Casal começa na garagem de casa e hoje fatura R$ 10 milhões com coworking na avenida Paulista


Eureka Coworking também conta com duas unidades em Campinas (SP) e uma em Lisboa

Por Adele Robichez
Atualização:

O casal paulistano Daniel, 43, e Fanny Moral, 39, transformou a garagem de sua casa em escritório, inicialmente para um projeto próprio. O espaço cresceu e foi transferido para a avenida Paulista. A Eureka Coworking reúne hoje diversas empresas e faturou R$ 10 milhões em 2023.

Tudo começou quando os dois, então bancários, decidiram deixar para trás o ambiente corporativo para cuidar do primeiro filho, Gabriel, nascido em 2012. No mesmo momento, Daniel desenvolvia, com o irmão, um projeto de turismo local, no qual as pessoas poderiam conhecer a cidade de São Paulo andando de bicicleta. Eles tinham a ideia e o projeto, mas não tinham o espaço. Resolveram, então, montar o próprio escritório.

“A nossa garagem era muito grande, cabiam cerca de dez carros”, relembra Daniel. A garagem da casa, que ficava na Chácara Klabin, em São Paulo, foi rapidamente transformada. O casal produzia uma revista do bairro, onde divulgou o empreendimento.

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Daniel e Fanny Moral, fundadores da Eureka Coworking Foto: Divulgação/Eureka Coworking

Antes de as obras serem concluídas, em fevereiro de 2014, o lugar fez sucesso entre os vizinhos. Eram dois espaços compartilhados de trabalho, duas salas privativas e um escritório. “Com os pedreiros ainda lá, já tínhamos demanda e fazíamos reuniões”, conta Daniel. Em alguns dias, o espaço atingiu 100% de ocupação.

Daniel e Fanny perceberam, então, que o negócio poderia crescer. Eles expandiram o espaço para o primeiro andar da casa, onde havia a cozinha e sala. “Destruímos e transformamos em salas privativas. Ficamos um tempo sem cozinha”, relata.

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Pouco depois, o segundo, e último, andar também foi ocupado pelo coworking, quando o casal resolveu se mudar para um apartamento alugado na mesma rua. Em seguida, alugaram a casa vizinha e aumentaram ainda mais o espaço do negócio.

Eureka Coworking, antiga unidade na Chácara Klabin Foto: Divulgação/Eureka Coworking

Em 2018, o casal decidiu inaugurar uma nova unidade, que hoje é a matriz, na avenida Paulista. “Tinha demanda. Como sempre falamos de mobilidade e cidade, fomos para a avenida Paulista, porque é o espaço em São Paulo com a maior visibilidade e oferta de transporte”, explica Daniel.

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No início, o investimento para transformar a casa do casal em espaço de coworking foi de R$ 100 mil. Anos depois, a expansão da Eureka custou R$ 3 milhões – 51% desembolsado pelos fundadores e 49% por Rodolfo Fischer, sócio investidor da marca.

Na Paulista, eles começaram com dois andares, que viraram cinco em 2019. Em janeiro de 2020, o casal inaugurou mais duas unidades em Campinas, e uma em Lisboa. “Na volta da viagem, já vimos todo mundo de máscara no aeroporto. Foi um choque”, revela Daniel, descrevendo o início do cenário de pandemia de covid-19.

Pandemia afetou, mas trabalho híbrido turbinou negócio

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“A pandemia chegou num momento em que investimos todo o dinheiro que tínhamos no caixa para fazer a expansão”, relata Fanny. Os sócios montaram uma espécie de “escritório de guerra” para fazer a gestão dos pedidos de cancelamento e negociações com os clientes, ao mesmo tempo em que tentavam negociar o preço do próprio aluguel da empresa na avenida Paulista.

A Eureka chegou a dar até 50% de desconto para os que ficaram e usou um crédito oferecido pelo governo federal para manter a equipe completa no período de crise. Ninguém foi demitido. Vários negócios interromperam o contrato, mas grandes empresas, como Quinto Andar, CVC e Sympla permaneceram como clientes. “Foi isso que nos salvou”, afirma Daniel.

Em meio a isso, o casal temia que o modelo de home office, adotado rapidamente pelas empresas em meio à pandemia, acarretasse no fechamento da Eureka. “Soou como algo muito ruim no início. Pensamos: se todo mundo trabalhar de casa, acabou”, relembra Daniel.

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Eureka Coworking, na avenida Paulista Foto: Divulgação/Eureka Coworking

Grande parte do ambiente corporativo, entretanto, migrou para o modelo híbrido após a flexibilização das restrições impostas pela pandemia.

A mudança foi uma reviravolta no negócio de Fanny e Daniel. “Aproveitamos para divulgar que as empresas poderiam frequentar um espaço pronto e moderno uma vez por semana ou mês, sem ter que se prender a um contrato complexo de aluguel e custos de um escritório convencional”, conta o empresário.

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A primeira unidade, criada na casa antiga do casal foi fechada no fim de 2021 e a área foi vendida a uma construtora. As demais continuam em funcionamento, com 90% de ocupação no total.

De acordo com Daniel Moral, não há um perfil específico de cliente no espaço. “O pessoal engravatado convive com o pessoal da bike, de bermuda. É um ecossistema muito rico de troca de informação, são pessoas de tribos diferentes fazendo um ecossistema acontecer”, descreve.

