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Opinião|Investimento-anjo no Brasil: cai o valor investido e sobe o número de investidores, diz pesquisa


Realizado pela Anjos do Brasil, levantamento anual apontou queda significativa no valor total investido em 2023; em contrapartida, houve aumento no número de investidores

Por Maure Pessanha

Em 2023, os investimentos-anjo no país alcançaram a marca de R$ 886 milhões, registrando uma diminuição de 10% em relação a 2022. Em contrapartida, o número de pessoas que investem aumentou para 8.155, com uma discreta elevação de 2,4% em comparação com o ano anterior. Na análise do tíquete médio por investidor, há registro de queda de 12,2%, passando de R$ 122 mil para R$ 108 mil. Enquanto isso, a articulação de investidores-anjo nos Estados Unidos teve um aumento de 14,8%, totalizando 422.350 no ano passado. Os dados são de um levantamento anual conduzido pela Anjos do Brasil – organização sem fins lucrativos, fundada em 2011.

Com a missão de fomentar o investimento-anjo no país e apoiar o empreendedorismo inovador, a organização conta com mais de 550 investidores associados e se consolidou como um pilar fundamental para o desenvolvimento de novos negócios no país. Sobre o perfil dos respondentes, a análise mostra que a maioria é formada por brancos (89,2%); 4,6% se identificam como pretos, pardos ou indígenas; e 3,5% são amarelos. No gênero, 80% são homens e 19,6% são mulheres – indicando uma evolução lenta na diversidade do ecossistema de investimento-anjo no Brasil.

Maria Rita Spina Bueno, do Anjos do Brasil, aponta que há um discreto aumento na participação de mulheres no investimento em startups em estágio inicial. Foto: Carol Kappaun
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Em comunicado oficial da organização, Cassio Spina – presidente da Anjos do Brasil –aponta que os dados mostram um contínuo aumento no interesse pelo investimento-anjo, entretanto, devido à retração geral do mercado de investimento em startups, ocorrida nos últimos dois anos, o tamanho dos cheques foi reduzido; ainda faltam estímulos como os aplicados em diversos países, mas não aprovados até o momento no Brasil. Ele salienta que, considerando a proporção do Produto Interno Bruto brasileiro comparado com o dos Estados Unidos, deveríamos estar em um patamar de pelo menos R$ 7,5 bilhões em investimento-anjo. Na perspectiva das projeções para o mercado em 2024, o levantamento mostra otimismo. A visão é que com a recuperação econômica e estabilização dos mercados, haja crescimento no valor total investido em, pelo menos, 11%.

A pesquisa mostra que o mercado nacional está em transformação, portanto, com desafios e oportunidades. Em conversa com Maria Rita Spina Bueno sobre a edição mais recente da pesquisa – que é referência na avaliação da temática –, ela me falou um pouco sobre a percepção que tem dos dados. “Em geral, costuma-se dizer que o investimento-anjo não tem uma relação tão direta com a macroeconomia, já que as startups podem criar novas oportunidades em momentos desafiadores. No entanto, temos observado recentemente que fatores macroeconômicos estão começando a impactar o investimento em startups em estágio inicial, não apenas no investimento-anjo, mas também em outras modalidades, tanto no Brasil quanto no mundo. Ao analisar esses resultados, vejo pontos positivos, pois o impacto não tem sido tão severo. Ainda que o crescimento tenha se tornado mais difícil, tivemos uma queda menor no Brasil em comparação aos Estados Unidos”, analisa.

Ela acrescenta que se nota uma queda menos acentuada em comparação com o investimento em estágios mais avançados, tanto no Brasil quanto fora. Isso é interessante, especialmente quando consideramos a intenção dos investidores de continuar investindo no próximo ano. “Precisamos lembrar que esse investidor-anjo geralmente é uma pessoa física. Se toda a sua carteira de investimentos está sendo impactada, isso também pode afetar a decisão de investir em startups. No entanto, o fato de que muitos estão dispostos a continuar é um dado positivo. Outro resultado relevante da pesquisa é o aumento, ainda que tímido, da participação de mulheres no investimento em startups em estágio inicial. Isso é significativo não só porque traz novas perspectivas, mas também porque amplia o volume de capital disponível. É fundamental atrair mais pessoas diversas para esse universo, especialmente aquelas que ainda não investem em startups”, pontua.

