Feminismo guia negócios de chás a camisetas com frases de protesto


Marca The Feminist Tea ostenta dizeres em prol do feminismo e emprega mulheres em situação de vulnerabilidade social; na moda, Empooderadas e Empodera estampam camisetas com frases

Por Luiza Leão e Marina Dayrell
Atualização:

* ESPECIAL PARA O ESTADO

Nos últimos anos, a palavra feminismo reapareceu com força na pauta mundial. Desde 2014, a busca pelo termo no Google passou a ser maior do que nos anos anteriores, atingindo o ápice entre outubro de 2018 e março deste ano. O movimento, que segundo dicionários significa “conquistar a equiparação dos direitos sociais e políticos de ambos os sexos”, preenche conversas de bares, sugere pesquisas na universidade e guia lutas sociais. E, como acontece com outras causas, a ideologia também aparece estampada nos negócios.

“Tivemos um movimento de emergência do feminismo, depois houve um silenciamento na sua história, por achar que nós já estaríamos num patamar de algumas conquistas. Mas há uma reapropriação desse conceito por mulheres e meninas que dizem ‘o feminismo é, sim, sobre a minha vida', aponta a antropóloga e professora da Universidade de Brasília Debora Diniz. “Você consegue fazer um reconhecimento global de mulheres parecidas com você e de diferentes partes do mundo.”

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A vontade de unir a essência feminista com a carreira e criar um negócio com propósito fez com que as irmãs Lais e Nara Trajano criassem uma empresa de chá feminista, a The Feminist Tea. Por meio das combinações de ervas e outros ingredientes, como chá verde, hortelã, capim-cidreira, laranja e hibisco, as sócias espalham citações e conhecimentos sobre a causa.

Nara Trajano, uma das sócias da The Feminist Tea, com os chás da marca e vestindo uma camiseta da T-Shirt Factory, marca criada por Carlos Eduardo Camargo. Foto: Lais Trajano/The Feminist Tea

Os sabores dos chás são divididos de acordo com a função - energética, detox, entre outras - e cada embalagem (R$ 29, com 15 sachês) homenageia mulheres como Nina Simone, Clarice Lispector, Beyoncé, Virginia Woolf. “The Feminist Tea hoje tem um posicionamento que é ativista, é uma bandeira nossa, mas ao mesmo tempo percebemos que queríamos ter um ativismo gentil e carinhoso, que criasse diálogos em vez de criar distância”, conta Lais. 

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A disseminação de conhecimentos feministas aparece no sachê. Preso ao saquinho de ervas, a Feminist Tea, que produz 15 mil sachês por mês, apresenta cerca de 700 frases inspiradoras, como: “É nas coletividades que encontramos reservatórios de esperança e otimismo", da professora americana Angela Davis; e “É Lei, você sabia? Art. 7º, inc. IV, LMP: Reter ou destruir, ainda que parcialmente, objetos, documentos e bens da mulher pode ser violência patrimonial”.

Para o professor de MBA da Fundação Instituto de Administração (FIA) Rodrigo Leão, para ser uma estratégia de longo prazo, a marca precisa ter um vínculo com um propósito maior. “Quando a empresa atua de maneira política para reverter uma situação, ela consegue ir além da causa e ter um propósito social.”

Além dos sete funcionários fixos, a Feminist Tea emprega indiretamente 60 mulheres em situação de vulnerabilidade social e egressas do sistema prisional. São elas que cortam, costuram e manuseiam as embalagens de tecido onde são guardados os sachês.

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Chás exibemcitações de mulheres famosas, provocações e informações históricas e sobre leis que atingem as mulheres. Foto: Felipe Rau/Estadão

“A marca nasceu para as mulheres que querem se aproximar do movimento feminista e também gerar renda para mulheres vulneráveis economicamente. A independência financeira é crucial. Enquanto não têm isso, fica difícil ter liberdade”, diz Lais.

Com blends criados por um especialista em chás, uma naturóloga e pelas irmãs em uma fábrica no sul do Brasil, a marca é distribuída em lojas de São Paulo e Rio de Janeiro, com previsão de chegar a Curitiba, Blumenau e Porto Alegre ainda neste mês. A expectativa da marca, criada em 2018, é fechar o ano com faturamento de R$ 600 mil.