Happy hour no terraço da Eureka Foto: Divulgação/Eureka Coworking

Confira os tipos de espaço de trabalho e planos oferecidos pela Eureka, na avenida Paulista:

  • Escritório virtual, entre R$ 94,50 e R$ 293,50/mês: as pessoas não precisam usar espaço fisicamente, utilizam o endereço sob demanda. Serve como endereço para cartão de visita, site, recebe correspondência e ligações, que são repassadas via recado. Nesse modelo, são três planos, o último tem endereço fiscal caso a empresa que não tem sede precise de um endereço para se formalizar na Receita Federal.
  • Escritório compartilhado, R$ 499/mês: corresponde a três andares do espaço. Nesse modelo, a posição não é fixa: a pessoa pode ocupar o espaço que estiver disponível, por ordem de chegada. Há mesas, cadeiras, sofás e cabines telefônicas. Geralmente, o plano é contratado por funcionários que têm problemas para trabalhar em casa ou querem fazer network, mas também há empresas que contratam quatro posições para rotacionar dez funcionários, por exemplo.
  • Posição fixa no escritório compartilhado, R$ 950/mês: a pessoa tem direito a uma mesa e uma cadeira fixa. Além disso, recebe um espaço dentro de um armário, onde pertences, como notebook e monitores, podem ser deixados trancados. Há empresas, como agências de comunicação, que ocupam algumas posições nesse modelo. “Estão todo dia no mesmo lugar, então é como se fosse o escritório deles mesmo, mas o ambiente é compartilhado e tem gente passando”, esclarece Daniel.
  • Escritório privativo, entre R$ 900 a R$ 1.400 mensais por posição (mesa e cadeira): há desde a opção de salas individuais à de andares inteiros, com até 200 posições, ocupados por empresas. O preço depende do plano adquirido (no andar inteiro, por exemplo, o valor por posição é mais barato).

Sócios preveem crescimento de 15% no faturamento

A Eureka Coworking pretende inaugurar uma segunda unidade na avenida Paulista já em maio deste ano, e atingir um aumento de 15% no faturamento. A empresa quer crescer em São Paulo e investir também na expansão internacional, já que a unidade de Lisboa tem funcionado bem. “Sentimos que o mercado de coworking está bem aquecido, estamos tendo um bom retorno”, afirma Daniel.

A companhia faturou R$ 10 milhões em 2023, o que representa um aumento de 20% em relação ao ano anterior. De acordo com os sócios, o resultado é reflexo da diminuição da vacância, que estava alta por conta da pandemia. Hoje, o espaço está com 90% de ocupação.

Eureka Coworking em Lisboa Foto: Divulgação/Eureka Coworking

No total, as unidades da Eureka contam com 15 funcionários. Limpeza, manutenção e eventos são realizados por equipes terceirizadas. Na unidade da avenida Paulista, há um terraço que pode ser alugado para confraternizações, reuniões e palestras por cerca de R$ 900 por hora, variando de acordo com o evento.

O negócio tem nota média de 4,6 de 5 no Google. Entre as 240 avaliações, 11 dão a pior classificação (uma estrela) à empresa. As principais reclamações são relativas aos preços e taxas adicionais.

Consultor de negócios avalia se investimento vale a pena

Segundo o consultor de negócios do Sebrae-SP Davi Jerônimo, o mercado de coworking tem apresentado um crescimento exponencial desde 2023. Para ele, isso pode ser reflexo do novo modelo de gestão de negócios trazido pela pandemia de coronavírus, com a adoção do home office e do trabalho híbrido.

Para as empresas que adotam o modelo híbrido, o consultor afirma que há, geralmente, um bom custo-benefício ao contratar planos de coworking. “É menos custoso do que ter um investimento em um escritório fixo para as pessoas irem uma ou duas vezes por semana”, afirma.

Antes de considerar investir em um negócio do tipo, Jerônimo indica que o principal fator a ser verificado é a demanda. “Nesse caso, tem demanda e ela está crescendo, e a tendência é aumentar”, afirma. De acordo com ele, o negócio surgiu no Brasil há cerca de 10 anos e nunca se ouviu falar tanto quanto agora.

No entanto, ele ressalta a necessidade de analisar o ponto estratégico do negócio, a partir de pesquisas de hábitos e costumes do público local, para evitar riscos. “A nova geração, por exemplo, está mais adaptada ao coworking, é mais interessante para ela”, pontua.

O casal paulistano Daniel, 43, e Fanny Moral, 39, transformou a garagem de sua casa em escritório, inicialmente para um projeto próprio. O espaço cresceu e foi transferido para a avenida Paulista. A Eureka Coworking reúne hoje diversas empresas e faturou R$ 10 milhões em 2023.

Tudo começou quando os dois, então bancários, decidiram deixar para trás o ambiente corporativo para cuidar do primeiro filho, Gabriel, nascido em 2012. No mesmo momento, Daniel desenvolvia, com o irmão, um projeto de turismo local, no qual as pessoas poderiam conhecer a cidade de São Paulo andando de bicicleta. Eles tinham a ideia e o projeto, mas não tinham o espaço. Resolveram, então, montar o próprio escritório.

“A nossa garagem era muito grande, cabiam cerca de dez carros”, relembra Daniel. A garagem da casa, que ficava na Chácara Klabin, em São Paulo, foi rapidamente transformada. O casal produzia uma revista do bairro, onde divulgou o empreendimento.

Daniel e Fanny Moral, fundadores da Eureka Coworking Foto: Divulgação/Eureka Coworking

Antes de as obras serem concluídas, em fevereiro de 2014, o lugar fez sucesso entre os vizinhos. Eram dois espaços compartilhados de trabalho, duas salas privativas e um escritório. “Com os pedreiros ainda lá, já tínhamos demanda e fazíamos reuniões”, conta Daniel. Em alguns dias, o espaço atingiu 100% de ocupação.

Daniel e Fanny perceberam, então, que o negócio poderia crescer. Eles expandiram o espaço para o primeiro andar da casa, onde havia a cozinha e sala. “Destruímos e transformamos em salas privativas. Ficamos um tempo sem cozinha”, relata.

Pouco depois, o segundo, e último, andar também foi ocupado pelo coworking, quando o casal resolveu se mudar para um apartamento alugado na mesma rua. Em seguida, alugaram a casa vizinha e aumentaram ainda mais o espaço do negócio.

