Somente três em cada dez pequenos negócios conseguiram empréstimo bancário para as suas empresas entre maio e julho, segundo a pesquisa do Sebrae “Pulso dos Pequenos Negócios”, feita em parceria com o IBGE. O número representa uma redução de dez pontos percentuais em comparação com o último levantamento, referente aos meses de fevereiro a abril.
Dentre os microempreendedores individuais (MEIs) esse número é ainda menor, somente 24% deles conseguem acesso a crédito, contra 40% de micro e pequenas empresas (MPEs).
Isso acontece em um cenário de aumento de procura por crédito, com cerca de 32% dos pequenos negócios buscando empréstimo no período, contra 27% na pesquisa anterior. Apesar desse cenário, cerca de metade das empresas (51%) afirma ter feito algum tipo de investimento entre maio e julho.
“A gente tem crédito caro no País, e para as pequenas e médias empresas é ainda mais caro. Isso também acontece pela característica delas, já que muitas têm dificuldade de gestão e de mostrar números de maneira clara”, afirma José Sarkis Arakelian, professor da Faap e consultor em estratégia de marketing.
“As pequenas empresas muitas vezes não conseguem ter as garantias exigidas para minimizar o risco, além de misturarem a figura do empreendedor com a da empresa”, completa.
Ele diz que é importante os pequenos negócios terem seus números atualizados e o maior nível de transparência possível para aumentar as chances de obtenção de crédito.
Com queda na inadimplência, 25% das empresas afirmam ter dívidas em atraso
A pesquisa do Sebrae aponta ainda que um quarto dos pequenos negócios afirma ter dívidas em atraso, frente a 75% das empresas que estão com os pagamentos em dia ou não têm pendências. Já mais da metade (56%) dos pequenos negócios que possuem dívidas tem 30% ou mais de seus custos mensais destinados para pagá-las.
“Nós tivemos uma queda da inadimplência, apesar de pequena. Isso porque a economia está crescendo, impulsionada por este setor”, afirma Décio Lima, presidente nacional do Sebrae ao Estadão.
Ele faz referência à queda de dois pontos percentuais no número de pequenos negócios com dívidas em atraso entre a pesquisa publicada em janeiro e o levantamento atual, de julho.
Segundo ele, as dificuldades de acesso a crédito para os pequenos negócios devem diminuir com a criação de uma nova linha de crédito criada junto ao BNDES, com aporte de R$ 600 milhões do Sebrae e possibilidade de chegar a até R$ 10 bilhões em empréstimos.
“Não podemos botar o crédito na mão do pequeno da mesma forma como hoje está estabelecido o sistema financeiro. Não podemos imaginar que um micro e pequeno empresário podem obter crédito com essas taxas de juros atuais”, afirma.
Pressão de custos sobre pequenas empresas cai, mas faltam clientes
O levantamento aponta também que 47% dos pequenos negócios dizem ter muitas dificuldades para se manter, sendo a maior delas a falta de clientes (33%). Esta dificuldade apontada pelos empresários vem aumentando gradativamente desde agosto do ano passado, quando 24% acusavam o problema.
Enquanto isso, o aumento de custos aparece como segundo fator de maior dificuldade para as empresas (32%), uma queda de seis pontos percentuais em comparação com o último levantamento e dez pontos percentuais em comparação a agosto de 2022.
“Essa dificuldade de crédito faz o dinheiro ir rareando por todos os elos da cadeia”, afirma Arakelian sobre a diminuição da clientela. Ele aponta que este cenário faz com que as pequenas empresas tenham ainda mais riscos para manter seus negócios e torna o crédito para elas, consequentemente, mais difícil.
A pesquisa mostra ainda que 37% das empresas dizem ter tido uma diminuição de faturamento em comparação com o mesmo período do ano passado, contra 31% que apontaram um aumento.
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Novo ministério de MPEs
Na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que pretende criar um novo ministério da Micro e Pequena Empresa, com foco no cuidado voltado para o pequeno empresário e para a concessão de crédito para a categoria.
O movimento ocorre em meio às negociações do governo para acomodar membros de partidos do centrão na Esplanada dos Ministérios.
Para Décio Lima, a criação do novo ministério é positiva e tem importância fundamental para além das negociações do governo.
“Se existe um ministério com um conceito claro de defesa da economia nacional, é esse”, afirma.
“Nós não podemos tratar uma área dessas e deixá-la na vulnerabilidade visível da crueldade que é o mercado econômico e financeiro. Temos que ter políticas de Estado protetivas”, completa.