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Estampado no peito

A moda também aproveitou a carona do feminismo. Criada em 2017 pela designer de moda Juliana Ferrão, a Empodera vende online camisetas e vestidos pintados à mão com frases feministas. “Eu tinha muita coisa para dizer como mulher e estava cansada de ter que repetir certas coisas que, para mim, já eram básicas.”

A gestão do negócio é toda feita por Juliana, que não tem funcionários. Ela compra as camisetas lisas de fornecedores e pinta, estampa, aplica tecido e costura as peças, além de gerir a divulgação e as vendas. São 128 opções de estampas e uma produção mensal de 60 peças, suficientes para fazer a designer viver da causa.

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Camiseta bordada amão da Empooderadas, negócio criado pela designer Maria Thereza Naves. Foto: Flavia Ribeiro/Empooderadas

“Eu tive medo que as pessoas achassem que eu estava usando um discurso para vender, mas a marca é pequena e feita por uma mulher, em oposição à corrente do grande mercado.”

Alinhar a carreira com os propósitos de vida também motivou a designer Maria Thereza Naves a criar, em 2017, a Empooderadas, marca de camisetas feministas e cursos de bordado. Depois de emprestar uma de suas criações para uma amiga e ela postar uma foto no Instagram, a empreendedora começou a receber pedidos, inclusive de outros países, e resolveu abrir o negócio.

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Sob o slogan “Feminismo não é moda, é lutar por uma sociedade igualitária”, Maria Thereza vende entre 40 e 100 peças por mês, pela internet e em parcerias com grandes marcas, como Farm e Westwing. Ela participa da parte criativa e administrativa do negócio, mas conta com uma equipe de cinco bordadeiras para produzir as peças.

“Acho que a gente não só ‘apostou no feminismo’. Isso simplesmente nos pertencia como lugar de fala. Talvez, por ser algo tão genuinamente nosso tenha dado tão certo”. Ela não abre dados de faturamento, mas conta que a negócio cresceu quatro vezes nesses dois anos.

Nichos ideológicos

Apesar de não ser uma marca exclusivamente dedicada ao feminismo, a T-Shirt Factory, fundada em 2015 por Carlos Eduardo Camargo, também criou uma linha dedicada ao movimento.

“Sentimos falta de ver pautas, como o feminismo e a causa LGBTQI+, sendo representadas por empresas que de fato se importam”, diz Eduardo, que é formado em marketing. Atualmente, a marca tem uma loja física na Vila Mariana, em São Paulo, um e-commerce e conta com cinco funcionários.

“Não é questão de ‘o feminismo vende’, mas qualquer mensagem que traduza o que as pessoas sentem gera desejo. As pessoas sentem falta de marcas que falem, pensem e se comportem como elas próprias”, diz.

* ESPECIAL PARA O ESTADO

Nos últimos anos, a palavra feminismo reapareceu com força na pauta mundial. Desde 2014, a busca pelo termo no Google passou a ser maior do que nos anos anteriores, atingindo o ápice entre outubro de 2018 e março deste ano. O movimento, que segundo dicionários significa “conquistar a equiparação dos direitos sociais e políticos de ambos os sexos”, preenche conversas de bares, sugere pesquisas na universidade e guia lutas sociais. E, como acontece com outras causas, a ideologia também aparece estampada nos negócios.

“Tivemos um movimento de emergência do feminismo, depois houve um silenciamento na sua história, por achar que nós já estaríamos num patamar de algumas conquistas. Mas há uma reapropriação desse conceito por mulheres e meninas que dizem ‘o feminismo é, sim, sobre a minha vida', aponta a antropóloga e professora da Universidade de Brasília Debora Diniz. “Você consegue fazer um reconhecimento global de mulheres parecidas com você e de diferentes partes do mundo.”

A vontade de unir a essência feminista com a carreira e criar um negócio com propósito fez com que as irmãs Lais e Nara Trajano criassem uma empresa de chá feminista, a The Feminist Tea. Por meio das combinações de ervas e outros ingredientes, como chá verde, hortelã, capim-cidreira, laranja e hibisco, as sócias espalham citações e conhecimentos sobre a causa.