Eureka Coworking, antiga unidade na Chácara Klabin Foto: Divulgação/Eureka Coworking

Em 2018, o casal decidiu inaugurar uma nova unidade, que hoje é a matriz, na avenida Paulista. “Tinha demanda. Como sempre falamos de mobilidade e cidade, fomos para a avenida Paulista, porque é o espaço em São Paulo com a maior visibilidade e oferta de transporte”, explica Daniel.

No início, o investimento para transformar a casa do casal em espaço de coworking foi de R$ 100 mil. Anos depois, a expansão da Eureka custou R$ 3 milhões – 51% desembolsado pelos fundadores e 49% por Rodolfo Fischer, sócio investidor da marca.

Na Paulista, eles começaram com dois andares, que viraram cinco em 2019. Em janeiro de 2020, o casal inaugurou mais duas unidades em Campinas, e uma em Lisboa. “Na volta da viagem, já vimos todo mundo de máscara no aeroporto. Foi um choque”, revela Daniel, descrevendo o início do cenário de pandemia de covid-19.

Pandemia afetou, mas trabalho híbrido turbinou negócio

“A pandemia chegou num momento em que investimos todo o dinheiro que tínhamos no caixa para fazer a expansão”, relata Fanny. Os sócios montaram uma espécie de “escritório de guerra” para fazer a gestão dos pedidos de cancelamento e negociações com os clientes, ao mesmo tempo em que tentavam negociar o preço do próprio aluguel da empresa na avenida Paulista.

A Eureka chegou a dar até 50% de desconto para os que ficaram e usou um crédito oferecido pelo governo federal para manter a equipe completa no período de crise. Ninguém foi demitido. Vários negócios interromperam o contrato, mas grandes empresas, como Quinto Andar, CVC e Sympla permaneceram como clientes. “Foi isso que nos salvou”, afirma Daniel.

Em meio a isso, o casal temia que o modelo de home office, adotado rapidamente pelas empresas em meio à pandemia, acarretasse no fechamento da Eureka. “Soou como algo muito ruim no início. Pensamos: se todo mundo trabalhar de casa, acabou”, relembra Daniel.

Eureka Coworking, na avenida Paulista Foto: Divulgação/Eureka Coworking

Grande parte do ambiente corporativo, entretanto, migrou para o modelo híbrido após a flexibilização das restrições impostas pela pandemia.

A mudança foi uma reviravolta no negócio de Fanny e Daniel. “Aproveitamos para divulgar que as empresas poderiam frequentar um espaço pronto e moderno uma vez por semana ou mês, sem ter que se prender a um contrato complexo de aluguel e custos de um escritório convencional”, conta o empresário.

A primeira unidade, criada na casa antiga do casal foi fechada no fim de 2021 e a área foi vendida a uma construtora. As demais continuam em funcionamento, com 90% de ocupação no total.

De acordo com Daniel Moral, não há um perfil específico de cliente no espaço. “O pessoal engravatado convive com o pessoal da bike, de bermuda. É um ecossistema muito rico de troca de informação, são pessoas de tribos diferentes fazendo um ecossistema acontecer”, descreve.

Happy hour no terraço da Eureka Foto: Divulgação/Eureka Coworking

Confira os tipos de espaço de trabalho e planos oferecidos pela Eureka, na avenida Paulista:

  • Escritório virtual, entre R$ 94,50 e R$ 293,50/mês: as pessoas não precisam usar espaço fisicamente, utilizam o endereço sob demanda. Serve como endereço para cartão de visita, site, recebe correspondência e ligações, que são repassadas via recado. Nesse modelo, são três planos, o último tem endereço fiscal caso a empresa que não tem sede precise de um endereço para se formalizar na Receita Federal.
  • Escritório compartilhado, R$ 499/mês: corresponde a três andares do espaço. Nesse modelo, a posição não é fixa: a pessoa pode ocupar o espaço que estiver disponível, por ordem de chegada. Há mesas, cadeiras, sofás e cabines telefônicas. Geralmente, o plano é contratado por funcionários que têm problemas para trabalhar em casa ou querem fazer network, mas também há empresas que contratam quatro posições para rotacionar dez funcionários, por exemplo.
  • Posição fixa no escritório compartilhado, R$ 950/mês: a pessoa tem direito a uma mesa e uma cadeira fixa. Além disso, recebe um espaço dentro de um armário, onde pertences, como notebook e monitores, podem ser deixados trancados. Há empresas, como agências de comunicação, que ocupam algumas posições nesse modelo. “Estão todo dia no mesmo lugar, então é como se fosse o escritório deles mesmo, mas o ambiente é compartilhado e tem gente passando”, esclarece Daniel.
  • Escritório privativo, entre R$ 900 a R$ 1.400 mensais por posição (mesa e cadeira): há desde a opção de salas individuais à de andares inteiros, com até 200 posições, ocupados por empresas. O preço depende do plano adquirido (no andar inteiro, por exemplo, o valor por posição é mais barato).

Sócios preveem crescimento de 15% no faturamento

A Eureka Coworking pretende inaugurar uma segunda unidade na avenida Paulista já em maio deste ano, e atingir um aumento de 15% no faturamento. A empresa quer crescer em São Paulo e investir também na expansão internacional, já que a unidade de Lisboa tem funcionado bem. “Sentimos que o mercado de coworking está bem aquecido, estamos tendo um bom retorno”, afirma Daniel.

A companhia faturou R$ 10 milhões em 2023, o que representa um aumento de 20% em relação ao ano anterior. De acordo com os sócios, o resultado é reflexo da diminuição da vacância, que estava alta por conta da pandemia. Hoje, o espaço está com 90% de ocupação.

Eureka Coworking em Lisboa Foto: Divulgação/Eureka Coworking

No total, as unidades da Eureka contam com 15 funcionários. Limpeza, manutenção e eventos são realizados por equipes terceirizadas. Na unidade da avenida Paulista, há um terraço que pode ser alugado para confraternizações, reuniões e palestras por cerca de R$ 900 por hora, variando de acordo com o evento.

