Coleções atemporais favorecem pequenas marcas de moda na crise


Agilidade para adaptação também conta a favor de negócios menores, mas falta de matéria-prima é problema comum a todos; para especialista, planejamento deve ser feito semana a semana

Por Anna Barbosa

A flexibilidade e a atemporalidade das coleções de pequenas marcas de moda ajudaram a minimizar os danos da crise do novo coronavírus, principalmente para aquelas que já atuavam no cenário digital. Alguns problemas das pequenas são os mesmos das grandes, como fornecedores que ficaram parados e dificuldade no abastecimento de tecidos. Por outro lado, marcas como Wear Ever, Yellow Factory e Das Haus aproveitaram o porte pequeno da empresa para ter mais facilidade para mudar os rumos de acordo com a crise.

É o que Marília Carvalhinha, coordenadora da pós-graduação em Negócios e Varejo de Moda da FAAP, chama de mobilidade estratégica. “Essa mobilidade foi um trunfo na pandemia para quem estava minimamente pronto pra lidar com o online. Porque, se você precisa mudar de rota, você muda.”

A professora explica que, entre os pequenos negócios, há uma divisão clara entre aqueles que não tinham uma plataforma estabilizada e os que já tinham comércio eletrônico fortalecido. “Na maior parte dos casos, quem estava desestruturado não deu conta e hibernou as operações. Enquanto os que já tinham essa estrutura se deram bem.”

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Segundo pesquisa divulgada pelo Sebrae realizada entre 27 e 30 de julho, 63% dos empreendimentos de moda , que integram o segmento da economia criativa, estavam funcionando com mudanças por conta da crise, ao passo que 28% declararam estar com o funcionamento interrompido. Além disso, 85% dos entrevistados afirmaram que o faturamento diminuiu.

O levantamento aponta que 56% das empresas já vendiam por canais digitais antes da pandemia, 22% passaram a vender por conta da crise e somente 2% afirmam que não vendem nem pretendem.

Os estilistas Rober Dognani (à esq.) e Felipe Fanaia, donos daDas Haus. Foto: Taba Benedicto/Estadão
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Um dos obstáculos enfrentados pela Das Haus, marca dos estilistas Rober Dognani e Felipe Fanaia, foi a mudança abrupta para o meio digital. Presente no mercado há 10 anos, o projeto do e-commerce ainda estava no papel quando a pandemia começou.

“Quando o isolamento foi decretado, tudo aconteceu em uma semana, de uma maneira muito rápida e não tão elaborada quanto gostaríamos, mas conseguimos colocar para funcionar”, diz Saulo Piton, gerente geral da marca, que tem loja na Rua Augusta, em São Paulo.

“No começo da pandemia, não tivemos nenhum faturamento por dois meses (março e abril). As pessoas estavam com uma incerteza absurda sobre o consumo. Ninguém estava preparado”, conta Saulo. De lá para cá, diz, eles viram um crescimento constante nas vendas, cada mês melhor que o outro. “O mês de agosto chegou a ser próximo do faturamento pré-covid-19, mas só nesse último mês. Nossa esperança é que a gente continue nessa frequência.”

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Ele observou uma mudança de comportamento dos consumidores que agora, mesmo com a retomada, possuem a internet como um grande expositor. “Mais pessoas descobriram a facilidade de consumir pela internet. Ao mesmo tempo, muitos clientes acessam pela internet, mas querem ir ver, tocar e decidir a compra pessoalmente. A maioria das vendas estão sendo feitas nesse formato.”

Quanto à produção de peças e coleções, Saulo explica que a pandemia fez com que os processos fossem completamente diferentes, porque não tinham como produzir. “Era em cima da coleção que já estava na loja física que nós trabalhávamos no online. Depois de alguns meses, o nosso ateliê (que é terceirizado) voltou a funcionar. Então, vimos a possibilidade de fazer um produto novo.”

No último mês, os empreendedores lançaram uma nova coleção. “Essa novidade, essas peças únicas, fazem com que o público volte a consumir. O nosso público sabe que, se não comprarem neste momento, não vão conseguir consumir depois”, afirma Saulo.

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Lojas que nasceram no digital

Diferentemente da Das Haus, que migrou para o digital durante a pandemia, a Wear Ever e a Yellow Factory foram criadas como e-commerce. Ter nascido no universo online fez com que, mesmo com o isolamento social, as marcas não sofressem quedas relacionadas ao faturamento. No caso, ambas registraram crescimento durante todos os meses da pandemia.

