Diversidade no mercado de trabalho amplia oportunidades de negócios


Agenda ESG, casos de racismo e pandemia aceleram programas de diversidade e inclusão em grandes corporações e alavancam consultorias como parceiras

Por Anna Barbosa
Atualização:

O aumento da demanda por diversidade e inclusão no mercado de trabalho fez com que os pequenos negócios que fornecem serviços a grandes empresas observassem um boom no número de clientes e no faturamento. São negócios que criam programas de diversidade para grandes corporações, ou em conjunto com elas, e fazem seleção de candidatos para promover inclusão de grupos minorizados nas equipes, num nicho que estourou do ano passado para cá, caso das consultorias CKZ Diversidade, Tree Diversidade e Transcendemos.

Na consultoria Transcendemos, fundada em 2017, o crescimento do último ano foi de 10 a 12 vezes o faturamento do ano anterior, conta a fundadora do negócio, Gabriela Augusto. Segundo ela, a empresa chega a receber 100 pedidos por mês de empresas que demandam diferentes tipos de serviço e solução para diversidade e inclusão.

“Foi um crescimento bem importante. Eu associo isso a duas coisas: de um lado, tivemos um aumento da credibilidade enquanto empresa. Eu recebi prêmios no LinkedIn, reconhecimentos, aumentamos nosso alcance nos canais de divulgação. Isso também fez com que nosso negócio tomasse mais força. Para além de um mérito nosso, também existe a mudança no contexto, das empresas estarem não só mais preocupadas, mas verem o senso de urgência (em promover inclusão)”, diz Gabriela.

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Antes da pandemia, a equipe da Transcendemos contava com quatro pessoas. Atualmente, são 14 pessoas, trabalhando remotamente de diferentes lugares do Brasil.

Gabriela Augusto, fundadora da Transcendemos, consultoria de diversidade e inclusão que cresceu entre 10 e 12 vezes no último ano. Foto: Taba Benedicto/Estadão

No caso da Tree Diversidade, Letícia Rodrigues relata que em comparação a 2019 houve um crescimento de três vezes no faturamento. A carteira também triplicou, passando a ter 50 clientes. Por isso, a equipe de atendimento, entre consultores fixos, rotativos, temáticos e equipe de backoffice, também cresceu pouco mais de três vezes no período.

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Recentemente, para além dos outros serviços oferecidos, a Tree lançou um produto chamado “Combo da Diversidade”, que conta com seis palestras, um kit com templates de imagens e pílulas de conteúdo, para atender as corporações. 

“A gente percebe que tem uma demanda de empresas que querem fazer as coisas, mas que precisam acelerar algumas questões. Pensando na pessoa que trabalha com D&I dentro da empresa, com o combo ela acaba perdendo menos tempo mapeando datas importantes (que já estão no calendário do combo), produzindo conteúdos e fazendo curadoria de palestrantes sobre o tema. A pessoa começa o ano com tudo mapeado. E aí ela pode dar um passo além: pensar na estratégia”, diz Letícia, que fundou a empresa em 2017.

Uma das pioneiras no mercado, desde 2008, a CKZ Diversidade diz ter crescido em torno de 40% no último ano, com demanda que levou a consultoria a ampliar a equipe. 

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“Estamos treinando novas consultoras. A gente nunca fez tanta proposta na nossa vida. Por semana, são três, quatro propostas, às vezes até cinco. Eu falei que minha comercial está enlouquecida, de tanta proposta que está fazendo”, conta a CEO Cristina Kerr, que antes contava com cinco consultoras na equipe e agora contratou mais três, além de duas executivas de conta.

Letícia Rodrigues, sócia-fundadora da Tree Diversidade, especialista em diversidade e inclusão com experiência em projetos relacionados a gênero. Foto: Werther Santana/Estadão

Kerr conta que, quando começou a empresa, o cenário era muito desafiador. “A gente não tinha pesquisa que comprovasse que diversidade e inclusão traria resultado financeiro. A gente trabalhava a responsabilidade social. A primeira coisa que fiz foi o Fórum Mulheres em Destaque, para ter mais mulheres em cargos de liderança. Eu tive uma baita dificuldade, foi o primeiro fórum sobre o tema, em 2011. Nem minhas amigas do mercado corporativo queriam falar no evento.”