O negócio tem nota média de 4,6 de 5 no Google. Entre as 240 avaliações, 11 dão a pior classificação (uma estrela) à empresa. As principais reclamações são relativas aos preços e taxas adicionais.

Consultor de negócios avalia se investimento vale a pena

Segundo o consultor de negócios do Sebrae-SP Davi Jerônimo, o mercado de coworking tem apresentado um crescimento exponencial desde 2023. Para ele, isso pode ser reflexo do novo modelo de gestão de negócios trazido pela pandemia de coronavírus, com a adoção do home office e do trabalho híbrido.

Para as empresas que adotam o modelo híbrido, o consultor afirma que há, geralmente, um bom custo-benefício ao contratar planos de coworking. “É menos custoso do que ter um investimento em um escritório fixo para as pessoas irem uma ou duas vezes por semana”, afirma.

Antes de considerar investir em um negócio do tipo, Jerônimo indica que o principal fator a ser verificado é a demanda. “Nesse caso, tem demanda e ela está crescendo, e a tendência é aumentar”, afirma. De acordo com ele, o negócio surgiu no Brasil há cerca de 10 anos e nunca se ouviu falar tanto quanto agora.

No entanto, ele ressalta a necessidade de analisar o ponto estratégico do negócio, a partir de pesquisas de hábitos e costumes do público local, para evitar riscos. “A nova geração, por exemplo, está mais adaptada ao coworking, é mais interessante para ela”, pontua.

O casal paulistano Daniel, 43, e Fanny Moral, 39, transformou a garagem de sua casa em escritório, inicialmente para um projeto próprio. O espaço cresceu e foi transferido para a avenida Paulista. A Eureka Coworking reúne hoje diversas empresas e faturou R$ 10 milhões em 2023.

Tudo começou quando os dois, então bancários, decidiram deixar para trás o ambiente corporativo para cuidar do primeiro filho, Gabriel, nascido em 2012. No mesmo momento, Daniel desenvolvia, com o irmão, um projeto de turismo local, no qual as pessoas poderiam conhecer a cidade de São Paulo andando de bicicleta. Eles tinham a ideia e o projeto, mas não tinham o espaço. Resolveram, então, montar o próprio escritório.

“A nossa garagem era muito grande, cabiam cerca de dez carros”, relembra Daniel. A garagem da casa, que ficava na Chácara Klabin, em São Paulo, foi rapidamente transformada. O casal produzia uma revista do bairro, onde divulgou o empreendimento.

Daniel e Fanny Moral, fundadores da Eureka Coworking Foto: Divulgação/Eureka Coworking

Antes de as obras serem concluídas, em fevereiro de 2014, o lugar fez sucesso entre os vizinhos. Eram dois espaços compartilhados de trabalho, duas salas privativas e um escritório. “Com os pedreiros ainda lá, já tínhamos demanda e fazíamos reuniões”, conta Daniel. Em alguns dias, o espaço atingiu 100% de ocupação.

Daniel e Fanny perceberam, então, que o negócio poderia crescer. Eles expandiram o espaço para o primeiro andar da casa, onde havia a cozinha e sala. “Destruímos e transformamos em salas privativas. Ficamos um tempo sem cozinha”, relata.

Pouco depois, o segundo, e último, andar também foi ocupado pelo coworking, quando o casal resolveu se mudar para um apartamento alugado na mesma rua. Em seguida, alugaram a casa vizinha e aumentaram ainda mais o espaço do negócio.

Eureka Coworking, antiga unidade na Chácara Klabin Foto: Divulgação/Eureka Coworking

Em 2018, o casal decidiu inaugurar uma nova unidade, que hoje é a matriz, na avenida Paulista. “Tinha demanda. Como sempre falamos de mobilidade e cidade, fomos para a avenida Paulista, porque é o espaço em São Paulo com a maior visibilidade e oferta de transporte”, explica Daniel.

No início, o investimento para transformar a casa do casal em espaço de coworking foi de R$ 100 mil. Anos depois, a expansão da Eureka custou R$ 3 milhões – 51% desembolsado pelos fundadores e 49% por Rodolfo Fischer, sócio investidor da marca.

Na Paulista, eles começaram com dois andares, que viraram cinco em 2019. Em janeiro de 2020, o casal inaugurou mais duas unidades em Campinas, e uma em Lisboa. “Na volta da viagem, já vimos todo mundo de máscara no aeroporto. Foi um choque”, revela Daniel, descrevendo o início do cenário de pandemia de covid-19.

Pandemia afetou, mas trabalho híbrido turbinou negócio

“A pandemia chegou num momento em que investimos todo o dinheiro que tínhamos no caixa para fazer a expansão”, relata Fanny. Os sócios montaram uma espécie de “escritório de guerra” para fazer a gestão dos pedidos de cancelamento e negociações com os clientes, ao mesmo tempo em que tentavam negociar o preço do próprio aluguel da empresa na avenida Paulista.

A Eureka chegou a dar até 50% de desconto para os que ficaram e usou um crédito oferecido pelo governo federal para manter a equipe completa no período de crise. Ninguém foi demitido. Vários negócios interromperam o contrato, mas grandes empresas, como Quinto Andar, CVC e Sympla permaneceram como clientes. “Foi isso que nos salvou”, afirma Daniel.

Em meio a isso, o casal temia que o modelo de home office, adotado rapidamente pelas empresas em meio à pandemia, acarretasse no fechamento da Eureka. “Soou como algo muito ruim no início. Pensamos: se todo mundo trabalhar de casa, acabou”, relembra Daniel.

Eureka Coworking, na avenida Paulista Foto: Divulgação/Eureka Coworking

Grande parte do ambiente corporativo, entretanto, migrou para o modelo híbrido após a flexibilização das restrições impostas pela pandemia.

A mudança foi uma reviravolta no negócio de Fanny e Daniel. “Aproveitamos para divulgar que as empresas poderiam frequentar um espaço pronto e moderno uma vez por semana ou mês, sem ter que se prender a um contrato complexo de aluguel e custos de um escritório convencional”, conta o empresário.

