Empresa faz comida ‘humana’ para cachorros, com arroz, carne e cenoura, e fatura R$ 2,2 milhões


A Quinta, de São Paulo, tem refeições para pets com pratos como risoto suíno com abóbora e picadinho de frango.

Por Victoria Lacerda

Sabe quando seu animal de estimação faz uma carinha de pidão ao seu lado enquanto você come? A startup A Quinta, de São Paulo, aproveitou essa vontade dos pets e transformou isso em um negócio lucrativo. Em 2023, a empresa faturou R$ 2,2 milhões e projeta alcançar R$ 10 milhões em 2024. Fundada em 2020, a empresa criou um produto de alimentação para pets feito exclusivamente de comidas que humanos também consomem, como arroz, carne, cenoura e abóbora, entre outros.

A startup brasileira adota um slogan para traduzir o conceito: “Tão natural que até você pode comer”. O empreendimento pet começou a nascer em uma visita que o empreendedor Tiago Tresca fez ao seu irmão Diego em São Paulo, em 2019.

Na época, Tiago percebeu o aquecido mercado de animais de estimação e decidiu investir nele. Tiago morava em Portugal.

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Lá, iniciou estudos em arquitetura, mas descobriu que sua verdadeira paixão era empreender, especialmente com tecnologia.

Ele fundou uma desenvolvedora de softwares e, em 2017, lançou uma rede de restaurantes de produtos naturais, um fast-food saudável que, em dois anos, cresceu para dez lojas.

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Foi essa experiência com alimentação e tecnologia que trouxe Tiago ao Brasil em 2019 para visitar seu irmão. “Conversamos sobre o mercado pet e eu me apaixonei. Decidi ficar no Brasil e empreender aqui”, explicou.

Diego (sentado) e Tiago Tresca, sócios-fundadores da marca de comida para cachorros A Quinta. Foto: Divulgação/Nathalia Goulart/A Quinta

Tendência nos Estados Unidos

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Tiago estudou mercados fora do Brasil e descobriu a tendência human grade nos Estados Unidos, que envolve alimentar os pets com comida que poderia ser consumida por humanos.

“Começamos a estudar esse mercado, e o que achei mais interessante foi o segmento de ‘comida de verdade’. Você vê o arroz, a carne. É a humanização levada ao extremo.”

Nos meses seguintes, Tiago e sua equipe estudaram o mercado para entender se havia demanda no Brasil. Em 2020, A Quinta foi fundada, e a operação começou com uma rodada pré-operacional, que avaliou a empresa em 2,5 milhões de reais, possibilitando seu lançamento ao mercado em 2021.

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“Quando estudamos o setor, vimos muitas empresas copiando o formato dos alimentos congelados dos Estados Unidos. O Brasil não estava, e ainda não está, pronto para esse modelo devido à sua ineficiência logística”, avalia Tiago.

“É muito difícil os petshops aceitarem esse tipo de produto, pois, sendo congelado, a duração é de seis meses. Isso demanda uma logística complexa, e cada loja precisa ter um refrigerador, o que aumenta os custos. Ali estava nossa oportunidade.”

A solução foi criar um produto que não precisa ser armazenado no congelador. Segundo a empresa, como alternativa a isso, os ingredientes são separados, higienizados e pré-preparados individualmente, envasados numa embalagem transparente com várias barreiras protetoras, com selagem de alto impacto e processados no vapor.

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“O processo térmico elimina microorganismos patogênicos presentes na comida, garantindo assim a segurança total do alimento, além de alta palatabilidade e sem necessidade de refrigeração”, destacou Tiago.

“Todos os produtos possuem durabilidade de até 12 meses a partir da data de fabricação e não necessitam de refrigeração. Após aberto conservar em geladeira por no máximo 72 horas.”

Chegada aos pet shops

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A Quinta começou a chegar aos pet shops em 2021, inicialmente em 50 pontos em São Paulo e região. Simultaneamente, lançaram um plano de assinatura que totalizou 140 clientes em 2022.

O crescimento acelerado veio no ano passado, com a entrada de Michel Mellis, ex-diretor de Transformação Global da Unilever, como membro do conselho.

