O preço da energia elétrica é um bicho-papão que tem assombrado o bolso dos brasileiros. De acordo com um documento interno da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) ao qual o Estadão teve acesso neste mês, o impacto financeiro da crise hídrica na conta de luz deve triplicar em 2022. Se em 2021 o reajuste acumulado para o consumidor residencial chegou a 7%, o aumento projetado para o ano que vem é de 21%.
Correndo em paralelo à alta do preço da eletricidade, negócios que comercializam soluções de energia solar viram a demanda crescer, não só por parte de empresas e indústrias como de condomínios residenciais e casas. “Há um interesse cada vez maior da população, das empresas e também de gestores públicos em aproveitar seus telhados, fachadas e estacionamentos para gerar energia renovável localmente”, diz Vinicius Lopes, fundador do grupo Papillon Lait, de Campinas (SP).
Formado por parcerias comerciais entre negócios com soluções inovadoras e sustentáveis, o grupo faturou quase R$ 850 mil com sua unidade de energia solar fotovoltaica voltada ao nicho residencial em 2020 e prevê fechar 2021 com alta de 132%. O empreendedor fala que a solução é a maior aliada para quem quer eliminar a preocupação com os aumentos na conta de luz porque, após a instalação das placas solares, a economia mensal chega a 95%.
“Para garantir o máximo aproveitamento do equipamento, nosso time criou o Método Otimiza Solar”, ele acrescenta, explicando que é feita uma análise precisa do posicionamento das placas para ter o maior tempo possível de irradiação solar.
A Papillon Lait contabiliza hoje mais de 60 projetos residenciais, além de duas usinas solares para condomínios. Mas ainda há desafios para expandir. Segundo Lopes, além de vencer o lobby das grandes construtoras que querem fazer mais lagoas de pedras e o das distribuidoras interessadas em vender energia, a mentalidade de consumo da população também precisa de uma guinada. “Os brasileiros ainda preferem investir em carros e outros objetos de consumo em vez de energia renovável.”
Enfrentamento da crise hídrica
Franqueado da Blue Sol Energia Solar em São Paulo, José Guilherme Novaes sempre atuou em áreas ligadas a inovação e tecnologia, ficando atraído pelo setor de energia solar por poder aliar também seus conhecimentos de marketing e administração. “Como estava empreendendo pela primeira vez e não tinha o conhecimento técnico, o modelo de franquia era aquele que atendia mais à minha necessidade.”
Ele conta que a marca oferece aos clientes o desenvolvimento do projeto, a instalação e a conexão dos sistemas fotovoltaicos à rede elétrica. O projeto é desenvolvido por engenheiros baseados na matriz da empresa, em Ribeirão Preto (SP), e a instalação é realizada por profissionais homologados.
Dono de três unidades, que correspondem a áreas de exclusividade de atuação em 12 cidades da região da Grande São Paulo, Alphaville e Campinas, ele fala que chegou a R$ 10 milhões em vendas em 2020. “A franquia é responsável pela comercialização e instalação, que correspondem a aproximadamente 20% a 25% desse valor de venda.”
A projeção é terminar 2021 com faturamento estimado em R$ 18 milhões. “Embora (a pandemia) tenha sido um período muito desafiador, estamos vivendo um momento de forte demanda neste segundo semestre. O setor se consolidou como a forma mais rápida e segura para o enfrentamento da crise hídrica.” Desde 2017, suas unidades já instalaram mais de 360 sistemas fotovoltaicos residenciais, comerciais e industriais. Somente residenciais ou em condomínios, foram mais de 290 sistemas, que representam 34% da potência instalada.
Financiamento para franqueados
Formada em moda, Morgana Rohden decidiu investir em uma franquia da Energy Brasil quando descobriu que estava grávida do segundo filho, em 2019. Ela já conhecia a empresa, que tem sede em São José do Rio Preto (SP), e decidiu montar uma unidade em Braço Norte (SC). Fez o treinamento em fevereiro de 2020, mas poucas semanas depois veio a pandemia. “Eu já tinha alugado a sala e comprado os móveis, mas não pude abrir a loja. Então, naquele primeiro momento, foi todo um trabalho de Whatsapp.”
Após ligar para potenciais clientes, a franqueada ficou em primeiro lugar da rede em vendas em 2020, batendo R$ 1 milhão. Hoje ela já tem mais duas franquias, uma em Tubarão e outra em Criciúma, e prevê alcançar os R$ 2 milhões de faturamento até o final do ano.
Com mais de 400 unidades franqueadas e presente em todos os Estados, a rede do empresário Túlio Fonseca faturou R$ 50 milhões em 2020 e a previsão é fechar 2021 com R$ 80 milhões e 450 franquias. Os novos franqueados têm à disposição uma linha de financiamento para montagem da loja e capital de giro, criada em agosto.
A empresa lançou ainda um modelo contêiner de 15 metros quadrados que oferece os mesmos produtos e serviços de uma loja convencional e pode ser instalado em estacionamentos, postos de gasolina, supermercados e condomínios residenciais.
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Outra sacada da marca com foco nos clientes pequenos e na democratização da energia solar é o Energy Pay, um sistema de pagamento que possui maquininha própria. Na prática, ele permite que o cliente parcele o kit em vários cartões e em até 12 vezes, facilitando a tomada de crédito para as classes C e D e eliminando a burocracia de um financiamento.
Modelo home-based
Lançado pela Portal Solar em maio, o Portal Solar Franquias vendeu 73 unidades em seis meses de operação e tem a meta de fechar o ano com 100 franqueados. No modelo home-based, sem necessidade de loja física, as franquias estão espalhadas por várias capitais do País, além de municípios menores.
Para o professor de Física Jeyson do Carmo, que é apaixonado pelo tema da energia solar e abriu uma franquia da rede em Fortaleza em julho, foi motivador fazer a implantação do negócio com uma marca preocupada em educar a população para o uso de energia sustentável.
“Hoje estamos atravessando a barreira da civilização que extrai energia do próprio planeta para uma civilização que aproveita a energia do sistema solar. Não é nada utópico pensar que, em poucos anos, teremos todas as residências, comércios e indústrias gerando sua própria energia com o método fotovoltaico.”
Nos primeiros três meses de operação, ele e o sócio faturaram R$ 70 mil, com uma média de 6 clientes por mês. “A projeção para 2022 é que cada cliente indique pelo menos mais um, além da pretensão de triplicar os números com nossa própria captação e expansão da equipe comercial”, prevê o empreendedor. “Para o cliente, o custo-benefício é extremamente vantajoso porque você compra um sistema que vai gerar energia no seu telhado. A gente costuma dizer ao cliente que a questão não é se ele vai aderir ao sistema fotovoltaico, mas quando.”