Dólar valorizado dá empurrão a destilados nacionais com exportação


Com bares fechados e importados mais caros, negócios de gim veem brecha na exportação e na venda direta ao consumidor; para especialista, momento ajuda valorização nacional

Por Ana Paula Boni

A novela do dólar valorizado no Brasil se desenrola há meses, sem sinal de trégua. Em outubro do ano passado, passou dos R$ 4 e de lá não desceu mais - chegou a R$ 5,88 em maio e, agora, segue em torno de R$ 5,60. Se a notícia é ruim para empreendedores que trabalham com importados, a moeda nacional em baixa somada ao fechamento temporário de bares e restaurantes mostraram novas saídas para marcas nacionais de bebidas, especialmente o gim - mercado jovem que cinco anos atrás não existia no País.

Do mesmo jeito que outros pequenos negócios viram alternativa na pandemia com a venda direta ao consumidor final, os destilados passaram a competir nas prateleiras de empórios e supermercados com produtos importados, que agora estão mais caros. Além disso, ganharam a vantagem extra de poder brigar em mercados internacionais e fazer exportação a preços mais competitivos com o real desvalorizado.

Na Casa Santa Luzia, tradicional empório de São Paulo que conta com mais de 31 mil itens cadastrados, há cerca de 650 rótulos de destilados, sendo 85% importados. De acordo com Juliano Henrique Soares, gestor da Adega, os repasses do dólar nos produtos importados não ocorrem na mesma proporção da desvalorização cambial, mas em sua maioria já foram repassados pelos fornecedores e vêm tomando as prateleiras gradualmente, tornando esses produtos mais caros.

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Enquanto isso, diz Soares, no último ano as marcas nacionais de destilados mais do que dobraram no portfólio do empório, com destaque para gim, cachaça e drinques prontos. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) não informa o número de destilarias divididas pela produção de cachaça ou gim, mas o mercado estima mais de 150 marcas nacionais de gim atualmente.

Duas novidades nas prateleiras do Santa Luzia são parte da expansão do gim mineiro YVY, que nasceu em 2018 com a garrafa Mar e, no meio da pandemia, lançou outras duas versões, Terra e Ar. As três garrafas da trilogia integram o portfólio do empório, assim como estão distribuídas em outros endereços e cidades, principalmente em Belo Horizonte, principal mercado. Em 2019, a empresa faturou cerca de R$ 4,5 milhões.

André Sá Fortes, sócio-fundador do gim mineiro YVY: força nos supermercados. Foto: Juliano Arantes
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Segundo o sócio-fundador André Sá Fortes, o foco da marca nas prateleiras de empórios (70% do faturamento, sendo 30% em bares e restaurantes) ajudou a segurar as contas com o isolamento social, mesmo com uma queda nas vendas nos primeiros meses. Ainda, diz, a chegada da pandemia do novo coronavírus fez a estratégia de lançamento com degustações presenciais ser abortada e as vendas digitais ganharem peso maior.

“A gente teve que intensificar as redes sociais, com foco em brand awareness (reconhecimento de marca). Realocamos verba para o marketing e o comercial, e hoje temos clientes até no interior do Rio Grande do Sul”, conta Fortes. A marca, que vendia 10 mil garrafas por mês no período pré-pandemia, chegou em julho a 13 mil garrafas (com os três rótulos) e a expectativa é chegar ao fim do ano com 20 mil garrafas/mês. Segundo ele, o próximo passo, no começo de 2021, é organizar a exportação.

Realizado virtualmente em junho, o evento Business Connections Brazil - Food and Beverage, focado em alimentos e bebidas, registrou 670 reuniões de empreendedores brasileiros com compradores estrangeiros. Segundo dados da Apex-Brasil, que promoveu o evento ao lado do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Sebrae, foram fechados negócios de exportação no setor que somam US$ 28,7 milhões, com expectativa de vendas nos próximos 12 meses que devem somar US$ 150, 8 milhões.