Ele investiu na empresa, avaliando-a em R$ 10 milhões, o que possibilitou a aceleração de assinaturas de entrega de comida. Hoje, são 680 assinantes, com previsão de chegar a 1.500 até o final do ano. Os pontos de venda somam 500 atualmente.

A assinatura mensal custa a partir de R$ 95. O pacote avulso de 300g custa R$ 24,50. O ticket médio de vendas é de R$ 450.

Dietas pensadas para cada tipo de pet

A linha de produtos foi desenhada para seis tipos de dieta para cães adultos e idosos. Três deles são dietas de manutenção, como risoto suíno com abóbora e picadinho de frango.

As outras são dietas dirigidas a necessidades especiais, para cães com restrições alimentares ou doenças.

Ao ser questionado se realmente um humano pode comer os produtos da Quinta, Tiago afirmou que sim. “Podem, porque é tudo que um humano pode comer, mas pode ser que não seja gostoso, porque não tem tempero igual as nossas comidas geralmente têm, mas podemos sim colocar um tempero e comer, não tem problema.”

A Quinta criou um produto de alimentação para pets feito exclusivamente de comidas que humanos também consomem, como arroz, carne, cenoura e abóbora. Foto: Divulgação/A Quinta

Alimentação traz benefícios, mas tem de ser bem formulada

A zootecnista Angelica Kischener, mestre em nutrição de cães e gatos, diz que há diversos benefícios da alimentação natural para pets, destacando pontos cruciais que devem ser considerados para garantir a saúde e o bem-estar dos animais.

“Na verdade, a alimentação natural tem vários benefícios, porém, há um detalhe muito importante: se esse alimento está sendo bem formulado ou não, se ele está atendendo ao requerimento nutricional ou não.”

Nos dias de hoje, muitos profissionais sem a devida capacitação utilizam metodologias sem validação científica. Isso resulta em atendimentos que não garantem a nutrição adequada, tanto para donos de pets quanto para empresas de alimentação natural. “Esse é um ponto bem importante de se levantar.”

Se esses requisitos forem cumpridos, a alimentação natural pode trazer vários benefícios. Um dos principais é a possibilidade de customizar dietas para animais com comorbidades.

“Por exemplo, um animal que é obeso e tem problemas renais. Não há no mercado uma ração específica para esse problema, mas na dieta caseira, podemos controlar a inclusão dos alimentos e desenvolver uma fórmula adequada para essa situação”, explicou Kischener.

Embora não seja uma solução perfeita, é possível criar uma formulação que não prejudique um problema enquanto ajuda a tratar outro.

Outro ponto importante mencionado por Kischener é a umidade do alimento. As dietas caseiras e a alimentação natural têm uma umidade muito maior em comparação às rações secas, que possuem de 8% a 10% de umidade.

Nas dietas caseiras, a umidade pode chegar a 75%, o que alivia muito o sistema renal dos animais, especialmente dos gatos. “Para gatos, isso é muito mais importante”, afirma.

Além disso, Kischener destaca a superioridade na digestibilidade dos alimentos naturais. “Nos alimentos caseiros, nas dietas ditas naturais, a absorção dos nutrientes é muito superior à dos alimentos industrializados. Isso acaba sendo muito benéfico para o animal e muito visível”, explica Kischener.

Avaliação dos clientes

A Quinta recebeu uma classificação média de 5 estrelas no Google (de um máximo de 5), com mais de 130 avaliações até a publicação desta matéria. Todos os comentários foram positivos, destacando o serviço diferenciado, a qualidade dos produtos e os benefícios observados após os pets consumirem as refeições.

Na avaliação do Google, os autores das notas concedidas não podem ser verificados. Eventualmente, comentários positivos ou negativos podem ser uma ação a favor ou a contra a empresa.

No site Reclame Aqui, não há registro de reclamações sobre o estabelecimento.

É preciso ficar ligado nas tendências do setor, diz especialista

Em um cenário de constante crescimento, o mercado pet apresenta uma série de tendências que podem ser determinantes para o sucesso de novos empreendimentos.