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Para Gabriela Augusto, ainda que atuando há menos tempo no setor, as mudanças nos últimos anos são estrondosas. “Não imaginei que isso ia mudar tão rápido. Quatro anos não é tanto tempo assim. Naquela época (em 2017), quando eu procurava as organizações para conversar sobre D&I, as pessoas me falavam: ‘Por que eu devo falar de igualdade de gênero na minha empresa? Por que a questão LGBT é relevante para o meu negócio?’.”

ESG, George Floyd e pandemia

As especialistas enumeram acontecimentos que trouxeram senso de urgência da pauta da inclusão para as empresas e que fizeram crescer seus negócios. Exemplos são os casos de George Floyd, homem negro assassinado por um policial branco nos Estados Unidos, e o de João Alberto Silveira, homem negro morto por um segurança numa loja Carrefour em Porto Alegre. Neste ano, após longa repercussão do caso, o Carrefour pagou R$ 115 milhões de indenização, destinados a associações de combate ao racismo.

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“A sociedade começou a falar mais sobre o tema, como o (movimento) Black Lives Matter, que acelerou muito o debate étnico-racial. Não como eu acho que deveria ter sido, mas acelerou. A pandemia também escancarou as diferenças, as desigualdades.”, pontua Letícia. 

Além disso, as especialistas apontam que a agenda ESG (com questões ambientais, sociais e de governança) também foi um impulsionador. “Agora, para todo lugar que você olha estão falando de ESG e isso se relaciona intimamente com as pautas de diversidade e inclusão. Para além dos argumentos anteriormente apresentados, isso tem se tornado uma pauta ainda mais estratégica. Tem empresas, como a Suzano, emitindo títulos de crédito lastreados em metas ESG, de diversidade de gênero”, explica Gabriela.

Para Cristina Kerr, as empresas que não estiverem preparadas para lidar com a pauta ESG ficarão para trás. “Muitas olhavam só o E, que é o ambiental, e esquecia do social. Não são só as novas gerações que estão cobrando isso, são os clientes também.”

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Outro movimento importante, segundo Gabriela Augusto, são os compromissos públicos assinados por empresas como Boticário, XP Investimentos e Natura. “São empresas que elegeram indicadores (de ESG e D&I) e em cima disso colocaram suas metas.”

Gabriela acrescenta a ressalva de que uma das mudanças importantes que não podem ser esquecidas é a pandemia. “Isso fez com que a gente não só saísse do presencial e fosse para o digital. Impactou a Transcendemos e empresas como a minha de algumas formas. Uma delas é: antes, a gente tinha que ir até a empresa fazer um evento, ficar o dia inteiro organizando. Era um pouco menos escalável. No digital, a gente consegue fazer seis palestras por dia, por pessoa. Outro ponto é que o home office fez com que a equipe estivesse em Salvador, em São Paulo, no interior. A gente não tem mais condições de ter um escritório, é irreversível."

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O aumento da demanda por diversidade e inclusão no mercado de trabalho fez com que os pequenos negócios que fornecem serviços a grandes empresas observassem um boom no número de clientes e no faturamento. São negócios que criam programas de diversidade para grandes corporações, ou em conjunto com elas, e fazem seleção de candidatos para promover inclusão de grupos minorizados nas equipes, num nicho que estourou do ano passado para cá, caso das consultorias CKZ Diversidade, Tree Diversidade e Transcendemos.

Na consultoria Transcendemos, fundada em 2017, o crescimento do último ano foi de 10 a 12 vezes o faturamento do ano anterior, conta a fundadora do negócio, Gabriela Augusto. Segundo ela, a empresa chega a receber 100 pedidos por mês de empresas que demandam diferentes tipos de serviço e solução para diversidade e inclusão.

“Foi um crescimento bem importante. Eu associo isso a duas coisas: de um lado, tivemos um aumento da credibilidade enquanto empresa. Eu recebi prêmios no LinkedIn, reconhecimentos, aumentamos nosso alcance nos canais de divulgação. Isso também fez com que nosso negócio tomasse mais força. Para além de um mérito nosso, também existe a mudança no contexto, das empresas estarem não só mais preocupadas, mas verem o senso de urgência (em promover inclusão)”, diz Gabriela.

Antes da pandemia, a equipe da Transcendemos contava com quatro pessoas. Atualmente, são 14 pessoas, trabalhando remotamente de diferentes lugares do Brasil.

