Marcelo Fernandes, 47, passou mais de 15 anos caracterizando-se de personagens da cultura pop em eventos, concursos e competições de cosplay. Durante um trabalho em 2017, ele percebeu uma demanda crescente do mercado por contratações de profissionais do ramo, enquanto os cosplayers ainda encontravam dificuldade para profissionalizar-se. Assim nasceu a Cosplay Art, agência que faz a intermediação entre essas pessoas e empresas.
Fernandes estava no sexto semestre do curso de direito quando foi recrutado pelo festival de música Rock In Rio em 2017 para montar e coordenar uma equipe de 42 cosplayers para trabalhar no evento. “Eles estavam inaugurando uma arena voltada para a cultura pop e queriam atrair o público. Nesses grandes eventos, as contratações são certinhas, com carteira assinada”, afirma.
Ele já havia trabalhado na formulação de um concurso de cosplay para a Comic Con Experience (CCXP), uma convenção brasileira de cultura pop, em parceria com o Omelete, um dos organizadores do evento.
Na época, notou que a maioria dos cosplayers tratavam as caracterizações como um hobby. No entanto, as empresas demandam uma formalização ao contratar essas pessoas, como a exigência da emissão de nota fiscal. “Descobri um nicho de oportunidades”, considera o empreendedor.
Como funciona? O cliente entra em contato com a Cosplay Art e explica a sua demanda: uma certa quantidade de cosplayers para trabalhar no estande de um evento, por exemplo. A empresa então faz uma curadoria com as pessoas que melhor se encaixam nos requisitos e operacionaliza a contratação delas.
“Antigamente você ia a grandes eventos e a tendência era colocar como promotores pessoas bonitas, modelos. Mas as empresas começaram a ver que pessoas caracterizadas atraem mais a atenção do público, principalmente para eventos temáticos, para fazer fotos, e consequentemente para ver aquele produto ou serviço que ela está promovendo”, observa Fernandes.
A maior parte dos clientes da Cosplay Art integra o mercado de videogames. “Muitas empresas da indústria dos games querem promover os seus jogos, captar leads, então eles contratam cosplays dos seus personagens para fazer presença em eventos”, afirma.
As possibilidades, no entanto, são amplas. A empresa já fez um trabalho para a multinacional Visa, viabilizando um time de promotores caracterizados de Jedis, personagem do universo Star Wars, durante uma promoção feita com o tema da franquia.
Para abrir a Cosplay Art, Fernandes previu inicialmente um fluxo de caixa de R$ 20 mil. “Tem empresas que pagam os cachês em até 90 dias, mas o profissional que contratamos precisa receber logo o pagamento, assim como os nossos prestadores de serviço. Por isso, tive que fazer esse planejamento”, explica.
Atualmente a agência é composta por quatro pessoas: Fernandes e a sua sócia, a cenógrafa Thaís Jussim, 41, e dois produtores. Eventualmente, a empresa contrata trabalhadores freelancers para apoiar ativações em eventos maiores.
A Cosplay Art faz produção, além de apoiar eventos com a infraestrutura necessária para concursos de cosplay. “Nós entramos com toda a parte de pré-inscrições, elaboração de regras, coordenação, contratações. Em festivais, por exemplo, é preciso haver camarim, guarda-volumes, estrutura para reparos de figurinos.”, aponta Fernandes.
Por que contratar um cosplayer?
“Eu sempre digo que o diferencial de contratar um cosplayer é o de poder contar com um profissional que não vai estar ali só parado, sorrindo”, afirma Fernandes.
De acordo com o empreendedor, os cosplayers incorporam o personagem, sabendo quais expressões usar e ligados intimamente a detalhes do universo ao qual ele pertence.
Fernandes faz um paralelo com personagens nos parques da Disney. “O Mickey e o Pato Donald têm que saber interpretá-los e como se comportar porque estão lidando com a magia do universo lúdico, principalmente com crianças: elas não estão enxergando um promotor caracterizado, e sim o personagem.”
Além da familiaridade com o personagem, o empreendedor destaca a necessidade de o cosplayer entender a demanda do mercado.
“Existem determinados personagens que têm procura maior. Os super-heróis da Marvel, em época de lançamento dos filmes, são muito visados pelas empresas, elas querem ser associadas a esses personagens para surfar no sucesso. Não adianta querer fazer personagens não tão conhecidos pelo público, é mais difícil de conseguir um trabalho”, exemplifica.
Direitos autorais são “área cinzenta”
Ao trabalhar com personagens, as empresas normalmente precisam deter os direitos de uso. No entanto, a esfera dos direitos autorais ainda é uma “área cinzenta”, segundo Fernandes.
“O cosplay geralmente é visto como uma atividade de fã, uma homenagem. No momento em que a pessoa começa a ganhar dinheiro com isso, as empresas a colocam numa área cinzenta: elas não vão atrás da Carreta Furacão, por exemplo, mas quando chama mais atenção ou institucionaliza e passa a ganhar muito dinheiro, podem alegar que ela está recebendo de forma indevida porque não tem o direito de uso daquele personagem”, cita.
