O envelhecimento da população é uma oportunidade para novos negócios. É nisso que apostaram os fundadores da Sanii, startup focada em promover qualidade de vida e longevidade a idosos. A empresa oferece atividades para pessoas com mais de 60 anos estimularem o corpo e o cérebro com o objetivo de prevenir doenças como o Alzheimer e a depressão.
Conforme o último censo do IBGE, mais de 22 milhões, ou 10,9% da população brasileira, tinham mais de 65 anos em 2022. A OMS prevê que esse número chegue a 90 milhões em 2050, representando 30% da população do País.
“É uma grande mudança demográfica, da sociedade, gritando. Enxergamos isso como uma oportunidade. Como empreendedores, entendemos que devemos estar sempre atentos às grandes necessidades para entrar com inovação”, afirma a executiva americana Angelina Clarke, uma das fundadoras da empresa.
Há 14 anos no Brasil, a ex-consultora da McKinsey juntou-se ao russo-canadense Michael Kapps, empreendedor de saúde e fundador da Vitalk, empresa de saúde mental adquirida pelo Gympass em 2022, e ao brasileiro Renato Tilkian, executivo com mais de 17 anos no mercado de saúde e longevidade.
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Com o interesse em comum de explorar a economia prateada, que já movimenta mais de R$ 2 trilhões por ano no Brasil, eles idealizaram o projeto e passaram a estudar o mercado em agosto de 2022. Em fevereiro do ano seguinte, a Sanii foi lançada na cidade de São Paulo.
Um investimento inicial de R$ 8 milhões foi obtido por meio de um financiamento voltado para startups, chamado de “pré-seed”. Encabeçaram a ação o Valor Capital Group e outros 15 investidores, como a Norte Ventures e a Green Rock.
Conforme Clarke, o valor foi investido no desenvolvimento e lançamento dos produtos, na contratação dos profissionais e nos testes de diversas hipóteses para o negócio.
Os sócios não abrem o faturamento da empresa, mas afirmam que a receita cresceu em 356% nos primeiro semestre de 2024 em comparação com o último semestre de 2023. O negócio começou a faturar em julho do ano passado.
Idosos recebem profissionais semanalmente em casa
“As pessoas não estão acostumadas a endereçar o envelhecimento da população proativamente, enxergam como doença e não como saúde. Há falta de conhecimentos necessários para envelhecer bem no País. A Sanni nasceu pra resolver isso”, avalia Clarke.
Ela observa que as pessoas idosas costumam buscar ajuda após diagnósticos como Alzheimer e outras condições de demência ou depressão. A ideia é que, com a Sanii, dores e doenças ao envelhecer sejam prevenidas com uma intervenção multidisciplinar para viver bem desde a aposentadoria até o fim da vida.
“Muitas pessoas nos procuram para intervenções pontuais, já com problemas mais críticos. Ficamos felizes de impactar esses clientes, mas queremos que as famílias nos procurem cinco, dez anos antes.”
Os empresários acreditam que viver ativamente os últimos anos de vida é essencial para o bem-estar. Para isso, oferecem visitas semanais na casa dos idosos, com serviços personalizados como exercícios físicos, estimulação cognitiva, aulas de tecnologia e acompanhamento em atividades culturais.
A Sanii também conta com um espaço físico em Higienópolis, onde as pessoas com mais de 60 anos têm a oportunidade de socializar com atividades em grupo. No caso das pessoas atendidas em casa, também há a possibilidade de excursões em conjunto. “Fazemos encontros entre vários clientes”, aponta Clarke.
A empresa atua em 19 bairros de São Paulo. A maioria dos clientes estão concentrados em bairros como Consolação, Higienópolis, Santa Cecília e Vila Mariana.
Considerando o espaço físico e as visitas em casa, a empresa atende mais de 50 idosos atualmente. No primeiro grupo, o público tem entre 60 e 75 anos. No segundo, de 75 a 93 anos.
Veja os preços:
Sanii em Casa:
- 1 vez por semana: R$ 890/mês (90 minutos) ou R$ 590/mês (60 minutos)
- 2 vezes por semana: R$ 1.590/mês (90 minutos) ou R$ 1.150/mês (60 minutos)
Espaço Sanii:
- 1 vez por semana: R$ 290/mês
- 2 vezes por semana: R$ 490/mês
No caso do plano personalizado, os profissionais vão até a casa do cliente e fazem uma avaliação geral do seu estado de bem-estar e funcionalidade física e cognitiva para entender o que merece mais trabalho.