Flávio Barros, gestor de pets do Sebrae Nacional, destaca que acompanhar essas tendências não é apenas uma vantagem competitiva, mas essencial para fortalecer a fidelização dos clientes, atrair novos consumidores e impulsionar o crescimento do negócio.

“Para iniciar qualquer negócio, a melhor estratégia é realizar uma pesquisa de mercado detalhada e desenvolver um plano de negócios sólido. É crucial avaliar se a localização escolhida está saturada com negócios pet. Defina qual será o foco do seu negócio, seja Pet Food, Pet Care, Pet Vet ou uma combinação destes. Verifique se há um público-alvo adequado, levando em consideração que no Brasil existem atualmente 167 milhões de animais de estimação, o que facilita a identificação de uma demanda potencial”, afirma Barros.

“As políticas de bem-estar animal, impulsionadas pela humanização dos pets, estão criando novas oportunidades de negócio. O foco dos tutores em proporcionar uma vida saudável e de bem-estar aos seus animais está estimulando o crescimento do setor. O trabalho de especialistas e regulamentações ajudam a direcionar essas oportunidades, garantindo que os pets recebam cuidados de alta qualidade”, completa o gestor de pets do Sebrae.

Serviços mais procurados

Segundo a Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação), o segmento que mais cresceu em 2023 foi o pet vet (veterinários), com um aumento de cerca de 16%, seguido pelo pet care (hotéis), que cresceu 15,6%.

No entanto, o maior mercado continua sendo o pet food (comida), que cresceu 11% e movimentou R$ 47 bilhões.

Sabe quando seu animal de estimação faz uma carinha de pidão ao seu lado enquanto você come? A startup A Quinta, de São Paulo, aproveitou essa vontade dos pets e transformou isso em um negócio lucrativo. Em 2023, a empresa faturou R$ 2,2 milhões e projeta alcançar R$ 10 milhões em 2024. Fundada em 2020, a empresa criou um produto de alimentação para pets feito exclusivamente de comidas que humanos também consomem, como arroz, carne, cenoura e abóbora, entre outros.

A startup brasileira adota um slogan para traduzir o conceito: “Tão natural que até você pode comer”. O empreendimento pet começou a nascer em uma visita que o empreendedor Tiago Tresca fez ao seu irmão Diego em São Paulo, em 2019.

Na época, Tiago percebeu o aquecido mercado de animais de estimação e decidiu investir nele. Tiago morava em Portugal.

Lá, iniciou estudos em arquitetura, mas descobriu que sua verdadeira paixão era empreender, especialmente com tecnologia.

Ele fundou uma desenvolvedora de softwares e, em 2017, lançou uma rede de restaurantes de produtos naturais, um fast-food saudável que, em dois anos, cresceu para dez lojas.

Foi essa experiência com alimentação e tecnologia que trouxe Tiago ao Brasil em 2019 para visitar seu irmão. “Conversamos sobre o mercado pet e eu me apaixonei. Decidi ficar no Brasil e empreender aqui”, explicou.

Diego (sentado) e Tiago Tresca, sócios-fundadores da marca de comida para cachorros A Quinta. Foto: Divulgação/Nathalia Goulart/A Quinta

Tendência nos Estados Unidos

Tiago estudou mercados fora do Brasil e descobriu a tendência human grade nos Estados Unidos, que envolve alimentar os pets com comida que poderia ser consumida por humanos.

“Começamos a estudar esse mercado, e o que achei mais interessante foi o segmento de ‘comida de verdade’. Você vê o arroz, a carne. É a humanização levada ao extremo.”

Nos meses seguintes, Tiago e sua equipe estudaram o mercado para entender se havia demanda no Brasil. Em 2020, A Quinta foi fundada, e a operação começou com uma rodada pré-operacional, que avaliou a empresa em 2,5 milhões de reais, possibilitando seu lançamento ao mercado em 2021.

“Quando estudamos o setor, vimos muitas empresas copiando o formato dos alimentos congelados dos Estados Unidos. O Brasil não estava, e ainda não está, pronto para esse modelo devido à sua ineficiência logística”, avalia Tiago.