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Exportação e reconhecimento da qualidade local

Outras pequenas e médias marcas de gim nacional que também impulsionaram a exportação foram Amázzoni e Virga. No caso do Amázzoni, o modelo de negócios não estava tão focado em supermercados antes da pandemia - 80% do faturamento vinham de bares e restaurantes. Outros 10% estavam em empórios e 10% com exportação para três países. Com a restrição de funcionamento do comércio, o jeito foi intensificar as frentes minoritárias.

Alexandre Mazza (à esq.) e Arturo Isola, sócios do gim Amázzoni. Foto: Leonardo Ramadinha
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“Com o lockdown, pegamos vendedores que estavam no dia a dia de bares para vender em supermercados, fortalecer marketplaces. Em cinco meses, o off trade era 10% e subiu para 30%. A exportação ganhou cinco novos países e foi de 10% a 20%”, conta o sócio-fundador Arturo Isola, que atende hoje 22 Estados. No ano passado, a marca vendeu 220 mil garrafas e faturou R$ 8 milhões - a projeção para este ano, calculada antes da pandemia, era de 330 mil garrafas.

Para o empreendedor, uma vantagem veio com a exportação, além da venda em si. “Nosso produto lá fora é muito mais valorizado do que no Brasil, porque o mercado estrangeiro sabe reconhecer e pagar pela qualidade.”

Segundo a consultora Renata Cruz, que toca a empresa de conteúdo de gestão Foodness e ajuda a dar vida a bares e restaurantes, o movimento do “compre local” intensificado com a pandemia pode ajudar o mercado nacional de destilados, entre outras vantagens.

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“Quem faz conta vai ver primeiro a diferença do importado, que custa o dobro. E manter estabilidade de preços num negócio é coisa complexa. Quando você elimina a flutuação dos insumos já é um baita ganho para a operação”, diz ela. “Além disso, a gente (produto brasileiro) tem conceito e um baita produto. Não tem cabimento trabalhar com importado.”

Felipe Januzzi (à dir.) e outros sócios do gim Virga, um dos pioneiros do País, lançado em 2016. Foto: Divulgação

Juliano Henrique Soares, gestor da Adega do Santa Luzia, vê a evolução do movimento no dia a dia de compras. “O impacto cambial contribui para a busca pelo produto nacional, mas acreditamos que outro principal motivo é a evolução da qualidade no Brasil. Não é à toa que diversos destilados brasileiros receberam prêmios internacionais nos últimos anos.”

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Um desses premiados é o Virga, um dos pioneiros no Brasil, lançado em 2016 e que fez sua primeira exportação no meio da pandemia. Segundo o sócio Felipe Januzzi, que tinha 80% do faturamento voltado a bares e restaurantes, o Virga foi selecionado por uma empresa da Dinamarca para integrar uma caixa especial com gins do mundo inteiro. Serão 40 mil caixas, cada uma com um Virga pela Europa.

Idealizador do Mapa da Cachaça e cofundador da distribuidora Ethylica, ao lado de Karen Guedes, Januzzi aposta na curadoria de produtos nacionais - e vende até uísque produzido em Santa Catarina.

“Acho que esse vai ser o momento de valorização dos nacionais, do que é nosso. Além disso, temos distribuidoras especializadas em vinhos, mas não muito em destilados. Queremos ajudar a criar demanda no mercado.”

A novela do dólar valorizado no Brasil se desenrola há meses, sem sinal de trégua. Em outubro do ano passado, passou dos R$ 4 e de lá não desceu mais - chegou a R$ 5,88 em maio e, agora, segue em torno de R$ 5,60. Se a notícia é ruim para empreendedores que trabalham com importados, a moeda nacional em baixa somada ao fechamento temporário de bares e restaurantes mostraram novas saídas para marcas nacionais de bebidas, especialmente o gim - mercado jovem que cinco anos atrás não existia no País.

Do mesmo jeito que outros pequenos negócios viram alternativa na pandemia com a venda direta ao consumidor final, os destilados passaram a competir nas prateleiras de empórios e supermercados com produtos importados, que agora estão mais caros. Além disso, ganharam a vantagem extra de poder brigar em mercados internacionais e fazer exportação a preços mais competitivos com o real desvalorizado.