A primeira unidade, criada na casa antiga do casal foi fechada no fim de 2021 e a área foi vendida a uma construtora. As demais continuam em funcionamento, com 90% de ocupação no total.

De acordo com Daniel Moral, não há um perfil específico de cliente no espaço. “O pessoal engravatado convive com o pessoal da bike, de bermuda. É um ecossistema muito rico de troca de informação, são pessoas de tribos diferentes fazendo um ecossistema acontecer”, descreve.

Happy hour no terraço da Eureka Foto: Divulgação/Eureka Coworking

Confira os tipos de espaço de trabalho e planos oferecidos pela Eureka, na avenida Paulista:

  • Escritório virtual, entre R$ 94,50 e R$ 293,50/mês: as pessoas não precisam usar espaço fisicamente, utilizam o endereço sob demanda. Serve como endereço para cartão de visita, site, recebe correspondência e ligações, que são repassadas via recado. Nesse modelo, são três planos, o último tem endereço fiscal caso a empresa que não tem sede precise de um endereço para se formalizar na Receita Federal.
  • Escritório compartilhado, R$ 499/mês: corresponde a três andares do espaço. Nesse modelo, a posição não é fixa: a pessoa pode ocupar o espaço que estiver disponível, por ordem de chegada. Há mesas, cadeiras, sofás e cabines telefônicas. Geralmente, o plano é contratado por funcionários que têm problemas para trabalhar em casa ou querem fazer network, mas também há empresas que contratam quatro posições para rotacionar dez funcionários, por exemplo.
  • Posição fixa no escritório compartilhado, R$ 950/mês: a pessoa tem direito a uma mesa e uma cadeira fixa. Além disso, recebe um espaço dentro de um armário, onde pertences, como notebook e monitores, podem ser deixados trancados. Há empresas, como agências de comunicação, que ocupam algumas posições nesse modelo. “Estão todo dia no mesmo lugar, então é como se fosse o escritório deles mesmo, mas o ambiente é compartilhado e tem gente passando”, esclarece Daniel.
  • Escritório privativo, entre R$ 900 a R$ 1.400 mensais por posição (mesa e cadeira): há desde a opção de salas individuais à de andares inteiros, com até 200 posições, ocupados por empresas. O preço depende do plano adquirido (no andar inteiro, por exemplo, o valor por posição é mais barato).

Sócios preveem crescimento de 15% no faturamento

A Eureka Coworking pretende inaugurar uma segunda unidade na avenida Paulista já em maio deste ano, e atingir um aumento de 15% no faturamento. A empresa quer crescer em São Paulo e investir também na expansão internacional, já que a unidade de Lisboa tem funcionado bem. “Sentimos que o mercado de coworking está bem aquecido, estamos tendo um bom retorno”, afirma Daniel.

A companhia faturou R$ 10 milhões em 2023, o que representa um aumento de 20% em relação ao ano anterior. De acordo com os sócios, o resultado é reflexo da diminuição da vacância, que estava alta por conta da pandemia. Hoje, o espaço está com 90% de ocupação.

Eureka Coworking em Lisboa Foto: Divulgação/Eureka Coworking

No total, as unidades da Eureka contam com 15 funcionários. Limpeza, manutenção e eventos são realizados por equipes terceirizadas. Na unidade da avenida Paulista, há um terraço que pode ser alugado para confraternizações, reuniões e palestras por cerca de R$ 900 por hora, variando de acordo com o evento.

O negócio tem nota média de 4,6 de 5 no Google. Entre as 240 avaliações, 11 dão a pior classificação (uma estrela) à empresa. As principais reclamações são relativas aos preços e taxas adicionais.

Consultor de negócios avalia se investimento vale a pena

Segundo o consultor de negócios do Sebrae-SP Davi Jerônimo, o mercado de coworking tem apresentado um crescimento exponencial desde 2023. Para ele, isso pode ser reflexo do novo modelo de gestão de negócios trazido pela pandemia de coronavírus, com a adoção do home office e do trabalho híbrido.

Para as empresas que adotam o modelo híbrido, o consultor afirma que há, geralmente, um bom custo-benefício ao contratar planos de coworking. “É menos custoso do que ter um investimento em um escritório fixo para as pessoas irem uma ou duas vezes por semana”, afirma.

Antes de considerar investir em um negócio do tipo, Jerônimo indica que o principal fator a ser verificado é a demanda. “Nesse caso, tem demanda e ela está crescendo, e a tendência é aumentar”, afirma. De acordo com ele, o negócio surgiu no Brasil há cerca de 10 anos e nunca se ouviu falar tanto quanto agora.

No entanto, ele ressalta a necessidade de analisar o ponto estratégico do negócio, a partir de pesquisas de hábitos e costumes do público local, para evitar riscos. “A nova geração, por exemplo, está mais adaptada ao coworking, é mais interessante para ela”, pontua.

O casal paulistano Daniel, 43, e Fanny Moral, 39, transformou a garagem de sua casa em escritório, inicialmente para um projeto próprio. O espaço cresceu e foi transferido para a avenida Paulista. A Eureka Coworking reúne hoje diversas empresas e faturou R$ 10 milhões em 2023.

Tudo começou quando os dois, então bancários, decidiram deixar para trás o ambiente corporativo para cuidar do primeiro filho, Gabriel, nascido em 2012. No mesmo momento, Daniel desenvolvia, com o irmão, um projeto de turismo local, no qual as pessoas poderiam conhecer a cidade de São Paulo andando de bicicleta. Eles tinham a ideia e o projeto, mas não tinham o espaço. Resolveram, então, montar o próprio escritório.

“A nossa garagem era muito grande, cabiam cerca de dez carros”, relembra Daniel. A garagem da casa, que ficava na Chácara Klabin, em São Paulo, foi rapidamente transformada. O casal produzia uma revista do bairro, onde divulgou o empreendimento.