“É muito difícil os petshops aceitarem esse tipo de produto, pois, sendo congelado, a duração é de seis meses. Isso demanda uma logística complexa, e cada loja precisa ter um refrigerador, o que aumenta os custos. Ali estava nossa oportunidade.”

A solução foi criar um produto que não precisa ser armazenado no congelador. Segundo a empresa, como alternativa a isso, os ingredientes são separados, higienizados e pré-preparados individualmente, envasados numa embalagem transparente com várias barreiras protetoras, com selagem de alto impacto e processados no vapor.

“O processo térmico elimina microorganismos patogênicos presentes na comida, garantindo assim a segurança total do alimento, além de alta palatabilidade e sem necessidade de refrigeração”, destacou Tiago.

“Todos os produtos possuem durabilidade de até 12 meses a partir da data de fabricação e não necessitam de refrigeração. Após aberto conservar em geladeira por no máximo 72 horas.”

Chegada aos pet shops

A Quinta começou a chegar aos pet shops em 2021, inicialmente em 50 pontos em São Paulo e região. Simultaneamente, lançaram um plano de assinatura que totalizou 140 clientes em 2022.

O crescimento acelerado veio no ano passado, com a entrada de Michel Mellis, ex-diretor de Transformação Global da Unilever, como membro do conselho.

Ele investiu na empresa, avaliando-a em R$ 10 milhões, o que possibilitou a aceleração de assinaturas de entrega de comida. Hoje, são 680 assinantes, com previsão de chegar a 1.500 até o final do ano. Os pontos de venda somam 500 atualmente.

A assinatura mensal custa a partir de R$ 95. O pacote avulso de 300g custa R$ 24,50. O ticket médio de vendas é de R$ 450.

Dietas pensadas para cada tipo de pet

A linha de produtos foi desenhada para seis tipos de dieta para cães adultos e idosos. Três deles são dietas de manutenção, como risoto suíno com abóbora e picadinho de frango.

As outras são dietas dirigidas a necessidades especiais, para cães com restrições alimentares ou doenças.

Ao ser questionado se realmente um humano pode comer os produtos da Quinta, Tiago afirmou que sim. “Podem, porque é tudo que um humano pode comer, mas pode ser que não seja gostoso, porque não tem tempero igual as nossas comidas geralmente têm, mas podemos sim colocar um tempero e comer, não tem problema.”

A Quinta criou um produto de alimentação para pets feito exclusivamente de comidas que humanos também consomem, como arroz, carne, cenoura e abóbora. Foto: Divulgação/A Quinta

Alimentação traz benefícios, mas tem de ser bem formulada

A zootecnista Angelica Kischener, mestre em nutrição de cães e gatos, diz que há diversos benefícios da alimentação natural para pets, destacando pontos cruciais que devem ser considerados para garantir a saúde e o bem-estar dos animais.

“Na verdade, a alimentação natural tem vários benefícios, porém, há um detalhe muito importante: se esse alimento está sendo bem formulado ou não, se ele está atendendo ao requerimento nutricional ou não.”

Nos dias de hoje, muitos profissionais sem a devida capacitação utilizam metodologias sem validação científica. Isso resulta em atendimentos que não garantem a nutrição adequada, tanto para donos de pets quanto para empresas de alimentação natural. “Esse é um ponto bem importante de se levantar.”

Se esses requisitos forem cumpridos, a alimentação natural pode trazer vários benefícios. Um dos principais é a possibilidade de customizar dietas para animais com comorbidades.

“Por exemplo, um animal que é obeso e tem problemas renais. Não há no mercado uma ração específica para esse problema, mas na dieta caseira, podemos controlar a inclusão dos alimentos e desenvolver uma fórmula adequada para essa situação”, explicou Kischener.

Embora não seja uma solução perfeita, é possível criar uma formulação que não prejudique um problema enquanto ajuda a tratar outro.

Outro ponto importante mencionado por Kischener é a umidade do alimento. As dietas caseiras e a alimentação natural têm uma umidade muito maior em comparação às rações secas, que possuem de 8% a 10% de umidade.

