A rede de sorveterias Bacio di Latte, que hoje soma 123 lojas pelo País, buscou no mercado uma pequena marca de chocolates, a Luisa Abram, para lançar sua linha de barras próprias. A parceria nasceu da ideia de a Bacio trazer para sua cartela de produtos um chocolate que combinasse com a sua história: ingredientes de alta qualidade e DNA dissonante da grande indústria.
Luisa Abram, que começou sua fábrica de chocolate dentro de casa em 2015, é a responsável pela produção das cinco barras distribuídas atualmente em 12 lojas na capital paulista. Até o fim do ano, o chocolate (que não serve para fazer o sorvete) deve estar em todas as 70 unidades Bacio do Estado de São Paulo. Até março, às vésperas da Páscoa, a ideia é chegar a uma linha de 15 produtos e alcançar as 123 lojas próprias em todo o País. Não há ovo de Páscoa previsto, diz a empresa de sorvetes.
Para a marca, a escolha de Luisa Abram, que trabalha com cacau de origem amazônica, nasceu de uma avaliação não só da qualidade de seu produto, mas também do nome que ela fez no mercado nos últimos anos. A empreendedora vende suas barras para empórios como Casa Santa Luzia e exporta quase metade da produção.
“A gente já usou cacau da Amazônia nos gelatos, então conhecemos muita gente do setor, inclusive Luisa Abram. Ela lida com o cacau selvagem (amazônico), tem a expertise de transformar esse cacau bruto em um chocolate superdelicado. E tem muito conhecimento sobre o mercado do chocolate”, diz Fábio Medeiros, diretor de marketing da Bacio di Latte.
A empresa, fundada em São Paulo em 2011 pelo italiano Edoardo Tonolli, foi aberta com investimento de cerca de R$ 1 milhão e plano inicial de chegar a 40 lojas. Hoje, fatura em torno de R$ 220 milhões por ano e pretende seguir com plano de expansão em 2021 - em janeiro devem ser abertos dois quiosques dentro do parque do Ibirapuera.
Na futura cartela de produtos, além de novos itens com chocolate (como drageados e barras rústicas, a cargo de Luisa), a rede deve lançar outras receitas com sorvete - as lojas também servem cafés e bolos. “(O chocolate) tem um fit muito forte com a marca. A Bacio pode surfar a onda de sobremesas, bolos, chocolates”, completa Fábio.
Auditoria e ajustes burocráticos
Para atender à demanda da rede, Luisa Abram se preparou por mais de um ano. Desde as primeiras conversas, em agosto do ano passado, até agora, a pequena empreendedora passou por treinamentos e duas auditorias da Bacio. Precisou ajustar procedimentos para não haver contaminação cruzada na produção, renovou e tirou novos alvarás.
“Aqui na fábrica a gente mudou muito para atender eles, crescemos como empresa. A Bacio é muito séria, não tem teto de vidro, e eles queriam parceiros com os mesmos ‘high standards’ deles”, conta Luisa, que com a parceria dobrou o volume de chocolate produzido.
Antes da Bacio, a empresa fazia 500 kg de chocolate por mês e, agora, está em 1 tonelada, já preparada para fazer 2,5 toneladas por mês no ano que vem, para atender todas as lojas da rede. A fábrica hoje conta com nove funcionários, dois contratados durante a pandemia do coronavírus, e espera fechar o ano com faturamento passando de R$ 1 milhão (o dobro de 2019).
Para dar conta do processamento do cacau, Luisa tem parceria com a Indústria Brasileira do Cacau (ICB), no interior de São Paulo, que recebe o cacau amazônico e entrega a massa de chocolate para Luisa transformar nas receitas desenvolvidas com a Bacio.
Entre as cinco barras, a de pistache, por exemplo, leva a pasta de pistache importada com exclusividade da Itália para o sorvete da marca. Entre outros sabores, estão chocolate branco caramelizado e chocolate branco com lemon pepper.
Segundo Luisa, para ser possível crescer em plena pandemia, pagamentos e contratos com seus fornecedores foram renegociados logo no começo do isolamento social, em março, ajudando a saúde financeira durante a crise. “O site novo e a gestão financeira foram os principais fatores para que a gente não sofresse tanto ao longo do ano.”
Parceria entre o grande e o pequeno
Outros chocolateiros da cidade também operam parcerias semelhantes, abastecendo grandes ou médias empresas com produtos autorais feitos em pequenas fábricas. É o caso de Gislaine Gallette, que toca a Gallette Chocolates na zona norte de São Paulo desde 2013.
É ela quem fornece o chocolate que Eataly, Empório Santa Maria e St Marche vendem com embalagem própria, incluindo os ovos da Páscoa - nessas mesmas lojas, Gislaine ainda vende as barras que levam o nome Gallette.
A parceria começou em 2014, com o Santa Maria, foi incluindo unidades do grupo ao longo dos anos e, em 2019, o contrato cresceu com o Eataly. Hoje, a parceria com o Grupo St Marche representa de 30% a 40% do faturamento da Gallette, que produz em torno de 500 kg de chocolate por mês.