Na Casa Santa Luzia, tradicional empório de São Paulo que conta com mais de 31 mil itens cadastrados, há cerca de 650 rótulos de destilados, sendo 85% importados. De acordo com Juliano Henrique Soares, gestor da Adega, os repasses do dólar nos produtos importados não ocorrem na mesma proporção da desvalorização cambial, mas em sua maioria já foram repassados pelos fornecedores e vêm tomando as prateleiras gradualmente, tornando esses produtos mais caros.

Enquanto isso, diz Soares, no último ano as marcas nacionais de destilados mais do que dobraram no portfólio do empório, com destaque para gim, cachaça e drinques prontos. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) não informa o número de destilarias divididas pela produção de cachaça ou gim, mas o mercado estima mais de 150 marcas nacionais de gim atualmente.

Duas novidades nas prateleiras do Santa Luzia são parte da expansão do gim mineiro YVY, que nasceu em 2018 com a garrafa Mar e, no meio da pandemia, lançou outras duas versões, Terra e Ar. As três garrafas da trilogia integram o portfólio do empório, assim como estão distribuídas em outros endereços e cidades, principalmente em Belo Horizonte, principal mercado. Em 2019, a empresa faturou cerca de R$ 4,5 milhões.

André Sá Fortes, sócio-fundador do gim mineiro YVY: força nos supermercados. Foto: Juliano Arantes

Segundo o sócio-fundador André Sá Fortes, o foco da marca nas prateleiras de empórios (70% do faturamento, sendo 30% em bares e restaurantes) ajudou a segurar as contas com o isolamento social, mesmo com uma queda nas vendas nos primeiros meses. Ainda, diz, a chegada da pandemia do novo coronavírus fez a estratégia de lançamento com degustações presenciais ser abortada e as vendas digitais ganharem peso maior.

“A gente teve que intensificar as redes sociais, com foco em brand awareness (reconhecimento de marca). Realocamos verba para o marketing e o comercial, e hoje temos clientes até no interior do Rio Grande do Sul”, conta Fortes. A marca, que vendia 10 mil garrafas por mês no período pré-pandemia, chegou em julho a 13 mil garrafas (com os três rótulos) e a expectativa é chegar ao fim do ano com 20 mil garrafas/mês. Segundo ele, o próximo passo, no começo de 2021, é organizar a exportação.

Realizado virtualmente em junho, o evento Business Connections Brazil - Food and Beverage, focado em alimentos e bebidas, registrou 670 reuniões de empreendedores brasileiros com compradores estrangeiros. Segundo dados da Apex-Brasil, que promoveu o evento ao lado do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Sebrae, foram fechados negócios de exportação no setor que somam US$ 28,7 milhões, com expectativa de vendas nos próximos 12 meses que devem somar US$ 150, 8 milhões.

Exportação e reconhecimento da qualidade local

Outras pequenas e médias marcas de gim nacional que também impulsionaram a exportação foram Amázzoni e Virga. No caso do Amázzoni, o modelo de negócios não estava tão focado em supermercados antes da pandemia - 80% do faturamento vinham de bares e restaurantes. Outros 10% estavam em empórios e 10% com exportação para três países. Com a restrição de funcionamento do comércio, o jeito foi intensificar as frentes minoritárias.

Alexandre Mazza (à esq.) e Arturo Isola, sócios do gim Amázzoni. Foto: Leonardo Ramadinha

“Com o lockdown, pegamos vendedores que estavam no dia a dia de bares para vender em supermercados, fortalecer marketplaces. Em cinco meses, o off trade era 10% e subiu para 30%. A exportação ganhou cinco novos países e foi de 10% a 20%”, conta o sócio-fundador Arturo Isola, que atende hoje 22 Estados. No ano passado, a marca vendeu 220 mil garrafas e faturou R$ 8 milhões - a projeção para este ano, calculada antes da pandemia, era de 330 mil garrafas.