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Maria Rita traz um ponto adicional a destacar: o aumento de cinco pontos percentuais no número de pessoas que investem por meio de redes de investimento-anjo. Isso é vantajoso tanto para os investidores, que têm mais oportunidades e chances de crescimento, quanto para os empreendedores, que passam a ter acesso facilitado a eles – e a um nível maior de segurança, com pessoas que investem e que compreendem melhor o funcionamento do ecossistema.

Sobre o desenvolvimento do investimento-anjo no Brasil, Maria Rita percebe uma evolução significativa em diversos indicadores – como a participação de uma maior diversidade, o volume de investimentos e o interesse por diferentes setores. Isso demonstra que estamos avançando de maneira consistente em direção às boas práticas globais. “Quando o movimento de investimento-anjo começou no país, em 2011, tudo ainda era muito incipiente. Tanto os investidores quanto os empreendedores não tinham muita clareza sobre como conduzir esse tipo de investimento. Porém, hoje, vemos um crescimento substancial no ecossistema de startups. Há menos lacunas e, atualmente, existem investidores para diferentes tipos de negócios e setores. Essa evolução é impressionante. O Brasil conseguiu acelerar o ritmo de desenvolvimento ao aprender com as experiências de outros países que têm essa prática mais consolidada. Conseguimos trazer essas lições e aplicá-las ao nosso contexto, o que nos permitiu crescer de forma mais rápida”, analisa.

A visão de futuro trazida por Maria Rita é positiva. “O crescimento na qualidade dos investidores, o entendimento mais profundo do processo e o aumento das redes de investimento-anjo brasileiras indicam um cenário promissor. No entanto, para que esse futuro se concretize e possamos apoiar todas as startups que precisam, alguns ajustes são necessários. O primeiro passo para garantir esse avanço é melhorar a estrutura regulatória; precisamos de mais incentivos para o investimento em startups e de condições que reduzam o risco dessas empresas, como ajustes na legislação trabalhista para projetos inovadores e maior abertura para compras públicas. Essas medidas ajudariam muito a criar um ambiente mais favorável. Outra tendência interessante para o futuro é a ampliação de novos modelos de negócios e setores da economia, com muitos investidores-anjo, motivados por suas experiências profissionais, começando a apoiar projetos alinhados com práticas ESG. Isso não só contribui para um impacto positivo nas áreas ambiental, social e de governança, mas também fortalece a visão de um futuro mais sustentável e inclusivo”, finaliza.

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Destaco que o investimento-anjo desempenha um papel crucial no desenvolvimento de startups e na promoção da inovação. Nesse contexto, a pesquisa da Anjos do Brasil é essencial, porque fornece uma visão abrangente das tendências e mudanças no mercado. De um lado, ajuda investidores e empreendedores a tomarem decisões com base em informações de qualidade; por outro, traz visibilidade ao que precisamos aprimorar para fomentar o aumento no número de investidores e no tíquete médio.

Em 2023, os investimentos-anjo no país alcançaram a marca de R$ 886 milhões, registrando uma diminuição de 10% em relação a 2022. Em contrapartida, o número de pessoas que investem aumentou para 8.155, com uma discreta elevação de 2,4% em comparação com o ano anterior. Na análise do tíquete médio por investidor, há registro de queda de 12,2%, passando de R$ 122 mil para R$ 108 mil. Enquanto isso, a articulação de investidores-anjo nos Estados Unidos teve um aumento de 14,8%, totalizando 422.350 no ano passado. Os dados são de um levantamento anual conduzido pela Anjos do Brasil – organização sem fins lucrativos, fundada em 2011.