Gabriela Augusto, fundadora da Transcendemos, consultoria de diversidade e inclusão que cresceu entre 10 e 12 vezes no último ano. Foto: Taba Benedicto/Estadão

No caso da Tree Diversidade, Letícia Rodrigues relata que em comparação a 2019 houve um crescimento de três vezes no faturamento. A carteira também triplicou, passando a ter 50 clientes. Por isso, a equipe de atendimento, entre consultores fixos, rotativos, temáticos e equipe de backoffice, também cresceu pouco mais de três vezes no período.

Recentemente, para além dos outros serviços oferecidos, a Tree lançou um produto chamado “Combo da Diversidade”, que conta com seis palestras, um kit com templates de imagens e pílulas de conteúdo, para atender as corporações. 

“A gente percebe que tem uma demanda de empresas que querem fazer as coisas, mas que precisam acelerar algumas questões. Pensando na pessoa que trabalha com D&I dentro da empresa, com o combo ela acaba perdendo menos tempo mapeando datas importantes (que já estão no calendário do combo), produzindo conteúdos e fazendo curadoria de palestrantes sobre o tema. A pessoa começa o ano com tudo mapeado. E aí ela pode dar um passo além: pensar na estratégia”, diz Letícia, que fundou a empresa em 2017.

Uma das pioneiras no mercado, desde 2008, a CKZ Diversidade diz ter crescido em torno de 40% no último ano, com demanda que levou a consultoria a ampliar a equipe. 

“Estamos treinando novas consultoras. A gente nunca fez tanta proposta na nossa vida. Por semana, são três, quatro propostas, às vezes até cinco. Eu falei que minha comercial está enlouquecida, de tanta proposta que está fazendo”, conta a CEO Cristina Kerr, que antes contava com cinco consultoras na equipe e agora contratou mais três, além de duas executivas de conta.

Letícia Rodrigues, sócia-fundadora da Tree Diversidade, especialista em diversidade e inclusão com experiência em projetos relacionados a gênero. Foto: Werther Santana/Estadão

Kerr conta que, quando começou a empresa, o cenário era muito desafiador. “A gente não tinha pesquisa que comprovasse que diversidade e inclusão traria resultado financeiro. A gente trabalhava a responsabilidade social. A primeira coisa que fiz foi o Fórum Mulheres em Destaque, para ter mais mulheres em cargos de liderança. Eu tive uma baita dificuldade, foi o primeiro fórum sobre o tema, em 2011. Nem minhas amigas do mercado corporativo queriam falar no evento.”

Para Gabriela Augusto, ainda que atuando há menos tempo no setor, as mudanças nos últimos anos são estrondosas. “Não imaginei que isso ia mudar tão rápido. Quatro anos não é tanto tempo assim. Naquela época (em 2017), quando eu procurava as organizações para conversar sobre D&I, as pessoas me falavam: ‘Por que eu devo falar de igualdade de gênero na minha empresa? Por que a questão LGBT é relevante para o meu negócio?’.”

ESG, George Floyd e pandemia

As especialistas enumeram acontecimentos que trouxeram senso de urgência da pauta da inclusão para as empresas e que fizeram crescer seus negócios. Exemplos são os casos de George Floyd, homem negro assassinado por um policial branco nos Estados Unidos, e o de João Alberto Silveira, homem negro morto por um segurança numa loja Carrefour em Porto Alegre. Neste ano, após longa repercussão do caso, o Carrefour pagou R$ 115 milhões de indenização, destinados a associações de combate ao racismo.

“A sociedade começou a falar mais sobre o tema, como o (movimento) Black Lives Matter, que acelerou muito o debate étnico-racial. Não como eu acho que deveria ter sido, mas acelerou. A pandemia também escancarou as diferenças, as desigualdades.”, pontua Letícia. 

Além disso, as especialistas apontam que a agenda ESG (com questões ambientais, sociais e de governança) também foi um impulsionador. “Agora, para todo lugar que você olha estão falando de ESG e isso se relaciona intimamente com as pautas de diversidade e inclusão. Para além dos argumentos anteriormente apresentados, isso tem se tornado uma pauta ainda mais estratégica. Tem empresas, como a Suzano, emitindo títulos de crédito lastreados em metas ESG, de diversidade de gênero”, explica Gabriela.