Para o empreendedor, uma vantagem veio com a exportação, além da venda em si. “Nosso produto lá fora é muito mais valorizado do que no Brasil, porque o mercado estrangeiro sabe reconhecer e pagar pela qualidade.”

Segundo a consultora Renata Cruz, que toca a empresa de conteúdo de gestão Foodness e ajuda a dar vida a bares e restaurantes, o movimento do “compre local” intensificado com a pandemia pode ajudar o mercado nacional de destilados, entre outras vantagens.

“Quem faz conta vai ver primeiro a diferença do importado, que custa o dobro. E manter estabilidade de preços num negócio é coisa complexa. Quando você elimina a flutuação dos insumos já é um baita ganho para a operação”, diz ela. “Além disso, a gente (produto brasileiro) tem conceito e um baita produto. Não tem cabimento trabalhar com importado.”

Felipe Januzzi (à dir.) e outros sócios do gim Virga, um dos pioneiros do País, lançado em 2016. Foto: Divulgação

Juliano Henrique Soares, gestor da Adega do Santa Luzia, vê a evolução do movimento no dia a dia de compras. “O impacto cambial contribui para a busca pelo produto nacional, mas acreditamos que outro principal motivo é a evolução da qualidade no Brasil. Não é à toa que diversos destilados brasileiros receberam prêmios internacionais nos últimos anos.”

Um desses premiados é o Virga, um dos pioneiros no Brasil, lançado em 2016 e que fez sua primeira exportação no meio da pandemia. Segundo o sócio Felipe Januzzi, que tinha 80% do faturamento voltado a bares e restaurantes, o Virga foi selecionado por uma empresa da Dinamarca para integrar uma caixa especial com gins do mundo inteiro. Serão 40 mil caixas, cada uma com um Virga pela Europa.

Idealizador do Mapa da Cachaça e cofundador da distribuidora Ethylica, ao lado de Karen Guedes, Januzzi aposta na curadoria de produtos nacionais - e vende até uísque produzido em Santa Catarina.

“Acho que esse vai ser o momento de valorização dos nacionais, do que é nosso. Além disso, temos distribuidoras especializadas em vinhos, mas não muito em destilados. Queremos ajudar a criar demanda no mercado.”

A novela do dólar valorizado no Brasil se desenrola há meses, sem sinal de trégua. Em outubro do ano passado, passou dos R$ 4 e de lá não desceu mais - chegou a R$ 5,88 em maio e, agora, segue em torno de R$ 5,60. Se a notícia é ruim para empreendedores que trabalham com importados, a moeda nacional em baixa somada ao fechamento temporário de bares e restaurantes mostraram novas saídas para marcas nacionais de bebidas, especialmente o gim - mercado jovem que cinco anos atrás não existia no País.

Do mesmo jeito que outros pequenos negócios viram alternativa na pandemia com a venda direta ao consumidor final, os destilados passaram a competir nas prateleiras de empórios e supermercados com produtos importados, que agora estão mais caros. Além disso, ganharam a vantagem extra de poder brigar em mercados internacionais e fazer exportação a preços mais competitivos com o real desvalorizado.

Na Casa Santa Luzia, tradicional empório de São Paulo que conta com mais de 31 mil itens cadastrados, há cerca de 650 rótulos de destilados, sendo 85% importados. De acordo com Juliano Henrique Soares, gestor da Adega, os repasses do dólar nos produtos importados não ocorrem na mesma proporção da desvalorização cambial, mas em sua maioria já foram repassados pelos fornecedores e vêm tomando as prateleiras gradualmente, tornando esses produtos mais caros.

Enquanto isso, diz Soares, no último ano as marcas nacionais de destilados mais do que dobraram no portfólio do empório, com destaque para gim, cachaça e drinques prontos. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) não informa o número de destilarias divididas pela produção de cachaça ou gim, mas o mercado estima mais de 150 marcas nacionais de gim atualmente.