Nas dietas caseiras, a umidade pode chegar a 75%, o que alivia muito o sistema renal dos animais, especialmente dos gatos. “Para gatos, isso é muito mais importante”, afirma.

Além disso, Kischener destaca a superioridade na digestibilidade dos alimentos naturais. “Nos alimentos caseiros, nas dietas ditas naturais, a absorção dos nutrientes é muito superior à dos alimentos industrializados. Isso acaba sendo muito benéfico para o animal e muito visível”, explica Kischener.

Avaliação dos clientes

A Quinta recebeu uma classificação média de 5 estrelas no Google (de um máximo de 5), com mais de 130 avaliações até a publicação desta matéria. Todos os comentários foram positivos, destacando o serviço diferenciado, a qualidade dos produtos e os benefícios observados após os pets consumirem as refeições.

Na avaliação do Google, os autores das notas concedidas não podem ser verificados. Eventualmente, comentários positivos ou negativos podem ser uma ação a favor ou a contra a empresa.

No site Reclame Aqui, não há registro de reclamações sobre o estabelecimento.

É preciso ficar ligado nas tendências do setor, diz especialista

Em um cenário de constante crescimento, o mercado pet apresenta uma série de tendências que podem ser determinantes para o sucesso de novos empreendimentos.

Flávio Barros, gestor de pets do Sebrae Nacional, destaca que acompanhar essas tendências não é apenas uma vantagem competitiva, mas essencial para fortalecer a fidelização dos clientes, atrair novos consumidores e impulsionar o crescimento do negócio.

“Para iniciar qualquer negócio, a melhor estratégia é realizar uma pesquisa de mercado detalhada e desenvolver um plano de negócios sólido. É crucial avaliar se a localização escolhida está saturada com negócios pet. Defina qual será o foco do seu negócio, seja Pet Food, Pet Care, Pet Vet ou uma combinação destes. Verifique se há um público-alvo adequado, levando em consideração que no Brasil existem atualmente 167 milhões de animais de estimação, o que facilita a identificação de uma demanda potencial”, afirma Barros.

“As políticas de bem-estar animal, impulsionadas pela humanização dos pets, estão criando novas oportunidades de negócio. O foco dos tutores em proporcionar uma vida saudável e de bem-estar aos seus animais está estimulando o crescimento do setor. O trabalho de especialistas e regulamentações ajudam a direcionar essas oportunidades, garantindo que os pets recebam cuidados de alta qualidade”, completa o gestor de pets do Sebrae.

Serviços mais procurados

Segundo a Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação), o segmento que mais cresceu em 2023 foi o pet vet (veterinários), com um aumento de cerca de 16%, seguido pelo pet care (hotéis), que cresceu 15,6%.

No entanto, o maior mercado continua sendo o pet food (comida), que cresceu 11% e movimentou R$ 47 bilhões.

Sabe quando seu animal de estimação faz uma carinha de pidão ao seu lado enquanto você come? A startup A Quinta, de São Paulo, aproveitou essa vontade dos pets e transformou isso em um negócio lucrativo. Em 2023, a empresa faturou R$ 2,2 milhões e projeta alcançar R$ 10 milhões em 2024. Fundada em 2020, a empresa criou um produto de alimentação para pets feito exclusivamente de comidas que humanos também consomem, como arroz, carne, cenoura e abóbora, entre outros.

A startup brasileira adota um slogan para traduzir o conceito: “Tão natural que até você pode comer”. O empreendimento pet começou a nascer em uma visita que o empreendedor Tiago Tresca fez ao seu irmão Diego em São Paulo, em 2019.

Na época, Tiago percebeu o aquecido mercado de animais de estimação e decidiu investir nele. Tiago morava em Portugal.

Lá, iniciou estudos em arquitetura, mas descobriu que sua verdadeira paixão era empreender, especialmente com tecnologia.

Ele fundou uma desenvolvedora de softwares e, em 2017, lançou uma rede de restaurantes de produtos naturais, um fast-food saudável que, em dois anos, cresceu para dez lojas.

