Durante os dez anos de atuação como advogado, o empresário Paulo Ribas Taques sempre teve o sonho de investir em franquias. Foi com a gravidez da esposa e em meio ao trabalho remoto na pandemia que decidiu unir esse desejo antigo com a necessidade de levantar mais dinheiro para a família. “A minha ideia era manter o meu emprego fixo em escritório de Curitiba (PR) e ter uma renda a mais com a franquia”, afirma.
Ele optou por abrir cinco unidades da rede de mercados autônomos Market4u, que tem foco em instalações em condomínios e centros comerciais. Com a ajuda de um funcionário de confiança, conciliou o trabalho com a gestão das unidades e logística de entregas durante quase dois anos. Ajudava no abastecimento das unidades fora do horário do expediente e monitorava o funcionamento pelo sistema de câmeras.
Com o pedidos do escritório para o retorno ao trabalho presencial, Taques viu uma oportunidade de priorizar a própria empresa e ainda passar mais tempo com a família. “Hoje a advocacia virou meu extra, que era a ideia que eu tinha com a Market4u no começo”, conta, ao mencionar os trabalhos esporádicos que ainda presta como advogado.
Especialistas falam dos cuidados para conciliar atividades
Especialistas ouvidos pelo Estadão afirmam que, a depender do modelo de franquia e perfil do franqueado, é possível conciliar a gestão com o emprego fixo, mas é preciso cuidado e atenção: a dedicação com o negócio é fundamental para o sucesso da marca.
“É possível para alguns tipos de negócio”, afirma Leonardo Castelo, CEO do Grupo 300 Ecossistema de Alto Impacto. Ele diz que o modelo pode funcionar para modalidades autônomas e com foco na gestão remota, mas que o ideal é o empreendedor se dedicar totalmente à gestão da franquia.
“O resultado será proporcional à quantidade de horas em que você se dedicar”, afirma. Para modelos de marcas com mais do que cinco funcionários, Castelo afirma não ser recomendado a gestão do negócio compartilhada com outra ocupação sem a presença do empreendedor no dia a dia da operação.
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Com um plano de negócios já definido e testado, as franquias são um ponto de partida para muitos empreendedores de primeira viagem.
As empresas têm pensado cada vez mais em facilitar a vida dos franqueados iniciantes, para possibilitar que as pessoas adquiram o know how e o direito de usar a marca sem ter de deixar o emprego fixo - seja como um primeiro teste ou como um complemento de renda.
Ao mesmo tempo, não se pode cair na armadilha de acreditar que o processo será fácil e de que não haverá exigência de dedicação por parte do empresário.
“O franqueado tem o desafio de aplicar todos aqueles conceitos, aquelas metodologias e know how que vão ser repassados pelo franqueador”, explica a analista da Unidade de Competitividade do Sebrae Nacional Karen Sitta.
Para ela, adquirir uma franquia e dividir atenção com um emprego assalariado pode ser possível, desde que feito com muito planejamento - seja com um sócio ou funcionários de confiança. “Não é o ideal, mas, se for o caso, é melhor se for com uma área que já conheça, tenha familiaridade”, completa.
Marcas têm modelos para quem possui trabalho fixo
Esta possibilidade de atrair potenciais empreendedores que tivessem outras ocupações foi um dos focos da Market4u desde a criação, conta Sandro Wuicik, cofundador e diretor de expansão da empresa.
“A gente percebeu que, se quiséssemos alguém integralmente dedicado, perderíamos pessoas com experiências que agregam valor à rede”, conta. A Market4u também faz parcerias com os próprios franqueados que são especialistas em áreas específicas para prestação de consultoria à empresa. “O maior ativo de uma franquia é a rede de franqueados”, conclui.
Outras marcas também têm modelos de negócio voltados justamente para este público que já possui um trabalho fixo. Com opções de preços a partir de R$ 6,5 mil na franquia home based (que pode ser estruturada de casa), a Mr. Fit disponibiliza um freezer com marmitas saudáveis congeladas. O franqueado não faz a comida. O seu trabalho é prospectar clientes, que costumam comprar por meio de encomendas.