Duas novidades nas prateleiras do Santa Luzia são parte da expansão do gim mineiro YVY, que nasceu em 2018 com a garrafa Mar e, no meio da pandemia, lançou outras duas versões, Terra e Ar. As três garrafas da trilogia integram o portfólio do empório, assim como estão distribuídas em outros endereços e cidades, principalmente em Belo Horizonte, principal mercado. Em 2019, a empresa faturou cerca de R$ 4,5 milhões.

André Sá Fortes, sócio-fundador do gim mineiro YVY: força nos supermercados. Foto: Juliano Arantes

Segundo o sócio-fundador André Sá Fortes, o foco da marca nas prateleiras de empórios (70% do faturamento, sendo 30% em bares e restaurantes) ajudou a segurar as contas com o isolamento social, mesmo com uma queda nas vendas nos primeiros meses. Ainda, diz, a chegada da pandemia do novo coronavírus fez a estratégia de lançamento com degustações presenciais ser abortada e as vendas digitais ganharem peso maior.

“A gente teve que intensificar as redes sociais, com foco em brand awareness (reconhecimento de marca). Realocamos verba para o marketing e o comercial, e hoje temos clientes até no interior do Rio Grande do Sul”, conta Fortes. A marca, que vendia 10 mil garrafas por mês no período pré-pandemia, chegou em julho a 13 mil garrafas (com os três rótulos) e a expectativa é chegar ao fim do ano com 20 mil garrafas/mês. Segundo ele, o próximo passo, no começo de 2021, é organizar a exportação.

Realizado virtualmente em junho, o evento Business Connections Brazil - Food and Beverage, focado em alimentos e bebidas, registrou 670 reuniões de empreendedores brasileiros com compradores estrangeiros. Segundo dados da Apex-Brasil, que promoveu o evento ao lado do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Sebrae, foram fechados negócios de exportação no setor que somam US$ 28,7 milhões, com expectativa de vendas nos próximos 12 meses que devem somar US$ 150, 8 milhões.

Exportação e reconhecimento da qualidade local

Outras pequenas e médias marcas de gim nacional que também impulsionaram a exportação foram Amázzoni e Virga. No caso do Amázzoni, o modelo de negócios não estava tão focado em supermercados antes da pandemia - 80% do faturamento vinham de bares e restaurantes. Outros 10% estavam em empórios e 10% com exportação para três países. Com a restrição de funcionamento do comércio, o jeito foi intensificar as frentes minoritárias.

Alexandre Mazza (à esq.) e Arturo Isola, sócios do gim Amázzoni. Foto: Leonardo Ramadinha

“Com o lockdown, pegamos vendedores que estavam no dia a dia de bares para vender em supermercados, fortalecer marketplaces. Em cinco meses, o off trade era 10% e subiu para 30%. A exportação ganhou cinco novos países e foi de 10% a 20%”, conta o sócio-fundador Arturo Isola, que atende hoje 22 Estados. No ano passado, a marca vendeu 220 mil garrafas e faturou R$ 8 milhões - a projeção para este ano, calculada antes da pandemia, era de 330 mil garrafas.

Para o empreendedor, uma vantagem veio com a exportação, além da venda em si. “Nosso produto lá fora é muito mais valorizado do que no Brasil, porque o mercado estrangeiro sabe reconhecer e pagar pela qualidade.”

Segundo a consultora Renata Cruz, que toca a empresa de conteúdo de gestão Foodness e ajuda a dar vida a bares e restaurantes, o movimento do “compre local” intensificado com a pandemia pode ajudar o mercado nacional de destilados, entre outras vantagens.

“Quem faz conta vai ver primeiro a diferença do importado, que custa o dobro. E manter estabilidade de preços num negócio é coisa complexa. Quando você elimina a flutuação dos insumos já é um baita ganho para a operação”, diz ela. “Além disso, a gente (produto brasileiro) tem conceito e um baita produto. Não tem cabimento trabalhar com importado.”

Felipe Januzzi (à dir.) e outros sócios do gim Virga, um dos pioneiros do País, lançado em 2016. Foto: Divulgação

Juliano Henrique Soares, gestor da Adega do Santa Luzia, vê a evolução do movimento no dia a dia de compras. “O impacto cambial contribui para a busca pelo produto nacional, mas acreditamos que outro principal motivo é a evolução da qualidade no Brasil. Não é à toa que diversos destilados brasileiros receberam prêmios internacionais nos últimos anos.”