Nara Trajano, uma das sócias da The Feminist Tea, com os chás da marca e vestindo uma camiseta da T-Shirt Factory, marca criada por Carlos Eduardo Camargo. Foto: Lais Trajano/The Feminist Tea

Os sabores dos chás são divididos de acordo com a função - energética, detox, entre outras - e cada embalagem (R$ 29, com 15 sachês) homenageia mulheres como Nina Simone, Clarice Lispector, Beyoncé, Virginia Woolf. “The Feminist Tea hoje tem um posicionamento que é ativista, é uma bandeira nossa, mas ao mesmo tempo percebemos que queríamos ter um ativismo gentil e carinhoso, que criasse diálogos em vez de criar distância”, conta Lais. 

A disseminação de conhecimentos feministas aparece no sachê. Preso ao saquinho de ervas, a Feminist Tea, que produz 15 mil sachês por mês, apresenta cerca de 700 frases inspiradoras, como: “É nas coletividades que encontramos reservatórios de esperança e otimismo", da professora americana Angela Davis; e “É Lei, você sabia? Art. 7º, inc. IV, LMP: Reter ou destruir, ainda que parcialmente, objetos, documentos e bens da mulher pode ser violência patrimonial”.

Para o professor de MBA da Fundação Instituto de Administração (FIA) Rodrigo Leão, para ser uma estratégia de longo prazo, a marca precisa ter um vínculo com um propósito maior. “Quando a empresa atua de maneira política para reverter uma situação, ela consegue ir além da causa e ter um propósito social.”

Além dos sete funcionários fixos, a Feminist Tea emprega indiretamente 60 mulheres em situação de vulnerabilidade social e egressas do sistema prisional. São elas que cortam, costuram e manuseiam as embalagens de tecido onde são guardados os sachês.

Chás exibemcitações de mulheres famosas, provocações e informações históricas e sobre leis que atingem as mulheres. Foto: Felipe Rau/Estadão

“A marca nasceu para as mulheres que querem se aproximar do movimento feminista e também gerar renda para mulheres vulneráveis economicamente. A independência financeira é crucial. Enquanto não têm isso, fica difícil ter liberdade”, diz Lais.

Com blends criados por um especialista em chás, uma naturóloga e pelas irmãs em uma fábrica no sul do Brasil, a marca é distribuída em lojas de São Paulo e Rio de Janeiro, com previsão de chegar a Curitiba, Blumenau e Porto Alegre ainda neste mês. A expectativa da marca, criada em 2018, é fechar o ano com faturamento de R$ 600 mil.

Estampado no peito

A moda também aproveitou a carona do feminismo. Criada em 2017 pela designer de moda Juliana Ferrão, a Empodera vende online camisetas e vestidos pintados à mão com frases feministas. “Eu tinha muita coisa para dizer como mulher e estava cansada de ter que repetir certas coisas que, para mim, já eram básicas.”

A gestão do negócio é toda feita por Juliana, que não tem funcionários. Ela compra as camisetas lisas de fornecedores e pinta, estampa, aplica tecido e costura as peças, além de gerir a divulgação e as vendas. São 128 opções de estampas e uma produção mensal de 60 peças, suficientes para fazer a designer viver da causa.

Camiseta bordada amão da Empooderadas, negócio criado pela designer Maria Thereza Naves. Foto: Flavia Ribeiro/Empooderadas

“Eu tive medo que as pessoas achassem que eu estava usando um discurso para vender, mas a marca é pequena e feita por uma mulher, em oposição à corrente do grande mercado.”

Alinhar a carreira com os propósitos de vida também motivou a designer Maria Thereza Naves a criar, em 2017, a Empooderadas, marca de camisetas feministas e cursos de bordado. Depois de emprestar uma de suas criações para uma amiga e ela postar uma foto no Instagram, a empreendedora começou a receber pedidos, inclusive de outros países, e resolveu abrir o negócio.

Sob o slogan “Feminismo não é moda, é lutar por uma sociedade igualitária”, Maria Thereza vende entre 40 e 100 peças por mês, pela internet e em parcerias com grandes marcas, como Farm e Westwing. Ela participa da parte criativa e administrativa do negócio, mas conta com uma equipe de cinco bordadeiras para produzir as peças.