Para Cristina Kerr, as empresas que não estiverem preparadas para lidar com a pauta ESG ficarão para trás. “Muitas olhavam só o E, que é o ambiental, e esquecia do social. Não são só as novas gerações que estão cobrando isso, são os clientes também.”

Outro movimento importante, segundo Gabriela Augusto, são os compromissos públicos assinados por empresas como Boticário, XP Investimentos e Natura. “São empresas que elegeram indicadores (de ESG e D&I) e em cima disso colocaram suas metas.”

Gabriela acrescenta a ressalva de que uma das mudanças importantes que não podem ser esquecidas é a pandemia. “Isso fez com que a gente não só saísse do presencial e fosse para o digital. Impactou a Transcendemos e empresas como a minha de algumas formas. Uma delas é: antes, a gente tinha que ir até a empresa fazer um evento, ficar o dia inteiro organizando. Era um pouco menos escalável. No digital, a gente consegue fazer seis palestras por dia, por pessoa. Outro ponto é que o home office fez com que a equipe estivesse em Salvador, em São Paulo, no interior. A gente não tem mais condições de ter um escritório, é irreversível."

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O aumento da demanda por diversidade e inclusão no mercado de trabalho fez com que os pequenos negócios que fornecem serviços a grandes empresas observassem um boom no número de clientes e no faturamento. São negócios que criam programas de diversidade para grandes corporações, ou em conjunto com elas, e fazem seleção de candidatos para promover inclusão de grupos minorizados nas equipes, num nicho que estourou do ano passado para cá, caso das consultorias CKZ Diversidade, Tree Diversidade e Transcendemos.

Na consultoria Transcendemos, fundada em 2017, o crescimento do último ano foi de 10 a 12 vezes o faturamento do ano anterior, conta a fundadora do negócio, Gabriela Augusto. Segundo ela, a empresa chega a receber 100 pedidos por mês de empresas que demandam diferentes tipos de serviço e solução para diversidade e inclusão.

“Foi um crescimento bem importante. Eu associo isso a duas coisas: de um lado, tivemos um aumento da credibilidade enquanto empresa. Eu recebi prêmios no LinkedIn, reconhecimentos, aumentamos nosso alcance nos canais de divulgação. Isso também fez com que nosso negócio tomasse mais força. Para além de um mérito nosso, também existe a mudança no contexto, das empresas estarem não só mais preocupadas, mas verem o senso de urgência (em promover inclusão)”, diz Gabriela.

Antes da pandemia, a equipe da Transcendemos contava com quatro pessoas. Atualmente, são 14 pessoas, trabalhando remotamente de diferentes lugares do Brasil.

Gabriela Augusto, fundadora da Transcendemos, consultoria de diversidade e inclusão que cresceu entre 10 e 12 vezes no último ano. Foto: Taba Benedicto/Estadão

No caso da Tree Diversidade, Letícia Rodrigues relata que em comparação a 2019 houve um crescimento de três vezes no faturamento. A carteira também triplicou, passando a ter 50 clientes. Por isso, a equipe de atendimento, entre consultores fixos, rotativos, temáticos e equipe de backoffice, também cresceu pouco mais de três vezes no período.

Recentemente, para além dos outros serviços oferecidos, a Tree lançou um produto chamado “Combo da Diversidade”, que conta com seis palestras, um kit com templates de imagens e pílulas de conteúdo, para atender as corporações. 

“A gente percebe que tem uma demanda de empresas que querem fazer as coisas, mas que precisam acelerar algumas questões. Pensando na pessoa que trabalha com D&I dentro da empresa, com o combo ela acaba perdendo menos tempo mapeando datas importantes (que já estão no calendário do combo), produzindo conteúdos e fazendo curadoria de palestrantes sobre o tema. A pessoa começa o ano com tudo mapeado. E aí ela pode dar um passo além: pensar na estratégia”, diz Letícia, que fundou a empresa em 2017.

Uma das pioneiras no mercado, desde 2008, a CKZ Diversidade diz ter crescido em torno de 40% no último ano, com demanda que levou a consultoria a ampliar a equipe. 