Daniel e Fanny Moral, fundadores da Eureka Coworking Foto: Divulgação/Eureka Coworking

Antes de as obras serem concluídas, em fevereiro de 2014, o lugar fez sucesso entre os vizinhos. Eram dois espaços compartilhados de trabalho, duas salas privativas e um escritório. “Com os pedreiros ainda lá, já tínhamos demanda e fazíamos reuniões”, conta Daniel. Em alguns dias, o espaço atingiu 100% de ocupação.

Daniel e Fanny perceberam, então, que o negócio poderia crescer. Eles expandiram o espaço para o primeiro andar da casa, onde havia a cozinha e sala. “Destruímos e transformamos em salas privativas. Ficamos um tempo sem cozinha”, relata.

Pouco depois, o segundo, e último, andar também foi ocupado pelo coworking, quando o casal resolveu se mudar para um apartamento alugado na mesma rua. Em seguida, alugaram a casa vizinha e aumentaram ainda mais o espaço do negócio.

Eureka Coworking, antiga unidade na Chácara Klabin Foto: Divulgação/Eureka Coworking

Em 2018, o casal decidiu inaugurar uma nova unidade, que hoje é a matriz, na avenida Paulista. “Tinha demanda. Como sempre falamos de mobilidade e cidade, fomos para a avenida Paulista, porque é o espaço em São Paulo com a maior visibilidade e oferta de transporte”, explica Daniel.

No início, o investimento para transformar a casa do casal em espaço de coworking foi de R$ 100 mil. Anos depois, a expansão da Eureka custou R$ 3 milhões – 51% desembolsado pelos fundadores e 49% por Rodolfo Fischer, sócio investidor da marca.

Na Paulista, eles começaram com dois andares, que viraram cinco em 2019. Em janeiro de 2020, o casal inaugurou mais duas unidades em Campinas, e uma em Lisboa. “Na volta da viagem, já vimos todo mundo de máscara no aeroporto. Foi um choque”, revela Daniel, descrevendo o início do cenário de pandemia de covid-19.

Pandemia afetou, mas trabalho híbrido turbinou negócio

“A pandemia chegou num momento em que investimos todo o dinheiro que tínhamos no caixa para fazer a expansão”, relata Fanny. Os sócios montaram uma espécie de “escritório de guerra” para fazer a gestão dos pedidos de cancelamento e negociações com os clientes, ao mesmo tempo em que tentavam negociar o preço do próprio aluguel da empresa na avenida Paulista.

A Eureka chegou a dar até 50% de desconto para os que ficaram e usou um crédito oferecido pelo governo federal para manter a equipe completa no período de crise. Ninguém foi demitido. Vários negócios interromperam o contrato, mas grandes empresas, como Quinto Andar, CVC e Sympla permaneceram como clientes. “Foi isso que nos salvou”, afirma Daniel.

Em meio a isso, o casal temia que o modelo de home office, adotado rapidamente pelas empresas em meio à pandemia, acarretasse no fechamento da Eureka. “Soou como algo muito ruim no início. Pensamos: se todo mundo trabalhar de casa, acabou”, relembra Daniel.

Eureka Coworking, na avenida Paulista Foto: Divulgação/Eureka Coworking

Grande parte do ambiente corporativo, entretanto, migrou para o modelo híbrido após a flexibilização das restrições impostas pela pandemia.

A mudança foi uma reviravolta no negócio de Fanny e Daniel. “Aproveitamos para divulgar que as empresas poderiam frequentar um espaço pronto e moderno uma vez por semana ou mês, sem ter que se prender a um contrato complexo de aluguel e custos de um escritório convencional”, conta o empresário.

A primeira unidade, criada na casa antiga do casal foi fechada no fim de 2021 e a área foi vendida a uma construtora. As demais continuam em funcionamento, com 90% de ocupação no total.

De acordo com Daniel Moral, não há um perfil específico de cliente no espaço. “O pessoal engravatado convive com o pessoal da bike, de bermuda. É um ecossistema muito rico de troca de informação, são pessoas de tribos diferentes fazendo um ecossistema acontecer”, descreve.

Happy hour no terraço da Eureka Foto: Divulgação/Eureka Coworking

Confira os tipos de espaço de trabalho e planos oferecidos pela Eureka, na avenida Paulista:

  • Escritório virtual, entre R$ 94,50 e R$ 293,50/mês: as pessoas não precisam usar espaço fisicamente, utilizam o endereço sob demanda. Serve como endereço para cartão de visita, site, recebe correspondência e ligações, que são repassadas via recado. Nesse modelo, são três planos, o último tem endereço fiscal caso a empresa que não tem sede precise de um endereço para se formalizar na Receita Federal.
  • Escritório compartilhado, R$ 499/mês: corresponde a três andares do espaço. Nesse modelo, a posição não é fixa: a pessoa pode ocupar o espaço que estiver disponível, por ordem de chegada. Há mesas, cadeiras, sofás e cabines telefônicas. Geralmente, o plano é contratado por funcionários que têm problemas para trabalhar em casa ou querem fazer network, mas também há empresas que contratam quatro posições para rotacionar dez funcionários, por exemplo.
  • Posição fixa no escritório compartilhado, R$ 950/mês: a pessoa tem direito a uma mesa e uma cadeira fixa. Além disso, recebe um espaço dentro de um armário, onde pertences, como notebook e monitores, podem ser deixados trancados. Há empresas, como agências de comunicação, que ocupam algumas posições nesse modelo. “Estão todo dia no mesmo lugar, então é como se fosse o escritório deles mesmo, mas o ambiente é compartilhado e tem gente passando”, esclarece Daniel.
  • Escritório privativo, entre R$ 900 a R$ 1.400 mensais por posição (mesa e cadeira): há desde a opção de salas individuais à de andares inteiros, com até 200 posições, ocupados por empresas. O preço depende do plano adquirido (no andar inteiro, por exemplo, o valor por posição é mais barato).