Um desses premiados é o Virga, um dos pioneiros no Brasil, lançado em 2016 e que fez sua primeira exportação no meio da pandemia. Segundo o sócio Felipe Januzzi, que tinha 80% do faturamento voltado a bares e restaurantes, o Virga foi selecionado por uma empresa da Dinamarca para integrar uma caixa especial com gins do mundo inteiro. Serão 40 mil caixas, cada uma com um Virga pela Europa.

Idealizador do Mapa da Cachaça e cofundador da distribuidora Ethylica, ao lado de Karen Guedes, Januzzi aposta na curadoria de produtos nacionais - e vende até uísque produzido em Santa Catarina.

“Acho que esse vai ser o momento de valorização dos nacionais, do que é nosso. Além disso, temos distribuidoras especializadas em vinhos, mas não muito em destilados. Queremos ajudar a criar demanda no mercado.”

A novela do dólar valorizado no Brasil se desenrola há meses, sem sinal de trégua. Em outubro do ano passado, passou dos R$ 4 e de lá não desceu mais - chegou a R$ 5,88 em maio e, agora, segue em torno de R$ 5,60. Se a notícia é ruim para empreendedores que trabalham com importados, a moeda nacional em baixa somada ao fechamento temporário de bares e restaurantes mostraram novas saídas para marcas nacionais de bebidas, especialmente o gim - mercado jovem que cinco anos atrás não existia no País.

Do mesmo jeito que outros pequenos negócios viram alternativa na pandemia com a venda direta ao consumidor final, os destilados passaram a competir nas prateleiras de empórios e supermercados com produtos importados, que agora estão mais caros. Além disso, ganharam a vantagem extra de poder brigar em mercados internacionais e fazer exportação a preços mais competitivos com o real desvalorizado.

Na Casa Santa Luzia, tradicional empório de São Paulo que conta com mais de 31 mil itens cadastrados, há cerca de 650 rótulos de destilados, sendo 85% importados. De acordo com Juliano Henrique Soares, gestor da Adega, os repasses do dólar nos produtos importados não ocorrem na mesma proporção da desvalorização cambial, mas em sua maioria já foram repassados pelos fornecedores e vêm tomando as prateleiras gradualmente, tornando esses produtos mais caros.

Enquanto isso, diz Soares, no último ano as marcas nacionais de destilados mais do que dobraram no portfólio do empório, com destaque para gim, cachaça e drinques prontos. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) não informa o número de destilarias divididas pela produção de cachaça ou gim, mas o mercado estima mais de 150 marcas nacionais de gim atualmente.

Duas novidades nas prateleiras do Santa Luzia são parte da expansão do gim mineiro YVY, que nasceu em 2018 com a garrafa Mar e, no meio da pandemia, lançou outras duas versões, Terra e Ar. As três garrafas da trilogia integram o portfólio do empório, assim como estão distribuídas em outros endereços e cidades, principalmente em Belo Horizonte, principal mercado. Em 2019, a empresa faturou cerca de R$ 4,5 milhões.

André Sá Fortes, sócio-fundador do gim mineiro YVY: força nos supermercados. Foto: Juliano Arantes

Segundo o sócio-fundador André Sá Fortes, o foco da marca nas prateleiras de empórios (70% do faturamento, sendo 30% em bares e restaurantes) ajudou a segurar as contas com o isolamento social, mesmo com uma queda nas vendas nos primeiros meses. Ainda, diz, a chegada da pandemia do novo coronavírus fez a estratégia de lançamento com degustações presenciais ser abortada e as vendas digitais ganharem peso maior.

“A gente teve que intensificar as redes sociais, com foco em brand awareness (reconhecimento de marca). Realocamos verba para o marketing e o comercial, e hoje temos clientes até no interior do Rio Grande do Sul”, conta Fortes. A marca, que vendia 10 mil garrafas por mês no período pré-pandemia, chegou em julho a 13 mil garrafas (com os três rótulos) e a expectativa é chegar ao fim do ano com 20 mil garrafas/mês. Segundo ele, o próximo passo, no começo de 2021, é organizar a exportação.