Outro desafio é a demanda crescente do mercado. Conforme Fernandes, cada personagem exige de 20 a 30 dias para ter seu figurino preparado, além de realizar as capacitações oferecidas pela Cosplay Art. Pela falta de mão de obra qualificada, ele diz, muitas vezes precisa recusar alguns pedidos.
Dá para viver de cosplay?
O universo do cosplay oferece uma série de possibilidades para ganhar dinheiro. Fernandes cita algumas opções dentro desse ecossistema:
Concurso de cosplay
Há muitas competições e eventos de cosplay no Brasil e no mundo. Nas maiores, os vencedores levam prêmios em dinheiro ou viagens, carros, motos. “Tem pessoas que se especializam em participar de concursos para levar as premiações”, conta Fernandes.
Um dos campeonatos internacionais mais famosos, o World Cosplay Summit terá a sua etapa seletiva brasileira no próximo domingo, 9, em São Paulo. A final acontece na cidade de Nagoya, Aichi, no Japão. O vencedor no Brasil ganha uma viagem com tudo pago para participar do evento no país asiático.
Fernandes representou o Brasil no evento japonês em 2007, quando venceu a etapa nacional. “Também tive a oportunidade de conhecer vários países como convidado graças ao cosplay: Argentina, México, Estados Unidos.” Hoje ele foca no seu trabalho como empreendedor.
Cosmaker
Há aqueles que se dedicam a produzir caracterizações para cosplayers que não têm tempo ou habilidade para fabricar a própria fantasia. Esses profissionais são chamados de cosmakers.
“Quando uma empresa lança um determinado personagem e ele ainda não é conhecido do grande público, então não tem cosplayers dele. Ela entra em contato conosco e nós recorremos a esses profissionais, responsáveis por costurar, modelar e produzir o figurino específico”, explica.
Fotógrafo especializado em cosplay
Assim como os fotógrafos especializados em fotografia de modelos em passarelas, também existem profissionais específicos para fazer books de cosplayers e a cobertura de eventos do ramo. “É uma visão diferenciada”, destaca Fernandes.
Personagem vivo
Um dos maiores mercados dentro do mundo do cosplay é a dos “personagens vivos”, como define Fernandes. São aquelas pessoas que trabalham caracterizadas em festas, especialmente infantis.
“São muitos cosplays nesse segmento, especialmente de super-heróis ou princesas da Disney. Tem demanda grande, tem festa todo fim de semana”, afirma.
Agência de cosplay
Apesar de o mercado ainda estar em ascensão no Brasil, Fernandes hoje vive dos serviços que oferece com a Cosplay Art. Após um período difícil durante a pandemia de coronavírus, quando a agência ficou completamente parada, a empresa se recuperou e alcançou o faturamento de R$ 44 mil no ano passado. Esse ano, espera dobrar o faturamento.
“Público é nichado, mas consome muito”, diz consultora
Para a consultora de negócios do Sebrae-SP Sandra Fiorentini, a contratação de cosplayers é interessante para as empresas de diversos ramos que desejam atrair um público mais nichado. Apesar de ser um segmento bem específico, ela observa a cultura pop e universo nerd como um mercado promissor.
“O público que curte cosplay é bem nichado, mas consome muito. No bairro da Liberdade, em São Paulo, por exemplo, há muitas lojas que exploram esse lado nerd e atraem um público muito grande, vivem lotadas. É um público que costuma consumir muito”, afirma.
Além das performances de cosplayers, ela cita eventos e objetos como costumes e miniaturas de personagens para colecionadores como atrativos para esse nicho, uma tendência dentro da economia criativa no Brasil e no mundo.
Apesar do apelo, Fiorentini reforça alguns cuidados prévios ao investir nesse tipo de negócio. Mesmo que ainda seja considerada uma “área cinzenta” por Fernandes, ela reforça a necessidade de estar sempre em conformidade com os direitos autorais dos personagens em caso de uso comercial.
“Se eu gosto e me caracterizo por prazer, a passeio e lazer, não há nenhum problema. Mas quando torno isso um negócio, tem que haver a autorização e o pagamento dos direitos autorais relativos ao personagem”, frisa.
Além disso, ela vê como necessária a formalização do trabalho, caso a pessoa tenha interesse em ter o cosplay como parte essencial da sua renda. “Talvez, na informalidade, dê para performar em uma festa infantil ou outra, mas não consegue ingressar adequadamente no mundo corporativo, que é onde a fonte de receita costuma ser boa.”
Avaliações de clientes da Cosplay Art
A Cosplay Art tem 58 avaliações registradas na página do Facebook, com nota geral máxima (cinco estrelas). As classificações são calculadas com base em avaliações e recomendações. Elas variam de zero a cinco.
A empresa não está no site Reclame Aqui.