Sócios preveem crescimento de 15% no faturamento

A Eureka Coworking pretende inaugurar uma segunda unidade na avenida Paulista já em maio deste ano, e atingir um aumento de 15% no faturamento. A empresa quer crescer em São Paulo e investir também na expansão internacional, já que a unidade de Lisboa tem funcionado bem. “Sentimos que o mercado de coworking está bem aquecido, estamos tendo um bom retorno”, afirma Daniel.

A companhia faturou R$ 10 milhões em 2023, o que representa um aumento de 20% em relação ao ano anterior. De acordo com os sócios, o resultado é reflexo da diminuição da vacância, que estava alta por conta da pandemia. Hoje, o espaço está com 90% de ocupação.

Eureka Coworking em Lisboa Foto: Divulgação/Eureka Coworking

No total, as unidades da Eureka contam com 15 funcionários. Limpeza, manutenção e eventos são realizados por equipes terceirizadas. Na unidade da avenida Paulista, há um terraço que pode ser alugado para confraternizações, reuniões e palestras por cerca de R$ 900 por hora, variando de acordo com o evento.

O negócio tem nota média de 4,6 de 5 no Google. Entre as 240 avaliações, 11 dão a pior classificação (uma estrela) à empresa. As principais reclamações são relativas aos preços e taxas adicionais.

Consultor de negócios avalia se investimento vale a pena

Segundo o consultor de negócios do Sebrae-SP Davi Jerônimo, o mercado de coworking tem apresentado um crescimento exponencial desde 2023. Para ele, isso pode ser reflexo do novo modelo de gestão de negócios trazido pela pandemia de coronavírus, com a adoção do home office e do trabalho híbrido.

Para as empresas que adotam o modelo híbrido, o consultor afirma que há, geralmente, um bom custo-benefício ao contratar planos de coworking. “É menos custoso do que ter um investimento em um escritório fixo para as pessoas irem uma ou duas vezes por semana”, afirma.

Antes de considerar investir em um negócio do tipo, Jerônimo indica que o principal fator a ser verificado é a demanda. “Nesse caso, tem demanda e ela está crescendo, e a tendência é aumentar”, afirma. De acordo com ele, o negócio surgiu no Brasil há cerca de 10 anos e nunca se ouviu falar tanto quanto agora.

No entanto, ele ressalta a necessidade de analisar o ponto estratégico do negócio, a partir de pesquisas de hábitos e costumes do público local, para evitar riscos. “A nova geração, por exemplo, está mais adaptada ao coworking, é mais interessante para ela”, pontua.

O casal paulistano Daniel, 43, e Fanny Moral, 39, transformou a garagem de sua casa em escritório, inicialmente para um projeto próprio. O espaço cresceu e foi transferido para a avenida Paulista. A Eureka Coworking reúne hoje diversas empresas e faturou R$ 10 milhões em 2023.

Tudo começou quando os dois, então bancários, decidiram deixar para trás o ambiente corporativo para cuidar do primeiro filho, Gabriel, nascido em 2012. No mesmo momento, Daniel desenvolvia, com o irmão, um projeto de turismo local, no qual as pessoas poderiam conhecer a cidade de São Paulo andando de bicicleta. Eles tinham a ideia e o projeto, mas não tinham o espaço. Resolveram, então, montar o próprio escritório.

“A nossa garagem era muito grande, cabiam cerca de dez carros”, relembra Daniel. A garagem da casa, que ficava na Chácara Klabin, em São Paulo, foi rapidamente transformada. O casal produzia uma revista do bairro, onde divulgou o empreendimento.

Daniel e Fanny Moral, fundadores da Eureka Coworking Foto: Divulgação/Eureka Coworking

Antes de as obras serem concluídas, em fevereiro de 2014, o lugar fez sucesso entre os vizinhos. Eram dois espaços compartilhados de trabalho, duas salas privativas e um escritório. “Com os pedreiros ainda lá, já tínhamos demanda e fazíamos reuniões”, conta Daniel. Em alguns dias, o espaço atingiu 100% de ocupação.

Daniel e Fanny perceberam, então, que o negócio poderia crescer. Eles expandiram o espaço para o primeiro andar da casa, onde havia a cozinha e sala. “Destruímos e transformamos em salas privativas. Ficamos um tempo sem cozinha”, relata.

Pouco depois, o segundo, e último, andar também foi ocupado pelo coworking, quando o casal resolveu se mudar para um apartamento alugado na mesma rua. Em seguida, alugaram a casa vizinha e aumentaram ainda mais o espaço do negócio.

Eureka Coworking, antiga unidade na Chácara Klabin Foto: Divulgação/Eureka Coworking

Em 2018, o casal decidiu inaugurar uma nova unidade, que hoje é a matriz, na avenida Paulista. “Tinha demanda. Como sempre falamos de mobilidade e cidade, fomos para a avenida Paulista, porque é o espaço em São Paulo com a maior visibilidade e oferta de transporte”, explica Daniel.

No início, o investimento para transformar a casa do casal em espaço de coworking foi de R$ 100 mil. Anos depois, a expansão da Eureka custou R$ 3 milhões – 51% desembolsado pelos fundadores e 49% por Rodolfo Fischer, sócio investidor da marca.

Na Paulista, eles começaram com dois andares, que viraram cinco em 2019. Em janeiro de 2020, o casal inaugurou mais duas unidades em Campinas, e uma em Lisboa. “Na volta da viagem, já vimos todo mundo de máscara no aeroporto. Foi um choque”, revela Daniel, descrevendo o início do cenário de pandemia de covid-19.

Pandemia afetou, mas trabalho híbrido turbinou negócio

“A pandemia chegou num momento em que investimos todo o dinheiro que tínhamos no caixa para fazer a expansão”, relata Fanny. Os sócios montaram uma espécie de “escritório de guerra” para fazer a gestão dos pedidos de cancelamento e negociações com os clientes, ao mesmo tempo em que tentavam negociar o preço do próprio aluguel da empresa na avenida Paulista.