“Estamos treinando novas consultoras. A gente nunca fez tanta proposta na nossa vida. Por semana, são três, quatro propostas, às vezes até cinco. Eu falei que minha comercial está enlouquecida, de tanta proposta que está fazendo”, conta a CEO Cristina Kerr, que antes contava com cinco consultoras na equipe e agora contratou mais três, além de duas executivas de conta.

Letícia Rodrigues, sócia-fundadora da Tree Diversidade, especialista em diversidade e inclusão com experiência em projetos relacionados a gênero. Foto: Werther Santana/Estadão

Kerr conta que, quando começou a empresa, o cenário era muito desafiador. “A gente não tinha pesquisa que comprovasse que diversidade e inclusão traria resultado financeiro. A gente trabalhava a responsabilidade social. A primeira coisa que fiz foi o Fórum Mulheres em Destaque, para ter mais mulheres em cargos de liderança. Eu tive uma baita dificuldade, foi o primeiro fórum sobre o tema, em 2011. Nem minhas amigas do mercado corporativo queriam falar no evento.”

Para Gabriela Augusto, ainda que atuando há menos tempo no setor, as mudanças nos últimos anos são estrondosas. “Não imaginei que isso ia mudar tão rápido. Quatro anos não é tanto tempo assim. Naquela época (em 2017), quando eu procurava as organizações para conversar sobre D&I, as pessoas me falavam: ‘Por que eu devo falar de igualdade de gênero na minha empresa? Por que a questão LGBT é relevante para o meu negócio?’.”

ESG, George Floyd e pandemia

As especialistas enumeram acontecimentos que trouxeram senso de urgência da pauta da inclusão para as empresas e que fizeram crescer seus negócios. Exemplos são os casos de George Floyd, homem negro assassinado por um policial branco nos Estados Unidos, e o de João Alberto Silveira, homem negro morto por um segurança numa loja Carrefour em Porto Alegre. Neste ano, após longa repercussão do caso, o Carrefour pagou R$ 115 milhões de indenização, destinados a associações de combate ao racismo.

“A sociedade começou a falar mais sobre o tema, como o (movimento) Black Lives Matter, que acelerou muito o debate étnico-racial. Não como eu acho que deveria ter sido, mas acelerou. A pandemia também escancarou as diferenças, as desigualdades.”, pontua Letícia. 

Além disso, as especialistas apontam que a agenda ESG (com questões ambientais, sociais e de governança) também foi um impulsionador. “Agora, para todo lugar que você olha estão falando de ESG e isso se relaciona intimamente com as pautas de diversidade e inclusão. Para além dos argumentos anteriormente apresentados, isso tem se tornado uma pauta ainda mais estratégica. Tem empresas, como a Suzano, emitindo títulos de crédito lastreados em metas ESG, de diversidade de gênero”, explica Gabriela.

Para Cristina Kerr, as empresas que não estiverem preparadas para lidar com a pauta ESG ficarão para trás. “Muitas olhavam só o E, que é o ambiental, e esquecia do social. Não são só as novas gerações que estão cobrando isso, são os clientes também.”

Outro movimento importante, segundo Gabriela Augusto, são os compromissos públicos assinados por empresas como Boticário, XP Investimentos e Natura. “São empresas que elegeram indicadores (de ESG e D&I) e em cima disso colocaram suas metas.”

Gabriela acrescenta a ressalva de que uma das mudanças importantes que não podem ser esquecidas é a pandemia. “Isso fez com que a gente não só saísse do presencial e fosse para o digital. Impactou a Transcendemos e empresas como a minha de algumas formas. Uma delas é: antes, a gente tinha que ir até a empresa fazer um evento, ficar o dia inteiro organizando. Era um pouco menos escalável. No digital, a gente consegue fazer seis palestras por dia, por pessoa. Outro ponto é que o home office fez com que a equipe estivesse em Salvador, em São Paulo, no interior. A gente não tem mais condições de ter um escritório, é irreversível."

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O aumento da demanda por diversidade e inclusão no mercado de trabalho fez com que os pequenos negócios que fornecem serviços a grandes empresas observassem um boom no número de clientes e no faturamento. São negócios que criam programas de diversidade para grandes corporações, ou em conjunto com elas, e fazem seleção de candidatos para promover inclusão de grupos minorizados nas equipes, num nicho que estourou do ano passado para cá, caso das consultorias CKZ Diversidade, Tree Diversidade e Transcendemos.