Com a missão de fomentar o investimento-anjo no país e apoiar o empreendedorismo inovador, a organização conta com mais de 550 investidores associados e se consolidou como um pilar fundamental para o desenvolvimento de novos negócios no país. Sobre o perfil dos respondentes, a análise mostra que a maioria é formada por brancos (89,2%); 4,6% se identificam como pretos, pardos ou indígenas; e 3,5% são amarelos. No gênero, 80% são homens e 19,6% são mulheres – indicando uma evolução lenta na diversidade do ecossistema de investimento-anjo no Brasil.

Maria Rita Spina Bueno, do Anjos do Brasil, aponta que há um discreto aumento na participação de mulheres no investimento em startups em estágio inicial. Foto: Carol Kappaun

Em comunicado oficial da organização, Cassio Spina – presidente da Anjos do Brasil –aponta que os dados mostram um contínuo aumento no interesse pelo investimento-anjo, entretanto, devido à retração geral do mercado de investimento em startups, ocorrida nos últimos dois anos, o tamanho dos cheques foi reduzido; ainda faltam estímulos como os aplicados em diversos países, mas não aprovados até o momento no Brasil. Ele salienta que, considerando a proporção do Produto Interno Bruto brasileiro comparado com o dos Estados Unidos, deveríamos estar em um patamar de pelo menos R$ 7,5 bilhões em investimento-anjo. Na perspectiva das projeções para o mercado em 2024, o levantamento mostra otimismo. A visão é que com a recuperação econômica e estabilização dos mercados, haja crescimento no valor total investido em, pelo menos, 11%.

A pesquisa mostra que o mercado nacional está em transformação, portanto, com desafios e oportunidades. Em conversa com Maria Rita Spina Bueno sobre a edição mais recente da pesquisa – que é referência na avaliação da temática –, ela me falou um pouco sobre a percepção que tem dos dados. “Em geral, costuma-se dizer que o investimento-anjo não tem uma relação tão direta com a macroeconomia, já que as startups podem criar novas oportunidades em momentos desafiadores. No entanto, temos observado recentemente que fatores macroeconômicos estão começando a impactar o investimento em startups em estágio inicial, não apenas no investimento-anjo, mas também em outras modalidades, tanto no Brasil quanto no mundo. Ao analisar esses resultados, vejo pontos positivos, pois o impacto não tem sido tão severo. Ainda que o crescimento tenha se tornado mais difícil, tivemos uma queda menor no Brasil em comparação aos Estados Unidos”, analisa.

Ela acrescenta que se nota uma queda menos acentuada em comparação com o investimento em estágios mais avançados, tanto no Brasil quanto fora. Isso é interessante, especialmente quando consideramos a intenção dos investidores de continuar investindo no próximo ano. “Precisamos lembrar que esse investidor-anjo geralmente é uma pessoa física. Se toda a sua carteira de investimentos está sendo impactada, isso também pode afetar a decisão de investir em startups. No entanto, o fato de que muitos estão dispostos a continuar é um dado positivo. Outro resultado relevante da pesquisa é o aumento, ainda que tímido, da participação de mulheres no investimento em startups em estágio inicial. Isso é significativo não só porque traz novas perspectivas, mas também porque amplia o volume de capital disponível. É fundamental atrair mais pessoas diversas para esse universo, especialmente aquelas que ainda não investem em startups”, pontua.

Maria Rita traz um ponto adicional a destacar: o aumento de cinco pontos percentuais no número de pessoas que investem por meio de redes de investimento-anjo. Isso é vantajoso tanto para os investidores, que têm mais oportunidades e chances de crescimento, quanto para os empreendedores, que passam a ter acesso facilitado a eles – e a um nível maior de segurança, com pessoas que investem e que compreendem melhor o funcionamento do ecossistema.