Foi essa experiência com alimentação e tecnologia que trouxe Tiago ao Brasil em 2019 para visitar seu irmão. “Conversamos sobre o mercado pet e eu me apaixonei. Decidi ficar no Brasil e empreender aqui”, explicou.

Diego (sentado) e Tiago Tresca, sócios-fundadores da marca de comida para cachorros A Quinta. Foto: Divulgação/Nathalia Goulart/A Quinta

Tendência nos Estados Unidos

Tiago estudou mercados fora do Brasil e descobriu a tendência human grade nos Estados Unidos, que envolve alimentar os pets com comida que poderia ser consumida por humanos.

“Começamos a estudar esse mercado, e o que achei mais interessante foi o segmento de ‘comida de verdade’. Você vê o arroz, a carne. É a humanização levada ao extremo.”

Nos meses seguintes, Tiago e sua equipe estudaram o mercado para entender se havia demanda no Brasil. Em 2020, A Quinta foi fundada, e a operação começou com uma rodada pré-operacional, que avaliou a empresa em 2,5 milhões de reais, possibilitando seu lançamento ao mercado em 2021.

“Quando estudamos o setor, vimos muitas empresas copiando o formato dos alimentos congelados dos Estados Unidos. O Brasil não estava, e ainda não está, pronto para esse modelo devido à sua ineficiência logística”, avalia Tiago.

“É muito difícil os petshops aceitarem esse tipo de produto, pois, sendo congelado, a duração é de seis meses. Isso demanda uma logística complexa, e cada loja precisa ter um refrigerador, o que aumenta os custos. Ali estava nossa oportunidade.”

A solução foi criar um produto que não precisa ser armazenado no congelador. Segundo a empresa, como alternativa a isso, os ingredientes são separados, higienizados e pré-preparados individualmente, envasados numa embalagem transparente com várias barreiras protetoras, com selagem de alto impacto e processados no vapor.

“O processo térmico elimina microorganismos patogênicos presentes na comida, garantindo assim a segurança total do alimento, além de alta palatabilidade e sem necessidade de refrigeração”, destacou Tiago.

“Todos os produtos possuem durabilidade de até 12 meses a partir da data de fabricação e não necessitam de refrigeração. Após aberto conservar em geladeira por no máximo 72 horas.”

Chegada aos pet shops

A Quinta começou a chegar aos pet shops em 2021, inicialmente em 50 pontos em São Paulo e região. Simultaneamente, lançaram um plano de assinatura que totalizou 140 clientes em 2022.

O crescimento acelerado veio no ano passado, com a entrada de Michel Mellis, ex-diretor de Transformação Global da Unilever, como membro do conselho.

Ele investiu na empresa, avaliando-a em R$ 10 milhões, o que possibilitou a aceleração de assinaturas de entrega de comida. Hoje, são 680 assinantes, com previsão de chegar a 1.500 até o final do ano. Os pontos de venda somam 500 atualmente.

A assinatura mensal custa a partir de R$ 95. O pacote avulso de 300g custa R$ 24,50. O ticket médio de vendas é de R$ 450.

Dietas pensadas para cada tipo de pet

A linha de produtos foi desenhada para seis tipos de dieta para cães adultos e idosos. Três deles são dietas de manutenção, como risoto suíno com abóbora e picadinho de frango.

As outras são dietas dirigidas a necessidades especiais, para cães com restrições alimentares ou doenças.

Ao ser questionado se realmente um humano pode comer os produtos da Quinta, Tiago afirmou que sim. “Podem, porque é tudo que um humano pode comer, mas pode ser que não seja gostoso, porque não tem tempero igual as nossas comidas geralmente têm, mas podemos sim colocar um tempero e comer, não tem problema.”

A Quinta criou um produto de alimentação para pets feito exclusivamente de comidas que humanos também consomem, como arroz, carne, cenoura e abóbora. Foto: Divulgação/A Quinta

Alimentação traz benefícios, mas tem de ser bem formulada

A zootecnista Angelica Kischener, mestre em nutrição de cães e gatos, diz que há diversos benefícios da alimentação natural para pets, destacando pontos cruciais que devem ser considerados para garantir a saúde e o bem-estar dos animais.