Projeto dee-commerce da Das Haus ainda estava no papel quando a pandemia começou. Foto: Taba Benedicto/Estadão
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Rafaela Cavalcante, fundadora da Wear Ever, conta que no começo da pandemia não sabia o que ia acontecer, porque tanto os fornecedores quanto as fábricas fecharam. Por isso, no início de abril optou por reduzir as jornadas, mas afirma que com o boom das vendas (que não esperava) optou por voltar à produção normal. “Começamos a crescer pelo menos 10% mês a mês. Agora em setembro, já vendi 70% do que fiz em agosto.”

Esse crescimento alterou a forma de produção da loja. “Antes da pandemia, nós fazíamos tudo sob encomenda. O cliente fazia a compra e nós produzíamos depois. Mas percebemos que as pessoas estavam com mais urgência em receber os pedidos, então começamos a deixar as peças prontas e a vender por estoque”, explica. 

A coordenadora da pós-graduação da FAAP, Marília Carvalhinha, diz que, por conta do isolamento social, as pessoas queriam comprar para se sentir preenchidas. “Uma coisa muito louca que aconteceu é que, mesmo a gente não saindo, as pessoas queriam receber os produtos rapidamente. A compra precisava ser imediata.”

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Contudo, mesmo que as vendas tenham crescido, a empreendedora relata que toda semana tinha problemas com os fornecedores e até mesmo com funcionários afastados por conta da covid-19. 

Escassez e custo da matéria-prima

Ainda que a marca não trabalhe com produções sazonais, têm tido grandes dificuldades para o lançamento das pequenas coleções. “Teve um aumento muito grande no valor de fios e tecidos, inclusive, alguns deles estão sem previsão para recebermos”, desabafa.

Esse empecilho também foi uma realidade para Débora dos Anjos, criadora da Yellow Factory. A loja se manteve em crescimento mesmo com as adversidades do coronavírus. “As vendas praticamente dobraram. A parte mais difícil foi com os fornecedores, como algodão, por exemplo, que impactou no processo de fazer as camisetas.”

A Yellow, assim como a Wear, também possui produções atemporais. “Hoje em dia, todos os produtos são bem fora de época. Agora estamos lançando tricôs, que são de manga longa. Mas o que foi mais difícil foi conseguir os tecidos, principalmente para o verão, os mais fresquinhos.”

A professora Marília explica que, com o aumento do dólar, o fornecimento de tecidos vêm sendo um problema para todos. “Os tecidos de verão estão vindo muito mais caros. Mesmo quem é atemporal está sofrendo com o abastecimento. Nesse momento, os preços sobem e não dá para repassar o valor para o consumidor.” 

Por ser um momento delicado, a coordenadora da pós-graduação em Negócios e Varejo de Moda indica que os empreendedores façam planejamentos semanais. “Algumas pessoas entraram no modo desespero e saíram tomando decisões caóticas, enquanto outras tentam entender a natureza do problema. O planejamento semanal, para uma pequena empresa, é ideal. Olhe as vendas da semana, calcule e simule.”

A flexibilidade e a atemporalidade das coleções de pequenas marcas de moda ajudaram a minimizar os danos da crise do novo coronavírus, principalmente para aquelas que já atuavam no cenário digital. Alguns problemas das pequenas são os mesmos das grandes, como fornecedores que ficaram parados e dificuldade no abastecimento de tecidos. Por outro lado, marcas como Wear Ever, Yellow Factory e Das Haus aproveitaram o porte pequeno da empresa para ter mais facilidade para mudar os rumos de acordo com a crise.

É o que Marília Carvalhinha, coordenadora da pós-graduação em Negócios e Varejo de Moda da FAAP, chama de mobilidade estratégica. “Essa mobilidade foi um trunfo na pandemia para quem estava minimamente pronto pra lidar com o online. Porque, se você precisa mudar de rota, você muda.”

A professora explica que, entre os pequenos negócios, há uma divisão clara entre aqueles que não tinham uma plataforma estabilizada e os que já tinham comércio eletrônico fortalecido. “Na maior parte dos casos, quem estava desestruturado não deu conta e hibernou as operações. Enquanto os que já tinham essa estrutura se deram bem.”