“Acho que a gente não só ‘apostou no feminismo’. Isso simplesmente nos pertencia como lugar de fala. Talvez, por ser algo tão genuinamente nosso tenha dado tão certo”. Ela não abre dados de faturamento, mas conta que a negócio cresceu quatro vezes nesses dois anos.

Nichos ideológicos

Apesar de não ser uma marca exclusivamente dedicada ao feminismo, a T-Shirt Factory, fundada em 2015 por Carlos Eduardo Camargo, também criou uma linha dedicada ao movimento.

“Sentimos falta de ver pautas, como o feminismo e a causa LGBTQI+, sendo representadas por empresas que de fato se importam”, diz Eduardo, que é formado em marketing. Atualmente, a marca tem uma loja física na Vila Mariana, em São Paulo, um e-commerce e conta com cinco funcionários.

“Não é questão de ‘o feminismo vende’, mas qualquer mensagem que traduza o que as pessoas sentem gera desejo. As pessoas sentem falta de marcas que falem, pensem e se comportem como elas próprias”, diz.

* ESPECIAL PARA O ESTADO

Nos últimos anos, a palavra feminismo reapareceu com força na pauta mundial. Desde 2014, a busca pelo termo no Google passou a ser maior do que nos anos anteriores, atingindo o ápice entre outubro de 2018 e março deste ano. O movimento, que segundo dicionários significa “conquistar a equiparação dos direitos sociais e políticos de ambos os sexos”, preenche conversas de bares, sugere pesquisas na universidade e guia lutas sociais. E, como acontece com outras causas, a ideologia também aparece estampada nos negócios.

“Tivemos um movimento de emergência do feminismo, depois houve um silenciamento na sua história, por achar que nós já estaríamos num patamar de algumas conquistas. Mas há uma reapropriação desse conceito por mulheres e meninas que dizem ‘o feminismo é, sim, sobre a minha vida', aponta a antropóloga e professora da Universidade de Brasília Debora Diniz. “Você consegue fazer um reconhecimento global de mulheres parecidas com você e de diferentes partes do mundo.”

A vontade de unir a essência feminista com a carreira e criar um negócio com propósito fez com que as irmãs Lais e Nara Trajano criassem uma empresa de chá feminista, a The Feminist Tea. Por meio das combinações de ervas e outros ingredientes, como chá verde, hortelã, capim-cidreira, laranja e hibisco, as sócias espalham citações e conhecimentos sobre a causa.

Nara Trajano, uma das sócias da The Feminist Tea, com os chás da marca e vestindo uma camiseta da T-Shirt Factory, marca criada por Carlos Eduardo Camargo. Foto: Lais Trajano/The Feminist Tea

Os sabores dos chás são divididos de acordo com a função - energética, detox, entre outras - e cada embalagem (R$ 29, com 15 sachês) homenageia mulheres como Nina Simone, Clarice Lispector, Beyoncé, Virginia Woolf. “The Feminist Tea hoje tem um posicionamento que é ativista, é uma bandeira nossa, mas ao mesmo tempo percebemos que queríamos ter um ativismo gentil e carinhoso, que criasse diálogos em vez de criar distância”, conta Lais. 

A disseminação de conhecimentos feministas aparece no sachê. Preso ao saquinho de ervas, a Feminist Tea, que produz 15 mil sachês por mês, apresenta cerca de 700 frases inspiradoras, como: “É nas coletividades que encontramos reservatórios de esperança e otimismo", da professora americana Angela Davis; e “É Lei, você sabia? Art. 7º, inc. IV, LMP: Reter ou destruir, ainda que parcialmente, objetos, documentos e bens da mulher pode ser violência patrimonial”.

Para o professor de MBA da Fundação Instituto de Administração (FIA) Rodrigo Leão, para ser uma estratégia de longo prazo, a marca precisa ter um vínculo com um propósito maior. “Quando a empresa atua de maneira política para reverter uma situação, ela consegue ir além da causa e ter um propósito social.”

Além dos sete funcionários fixos, a Feminist Tea emprega indiretamente 60 mulheres em situação de vulnerabilidade social e egressas do sistema prisional. São elas que cortam, costuram e manuseiam as embalagens de tecido onde são guardados os sachês.

