A infância de Ana Paula Braun, hoje com 36 anos, teve alguns momentos de dificuldades. Com 8 anos de idade, ela começou a ajudar o pai, que era pedreiro. “Claro que eram coisas mais simples nessa época, por ser criança, mas isso fazia com que ele economizasse uma diária de ajudante”, relembra.
Essa rotina perdurou até por volta dos 14 anos, quando descobriu uma gravidez precoce. Com isso, para continuar tendo uma renda, foi trabalhar em quiosques de praias, já que a atividade braçal de ajudante pedreiro não seria mais possível naquele momento.
Natural do Espírito Santo, ela conta que conseguia uma boa quantidade de gorjetas na região metropolitana de Vitória, capital do Estado. Paralelamente, Braun também fazia alguns trabalhos de crochê em praças públicas - primeiro porque gostava, segundo que também se convertia em uma renda extra. “Eu ficava fazendo ponto cruz nos panos de prato para vender por R$ 10.”
Emprego em uma empresa de consórcio
Até os 18 anos, morou com o pai de seu primeiro bebê, mas depois se separou. “Não queria voltar para a casa dos meus pais com uma criança no colo”, comenta. Teve dificuldades, mas rachou o aluguel de um apartamento com uma colega.
Depois viu que uma empresa de consórcios estava com vagas abertas. “Era meu sonho trabalhar lá, as pessoas estavam sempre muito bem vestidas.”
Candidatou-se e foi selecionada, mas quase foi demitida ainda no período de experiência. “Só me segurei por lá porque consegui fazer minha primeira venda, pertinho de terminar esses três meses”, afirma.
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O estresse gerado por todo este contexto, porém, acabou gerando impactos físicos nela, como níveis altos de ansiedade, resultando em um ganho elevado de peso.
No processo para recuperar a saúde - física e mental - se apaixonou pelo universo do bem-estar, o que fez com que ela decidisse cursar uma faculdade de nutrição.
Até os 25 anos, ela foi conciliando essas rotinas e se manteve trabalhando na mesma empresa. E, financeiramente, as coisas foram melhorando muito. As comissões eram boas, ela havia pegado o jeito nas vendas e, dentro desse período, conseguiu comprar o primeiro apartamento e o primeiro carro. “Cheguei a ter ótimos contracheques - de até R$ 20 mil em um mês. Mas aquilo não era mais para mim. Queria ser dona do meu tempo”, diz.
Conseguiu um acordo com o local em que trabalhava e, com o dinheiro da rescisão, investiu R$ 35 mil em um restaurante. “Queria empreender.”
Primeiro negócio, com restaurante, não deu certo
Porém, indo contra o que costuma ser indicado por especialistas em empreendedorismo, Braun não fez uma pesquisa prévia de mercado para entender se o ponto físico do restaurante era adequado, se a saúde financeira da loja era boa, além de saber o que precisaria ser feito para que a operação se mantivesse até conseguir atingir o ponto de equilíbrio - quando o faturamento paga todos os custos - e, posteriormente, gerar lucro. “Eu só fui”, relata a empresária.
De acordo com a consultora de negócios do Sebrae-SP Leidiane Lima, esse comportamento de Ana é muito comum em pequenos negócios no Brasil.
Isso porque o acesso à informação acaba sendo muito escasso e, quando o empresário vai, de fato, para a operação do dia a dia, descobre inúmeros obstáculos pelo caminho.
“Abrir um pequeno negócio é muito arriscado. Além da falta de informação e do cenário econômico, o empreendedorismo é considerado um sonho para muita gente, o que acaba resultando em um otimismo exagerado: ‘vamos, que vai dar certo’. Mas é essencial ter planejamento, para mitigar as chances de prejuízo”, explica a especialista.
Não demorou muito tempo - cerca de cinco meses - para que Braun acabasse desistindo do restaurante. “A conta não fechava e eu sempre colocava mais dinheiro para manter tudo aberto.”
Vendeu bijuterias e roupas, mas também não funcionou
Ela conseguiu vender pelo mesmo valor que comprou e, com o dinheiro, abriu uma outra loja - ainda no mesmo modus operandi, sem avaliar as reais condições. Começou a vender bijuterias.