Segundo pesquisa divulgada pelo Sebrae realizada entre 27 e 30 de julho, 63% dos empreendimentos de moda , que integram o segmento da economia criativa, estavam funcionando com mudanças por conta da crise, ao passo que 28% declararam estar com o funcionamento interrompido. Além disso, 85% dos entrevistados afirmaram que o faturamento diminuiu.

O levantamento aponta que 56% das empresas já vendiam por canais digitais antes da pandemia, 22% passaram a vender por conta da crise e somente 2% afirmam que não vendem nem pretendem.

Os estilistas Rober Dognani (à esq.) e Felipe Fanaia, donos daDas Haus. Foto: Taba Benedicto/Estadão

Um dos obstáculos enfrentados pela Das Haus, marca dos estilistas Rober Dognani e Felipe Fanaia, foi a mudança abrupta para o meio digital. Presente no mercado há 10 anos, o projeto do e-commerce ainda estava no papel quando a pandemia começou.

“Quando o isolamento foi decretado, tudo aconteceu em uma semana, de uma maneira muito rápida e não tão elaborada quanto gostaríamos, mas conseguimos colocar para funcionar”, diz Saulo Piton, gerente geral da marca, que tem loja na Rua Augusta, em São Paulo.

“No começo da pandemia, não tivemos nenhum faturamento por dois meses (março e abril). As pessoas estavam com uma incerteza absurda sobre o consumo. Ninguém estava preparado”, conta Saulo. De lá para cá, diz, eles viram um crescimento constante nas vendas, cada mês melhor que o outro. “O mês de agosto chegou a ser próximo do faturamento pré-covid-19, mas só nesse último mês. Nossa esperança é que a gente continue nessa frequência.”

Ele observou uma mudança de comportamento dos consumidores que agora, mesmo com a retomada, possuem a internet como um grande expositor. “Mais pessoas descobriram a facilidade de consumir pela internet. Ao mesmo tempo, muitos clientes acessam pela internet, mas querem ir ver, tocar e decidir a compra pessoalmente. A maioria das vendas estão sendo feitas nesse formato.”

Quanto à produção de peças e coleções, Saulo explica que a pandemia fez com que os processos fossem completamente diferentes, porque não tinham como produzir. “Era em cima da coleção que já estava na loja física que nós trabalhávamos no online. Depois de alguns meses, o nosso ateliê (que é terceirizado) voltou a funcionar. Então, vimos a possibilidade de fazer um produto novo.”

No último mês, os empreendedores lançaram uma nova coleção. “Essa novidade, essas peças únicas, fazem com que o público volte a consumir. O nosso público sabe que, se não comprarem neste momento, não vão conseguir consumir depois”, afirma Saulo.

Lojas que nasceram no digital

Diferentemente da Das Haus, que migrou para o digital durante a pandemia, a Wear Ever e a Yellow Factory foram criadas como e-commerce. Ter nascido no universo online fez com que, mesmo com o isolamento social, as marcas não sofressem quedas relacionadas ao faturamento. No caso, ambas registraram crescimento durante todos os meses da pandemia.

Projeto dee-commerce da Das Haus ainda estava no papel quando a pandemia começou. Foto: Taba Benedicto/Estadão

Rafaela Cavalcante, fundadora da Wear Ever, conta que no começo da pandemia não sabia o que ia acontecer, porque tanto os fornecedores quanto as fábricas fecharam. Por isso, no início de abril optou por reduzir as jornadas, mas afirma que com o boom das vendas (que não esperava) optou por voltar à produção normal. “Começamos a crescer pelo menos 10% mês a mês. Agora em setembro, já vendi 70% do que fiz em agosto.”

Esse crescimento alterou a forma de produção da loja. “Antes da pandemia, nós fazíamos tudo sob encomenda. O cliente fazia a compra e nós produzíamos depois. Mas percebemos que as pessoas estavam com mais urgência em receber os pedidos, então começamos a deixar as peças prontas e a vender por estoque”, explica. 

A coordenadora da pós-graduação da FAAP, Marília Carvalhinha, diz que, por conta do isolamento social, as pessoas queriam comprar para se sentir preenchidas. “Uma coisa muito louca que aconteceu é que, mesmo a gente não saindo, as pessoas queriam receber os produtos rapidamente. A compra precisava ser imediata.”

Contudo, mesmo que as vendas tenham crescido, a empreendedora relata que toda semana tinha problemas com os fornecedores e até mesmo com funcionários afastados por conta da covid-19. 

