A matemática é um poderoso motor de desenvolvimento e de geração de riqueza. No Brasil, os empregos intensivos na área pagam o dobro da média nacional, apresentam grande resiliência a crises e têm elevado grau de formalidade; no país, ela corresponde a 7,4% dos empregos que contribuem com 4,6% do Produto Interno Bruto (PIB) – o que equivale a R$ 440 bilhões por ano, de acordo com o estudo inédito conduzido pelo Itaú Social com apoio do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA).
A análise exploratória Contribuição dos trabalhos intensivos em matemática para a economia brasileira, apresentada no primeiro semestre de 2024, pondera que quando comparada a média salarial dos trabalhadores de Matemática por nível de escolaridade com a média brasileira, percebe-se que eles são mais bem remunerados em todos os níveis. As evidências demonstram a importância de se investir em uma boa educação em uma área de conhecimento com potencial de promover a Inclusão Produtiva de qualidade ao gerar melhores oportunidades de emprego, além de renda digna e constante.
Buscando exemplos de como os negócios de impacto social têm contribuído com o desafio da melhoria educacional na disciplina, um case de investimento do Fundo Acumen, realizado há uma década, chamou a minha atenção pela resiliência da empresa e, especialmente, por ela melhorar os resultados de aprendizagem em escolas de baixa renda na Índia, por meio de um currículo de matemática experimental.
A Vikalp, palavra hindi para “alternativa”, foi criada em 2015 por Dinesh Gupta, acadêmico da universidade pública Jawaharlal Nehru University (JNU) e jornalista, em parceria com a esposa Neha Choudhary – então conselheira do gabinete do primeiro-ministro como editora na National Technical Research Organisation – para solucionar um problema da Índia: quase dois terços das crianças não conseguem fazer aritmética básica; mais de 75% de todos os alunos estão atrasados em pelo menos uma ou mais séries em matemática. Com isso, mais da metade das crianças nas escolas indianas terminam o ensino fundamental sem ter aprendido aritmética básica.
O negócio atua em escolas de baixo custo, utilizando materiais de apoio à aprendizagem e kits de matemática, além de dar suporte ao desenvolvimento de docentes do ensino fundamental. O currículo proprietário e integrado da empresa, que está alinhado com as práticas educacionais modernas, envolve alunos com diferentes estilos de aprendizagem, garantindo que eles possam visualizar e compreender conceitos matemáticos facilmente. A Vikalp adota uma abordagem holística e cria uma avaliação contínua e abrangente na grade curricular. Em vez de giz e conversa, segundo Neha Choudhary, o currículo é concluído por meio de uma abordagem de aprendizagem combinada, na qual o melhor do físico e do digital é combinado. A solução figital inclui produtos práticos e livro didático combinados com aula em vídeo, jogo para celular e avaliação on-line.
No início do negócio, os empreendedores conduziram parcerias com 78 escolas, alcançando mais de 20 mil alunos por meio de seus programas. Estima-se que aproximadamente 80% dos alunos da Vikalp venham de famílias que ganham menos de US$ 4 por dia. Após 20 meses de uso da metodologia, esses estudantes mostraram até 50% de melhora nas notas em testes de matemática. A perspectiva dos empreendedores é que, nos próximos cinco anos, a empresa alcance 500 escolas e atenda mais de 670 mil alunos.
É relevante salientar que a visão do Fundo Acumen é que a educação de qualidade abre, efetivamente, caminhos para se sair da pobreza. No entanto, as famílias em situação de vulnerabilidade não têm opções educacionais de qualidade para romper o ciclo de miséria marcado por altas taxas de evasão escolar e desemprego juvenil. Nesse panorama, o fundo fez o primeiro investimento em educação em 2012, aportando recursos na Hippocampus – uma empresa indiana que treina mulheres para se tornarem educadoras da primeira infância em áreas rurais. Desde então, encontraram o caminho para investir no setor e têm usado a experiência adquirida em mais de uma década para aperfeiçoar esse conhecimento.
Um dos aprendizados é que o investimento em educação precisa ser abordado de forma holística, ou seja, não basta focar, isoladamente, em alunos, professores ou testes. A solução reside em apostar em um mix de soluções, envolvendo os setores público e privado para produzir uma colaboração mais radical e eficaz. O caminho encontrado, inclusive, passa por um investimento em um ecossistema que inclui alunos, pais, professores e escolas.