Chás exibemcitações de mulheres famosas, provocações e informações históricas e sobre leis que atingem as mulheres. Foto: Felipe Rau/Estadão

“A marca nasceu para as mulheres que querem se aproximar do movimento feminista e também gerar renda para mulheres vulneráveis economicamente. A independência financeira é crucial. Enquanto não têm isso, fica difícil ter liberdade”, diz Lais.

Com blends criados por um especialista em chás, uma naturóloga e pelas irmãs em uma fábrica no sul do Brasil, a marca é distribuída em lojas de São Paulo e Rio de Janeiro, com previsão de chegar a Curitiba, Blumenau e Porto Alegre ainda neste mês. A expectativa da marca, criada em 2018, é fechar o ano com faturamento de R$ 600 mil.

Estampado no peito

A moda também aproveitou a carona do feminismo. Criada em 2017 pela designer de moda Juliana Ferrão, a Empodera vende online camisetas e vestidos pintados à mão com frases feministas. “Eu tinha muita coisa para dizer como mulher e estava cansada de ter que repetir certas coisas que, para mim, já eram básicas.”

A gestão do negócio é toda feita por Juliana, que não tem funcionários. Ela compra as camisetas lisas de fornecedores e pinta, estampa, aplica tecido e costura as peças, além de gerir a divulgação e as vendas. São 128 opções de estampas e uma produção mensal de 60 peças, suficientes para fazer a designer viver da causa.

Camiseta bordada amão da Empooderadas, negócio criado pela designer Maria Thereza Naves. Foto: Flavia Ribeiro/Empooderadas

“Eu tive medo que as pessoas achassem que eu estava usando um discurso para vender, mas a marca é pequena e feita por uma mulher, em oposição à corrente do grande mercado.”

Alinhar a carreira com os propósitos de vida também motivou a designer Maria Thereza Naves a criar, em 2017, a Empooderadas, marca de camisetas feministas e cursos de bordado. Depois de emprestar uma de suas criações para uma amiga e ela postar uma foto no Instagram, a empreendedora começou a receber pedidos, inclusive de outros países, e resolveu abrir o negócio.

Sob o slogan “Feminismo não é moda, é lutar por uma sociedade igualitária”, Maria Thereza vende entre 40 e 100 peças por mês, pela internet e em parcerias com grandes marcas, como Farm e Westwing. Ela participa da parte criativa e administrativa do negócio, mas conta com uma equipe de cinco bordadeiras para produzir as peças.

“Acho que a gente não só ‘apostou no feminismo’. Isso simplesmente nos pertencia como lugar de fala. Talvez, por ser algo tão genuinamente nosso tenha dado tão certo”. Ela não abre dados de faturamento, mas conta que a negócio cresceu quatro vezes nesses dois anos.

Nichos ideológicos

Apesar de não ser uma marca exclusivamente dedicada ao feminismo, a T-Shirt Factory, fundada em 2015 por Carlos Eduardo Camargo, também criou uma linha dedicada ao movimento.

“Sentimos falta de ver pautas, como o feminismo e a causa LGBTQI+, sendo representadas por empresas que de fato se importam”, diz Eduardo, que é formado em marketing. Atualmente, a marca tem uma loja física na Vila Mariana, em São Paulo, um e-commerce e conta com cinco funcionários.

“Não é questão de ‘o feminismo vende’, mas qualquer mensagem que traduza o que as pessoas sentem gera desejo. As pessoas sentem falta de marcas que falem, pensem e se comportem como elas próprias”, diz.

* ESPECIAL PARA O ESTADO

Nos últimos anos, a palavra feminismo reapareceu com força na pauta mundial. Desde 2014, a busca pelo termo no Google passou a ser maior do que nos anos anteriores, atingindo o ápice entre outubro de 2018 e março deste ano. O movimento, que segundo dicionários significa “conquistar a equiparação dos direitos sociais e políticos de ambos os sexos”, preenche conversas de bares, sugere pesquisas na universidade e guia lutas sociais. E, como acontece com outras causas, a ideologia também aparece estampada nos negócios.