Sobre o desenvolvimento do investimento-anjo no Brasil, Maria Rita percebe uma evolução significativa em diversos indicadores – como a participação de uma maior diversidade, o volume de investimentos e o interesse por diferentes setores. Isso demonstra que estamos avançando de maneira consistente em direção às boas práticas globais. “Quando o movimento de investimento-anjo começou no país, em 2011, tudo ainda era muito incipiente. Tanto os investidores quanto os empreendedores não tinham muita clareza sobre como conduzir esse tipo de investimento. Porém, hoje, vemos um crescimento substancial no ecossistema de startups. Há menos lacunas e, atualmente, existem investidores para diferentes tipos de negócios e setores. Essa evolução é impressionante. O Brasil conseguiu acelerar o ritmo de desenvolvimento ao aprender com as experiências de outros países que têm essa prática mais consolidada. Conseguimos trazer essas lições e aplicá-las ao nosso contexto, o que nos permitiu crescer de forma mais rápida”, analisa.

A visão de futuro trazida por Maria Rita é positiva. “O crescimento na qualidade dos investidores, o entendimento mais profundo do processo e o aumento das redes de investimento-anjo brasileiras indicam um cenário promissor. No entanto, para que esse futuro se concretize e possamos apoiar todas as startups que precisam, alguns ajustes são necessários. O primeiro passo para garantir esse avanço é melhorar a estrutura regulatória; precisamos de mais incentivos para o investimento em startups e de condições que reduzam o risco dessas empresas, como ajustes na legislação trabalhista para projetos inovadores e maior abertura para compras públicas. Essas medidas ajudariam muito a criar um ambiente mais favorável. Outra tendência interessante para o futuro é a ampliação de novos modelos de negócios e setores da economia, com muitos investidores-anjo, motivados por suas experiências profissionais, começando a apoiar projetos alinhados com práticas ESG. Isso não só contribui para um impacto positivo nas áreas ambiental, social e de governança, mas também fortalece a visão de um futuro mais sustentável e inclusivo”, finaliza.

Destaco que o investimento-anjo desempenha um papel crucial no desenvolvimento de startups e na promoção da inovação. Nesse contexto, a pesquisa da Anjos do Brasil é essencial, porque fornece uma visão abrangente das tendências e mudanças no mercado. De um lado, ajuda investidores e empreendedores a tomarem decisões com base em informações de qualidade; por outro, traz visibilidade ao que precisamos aprimorar para fomentar o aumento no número de investidores e no tíquete médio.

Em 2023, os investimentos-anjo no país alcançaram a marca de R$ 886 milhões, registrando uma diminuição de 10% em relação a 2022. Em contrapartida, o número de pessoas que investem aumentou para 8.155, com uma discreta elevação de 2,4% em comparação com o ano anterior. Na análise do tíquete médio por investidor, há registro de queda de 12,2%, passando de R$ 122 mil para R$ 108 mil. Enquanto isso, a articulação de investidores-anjo nos Estados Unidos teve um aumento de 14,8%, totalizando 422.350 no ano passado. Os dados são de um levantamento anual conduzido pela Anjos do Brasil – organização sem fins lucrativos, fundada em 2011.

Com a missão de fomentar o investimento-anjo no país e apoiar o empreendedorismo inovador, a organização conta com mais de 550 investidores associados e se consolidou como um pilar fundamental para o desenvolvimento de novos negócios no país. Sobre o perfil dos respondentes, a análise mostra que a maioria é formada por brancos (89,2%); 4,6% se identificam como pretos, pardos ou indígenas; e 3,5% são amarelos. No gênero, 80% são homens e 19,6% são mulheres – indicando uma evolução lenta na diversidade do ecossistema de investimento-anjo no Brasil.

Maria Rita Spina Bueno, do Anjos do Brasil, aponta que há um discreto aumento na participação de mulheres no investimento em startups em estágio inicial. Foto: Carol Kappaun

Em comunicado oficial da organização, Cassio Spina – presidente da Anjos do Brasil –aponta que os dados mostram um contínuo aumento no interesse pelo investimento-anjo, entretanto, devido à retração geral do mercado de investimento em startups, ocorrida nos últimos dois anos, o tamanho dos cheques foi reduzido; ainda faltam estímulos como os aplicados em diversos países, mas não aprovados até o momento no Brasil. Ele salienta que, considerando a proporção do Produto Interno Bruto brasileiro comparado com o dos Estados Unidos, deveríamos estar em um patamar de pelo menos R$ 7,5 bilhões em investimento-anjo. Na perspectiva das projeções para o mercado em 2024, o levantamento mostra otimismo. A visão é que com a recuperação econômica e estabilização dos mercados, haja crescimento no valor total investido em, pelo menos, 11%.

