Recentemente foi divulgado pela Kantar BrandZ o ranking das 50 marcas mais valiosas do Brasil. Juntas, elas somam R$ 412 bilhões de valor de mercado.
Mas será que é possível ter uma franquia de alguma dessas marcas? Quanto custaria? A reportagem foi atrás destas empresas e também conversou com especialista, para entender quais são as principais peculiaridades de ser franqueado de marcas tão grandes.
O primeiro ponto a se ressaltar é que, sim: na lista das 50 marcas mais valiosas, há companhias que atuam no modelo de franquias. Mas são minoria.
Isso pode ter a ver com inúmeros pontos, de acordo com o vice-presidente de consultoria do Grupo 300 Ecossistema de Alto Impacto, Lucien Newton, como realidade de negócio e opções estratégicas das empresas. Mas um dos mais comuns tem relação com duas questões: tempo de atuação no mercado e segurança jurídica no setor de franchising.
Segundo o especialista, essa segurança no ramo de franquias veio apenas na década de 1990, especialmente com a lei criada em 1994 - e que foi atualizada pela 13.966.2019, que, atualmente, rege o setor.
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“Como elas se consolidaram antes de haver uma segurança jurídica, se desenvolveram sem o franchising”, afirma. Claro que elas podem entrar no ramo, mas a tendência é que o crescimento seja em um ritmo um pouco mais lento, talvez, em relação a marcas que crescem focando muito o modelo de franquias, como são os casos de Cacau Show e O Boticário, líderes no número de unidades abertas, de acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF). Depende da estratégia.
E quais as maiores marcas brasileiras que têm franquias?
A reportagem levantou dados de sete empresas: Ipiranga, Pilão, Brahma, Localiza, Natura, Gol Linhas Aéreas e Totvs. Atacadão, que figura na lista da Kantar BrandZ, não atua como franquia, mas o Grupo Carrefour, controlador da marca, está no setor de franchising com o Carrefour Express, que consta neste levantamento. Confira, a seguir, todas elas.
Ipiranga
A rede de postos de combustíveis Ipiranga atua no mercado de franquias por meio de duas marcas: Jet Oil, focada em check-up de veículos automotivos, como troca de óleo e aditivos, e AmPm, de conveniência, com produtos voltados para alimentação.
Confira, a seguir, os raios-x das respectivas empresas:
Jet Oil
- Investimento inicial total estimado: a partir de R$ 60 mil
- Faturamento médio mensal: R$ 22,8 mil
- Lucro médio mensal: não informado pela marca
- Prazo de retorno: a partir de 30 meses
- Prazo de contrato: 5 anos
- Royalties/mês: R$ 1,6 mil
- Número de unidades em operação: 1145
AmPm
- Investimento inicial total estimado: a partir de R$ 405 mil
- Faturamento médio mensal: de R$ 120 mil a R$ 150 mil
- Lucro médio mensal: não informado pela marca
- Prazo de retorno: 42 meses
- Prazo de contrato: 5 anos
- Royalties/mês: 6%
- Fundo de propaganda: 1%
- Número de unidades em operação: 1.540, sendo 1365 franquias e 175 operações próprias
Pilão
A Pilão atua no ramo de franquias ao lado da marca Café do Ponto, pertencente à mesma controladora. Ambas possuem os mesmos preços, de acordo com informações cedidas ao Estadão, para custo de entrada para eventuais novos franqueados. Confira, a seguir, o raio-x da marca:
- Investimento inicial total estimado: R$230 mil
- Faturamento médio mensal: R$ 90mil
- Lucro médio mensal: entre 10% e 15%
- Prazo de retorno: entre 24 e 36 meses
- Prazo de contrato: 5 anos
- Royalties/mês: 4%
- Número de unidades em operação: 56
Brahma
A Ambev, controladora da marca Brahma, tem duas franquias para a companhia de bebidas, como é possível checar neste link: Chopp Brahma Express, tendo como foco principal o serviço de entregas, e Quiosque Chopp Brahma, focado no consumo.
O Chopp Brahma Express custa a partir de R$ 450 mil, com estimativa de retorno do investimento em 48 meses. O prazo de contrato é de 5 anos. Para o Quiosque Chopp Brahma, não há valores divulgados.