“Esse modelo foi criado pensando nesse público, para ser uma renda extra. Seja para quem é CLT, seja para quem está desempregado”, explica a CEO da marca, Camila Miglhorini.
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A Mais1Café segue a mesma lógica. A cafeteria costuma ter dois funcionários, um por turno, que é o barista que vai preparar o pedido do cliente. O negócio, conta o sócio-fundador e diretor jurídico e de projetos da marca, Hilston Guerim, foi estruturado para que a pessoa consiga conciliar a vida de funcionário e de empreendedor.
“Isso foi uma realidade minha por um tempo. Só que, na época, comprei uma marca que não tinha muita estrutura para permitir essa prática, e eu tinha que me desdobrar demais. A nossa gestão, hoje, pode ser feita de maneira remota, por exemplo, para facilitar essa parte”, diz.
Na linha de empresas que oferecem serviços autônomos, a Lavô, rede de lavanderias self-service, visa atender justamente ao público que não tem tanto tempo para a rotina do dia a dia. “Me arrisco a falar que cerca de 80% da rede trabalha com com uma outra coisa, sem ser a Lavô.
A gente também tem casos de franqueados que começaram com uma unidade, deram certo, abriram a segunda, a terceira e se desvincularam do emprego CLT. Mas a maioria permanece trabalhando no emprego (e tendo a franquia)”, comenta o CEO da Lavô, Angelo Max Donaton.
Confira a seguir quatro opções de franquias para conciliar com o trabalho fixo. Os dados são fornecidos pelas empresas:
Mr. Fit
Rede de marmitas saudáveis congeladas. A empresa disponibiliza um freezer com os produtos congelados, e o franqueado tem o trabalho de prospectar clientes.
- Investimento inicial: R$ 6,5 mil
- Faturamento médio mensal: de R$ 4 mil a R$ 20 mil
- Lucro médio mensal: de 20% a 30%
- Prazo estimado de retorno: de 4 a 8 meses
- Prazo de contrato: 5 anos
A rede não cobra royalties mensais. Os dados se referem à linha de franquias home based.
Market4u
Rede de supermercados autônomos, onde o franqueado fica responsável pelo controle de estoque e organização das unidades. As vendas são feitas de forma autônoma, com o cliente escolhendo o produto e pagando via aplicativo ou cartão.
- Investimento inicial: a partir de R$ 75 mil
- Faturamento médio mensal: R$ 100 mil
- Lucro médio mensal: de 10% a 15%
- Prazo estimado de retorno: de 16 a 24 meses
- Taxas: R$ 130 mensais para o sistema de monitoramento e 6% de royalties sobre o faturamento
- Prazo de contrato: 5 anos
O investimento inicial já inclui uma taxa que permite a abertura de até cinco lojas. O valor estimado para o investimento em cada unidade nova é de R$ 25 mil.
Mais1Café
Rede de cafeterias com funcionamento compacto. As unidades costumam ter dois funcionários, um por turno, responsáveis pelo preparo e entrega dos produtos aos clientes.
- Investimento inicial: R$ 180 mil
- Faturamento médio mensal: R$ 30 mil
- Lucro médio mensal: 20%
- Prazo estimado de retorno: 18 a 24 meses
- Prazo de contrato: 5 anos
- Royalties/mês: 7% sobre o faturamento bruto
Lavô
Rede especializada em lavanderias self-service, com modelo de atendimento autônomo. O cliente utiliza os serviços e faz o pagamento sem contato com um atendente.
- Investimento inicial: a partir de R$199 mil
- Faturamento médio mensal: de R$ 20 mil a R$30 mil
- Lucro médio mensal: em torno de 60%
- Prazo estimado de retorno: 18 meses
- Prazo de contrato: 5 anos
- Royalties/mês: 5%