

Hoje, o CACCER deu lugar à Federação dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro, mantida por 7 associações como a pioneira de Araguari, a de Patrocínio e Monte Carmelo, entre outras, junto de cooperativas, algumas originadas como braços comerciais das associações.

O modelo de gestão institucional do Cerrado Mineiro é único no Brasil, que poderia ser replicado em qualquer região, pois coloca objetivos coletivos em primeiro plano e, por isso, beneficia de forma ampla os produtores de sua região demarcada.

Dentre os trabalhos e idéias inovadoras que as entidades do Cerrado Mineiro estabeleceram, podem ser contabilizados:

  • a Denominação de Origem para café, primeira do Brasil, e a segunda no mundo;
  • criação de uma entidade de fomento à pesquisa cafeeira, a FUNDACER;
  • sistema de certificação com poderosos mecanismos de rastreabilidade dos lotes de café;
  • seminários de grande porte para difusão de conhecimento, tecnologias e conexões com o mercado, incluindo o mais importante focado à irrigação do café, com sede em Araguari;
  • identidade regional com forte comprometimento dos cafeicultores.

 

Região do Cerrado Mineiro. Divulgação. Foto: Estadão

 

No último dia 30 de novembro, em Uberlândia, foram celebrados os 50 anos da região do Cerrado Mineiro, numa grande festa com a divulgação dos lotes vencedores do concurso de qualidade de 2022.

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