Vendeu bem no início, mas percebeu um detalhe importante: as pessoas não compram bijuteria todo mês e notou que não havia uma recorrência muito alta de clientes. Passou a sofrer com isso e, para solucionar, começou a vender roupas feitas para exercícios - como em academias.
Também não deu tão certo. Passou a vender roupas femininas casuais. E as vendas não aconteciam apenas na loja - Braun costumava ir em casas e escritórios de clientes para apresentar e vender os materiais.
Próxima de se formar na faculdade de nutrição, em uma dessas vendas, foi até o consultório de uma nutricionista. Como esta profissional iria sair do País, ofereceu alugar o espaço para ela, por R$ 3,5 mil.
Surgiu a clínica de estética
“Eu não tinha o dinheiro, mas era uma ótima oportunidade. E ainda tinha todos os equipamentos que um consultório demanda. Como a loja não estava rendendo muita coisa ainda, precisava arrumar uma forma de levantar esse dinheiro mensal”, conta.
Foi ali, aos 26 anos, que ela decidiu começar uma clínica de estética, que viria a se tornar o que hoje se chama Execelência. Um dos aparelhos já existia no próprio consultório, remanescente da outra profissional. Ela contratou uma esteticista e começou a trabalhar. Eram duas salas, com maca e espaço para atendimento do público.
Em agosto de 2015, a porta do local foi aberta pela primeira vez. Começou a divulgar via redes sociais, fazia anúncios com influenciadores da região, e o que era para ser um complemento começou a tomar corpo. “No Carnaval seguinte, não tinha mais espaço para atendimento.”
Ela teve que aumentar o consultório, mas, ainda assim, não foi o suficiente. “A gente precisou pegar um lugar maior. Aproveitei e aluguei em um espaço nobre.”
Nesse período, já que a loja de bijuterias e roupas não estava dando certo, resolveu se desfazer dela.
Franquias mistas da marca
A Execelência foi escalando e, atualmente, conta com oito unidades, sendo que cinco são próprias e três são franquias mistas - com participação de 50% da marca.
O plano para expansão envolve o mercado de franchising. A formatação do modelo de negócio, inclusive, já está pronta há um certo tempo.
Mas existe uma certa cautela em expandir a marca para quem quiser comprar. “Eu quero acompanhar tudo mais de perto neste começo. Não vendo para pessoas que eu não conheça, são locais que eu desejava ter unidades com pessoas minimamente próximas”, diz.
Atualmente, há sete unidades abertas no Espírito Santo e uma em São Paulo, recém-inaugurada, no bairro de Moema. A marca oferece tratamentos corporais, faciais, depilação, massagem, além da venda de produtos. O faturamento de 2023 foi de R$ 4 milhões, e a expectativa para este ano, com novas aberturas em vista, é de uma receita bruta de R$ 7 milhões.
Confira, a seguir, o raio-x de uma franquia da marca:
- Investimento inicial total estimado: R$ 301,5 mil
- Faturamento médio mensal: R$ 155,8 mil
- Lucro médio mensal: 30%
- Prazo de retorno: 24 meses
- Prazo de contrato: 5 anos
- Royalties/mês: 7%
- Número de unidades em operação: 8, sendo 5 próprias e 3 franquias (com participação da marca)
Junção de experiências
Por um tempo, ela deixou um pouco de lado a carreira na área da nutrição. Porém, viu uma oportunidade de juntar conhecimentos.
Atualmente, ela atende como nutricionista na própria Execelência, em todas as unidades, conforme demanda.
Diversificação de modelos de negócio
Recentemente, a empresária resolveu acrescentar novas modalidades de empreendimento em seu guarda-chuva.
Primeiro, decidiu alugar equipamentos para novos empreendedores que pretendem começar um negócio no mesmo setor que o da marca, mas que ainda não têm recursos suficientes para comprá-los. Depois, montou uma mentoria de negócios, cujo intuito é “ensinar para que não cometam os mesmos erros que eu.”
Estas atividades, porém, não fazem parte do CNPJ da Execelência - são negócios separados.