A pesquisa mostra que o mercado nacional está em transformação, portanto, com desafios e oportunidades. Em conversa com Maria Rita Spina Bueno sobre a edição mais recente da pesquisa – que é referência na avaliação da temática –, ela me falou um pouco sobre a percepção que tem dos dados. “Em geral, costuma-se dizer que o investimento-anjo não tem uma relação tão direta com a macroeconomia, já que as startups podem criar novas oportunidades em momentos desafiadores. No entanto, temos observado recentemente que fatores macroeconômicos estão começando a impactar o investimento em startups em estágio inicial, não apenas no investimento-anjo, mas também em outras modalidades, tanto no Brasil quanto no mundo. Ao analisar esses resultados, vejo pontos positivos, pois o impacto não tem sido tão severo. Ainda que o crescimento tenha se tornado mais difícil, tivemos uma queda menor no Brasil em comparação aos Estados Unidos”, analisa.

Ela acrescenta que se nota uma queda menos acentuada em comparação com o investimento em estágios mais avançados, tanto no Brasil quanto fora. Isso é interessante, especialmente quando consideramos a intenção dos investidores de continuar investindo no próximo ano. “Precisamos lembrar que esse investidor-anjo geralmente é uma pessoa física. Se toda a sua carteira de investimentos está sendo impactada, isso também pode afetar a decisão de investir em startups. No entanto, o fato de que muitos estão dispostos a continuar é um dado positivo. Outro resultado relevante da pesquisa é o aumento, ainda que tímido, da participação de mulheres no investimento em startups em estágio inicial. Isso é significativo não só porque traz novas perspectivas, mas também porque amplia o volume de capital disponível. É fundamental atrair mais pessoas diversas para esse universo, especialmente aquelas que ainda não investem em startups”, pontua.

Maria Rita traz um ponto adicional a destacar: o aumento de cinco pontos percentuais no número de pessoas que investem por meio de redes de investimento-anjo. Isso é vantajoso tanto para os investidores, que têm mais oportunidades e chances de crescimento, quanto para os empreendedores, que passam a ter acesso facilitado a eles – e a um nível maior de segurança, com pessoas que investem e que compreendem melhor o funcionamento do ecossistema.

Sobre o desenvolvimento do investimento-anjo no Brasil, Maria Rita percebe uma evolução significativa em diversos indicadores – como a participação de uma maior diversidade, o volume de investimentos e o interesse por diferentes setores. Isso demonstra que estamos avançando de maneira consistente em direção às boas práticas globais. “Quando o movimento de investimento-anjo começou no país, em 2011, tudo ainda era muito incipiente. Tanto os investidores quanto os empreendedores não tinham muita clareza sobre como conduzir esse tipo de investimento. Porém, hoje, vemos um crescimento substancial no ecossistema de startups. Há menos lacunas e, atualmente, existem investidores para diferentes tipos de negócios e setores. Essa evolução é impressionante. O Brasil conseguiu acelerar o ritmo de desenvolvimento ao aprender com as experiências de outros países que têm essa prática mais consolidada. Conseguimos trazer essas lições e aplicá-las ao nosso contexto, o que nos permitiu crescer de forma mais rápida”, analisa.

A visão de futuro trazida por Maria Rita é positiva. “O crescimento na qualidade dos investidores, o entendimento mais profundo do processo e o aumento das redes de investimento-anjo brasileiras indicam um cenário promissor. No entanto, para que esse futuro se concretize e possamos apoiar todas as startups que precisam, alguns ajustes são necessários. O primeiro passo para garantir esse avanço é melhorar a estrutura regulatória; precisamos de mais incentivos para o investimento em startups e de condições que reduzam o risco dessas empresas, como ajustes na legislação trabalhista para projetos inovadores e maior abertura para compras públicas. Essas medidas ajudariam muito a criar um ambiente mais favorável. Outra tendência interessante para o futuro é a ampliação de novos modelos de negócios e setores da economia, com muitos investidores-anjo, motivados por suas experiências profissionais, começando a apoiar projetos alinhados com práticas ESG. Isso não só contribui para um impacto positivo nas áreas ambiental, social e de governança, mas também fortalece a visão de um futuro mais sustentável e inclusivo”, finaliza.