“Tivemos um movimento de emergência do feminismo, depois houve um silenciamento na sua história, por achar que nós já estaríamos num patamar de algumas conquistas. Mas há uma reapropriação desse conceito por mulheres e meninas que dizem ‘o feminismo é, sim, sobre a minha vida', aponta a antropóloga e professora da Universidade de Brasília Debora Diniz. “Você consegue fazer um reconhecimento global de mulheres parecidas com você e de diferentes partes do mundo.”

A vontade de unir a essência feminista com a carreira e criar um negócio com propósito fez com que as irmãs Lais e Nara Trajano criassem uma empresa de chá feminista, a The Feminist Tea. Por meio das combinações de ervas e outros ingredientes, como chá verde, hortelã, capim-cidreira, laranja e hibisco, as sócias espalham citações e conhecimentos sobre a causa.

Nara Trajano, uma das sócias da The Feminist Tea, com os chás da marca e vestindo uma camiseta da T-Shirt Factory, marca criada por Carlos Eduardo Camargo. Foto: Lais Trajano/The Feminist Tea

Os sabores dos chás são divididos de acordo com a função - energética, detox, entre outras - e cada embalagem (R$ 29, com 15 sachês) homenageia mulheres como Nina Simone, Clarice Lispector, Beyoncé, Virginia Woolf. “The Feminist Tea hoje tem um posicionamento que é ativista, é uma bandeira nossa, mas ao mesmo tempo percebemos que queríamos ter um ativismo gentil e carinhoso, que criasse diálogos em vez de criar distância”, conta Lais. 

A disseminação de conhecimentos feministas aparece no sachê. Preso ao saquinho de ervas, a Feminist Tea, que produz 15 mil sachês por mês, apresenta cerca de 700 frases inspiradoras, como: “É nas coletividades que encontramos reservatórios de esperança e otimismo", da professora americana Angela Davis; e “É Lei, você sabia? Art. 7º, inc. IV, LMP: Reter ou destruir, ainda que parcialmente, objetos, documentos e bens da mulher pode ser violência patrimonial”.

Para o professor de MBA da Fundação Instituto de Administração (FIA) Rodrigo Leão, para ser uma estratégia de longo prazo, a marca precisa ter um vínculo com um propósito maior. “Quando a empresa atua de maneira política para reverter uma situação, ela consegue ir além da causa e ter um propósito social.”

Além dos sete funcionários fixos, a Feminist Tea emprega indiretamente 60 mulheres em situação de vulnerabilidade social e egressas do sistema prisional. São elas que cortam, costuram e manuseiam as embalagens de tecido onde são guardados os sachês.

Chás exibemcitações de mulheres famosas, provocações e informações históricas e sobre leis que atingem as mulheres. Foto: Felipe Rau/Estadão

“A marca nasceu para as mulheres que querem se aproximar do movimento feminista e também gerar renda para mulheres vulneráveis economicamente. A independência financeira é crucial. Enquanto não têm isso, fica difícil ter liberdade”, diz Lais.

Com blends criados por um especialista em chás, uma naturóloga e pelas irmãs em uma fábrica no sul do Brasil, a marca é distribuída em lojas de São Paulo e Rio de Janeiro, com previsão de chegar a Curitiba, Blumenau e Porto Alegre ainda neste mês. A expectativa da marca, criada em 2018, é fechar o ano com faturamento de R$ 600 mil.

Estampado no peito

A moda também aproveitou a carona do feminismo. Criada em 2017 pela designer de moda Juliana Ferrão, a Empodera vende online camisetas e vestidos pintados à mão com frases feministas. “Eu tinha muita coisa para dizer como mulher e estava cansada de ter que repetir certas coisas que, para mim, já eram básicas.”

A gestão do negócio é toda feita por Juliana, que não tem funcionários. Ela compra as camisetas lisas de fornecedores e pinta, estampa, aplica tecido e costura as peças, além de gerir a divulgação e as vendas. São 128 opções de estampas e uma produção mensal de 60 peças, suficientes para fazer a designer viver da causa.

Camiseta bordada amão da Empooderadas, negócio criado pela designer Maria Thereza Naves. Foto: Flavia Ribeiro/Empooderadas

“Eu tive medo que as pessoas achassem que eu estava usando um discurso para vender, mas a marca é pequena e feita por uma mulher, em oposição à corrente do grande mercado.”