Localiza
A Localiza, focada em aluguel de veículos para negócios, lazer e parceria com agências de viagens, atua no franchising há mais de 40 anos. É possível investir na marca a partir de R$ 800 mil - valor que irá variar a depender da quantidade de veículos adquiridos.
A marca não abriu para a reportagem valores como estimativas de faturamento e lucro, nem prazos de retorno e contrato.
Atualmente, são 165 franquias, em seis países: Brasil, Argentina, Colômbia, Equador, Paraguai e Uruguai.
Natura
A Natura atua no ramo de franquias por meio da Aqui Tem Natura. Nesta configuração, de acordo com a marca, consultoras de beleza Natura - e Avon - têm a possibilidade de evoluir para a “carreira empreendedora” após alcançarem o nível Prata de vendas. Atualmente, a operação conta com 930 lojas, sendo que 775 estão no modelo de franchising. As outras 155 são próprias da Natura.
A marca não abriu para a reportagem valores como investimento inicial, estimativas de faturamento e lucro, nem prazos de retorno e contrato.
Totvs
A Totvs atua no modelo de franquias há cerca de três décadas, visando aumento de capilaridade e focando, especialmente, que necessidades locais sejam atendidas com pessoas que entendam as peculiaridades da região. A atuação dos franqueados se concentra em prospecção e atendimento de clientes, além das adaptações necessárias para as realidades regionais.
A marca não abriu para a reportagem valores como investimento inicial, estimativas de faturamento e lucro, nem prazos de retorno e contrato.
Gol Linhas Aéreas
A empresa de aviação Gol Linhas Aéreas atua no ramo de franquias por meio da Gol Log, que oferece serviços de logística. Atualmente, contam com 118 lojas, sendo 113 franquias e 5 próprias.
A marca não abriu para a reportagem valores como investimento inicial, estimativas de faturamento e lucro, nem prazos de retorno e contrato. Mais informações neste link.
Carrefour Express
O Atacadão, que figura na lista, não trabalha com franquias. Porém, o Grupo Carrefour, que controla a marca, atua no mercado de franchising por meio do Carrefour Express, desde o ano passado. O modelo é menor em comparação com as lojas de supermercado, podendo ser instalada em ruas e shoppings. O investimento inicial gira em torno de R$ 150 mil, mas a operação ainda está no início: a rede tem 176 lojas, sendo que apenas uma é franqueada.
A marca não abriu para a reportagem valores como estimativas de faturamento e lucro, nem prazos de retorno e contrato.
Quais os cuidados com uma franquia de marca grande?
No final das contas, os cuidados básicos em relação a franquias são os mesmos: investigar a empresa, saber se a marca é bem consolidada, se o histórico é bom, se os valores praticados estão dentro do mercado, conversar com franqueados mais antigos para falar sobre como funciona a transferência de know how e suporte, além de ler atentamente a Circular de Oferta de Franquias (COF), que deve obrigatoriamente ser entregue com, ao menos, dez dias de antecedência a qualquer assinatura de contrato ou pré-contrato, conforme consta na lei.
Porém, com marcas muito grandes, existe um tópico de atenção a mais, de acordo com Newton: saber qual o peso do setor de franquias na relevância do negócio da marca. Isso porque, marcas com muitos braços tendem a ter diferentes focos e, se as franquias não tiverem tanta atenção, isso poderá afetar o suporte ao franqueado, por exemplo.
Como sempre, há ônus e bônus. Os modelos devem ser testados e, se há uma experiência no setor, são minimamente consolidados. Além de cederem um uso de marca conhecida e com relevância no mercado. No caso dessa lista, por exemplo, não estão presentes no top 50 de marcas brasileiras à toa. Porém, é preciso verificar se existirá espaço para o franqueado em uma empresa tão grande.
“Se você está em uma marca média ou pequena, é provável que tenha mais acesso ao dono da franqueadora, por exemplo (mas a marca é menor). O risco na marca grande é o franqueado ser considerado ‘mais um’ em atendimento e suporte. A dor dele pode não ter muito peso no todo. Por isso, é preciso ficar atento”, afirma Newton.