Escassez e custo da matéria-prima

Ainda que a marca não trabalhe com produções sazonais, têm tido grandes dificuldades para o lançamento das pequenas coleções. “Teve um aumento muito grande no valor de fios e tecidos, inclusive, alguns deles estão sem previsão para recebermos”, desabafa.

Esse empecilho também foi uma realidade para Débora dos Anjos, criadora da Yellow Factory. A loja se manteve em crescimento mesmo com as adversidades do coronavírus. “As vendas praticamente dobraram. A parte mais difícil foi com os fornecedores, como algodão, por exemplo, que impactou no processo de fazer as camisetas.”

A Yellow, assim como a Wear, também possui produções atemporais. “Hoje em dia, todos os produtos são bem fora de época. Agora estamos lançando tricôs, que são de manga longa. Mas o que foi mais difícil foi conseguir os tecidos, principalmente para o verão, os mais fresquinhos.”

A professora Marília explica que, com o aumento do dólar, o fornecimento de tecidos vêm sendo um problema para todos. “Os tecidos de verão estão vindo muito mais caros. Mesmo quem é atemporal está sofrendo com o abastecimento. Nesse momento, os preços sobem e não dá para repassar o valor para o consumidor.” 

Por ser um momento delicado, a coordenadora da pós-graduação em Negócios e Varejo de Moda indica que os empreendedores façam planejamentos semanais. “Algumas pessoas entraram no modo desespero e saíram tomando decisões caóticas, enquanto outras tentam entender a natureza do problema. O planejamento semanal, para uma pequena empresa, é ideal. Olhe as vendas da semana, calcule e simule.”

A flexibilidade e a atemporalidade das coleções de pequenas marcas de moda ajudaram a minimizar os danos da crise do novo coronavírus, principalmente para aquelas que já atuavam no cenário digital. Alguns problemas das pequenas são os mesmos das grandes, como fornecedores que ficaram parados e dificuldade no abastecimento de tecidos. Por outro lado, marcas como Wear Ever, Yellow Factory e Das Haus aproveitaram o porte pequeno da empresa para ter mais facilidade para mudar os rumos de acordo com a crise.

É o que Marília Carvalhinha, coordenadora da pós-graduação em Negócios e Varejo de Moda da FAAP, chama de mobilidade estratégica. “Essa mobilidade foi um trunfo na pandemia para quem estava minimamente pronto pra lidar com o online. Porque, se você precisa mudar de rota, você muda.”

A professora explica que, entre os pequenos negócios, há uma divisão clara entre aqueles que não tinham uma plataforma estabilizada e os que já tinham comércio eletrônico fortalecido. “Na maior parte dos casos, quem estava desestruturado não deu conta e hibernou as operações. Enquanto os que já tinham essa estrutura se deram bem.”

Segundo pesquisa divulgada pelo Sebrae realizada entre 27 e 30 de julho, 63% dos empreendimentos de moda , que integram o segmento da economia criativa, estavam funcionando com mudanças por conta da crise, ao passo que 28% declararam estar com o funcionamento interrompido. Além disso, 85% dos entrevistados afirmaram que o faturamento diminuiu.

O levantamento aponta que 56% das empresas já vendiam por canais digitais antes da pandemia, 22% passaram a vender por conta da crise e somente 2% afirmam que não vendem nem pretendem.

Os estilistas Rober Dognani (à esq.) e Felipe Fanaia, donos daDas Haus. Foto: Taba Benedicto/Estadão

Um dos obstáculos enfrentados pela Das Haus, marca dos estilistas Rober Dognani e Felipe Fanaia, foi a mudança abrupta para o meio digital. Presente no mercado há 10 anos, o projeto do e-commerce ainda estava no papel quando a pandemia começou.

“Quando o isolamento foi decretado, tudo aconteceu em uma semana, de uma maneira muito rápida e não tão elaborada quanto gostaríamos, mas conseguimos colocar para funcionar”, diz Saulo Piton, gerente geral da marca, que tem loja na Rua Augusta, em São Paulo.

“No começo da pandemia, não tivemos nenhum faturamento por dois meses (março e abril). As pessoas estavam com uma incerteza absurda sobre o consumo. Ninguém estava preparado”, conta Saulo. De lá para cá, diz, eles viram um crescimento constante nas vendas, cada mês melhor que o outro. “O mês de agosto chegou a ser próximo do faturamento pré-covid-19, mas só nesse último mês. Nossa esperança é que a gente continue nessa frequência.”