Na consultoria Transcendemos, fundada em 2017, o crescimento do último ano foi de 10 a 12 vezes o faturamento do ano anterior, conta a fundadora do negócio, Gabriela Augusto. Segundo ela, a empresa chega a receber 100 pedidos por mês de empresas que demandam diferentes tipos de serviço e solução para diversidade e inclusão.

“Foi um crescimento bem importante. Eu associo isso a duas coisas: de um lado, tivemos um aumento da credibilidade enquanto empresa. Eu recebi prêmios no LinkedIn, reconhecimentos, aumentamos nosso alcance nos canais de divulgação. Isso também fez com que nosso negócio tomasse mais força. Para além de um mérito nosso, também existe a mudança no contexto, das empresas estarem não só mais preocupadas, mas verem o senso de urgência (em promover inclusão)”, diz Gabriela.

Antes da pandemia, a equipe da Transcendemos contava com quatro pessoas. Atualmente, são 14 pessoas, trabalhando remotamente de diferentes lugares do Brasil.

Gabriela Augusto, fundadora da Transcendemos, consultoria de diversidade e inclusão que cresceu entre 10 e 12 vezes no último ano. Foto: Taba Benedicto/Estadão

No caso da Tree Diversidade, Letícia Rodrigues relata que em comparação a 2019 houve um crescimento de três vezes no faturamento. A carteira também triplicou, passando a ter 50 clientes. Por isso, a equipe de atendimento, entre consultores fixos, rotativos, temáticos e equipe de backoffice, também cresceu pouco mais de três vezes no período.

Recentemente, para além dos outros serviços oferecidos, a Tree lançou um produto chamado “Combo da Diversidade”, que conta com seis palestras, um kit com templates de imagens e pílulas de conteúdo, para atender as corporações. 

“A gente percebe que tem uma demanda de empresas que querem fazer as coisas, mas que precisam acelerar algumas questões. Pensando na pessoa que trabalha com D&I dentro da empresa, com o combo ela acaba perdendo menos tempo mapeando datas importantes (que já estão no calendário do combo), produzindo conteúdos e fazendo curadoria de palestrantes sobre o tema. A pessoa começa o ano com tudo mapeado. E aí ela pode dar um passo além: pensar na estratégia”, diz Letícia, que fundou a empresa em 2017.

Uma das pioneiras no mercado, desde 2008, a CKZ Diversidade diz ter crescido em torno de 40% no último ano, com demanda que levou a consultoria a ampliar a equipe. 

“Estamos treinando novas consultoras. A gente nunca fez tanta proposta na nossa vida. Por semana, são três, quatro propostas, às vezes até cinco. Eu falei que minha comercial está enlouquecida, de tanta proposta que está fazendo”, conta a CEO Cristina Kerr, que antes contava com cinco consultoras na equipe e agora contratou mais três, além de duas executivas de conta.

Letícia Rodrigues, sócia-fundadora da Tree Diversidade, especialista em diversidade e inclusão com experiência em projetos relacionados a gênero. Foto: Werther Santana/Estadão

Kerr conta que, quando começou a empresa, o cenário era muito desafiador. “A gente não tinha pesquisa que comprovasse que diversidade e inclusão traria resultado financeiro. A gente trabalhava a responsabilidade social. A primeira coisa que fiz foi o Fórum Mulheres em Destaque, para ter mais mulheres em cargos de liderança. Eu tive uma baita dificuldade, foi o primeiro fórum sobre o tema, em 2011. Nem minhas amigas do mercado corporativo queriam falar no evento.”

Para Gabriela Augusto, ainda que atuando há menos tempo no setor, as mudanças nos últimos anos são estrondosas. “Não imaginei que isso ia mudar tão rápido. Quatro anos não é tanto tempo assim. Naquela época (em 2017), quando eu procurava as organizações para conversar sobre D&I, as pessoas me falavam: ‘Por que eu devo falar de igualdade de gênero na minha empresa? Por que a questão LGBT é relevante para o meu negócio?’.”

ESG, George Floyd e pandemia

As especialistas enumeram acontecimentos que trouxeram senso de urgência da pauta da inclusão para as empresas e que fizeram crescer seus negócios. Exemplos são os casos de George Floyd, homem negro assassinado por um policial branco nos Estados Unidos, e o de João Alberto Silveira, homem negro morto por um segurança numa loja Carrefour em Porto Alegre. Neste ano, após longa repercussão do caso, o Carrefour pagou R$ 115 milhões de indenização, destinados a associações de combate ao racismo.