“Na verdade, a alimentação natural tem vários benefícios, porém, há um detalhe muito importante: se esse alimento está sendo bem formulado ou não, se ele está atendendo ao requerimento nutricional ou não.”

Nos dias de hoje, muitos profissionais sem a devida capacitação utilizam metodologias sem validação científica. Isso resulta em atendimentos que não garantem a nutrição adequada, tanto para donos de pets quanto para empresas de alimentação natural. “Esse é um ponto bem importante de se levantar.”

Se esses requisitos forem cumpridos, a alimentação natural pode trazer vários benefícios. Um dos principais é a possibilidade de customizar dietas para animais com comorbidades.

“Por exemplo, um animal que é obeso e tem problemas renais. Não há no mercado uma ração específica para esse problema, mas na dieta caseira, podemos controlar a inclusão dos alimentos e desenvolver uma fórmula adequada para essa situação”, explicou Kischener.

Embora não seja uma solução perfeita, é possível criar uma formulação que não prejudique um problema enquanto ajuda a tratar outro.

Outro ponto importante mencionado por Kischener é a umidade do alimento. As dietas caseiras e a alimentação natural têm uma umidade muito maior em comparação às rações secas, que possuem de 8% a 10% de umidade.

Nas dietas caseiras, a umidade pode chegar a 75%, o que alivia muito o sistema renal dos animais, especialmente dos gatos. “Para gatos, isso é muito mais importante”, afirma.

Além disso, Kischener destaca a superioridade na digestibilidade dos alimentos naturais. “Nos alimentos caseiros, nas dietas ditas naturais, a absorção dos nutrientes é muito superior à dos alimentos industrializados. Isso acaba sendo muito benéfico para o animal e muito visível”, explica Kischener.

Avaliação dos clientes

A Quinta recebeu uma classificação média de 5 estrelas no Google (de um máximo de 5), com mais de 130 avaliações até a publicação desta matéria. Todos os comentários foram positivos, destacando o serviço diferenciado, a qualidade dos produtos e os benefícios observados após os pets consumirem as refeições.

Na avaliação do Google, os autores das notas concedidas não podem ser verificados. Eventualmente, comentários positivos ou negativos podem ser uma ação a favor ou a contra a empresa.

No site Reclame Aqui, não há registro de reclamações sobre o estabelecimento.

É preciso ficar ligado nas tendências do setor, diz especialista

Em um cenário de constante crescimento, o mercado pet apresenta uma série de tendências que podem ser determinantes para o sucesso de novos empreendimentos.

Flávio Barros, gestor de pets do Sebrae Nacional, destaca que acompanhar essas tendências não é apenas uma vantagem competitiva, mas essencial para fortalecer a fidelização dos clientes, atrair novos consumidores e impulsionar o crescimento do negócio.

“Para iniciar qualquer negócio, a melhor estratégia é realizar uma pesquisa de mercado detalhada e desenvolver um plano de negócios sólido. É crucial avaliar se a localização escolhida está saturada com negócios pet. Defina qual será o foco do seu negócio, seja Pet Food, Pet Care, Pet Vet ou uma combinação destes. Verifique se há um público-alvo adequado, levando em consideração que no Brasil existem atualmente 167 milhões de animais de estimação, o que facilita a identificação de uma demanda potencial”, afirma Barros.

“As políticas de bem-estar animal, impulsionadas pela humanização dos pets, estão criando novas oportunidades de negócio. O foco dos tutores em proporcionar uma vida saudável e de bem-estar aos seus animais está estimulando o crescimento do setor. O trabalho de especialistas e regulamentações ajudam a direcionar essas oportunidades, garantindo que os pets recebam cuidados de alta qualidade”, completa o gestor de pets do Sebrae.

Serviços mais procurados

Segundo a Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação), o segmento que mais cresceu em 2023 foi o pet vet (veterinários), com um aumento de cerca de 16%, seguido pelo pet care (hotéis), que cresceu 15,6%.

No entanto, o maior mercado continua sendo o pet food (comida), que cresceu 11% e movimentou R$ 47 bilhões.

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