Alinhar a carreira com os propósitos de vida também motivou a designer Maria Thereza Naves a criar, em 2017, a Empooderadas, marca de camisetas feministas e cursos de bordado. Depois de emprestar uma de suas criações para uma amiga e ela postar uma foto no Instagram, a empreendedora começou a receber pedidos, inclusive de outros países, e resolveu abrir o negócio.

Sob o slogan “Feminismo não é moda, é lutar por uma sociedade igualitária”, Maria Thereza vende entre 40 e 100 peças por mês, pela internet e em parcerias com grandes marcas, como Farm e Westwing. Ela participa da parte criativa e administrativa do negócio, mas conta com uma equipe de cinco bordadeiras para produzir as peças.

“Acho que a gente não só ‘apostou no feminismo’. Isso simplesmente nos pertencia como lugar de fala. Talvez, por ser algo tão genuinamente nosso tenha dado tão certo”. Ela não abre dados de faturamento, mas conta que a negócio cresceu quatro vezes nesses dois anos.

Nichos ideológicos

Apesar de não ser uma marca exclusivamente dedicada ao feminismo, a T-Shirt Factory, fundada em 2015 por Carlos Eduardo Camargo, também criou uma linha dedicada ao movimento.

“Sentimos falta de ver pautas, como o feminismo e a causa LGBTQI+, sendo representadas por empresas que de fato se importam”, diz Eduardo, que é formado em marketing. Atualmente, a marca tem uma loja física na Vila Mariana, em São Paulo, um e-commerce e conta com cinco funcionários.

“Não é questão de ‘o feminismo vende’, mas qualquer mensagem que traduza o que as pessoas sentem gera desejo. As pessoas sentem falta de marcas que falem, pensem e se comportem como elas próprias”, diz.

* ESPECIAL PARA O ESTADO

Nos últimos anos, a palavra feminismo reapareceu com força na pauta mundial. Desde 2014, a busca pelo termo no Google passou a ser maior do que nos anos anteriores, atingindo o ápice entre outubro de 2018 e março deste ano. O movimento, que segundo dicionários significa “conquistar a equiparação dos direitos sociais e políticos de ambos os sexos”, preenche conversas de bares, sugere pesquisas na universidade e guia lutas sociais. E, como acontece com outras causas, a ideologia também aparece estampada nos negócios.

“Tivemos um movimento de emergência do feminismo, depois houve um silenciamento na sua história, por achar que nós já estaríamos num patamar de algumas conquistas. Mas há uma reapropriação desse conceito por mulheres e meninas que dizem ‘o feminismo é, sim, sobre a minha vida', aponta a antropóloga e professora da Universidade de Brasília Debora Diniz. “Você consegue fazer um reconhecimento global de mulheres parecidas com você e de diferentes partes do mundo.”

A vontade de unir a essência feminista com a carreira e criar um negócio com propósito fez com que as irmãs Lais e Nara Trajano criassem uma empresa de chá feminista, a The Feminist Tea. Por meio das combinações de ervas e outros ingredientes, como chá verde, hortelã, capim-cidreira, laranja e hibisco, as sócias espalham citações e conhecimentos sobre a causa.

Nara Trajano, uma das sócias da The Feminist Tea, com os chás da marca e vestindo uma camiseta da T-Shirt Factory, marca criada por Carlos Eduardo Camargo. Foto: Lais Trajano/The Feminist Tea

Os sabores dos chás são divididos de acordo com a função - energética, detox, entre outras - e cada embalagem (R$ 29, com 15 sachês) homenageia mulheres como Nina Simone, Clarice Lispector, Beyoncé, Virginia Woolf. “The Feminist Tea hoje tem um posicionamento que é ativista, é uma bandeira nossa, mas ao mesmo tempo percebemos que queríamos ter um ativismo gentil e carinhoso, que criasse diálogos em vez de criar distância”, conta Lais. 

A disseminação de conhecimentos feministas aparece no sachê. Preso ao saquinho de ervas, a Feminist Tea, que produz 15 mil sachês por mês, apresenta cerca de 700 frases inspiradoras, como: “É nas coletividades que encontramos reservatórios de esperança e otimismo", da professora americana Angela Davis; e “É Lei, você sabia? Art. 7º, inc. IV, LMP: Reter ou destruir, ainda que parcialmente, objetos, documentos e bens da mulher pode ser violência patrimonial”.