“Às vezes a pessoa é craque em fluência verbal, mas tem dificuldade com a escrita. Treinamos essa habilidade usando um tema em que ela tenha interesse: futebol, cinema. Ou acha que a memória está falhando, mas é falta de atenção. Aplicamos técnicas para focar mais na aula, reter a atenção.”, exemplifica Clarke.
Há atividades de escrita em papel, idas a exposições em museus, exercício físico em casa ou ao ar livre e jogos lúdicos para o desenvolvimento voltados para pessoas idosas. “Esses jogos não são infantis, não tratamos idosos de forma infantilizada porque é desrespeitoso”, destaca Clarke.
De acordo com ela, ainda há muitos idosos que ficaram trancados em casa durante a pandemia de coronavírus e ainda não retornaram à vida normal. “São pessoas que geralmente precisam de apoio emocional para lidar com o isolamento social e a depressão”, diz.
Todos os cursos e exercícios são apoiados e supervisionados por profissionais da saúde. Os atendimentos em casa são feitos por cuidadores, educador físico e psicóloga. A Sanii tem seis funcionários fixos.
Marketing online é desafio para o negócio
Para Angelina Clarke, o maior desafio do negócio é encontrar canais eficazes para que as pessoas conheçam e se interessem pelo conceito da Sanii. Apesar de mais de 62% das pessoas idosas no Brasil terem acesso à internet, segundo o IBGE, os sócios têm notado uma maior necessidade de presença física.
“Os canais tradicionais de marketing online funcionam de forma diferente para o público jovem e o público idoso”, afirma. A empresária revela que os sócios ainda procuram a forma ideal de atuar nas redes sociais.
O canal mais bem sucedido até então para a atração do público é a indicação de clientes e de apoiadores do projeto, diz Clarke. Grande parte das pessoas também conhece a Sanii ao passar em frente ao espaço físico. “As pessoas ficam curiosas e entram para se informar”, conta.
O negócio conta com uma retenção atual de 78% dos clientes. “Nesse ponto, existe um desafio porque existem casos de falecimento”, pontua. Em pouco tempo de funcionamento, a empresária já tem observado transformações na autoestima e no autoconhecimento das pessoas que frequentam a Sanii.
“É comum que as pessoas cheguem no espaço e, ao serem questionadas sobre a idade, não queiram falar. Existe um etarismo muito forte. Depois, elas passam a ter orgulho da idade que têm”, cita.
Depoimentos de clientes citam a recuperação de velhos hábitos, como escrever, e a vontade de se arrumar e sair de casa. Também comemoram uma melhora na postura, o estímulo para pensar, interagir e se divertir com outras pessoas.
Os sócios querem chegar a 100 clientes até o fim de 2024. As atividades ainda ficarão concentradas em São Paulo neste primeiro momento, mas o plano é expandir a atuação da Sanii para as capitais do Brasil nos próximos anos. Também há a ideia de investir futuramente na jornada do cliente, considerando também as necessidades de prevenção antes de atingir os 60 anos.
Avaliação de clientes
A Sanii conta com quatro avaliações no Google, com nota geral máxima. Os autores das notas concedidas não podem ser verificados. Eventualmente, comentários positivos ou negativos podem ser uma ação a favor ou contra a empresa.
Não há registros de reclamações sobre a empresa no site Reclame Aqui.
Analista de negócios vê espaço para expansão
Com o aumento da expectativa de vida, a chamada economia prateada tem se destacado no cenário econômico brasileiro. Rosiane Moreira, analista de negócios do Sebrae-SP, ressalta a importância de entender as necessidades específicas das pessoas com mais de 60 anos para oferecer produtos e serviços que realmente atendam suas expectativas.
“Essa é uma fase da vida em que as pessoas buscam serviços que promovam qualidade de vida e bem-estar”, diz Moreira. Ela avalia que os negócios voltados para um estilo de vida saudável, como turismo cultural, atividades físicas e soluções digitais acessíveis, são particularmente atrativos para esse público.
Para atender bem este segmento, ela orienta que os profissionais sejam pacientes, empáticos e compreensivos. A comunicação deve ser adaptada para ser eficaz e sensível às necessidades individuais, respeitando a unicidade de cada pessoa.
Moreira observa no envelhecimento da população oportunidades para negócios. Com mais tempo disponível e menos encargos familiares, as pessoas nessa faixa etária tendem a ter maior poder de compra, aproveitando mais sua aposentadoria para investir em hobbies e novas experiências.