Realizado virtualmente em junho, o evento Business Connections Brazil - Food and Beverage, focado em alimentos e bebidas, registrou 670 reuniões de empreendedores brasileiros com compradores estrangeiros. Segundo dados da Apex-Brasil, que promoveu o evento ao lado do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Sebrae, foram fechados negócios de exportação no setor que somam US$ 28,7 milhões, com expectativa de vendas nos próximos 12 meses que devem somar US$ 150, 8 milhões.

Exportação e reconhecimento da qualidade local

Outras pequenas e médias marcas de gim nacional que também impulsionaram a exportação foram Amázzoni e Virga. No caso do Amázzoni, o modelo de negócios não estava tão focado em supermercados antes da pandemia - 80% do faturamento vinham de bares e restaurantes. Outros 10% estavam em empórios e 10% com exportação para três países. Com a restrição de funcionamento do comércio, o jeito foi intensificar as frentes minoritárias.

Alexandre Mazza (à esq.) e Arturo Isola, sócios do gim Amázzoni. Foto: Leonardo Ramadinha

“Com o lockdown, pegamos vendedores que estavam no dia a dia de bares para vender em supermercados, fortalecer marketplaces. Em cinco meses, o off trade era 10% e subiu para 30%. A exportação ganhou cinco novos países e foi de 10% a 20%”, conta o sócio-fundador Arturo Isola, que atende hoje 22 Estados. No ano passado, a marca vendeu 220 mil garrafas e faturou R$ 8 milhões - a projeção para este ano, calculada antes da pandemia, era de 330 mil garrafas.

Para o empreendedor, uma vantagem veio com a exportação, além da venda em si. “Nosso produto lá fora é muito mais valorizado do que no Brasil, porque o mercado estrangeiro sabe reconhecer e pagar pela qualidade.”

Segundo a consultora Renata Cruz, que toca a empresa de conteúdo de gestão Foodness e ajuda a dar vida a bares e restaurantes, o movimento do “compre local” intensificado com a pandemia pode ajudar o mercado nacional de destilados, entre outras vantagens.

“Quem faz conta vai ver primeiro a diferença do importado, que custa o dobro. E manter estabilidade de preços num negócio é coisa complexa. Quando você elimina a flutuação dos insumos já é um baita ganho para a operação”, diz ela. “Além disso, a gente (produto brasileiro) tem conceito e um baita produto. Não tem cabimento trabalhar com importado.”

Felipe Januzzi (à dir.) e outros sócios do gim Virga, um dos pioneiros do País, lançado em 2016. Foto: Divulgação

Juliano Henrique Soares, gestor da Adega do Santa Luzia, vê a evolução do movimento no dia a dia de compras. “O impacto cambial contribui para a busca pelo produto nacional, mas acreditamos que outro principal motivo é a evolução da qualidade no Brasil. Não é à toa que diversos destilados brasileiros receberam prêmios internacionais nos últimos anos.”

Um desses premiados é o Virga, um dos pioneiros no Brasil, lançado em 2016 e que fez sua primeira exportação no meio da pandemia. Segundo o sócio Felipe Januzzi, que tinha 80% do faturamento voltado a bares e restaurantes, o Virga foi selecionado por uma empresa da Dinamarca para integrar uma caixa especial com gins do mundo inteiro. Serão 40 mil caixas, cada uma com um Virga pela Europa.

Idealizador do Mapa da Cachaça e cofundador da distribuidora Ethylica, ao lado de Karen Guedes, Januzzi aposta na curadoria de produtos nacionais - e vende até uísque produzido em Santa Catarina.

“Acho que esse vai ser o momento de valorização dos nacionais, do que é nosso. Além disso, temos distribuidoras especializadas em vinhos, mas não muito em destilados. Queremos ajudar a criar demanda no mercado.”

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