“A sociedade começou a falar mais sobre o tema, como o (movimento) Black Lives Matter, que acelerou muito o debate étnico-racial. Não como eu acho que deveria ter sido, mas acelerou. A pandemia também escancarou as diferenças, as desigualdades.”, pontua Letícia. 

Além disso, as especialistas apontam que a agenda ESG (com questões ambientais, sociais e de governança) também foi um impulsionador. “Agora, para todo lugar que você olha estão falando de ESG e isso se relaciona intimamente com as pautas de diversidade e inclusão. Para além dos argumentos anteriormente apresentados, isso tem se tornado uma pauta ainda mais estratégica. Tem empresas, como a Suzano, emitindo títulos de crédito lastreados em metas ESG, de diversidade de gênero”, explica Gabriela.

Para Cristina Kerr, as empresas que não estiverem preparadas para lidar com a pauta ESG ficarão para trás. “Muitas olhavam só o E, que é o ambiental, e esquecia do social. Não são só as novas gerações que estão cobrando isso, são os clientes também.”

Outro movimento importante, segundo Gabriela Augusto, são os compromissos públicos assinados por empresas como Boticário, XP Investimentos e Natura. “São empresas que elegeram indicadores (de ESG e D&I) e em cima disso colocaram suas metas.”

Gabriela acrescenta a ressalva de que uma das mudanças importantes que não podem ser esquecidas é a pandemia. “Isso fez com que a gente não só saísse do presencial e fosse para o digital. Impactou a Transcendemos e empresas como a minha de algumas formas. Uma delas é: antes, a gente tinha que ir até a empresa fazer um evento, ficar o dia inteiro organizando. Era um pouco menos escalável. No digital, a gente consegue fazer seis palestras por dia, por pessoa. Outro ponto é que o home office fez com que a equipe estivesse em Salvador, em São Paulo, no interior. A gente não tem mais condições de ter um escritório, é irreversível."

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Na consultoria Transcendemos, fundada em 2017, o crescimento do último ano foi de 10 a 12 vezes o faturamento do ano anterior, conta a fundadora do negócio, Gabriela Augusto. Segundo ela, a empresa chega a receber 100 pedidos por mês de empresas que demandam diferentes tipos de serviço e solução para diversidade e inclusão.

“Foi um crescimento bem importante. Eu associo isso a duas coisas: de um lado, tivemos um aumento da credibilidade enquanto empresa. Eu recebi prêmios no LinkedIn, reconhecimentos, aumentamos nosso alcance nos canais de divulgação. Isso também fez com que nosso negócio tomasse mais força. Para além de um mérito nosso, também existe a mudança no contexto, das empresas estarem não só mais preocupadas, mas verem o senso de urgência (em promover inclusão)”, diz Gabriela.

Antes da pandemia, a equipe da Transcendemos contava com quatro pessoas. Atualmente, são 14 pessoas, trabalhando remotamente de diferentes lugares do Brasil.

Gabriela Augusto, fundadora da Transcendemos, consultoria de diversidade e inclusão que cresceu entre 10 e 12 vezes no último ano. Foto: Taba Benedicto/Estadão

No caso da Tree Diversidade, Letícia Rodrigues relata que em comparação a 2019 houve um crescimento de três vezes no faturamento. A carteira também triplicou, passando a ter 50 clientes. Por isso, a equipe de atendimento, entre consultores fixos, rotativos, temáticos e equipe de backoffice, também cresceu pouco mais de três vezes no período.

Recentemente, para além dos outros serviços oferecidos, a Tree lançou um produto chamado “Combo da Diversidade”, que conta com seis palestras, um kit com templates de imagens e pílulas de conteúdo, para atender as corporações. 

“A gente percebe que tem uma demanda de empresas que querem fazer as coisas, mas que precisam acelerar algumas questões. Pensando na pessoa que trabalha com D&I dentro da empresa, com o combo ela acaba perdendo menos tempo mapeando datas importantes (que já estão no calendário do combo), produzindo conteúdos e fazendo curadoria de palestrantes sobre o tema. A pessoa começa o ano com tudo mapeado. E aí ela pode dar um passo além: pensar na estratégia”, diz Letícia, que fundou a empresa em 2017.