Destaco que o investimento-anjo desempenha um papel crucial no desenvolvimento de startups e na promoção da inovação. Nesse contexto, a pesquisa da Anjos do Brasil é essencial, porque fornece uma visão abrangente das tendências e mudanças no mercado. De um lado, ajuda investidores e empreendedores a tomarem decisões com base em informações de qualidade; por outro, traz visibilidade ao que precisamos aprimorar para fomentar o aumento no número de investidores e no tíquete médio.

Em 2023, os investimentos-anjo no país alcançaram a marca de R$ 886 milhões, registrando uma diminuição de 10% em relação a 2022. Em contrapartida, o número de pessoas que investem aumentou para 8.155, com uma discreta elevação de 2,4% em comparação com o ano anterior. Na análise do tíquete médio por investidor, há registro de queda de 12,2%, passando de R$ 122 mil para R$ 108 mil. Enquanto isso, a articulação de investidores-anjo nos Estados Unidos teve um aumento de 14,8%, totalizando 422.350 no ano passado. Os dados são de um levantamento anual conduzido pela Anjos do Brasil – organização sem fins lucrativos, fundada em 2011.

Com a missão de fomentar o investimento-anjo no país e apoiar o empreendedorismo inovador, a organização conta com mais de 550 investidores associados e se consolidou como um pilar fundamental para o desenvolvimento de novos negócios no país. Sobre o perfil dos respondentes, a análise mostra que a maioria é formada por brancos (89,2%); 4,6% se identificam como pretos, pardos ou indígenas; e 3,5% são amarelos. No gênero, 80% são homens e 19,6% são mulheres – indicando uma evolução lenta na diversidade do ecossistema de investimento-anjo no Brasil.

Maria Rita Spina Bueno, do Anjos do Brasil, aponta que há um discreto aumento na participação de mulheres no investimento em startups em estágio inicial. Foto: Carol Kappaun

Em comunicado oficial da organização, Cassio Spina – presidente da Anjos do Brasil –aponta que os dados mostram um contínuo aumento no interesse pelo investimento-anjo, entretanto, devido à retração geral do mercado de investimento em startups, ocorrida nos últimos dois anos, o tamanho dos cheques foi reduzido; ainda faltam estímulos como os aplicados em diversos países, mas não aprovados até o momento no Brasil. Ele salienta que, considerando a proporção do Produto Interno Bruto brasileiro comparado com o dos Estados Unidos, deveríamos estar em um patamar de pelo menos R$ 7,5 bilhões em investimento-anjo. Na perspectiva das projeções para o mercado em 2024, o levantamento mostra otimismo. A visão é que com a recuperação econômica e estabilização dos mercados, haja crescimento no valor total investido em, pelo menos, 11%.

A pesquisa mostra que o mercado nacional está em transformação, portanto, com desafios e oportunidades. Em conversa com Maria Rita Spina Bueno sobre a edição mais recente da pesquisa – que é referência na avaliação da temática –, ela me falou um pouco sobre a percepção que tem dos dados. “Em geral, costuma-se dizer que o investimento-anjo não tem uma relação tão direta com a macroeconomia, já que as startups podem criar novas oportunidades em momentos desafiadores. No entanto, temos observado recentemente que fatores macroeconômicos estão começando a impactar o investimento em startups em estágio inicial, não apenas no investimento-anjo, mas também em outras modalidades, tanto no Brasil quanto no mundo. Ao analisar esses resultados, vejo pontos positivos, pois o impacto não tem sido tão severo. Ainda que o crescimento tenha se tornado mais difícil, tivemos uma queda menor no Brasil em comparação aos Estados Unidos”, analisa.

