Em tempos de isolamento social causado pela pandemia do novo coronavírus, donos de academias, boxes de treinamento funcional e crossfit, estúdios de pilates e espaços de yoga adaptaram o modelo de suas aulas para plataformas online e redes sociais.
Nesse processo, os empreendedores se sentem em uma maratona com obstáculos. É preciso planejar treinos adaptados para os alunos fazerem em casa, gerar engajamento para as aulas online e, ainda assim, arcar com as despesas fixas dos espaços onde funcionam. A corrida é para garantir que os alunos continuem com os pagamentos dos planos contratados até a quarentena terminar, segundo definido inicialmente pelo governador João Doria, no dia 7 de abril.
Nesse cenário, talvez o maior desafio dos pequenos negócios seja preencher o buraco deixado pelo alunos que frequentavam as aulas via Gympass. A plataforma proporciona que os alunos façam aulas em diferentes espaços fitness da cidade, sem necessidade de contratação direta com o local frequentado. Todo mês, o Gympass repassa um valor às academias - acordado individualmente com cada local.
A porcentagem que os alunos do Gympass representam no faturamento das academias é alta, variando de 40% a 80%. Os alunos em geral são funcionários que recebem o “passe” como benefício das empresas onde trabalham - estes, sim, são os clientes da rede multinacional. Dos 23.700 espaços fitness cadastrados no Gympass, 20 mil são academias, estúdios e boxes de crossfit.
Nesta semana, o Gympass anunciou seu plano de ações para amparar esses negócios. Quatro medidas serão colocadas em prática até o fim de março e meados de abril. Entre elas, estão o pagamento antecipado do repasse referente a março para as academias e a criação de uma plataforma online que permitirá que as academias possam transmitir aulas ao vivo e serem remuneradas por elas.
Além disso, ainda há incentivo financeiro - compatível com o que a academia deixou de ganhar no período em que esteve fechada - para os espaços que aderirem à plataforma digital e disponibilizarem cinco aulas já para a primeira semana de abril. Por fim, a cessão da plataforma de vídeo-aulas aos alunos que não são Gympass para as academias poderem cobrar por esse conteúdo.
“Já estamos comunicando as academias e espaços parceiros para que a gente consiga mitigar os efeitos dessa crise, que nos afeta muito também. Nosso nível de cancelamento vindo das empresas que oferecem o Gympass como benefício aos funcionários subiu. Estamos buscando dar uma possibilidade em meio digital para as empresas e uma alternativa de boa qualidade para os usuários”, conta o CEO do Gympass no Brasil, Leandro Caldeira.
Empreendedores migram para o digital
Antes de o Gympass anunciar as medidas, empreendedores do setor já haviam colocado suas aulas online em prática, como Karolyne Camargo, dona de um estúdio de pilates. Ela interrompeu as aulas presenciais no dia 17 de março, antes de o governador de São Paulo determinar o fechamento de serviços não essenciais, no qual se enquadram as academias.
“Tenho um perfil de aluno que viaja bastante, muitos são atores e cantores e por isso lidam com multidões. Preferi fechar antes para a saúde de todos”, conta Karolyne.
Para iniciar o plano de aulas online e não deixar os alunos desassistidos, ela usa o IGTV, plataforma de vídeos do Instagram. “A ferramenta me ajuda a organizar e sequenciar os vídeos. Comecei a gravar séries de alongamento e exercícios preparatórios. Além de publicá-los no perfil do estúdio, também envio as gravações para os meus alunos via mensagem direta pelo aplicativo”, explica.
Karolyne ressalta as dificuldades da produção das aulas online. “É um desafio mexer com tecnologia, sou formada em educação física. Mas entendi que o bacana é focar na simplicidade do vídeo e não tentar fazer uma super produção. Então, faço os vídeos da minha casa, com duração de 20 minutos.”
Sobre a saúde financeira da empresa, Karolyne diz que, apesar de o estúdio ter pouco mais de um ano de abertura, ela focou no capital de giro e acredita que conseguirá atravessar com segurança o período de quarentena. “Trabalho com Gympass, mas a maioria dos meus alunos pagam planos mensais, trimestrais ou semestrais. Isso me deixa tranquila. E acredito que esse momento é propício para ver quais são as PMEs que têm o mínimo de planejamento financeiro, visão do negócio e em que áreas é preciso melhorar”, diz ela, que tem 50 alunos recorrentes.
Também antes do indicado, Davis Messias, sócio do Crossfit Mooca, interrompeu as atividades no dia 18 de março. “A determinação ia ocorrer de qualquer forma, não faria diferença fechar antes ou depois do indicado”, explica. O empreendedor diz que, desde então, começou a pensar em alternativas para driblar a quarentena. Mas assegura que não deixará de pagar os salários dos oito professores.
“Vamos cumprir com todas as obrigações. E entendemos que quem é afetado diretamente são os próprios parceiros. Todo mundo vai ter que negociar pelo menos dois meses de aluguel, por exemplo”, diz Messias.
Com 210 alunos, Messias diz que 40% do faturamento do box é de frequentadores via Gympass. Ele pontua que, quando começou a trabalhar com a plataforma, os alunos podiam fazer o check in pelo aplicativo em qualquer lugar. Atualmente, o aluno consegue fazê-lo a apenas 1 km de distância da academia. “Acredito que seja para evitar fraudes. Mas, nesse momento, muitos alunos queriam continuar fazendo o check in de suas casas, para ajudar as academias”, afirma.
Leandro Caldeira, CEO do Gympass no Brasil, explica que não é possível fazer o check in em uma academia que está fechada. “Se hoje a recomendação das autoridades de saúde é para que os locais estejam fechados, a empresa que nos contrata não pode pagar por algo que implica no uso do meio físico. Por isso criamos as aulas online, para conseguir remunerar nossos parceiros.”
Messias diz que vai programar aulas online pela plataforma disponibilizada pelo Gympass. Por enquanto, ele está utilizando o aplicativo Zoom.“Estamos fazendo ‘aulões’ aos sábados, sempre no mesmo horário, às 17h. E também emprestamos equipamentos para os nossos alunos continuarem a rotina de exercícios físicos em casa, sob a nossa orientação”, conta.
O Zoom também foi a plataforma escolhida pela professora de kundalini yoga Juliana Menz. Ela começou a dar aulas pelo aplicativo há duas semanas e se surpreendeu com o engajamento dos seus alunos e também com a procura de novos praticantes. Por meio de uma live no Instagram, ela avisou um dia antes que passaria a dar aulas pelo Zoom.
“Desde então, tenho aulas todos os dias com turmas de 20 pessoas. Consegui muitos novos alunos e estou vendo pessoas que nunca tinham imaginado fazer yoga adorando a prática”, conta Juliana. Ela cobra R$ 25 por aula e tem fechado pacotes de quatro a cinco aulas por aluno.
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