Uma das pioneiras no mercado, desde 2008, a CKZ Diversidade diz ter crescido em torno de 40% no último ano, com demanda que levou a consultoria a ampliar a equipe. 

“Estamos treinando novas consultoras. A gente nunca fez tanta proposta na nossa vida. Por semana, são três, quatro propostas, às vezes até cinco. Eu falei que minha comercial está enlouquecida, de tanta proposta que está fazendo”, conta a CEO Cristina Kerr, que antes contava com cinco consultoras na equipe e agora contratou mais três, além de duas executivas de conta.

Letícia Rodrigues, sócia-fundadora da Tree Diversidade, especialista em diversidade e inclusão com experiência em projetos relacionados a gênero. Foto: Werther Santana/Estadão

Kerr conta que, quando começou a empresa, o cenário era muito desafiador. “A gente não tinha pesquisa que comprovasse que diversidade e inclusão traria resultado financeiro. A gente trabalhava a responsabilidade social. A primeira coisa que fiz foi o Fórum Mulheres em Destaque, para ter mais mulheres em cargos de liderança. Eu tive uma baita dificuldade, foi o primeiro fórum sobre o tema, em 2011. Nem minhas amigas do mercado corporativo queriam falar no evento.”

Para Gabriela Augusto, ainda que atuando há menos tempo no setor, as mudanças nos últimos anos são estrondosas. “Não imaginei que isso ia mudar tão rápido. Quatro anos não é tanto tempo assim. Naquela época (em 2017), quando eu procurava as organizações para conversar sobre D&I, as pessoas me falavam: ‘Por que eu devo falar de igualdade de gênero na minha empresa? Por que a questão LGBT é relevante para o meu negócio?’.”

ESG, George Floyd e pandemia

As especialistas enumeram acontecimentos que trouxeram senso de urgência da pauta da inclusão para as empresas e que fizeram crescer seus negócios. Exemplos são os casos de George Floyd, homem negro assassinado por um policial branco nos Estados Unidos, e o de João Alberto Silveira, homem negro morto por um segurança numa loja Carrefour em Porto Alegre. Neste ano, após longa repercussão do caso, o Carrefour pagou R$ 115 milhões de indenização, destinados a associações de combate ao racismo.

“A sociedade começou a falar mais sobre o tema, como o (movimento) Black Lives Matter, que acelerou muito o debate étnico-racial. Não como eu acho que deveria ter sido, mas acelerou. A pandemia também escancarou as diferenças, as desigualdades.”, pontua Letícia. 

Além disso, as especialistas apontam que a agenda ESG (com questões ambientais, sociais e de governança) também foi um impulsionador. “Agora, para todo lugar que você olha estão falando de ESG e isso se relaciona intimamente com as pautas de diversidade e inclusão. Para além dos argumentos anteriormente apresentados, isso tem se tornado uma pauta ainda mais estratégica. Tem empresas, como a Suzano, emitindo títulos de crédito lastreados em metas ESG, de diversidade de gênero”, explica Gabriela.

Para Cristina Kerr, as empresas que não estiverem preparadas para lidar com a pauta ESG ficarão para trás. “Muitas olhavam só o E, que é o ambiental, e esquecia do social. Não são só as novas gerações que estão cobrando isso, são os clientes também.”

Outro movimento importante, segundo Gabriela Augusto, são os compromissos públicos assinados por empresas como Boticário, XP Investimentos e Natura. “São empresas que elegeram indicadores (de ESG e D&I) e em cima disso colocaram suas metas.”

Gabriela acrescenta a ressalva de que uma das mudanças importantes que não podem ser esquecidas é a pandemia. “Isso fez com que a gente não só saísse do presencial e fosse para o digital. Impactou a Transcendemos e empresas como a minha de algumas formas. Uma delas é: antes, a gente tinha que ir até a empresa fazer um evento, ficar o dia inteiro organizando. Era um pouco menos escalável. No digital, a gente consegue fazer seis palestras por dia, por pessoa. Outro ponto é que o home office fez com que a equipe estivesse em Salvador, em São Paulo, no interior. A gente não tem mais condições de ter um escritório, é irreversível."

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