Ela acrescenta que se nota uma queda menos acentuada em comparação com o investimento em estágios mais avançados, tanto no Brasil quanto fora. Isso é interessante, especialmente quando consideramos a intenção dos investidores de continuar investindo no próximo ano. “Precisamos lembrar que esse investidor-anjo geralmente é uma pessoa física. Se toda a sua carteira de investimentos está sendo impactada, isso também pode afetar a decisão de investir em startups. No entanto, o fato de que muitos estão dispostos a continuar é um dado positivo. Outro resultado relevante da pesquisa é o aumento, ainda que tímido, da participação de mulheres no investimento em startups em estágio inicial. Isso é significativo não só porque traz novas perspectivas, mas também porque amplia o volume de capital disponível. É fundamental atrair mais pessoas diversas para esse universo, especialmente aquelas que ainda não investem em startups”, pontua.

Maria Rita traz um ponto adicional a destacar: o aumento de cinco pontos percentuais no número de pessoas que investem por meio de redes de investimento-anjo. Isso é vantajoso tanto para os investidores, que têm mais oportunidades e chances de crescimento, quanto para os empreendedores, que passam a ter acesso facilitado a eles – e a um nível maior de segurança, com pessoas que investem e que compreendem melhor o funcionamento do ecossistema.

Sobre o desenvolvimento do investimento-anjo no Brasil, Maria Rita percebe uma evolução significativa em diversos indicadores – como a participação de uma maior diversidade, o volume de investimentos e o interesse por diferentes setores. Isso demonstra que estamos avançando de maneira consistente em direção às boas práticas globais. “Quando o movimento de investimento-anjo começou no país, em 2011, tudo ainda era muito incipiente. Tanto os investidores quanto os empreendedores não tinham muita clareza sobre como conduzir esse tipo de investimento. Porém, hoje, vemos um crescimento substancial no ecossistema de startups. Há menos lacunas e, atualmente, existem investidores para diferentes tipos de negócios e setores. Essa evolução é impressionante. O Brasil conseguiu acelerar o ritmo de desenvolvimento ao aprender com as experiências de outros países que têm essa prática mais consolidada. Conseguimos trazer essas lições e aplicá-las ao nosso contexto, o que nos permitiu crescer de forma mais rápida”, analisa.

A visão de futuro trazida por Maria Rita é positiva. “O crescimento na qualidade dos investidores, o entendimento mais profundo do processo e o aumento das redes de investimento-anjo brasileiras indicam um cenário promissor. No entanto, para que esse futuro se concretize e possamos apoiar todas as startups que precisam, alguns ajustes são necessários. O primeiro passo para garantir esse avanço é melhorar a estrutura regulatória; precisamos de mais incentivos para o investimento em startups e de condições que reduzam o risco dessas empresas, como ajustes na legislação trabalhista para projetos inovadores e maior abertura para compras públicas. Essas medidas ajudariam muito a criar um ambiente mais favorável. Outra tendência interessante para o futuro é a ampliação de novos modelos de negócios e setores da economia, com muitos investidores-anjo, motivados por suas experiências profissionais, começando a apoiar projetos alinhados com práticas ESG. Isso não só contribui para um impacto positivo nas áreas ambiental, social e de governança, mas também fortalece a visão de um futuro mais sustentável e inclusivo”, finaliza.

Destaco que o investimento-anjo desempenha um papel crucial no desenvolvimento de startups e na promoção da inovação. Nesse contexto, a pesquisa da Anjos do Brasil é essencial, porque fornece uma visão abrangente das tendências e mudanças no mercado. De um lado, ajuda investidores e empreendedores a tomarem decisões com base em informações de qualidade; por outro, traz visibilidade ao que precisamos aprimorar para fomentar o aumento no número de investidores e no tíquete médio.

Opinião por Maure Pessanha

Coempreendedora e presidente do Conselho da Artemisia, organização pioneira no Brasil no fomento e na disseminação de negócios de impacto social e ambiental.

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