Ele observou uma mudança de comportamento dos consumidores que agora, mesmo com a retomada, possuem a internet como um grande expositor. “Mais pessoas descobriram a facilidade de consumir pela internet. Ao mesmo tempo, muitos clientes acessam pela internet, mas querem ir ver, tocar e decidir a compra pessoalmente. A maioria das vendas estão sendo feitas nesse formato.”

Quanto à produção de peças e coleções, Saulo explica que a pandemia fez com que os processos fossem completamente diferentes, porque não tinham como produzir. “Era em cima da coleção que já estava na loja física que nós trabalhávamos no online. Depois de alguns meses, o nosso ateliê (que é terceirizado) voltou a funcionar. Então, vimos a possibilidade de fazer um produto novo.”

No último mês, os empreendedores lançaram uma nova coleção. “Essa novidade, essas peças únicas, fazem com que o público volte a consumir. O nosso público sabe que, se não comprarem neste momento, não vão conseguir consumir depois”, afirma Saulo.

Lojas que nasceram no digital

Diferentemente da Das Haus, que migrou para o digital durante a pandemia, a Wear Ever e a Yellow Factory foram criadas como e-commerce. Ter nascido no universo online fez com que, mesmo com o isolamento social, as marcas não sofressem quedas relacionadas ao faturamento. No caso, ambas registraram crescimento durante todos os meses da pandemia.

Projeto dee-commerce da Das Haus ainda estava no papel quando a pandemia começou. Foto: Taba Benedicto/Estadão

Rafaela Cavalcante, fundadora da Wear Ever, conta que no começo da pandemia não sabia o que ia acontecer, porque tanto os fornecedores quanto as fábricas fecharam. Por isso, no início de abril optou por reduzir as jornadas, mas afirma que com o boom das vendas (que não esperava) optou por voltar à produção normal. “Começamos a crescer pelo menos 10% mês a mês. Agora em setembro, já vendi 70% do que fiz em agosto.”

Esse crescimento alterou a forma de produção da loja. “Antes da pandemia, nós fazíamos tudo sob encomenda. O cliente fazia a compra e nós produzíamos depois. Mas percebemos que as pessoas estavam com mais urgência em receber os pedidos, então começamos a deixar as peças prontas e a vender por estoque”, explica. 

A coordenadora da pós-graduação da FAAP, Marília Carvalhinha, diz que, por conta do isolamento social, as pessoas queriam comprar para se sentir preenchidas. “Uma coisa muito louca que aconteceu é que, mesmo a gente não saindo, as pessoas queriam receber os produtos rapidamente. A compra precisava ser imediata.”

Contudo, mesmo que as vendas tenham crescido, a empreendedora relata que toda semana tinha problemas com os fornecedores e até mesmo com funcionários afastados por conta da covid-19. 

Escassez e custo da matéria-prima

Ainda que a marca não trabalhe com produções sazonais, têm tido grandes dificuldades para o lançamento das pequenas coleções. “Teve um aumento muito grande no valor de fios e tecidos, inclusive, alguns deles estão sem previsão para recebermos”, desabafa.

Esse empecilho também foi uma realidade para Débora dos Anjos, criadora da Yellow Factory. A loja se manteve em crescimento mesmo com as adversidades do coronavírus. “As vendas praticamente dobraram. A parte mais difícil foi com os fornecedores, como algodão, por exemplo, que impactou no processo de fazer as camisetas.”

A Yellow, assim como a Wear, também possui produções atemporais. “Hoje em dia, todos os produtos são bem fora de época. Agora estamos lançando tricôs, que são de manga longa. Mas o que foi mais difícil foi conseguir os tecidos, principalmente para o verão, os mais fresquinhos.”

A professora Marília explica que, com o aumento do dólar, o fornecimento de tecidos vêm sendo um problema para todos. “Os tecidos de verão estão vindo muito mais caros. Mesmo quem é atemporal está sofrendo com o abastecimento. Nesse momento, os preços sobem e não dá para repassar o valor para o consumidor.” 

Por ser um momento delicado, a coordenadora da pós-graduação em Negócios e Varejo de Moda indica que os empreendedores façam planejamentos semanais. “Algumas pessoas entraram no modo desespero e saíram tomando decisões caóticas, enquanto outras tentam entender a natureza do problema. O planejamento semanal, para uma pequena empresa, é ideal. Olhe as vendas da semana, calcule e simule.”

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