Para o professor de MBA da Fundação Instituto de Administração (FIA) Rodrigo Leão, para ser uma estratégia de longo prazo, a marca precisa ter um vínculo com um propósito maior. “Quando a empresa atua de maneira política para reverter uma situação, ela consegue ir além da causa e ter um propósito social.”

Além dos sete funcionários fixos, a Feminist Tea emprega indiretamente 60 mulheres em situação de vulnerabilidade social e egressas do sistema prisional. São elas que cortam, costuram e manuseiam as embalagens de tecido onde são guardados os sachês.

Chás exibemcitações de mulheres famosas, provocações e informações históricas e sobre leis que atingem as mulheres. Foto: Felipe Rau/Estadão

“A marca nasceu para as mulheres que querem se aproximar do movimento feminista e também gerar renda para mulheres vulneráveis economicamente. A independência financeira é crucial. Enquanto não têm isso, fica difícil ter liberdade”, diz Lais.

Com blends criados por um especialista em chás, uma naturóloga e pelas irmãs em uma fábrica no sul do Brasil, a marca é distribuída em lojas de São Paulo e Rio de Janeiro, com previsão de chegar a Curitiba, Blumenau e Porto Alegre ainda neste mês. A expectativa da marca, criada em 2018, é fechar o ano com faturamento de R$ 600 mil.

Estampado no peito

A moda também aproveitou a carona do feminismo. Criada em 2017 pela designer de moda Juliana Ferrão, a Empodera vende online camisetas e vestidos pintados à mão com frases feministas. “Eu tinha muita coisa para dizer como mulher e estava cansada de ter que repetir certas coisas que, para mim, já eram básicas.”

A gestão do negócio é toda feita por Juliana, que não tem funcionários. Ela compra as camisetas lisas de fornecedores e pinta, estampa, aplica tecido e costura as peças, além de gerir a divulgação e as vendas. São 128 opções de estampas e uma produção mensal de 60 peças, suficientes para fazer a designer viver da causa.

Camiseta bordada amão da Empooderadas, negócio criado pela designer Maria Thereza Naves. Foto: Flavia Ribeiro/Empooderadas

“Eu tive medo que as pessoas achassem que eu estava usando um discurso para vender, mas a marca é pequena e feita por uma mulher, em oposição à corrente do grande mercado.”

Alinhar a carreira com os propósitos de vida também motivou a designer Maria Thereza Naves a criar, em 2017, a Empooderadas, marca de camisetas feministas e cursos de bordado. Depois de emprestar uma de suas criações para uma amiga e ela postar uma foto no Instagram, a empreendedora começou a receber pedidos, inclusive de outros países, e resolveu abrir o negócio.

Sob o slogan “Feminismo não é moda, é lutar por uma sociedade igualitária”, Maria Thereza vende entre 40 e 100 peças por mês, pela internet e em parcerias com grandes marcas, como Farm e Westwing. Ela participa da parte criativa e administrativa do negócio, mas conta com uma equipe de cinco bordadeiras para produzir as peças.

“Acho que a gente não só ‘apostou no feminismo’. Isso simplesmente nos pertencia como lugar de fala. Talvez, por ser algo tão genuinamente nosso tenha dado tão certo”. Ela não abre dados de faturamento, mas conta que a negócio cresceu quatro vezes nesses dois anos.

Nichos ideológicos

Apesar de não ser uma marca exclusivamente dedicada ao feminismo, a T-Shirt Factory, fundada em 2015 por Carlos Eduardo Camargo, também criou uma linha dedicada ao movimento.

“Sentimos falta de ver pautas, como o feminismo e a causa LGBTQI+, sendo representadas por empresas que de fato se importam”, diz Eduardo, que é formado em marketing. Atualmente, a marca tem uma loja física na Vila Mariana, em São Paulo, um e-commerce e conta com cinco funcionários.

“Não é questão de ‘o feminismo vende’, mas qualquer mensagem que traduza o que as pessoas sentem gera desejo. As pessoas sentem falta de marcas que falem, pensem e se comportem como elas próprias”, diz.

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