A Eureka chegou a dar até 50% de desconto para os que ficaram e usou um crédito oferecido pelo governo federal para manter a equipe completa no período de crise. Ninguém foi demitido. Vários negócios interromperam o contrato, mas grandes empresas, como Quinto Andar, CVC e Sympla permaneceram como clientes. “Foi isso que nos salvou”, afirma Daniel.

Em meio a isso, o casal temia que o modelo de home office, adotado rapidamente pelas empresas em meio à pandemia, acarretasse no fechamento da Eureka. “Soou como algo muito ruim no início. Pensamos: se todo mundo trabalhar de casa, acabou”, relembra Daniel.

Eureka Coworking, na avenida Paulista Foto: Divulgação/Eureka Coworking

Grande parte do ambiente corporativo, entretanto, migrou para o modelo híbrido após a flexibilização das restrições impostas pela pandemia.

A mudança foi uma reviravolta no negócio de Fanny e Daniel. “Aproveitamos para divulgar que as empresas poderiam frequentar um espaço pronto e moderno uma vez por semana ou mês, sem ter que se prender a um contrato complexo de aluguel e custos de um escritório convencional”, conta o empresário.

A primeira unidade, criada na casa antiga do casal foi fechada no fim de 2021 e a área foi vendida a uma construtora. As demais continuam em funcionamento, com 90% de ocupação no total.

De acordo com Daniel Moral, não há um perfil específico de cliente no espaço. “O pessoal engravatado convive com o pessoal da bike, de bermuda. É um ecossistema muito rico de troca de informação, são pessoas de tribos diferentes fazendo um ecossistema acontecer”, descreve.

Happy hour no terraço da Eureka Foto: Divulgação/Eureka Coworking

Confira os tipos de espaço de trabalho e planos oferecidos pela Eureka, na avenida Paulista:

  • Escritório virtual, entre R$ 94,50 e R$ 293,50/mês: as pessoas não precisam usar espaço fisicamente, utilizam o endereço sob demanda. Serve como endereço para cartão de visita, site, recebe correspondência e ligações, que são repassadas via recado. Nesse modelo, são três planos, o último tem endereço fiscal caso a empresa que não tem sede precise de um endereço para se formalizar na Receita Federal.
  • Escritório compartilhado, R$ 499/mês: corresponde a três andares do espaço. Nesse modelo, a posição não é fixa: a pessoa pode ocupar o espaço que estiver disponível, por ordem de chegada. Há mesas, cadeiras, sofás e cabines telefônicas. Geralmente, o plano é contratado por funcionários que têm problemas para trabalhar em casa ou querem fazer network, mas também há empresas que contratam quatro posições para rotacionar dez funcionários, por exemplo.
  • Posição fixa no escritório compartilhado, R$ 950/mês: a pessoa tem direito a uma mesa e uma cadeira fixa. Além disso, recebe um espaço dentro de um armário, onde pertences, como notebook e monitores, podem ser deixados trancados. Há empresas, como agências de comunicação, que ocupam algumas posições nesse modelo. “Estão todo dia no mesmo lugar, então é como se fosse o escritório deles mesmo, mas o ambiente é compartilhado e tem gente passando”, esclarece Daniel.
  • Escritório privativo, entre R$ 900 a R$ 1.400 mensais por posição (mesa e cadeira): há desde a opção de salas individuais à de andares inteiros, com até 200 posições, ocupados por empresas. O preço depende do plano adquirido (no andar inteiro, por exemplo, o valor por posição é mais barato).

Sócios preveem crescimento de 15% no faturamento

A Eureka Coworking pretende inaugurar uma segunda unidade na avenida Paulista já em maio deste ano, e atingir um aumento de 15% no faturamento. A empresa quer crescer em São Paulo e investir também na expansão internacional, já que a unidade de Lisboa tem funcionado bem. “Sentimos que o mercado de coworking está bem aquecido, estamos tendo um bom retorno”, afirma Daniel.

A companhia faturou R$ 10 milhões em 2023, o que representa um aumento de 20% em relação ao ano anterior. De acordo com os sócios, o resultado é reflexo da diminuição da vacância, que estava alta por conta da pandemia. Hoje, o espaço está com 90% de ocupação.

Eureka Coworking em Lisboa Foto: Divulgação/Eureka Coworking

No total, as unidades da Eureka contam com 15 funcionários. Limpeza, manutenção e eventos são realizados por equipes terceirizadas. Na unidade da avenida Paulista, há um terraço que pode ser alugado para confraternizações, reuniões e palestras por cerca de R$ 900 por hora, variando de acordo com o evento.

O negócio tem nota média de 4,6 de 5 no Google. Entre as 240 avaliações, 11 dão a pior classificação (uma estrela) à empresa. As principais reclamações são relativas aos preços e taxas adicionais.

Consultor de negócios avalia se investimento vale a pena

Segundo o consultor de negócios do Sebrae-SP Davi Jerônimo, o mercado de coworking tem apresentado um crescimento exponencial desde 2023. Para ele, isso pode ser reflexo do novo modelo de gestão de negócios trazido pela pandemia de coronavírus, com a adoção do home office e do trabalho híbrido.

Para as empresas que adotam o modelo híbrido, o consultor afirma que há, geralmente, um bom custo-benefício ao contratar planos de coworking. “É menos custoso do que ter um investimento em um escritório fixo para as pessoas irem uma ou duas vezes por semana”, afirma.

Antes de considerar investir em um negócio do tipo, Jerônimo indica que o principal fator a ser verificado é a demanda. “Nesse caso, tem demanda e ela está crescendo, e a tendência é aumentar”, afirma. De acordo com ele, o negócio surgiu no Brasil há cerca de 10 anos e nunca se ouviu falar tanto quanto agora.

No entanto, ele ressalta a necessidade de analisar o ponto estratégico do negócio, a partir de pesquisas de hábitos e costumes do público local, para evitar riscos. “A nova geração, por exemplo, está mais adaptada ao coworking, é mais interessante para ela”, pontua.

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