Uma startup do Amapá, que nasceu com o objetivo de digitalizar processos pedagógicos e administrativos em escolas públicas do Estado, fatura hoje R$ 13 milhões com a venda de sistemas para instituições de ensino de todo o País. Com o sucesso do projeto-piloto, a Proesc foi procurada por outras escolas da região e passou a oferecer seus serviços para mais de 2 mil colégios nos Estados do Amapá e Pará.
Fundada pelo engenheiro de software Felipe Ferreira e seu tio, o então professor de matemática Lindomar Góes em 2008, a startup começou operando em formato piloto na escola onde Góes dava aulas, o colégio Almirante Barroso, na cidade de Santana, AP.
“A gente observava que era uma dor do professor perder mais tempo preenchendo o diário de classe do que planejando uma aula”, afirma Ferreira, que largou a faculdade de sistemas de informação para se dedicar integralmente à criação da empresa e atualmente é CEO da companhia.
À época, todos os processos da escola eram realizados em papel, o que atrasava o dia a dia dos professores e gerava uma alta demanda de trabalho para a coordenação do colégio.
O objetivo de Ferreira e Góes era não só digitalizar os dados, como presença dos alunos, notas e informações cadastrais, mas concentrá-los em um sistema único, que pudesse ser editado e acessado por todos os profissionais da instituição. “No começo, nosso principal concorrente era o Excel”, relembra Ferreira.
Implementação foi porta de entrada para toda a rede estadual
A implementação do sistema no colégio levou cerca de seis meses. O tempo incluiu a criação do sistema e também a instalação da infraestrutura, que contou com o cabeamento da escola e a configuração de computadores e notebooks, processo tocado inteiramente pelos dois empreendedores.
Com o fim do projeto, outros colégios da rede pública procuraram a dupla para implementar o sistema. “Chegamos a ter 45 escolas nos procurando”, diz Ferreira.
O primeiro contato da Secretaria de Educação do Estado ocorreu em 2011, quando começaram as tratativas para que a empresa fizesse o processo de digitalização de todas as escolas do Amapá. Com o contrato, a companhia cresceu e expandiu suas operações para cerca de 2 mil escolas da rede estadual.
Com escolas particulares, aposta agora é em soluções financeiras
Até então, o foco de atuação da Proesc se concentrava no setor público, mas a partir de 2015, com o fim da implementação nas escolas do Amapá, a empresa passou a pensar em soluções que atendessem também escolas particulares. Um desses pontos foi o controle financeiro, em especial de inadimplência dos alunos.
O serviço foi inspirado no sistema de cobrança da própria startup, que notificava os clientes que não realizavam o pagamento dos serviços em dia e oferecia um determinado período para regularização. O modelo foi inspirado no funcionamento da cobrança de serviços de streaming, como a Netflix.
“Percebemos que as escolas tinham essa mesma dor com seus alunos”, diz Ferreira. “As escolas acreditavam que a inadimplência estava alta porque os pais não tinham dinheiro para pagar as mensalidades, mas não era bem isso”, complementa.
Ele cita que em alguns casos, a falta de incentivos ou punições para o pagamento dos boletos fazia com que os pais esquecessem de quitar seus débitos.
“Fomos mapeando vários desses motivos e criando uma tecnologia para solucionar cada um deles”, comenta o empresário. A Proesc afirma que a implementação do sistema de cobrança pode reduzir a inadimplência em até 80%.
Atualmente, cerca de 60% dos clientes da empresa se concentram no setor privado e há operações da companhia em colégios de todos os Estados do País. Em 2023, a companhia recebeu um aporte do fundo de investimento Square de cerca de R$ 8 milhões para expandir suas operações. Com isso, a startup agora conta com diferentes frentes de atuação, com foco no setor público, privado e até em serviços financeiros.
A ideia da empresa é começar a oferecer, a partir deste ano, linhas de crédito para escolas particulares, com condições mais vantajosas do que as oferecidas no mercado. “Conseguimos condições melhores porque conhecemos todo o histórico dessa escola. Quando ela vai ao banco, paga uma taxa de juros como qualquer outro cliente”, afirma Ferreira.
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Desafio de vender para o governo
Segundo Leonardo Ladeira, CEO e cofundador do Portal de Compras Públicas, ter um órgão do governo como principal cliente, como ocorreu com a Proesc durante seus primeiros anos, não é um problema por si só. Mas cabe ao empreendedor ter organização para entender os prazos de entrega e pagamento em detalhes, para se preparar e precificar os serviços de maneira correta.
“É um processo burocrático. Tudo está escrito no edital, não é preciso adivinhar nada. É possível conferir previamente se você consegue cumprir com todos aqueles requisitos”, afirma Ladeira.
“Por isso existem empresas que se especializam nas vendas para o governo”, diz, citando a previsibilidade de receita que esse tipo de negócio pode gerar.
Segundo ele, o governo tende a honrar os pagamentos quando a venda cumpre rigorosamente com todos os requisitos e regras previstas no edital.
Ele pontua, porém, que como em qualquer tipo de negócio é importante variar o número de clientes e não depender somente de um comprador, seja ele um ente governamental ou privado.