A irritação do empresário mineiro Charleston Souza, 56, com a demora para ser atendido em lanchonetes o motivou a criar a Pra Comer, uma lanchonete semiautônoma em Belo Horizonte (MG) na qual o próprio cliente se serve com produtos já prontos. O negócio alcançou o faturamento de R$ 1,5 milhão em 2023 e tornou-se um franchising, com projeto de expansão em curso. Cada franquia custa cerca de R$ 50 mil.
A ideia surgiu quando Souza era funcionário público do estado de Minas Gerais e só tinha o horário do intervalo de almoço disponível para buscar e levar os dois filhos na escola. No trajeto, que ultrapassava 40 quilômetros, ida e volta, sobrava pouco tempo para comer.
“Acabava almoçando em lanchonetes pela praticidade, mas tudo era muito demorado e isso me deixava angustiado”, recorda-se. Atrelada à insatisfação com a falta de autonomia no trabalho, a sensação o motivou a empreender.
Souza investiu R$ 80 mil para lançar a primeira unidade da Pra Comer, no hospital Lifecenter, em Belo Horizonte. O dinheiro foi usado no projeto arquitetônico da lanchonete e nas consultorias de um chef de cozinha, de um fiscal aposentado da vigilância sanitária e de uma nutricionista para a avaliação do modelo de negócio.
Em oito meses de operação, Souza ganhou o triplo de seu salário como funcionário do estado. Naquele ano, pediu exoneração e passou a focar apenas na Pra Comer.
Hoje a Pra Comer tem três unidades em Belo Horizonte, duas delas no Minas Tênis Clube.
Clientes se servem sozinhos, mas funcionário garante operação
Os clientes se servem sozinhos na lanchonete, com o auxílio de um pegador. “É um box de autosserviço, o cliente abre os expositores e pega a bebida e o alimento”, diz Souza. A lanchonete tem, em um espaço de 3 a 4 metros quadrados:
- Um expositor de bebidas frias, como água, sucos, refrigerantes
- Um freezer para o estoque dos salgados congelados
- Um forno para assar os salgados entre 230 e 270 graus
- Uma estufa quente, entre 45 e 50 graus, com os salgados assados, como coxinha, empada, pão de queijo, torta, pastel
- Uma máquina de açaí
- Uma máquina de multibebidas quentes, como cafés e chocolate quente
Há dois funcionários em cada unidade. Eles são responsáveis pelo recebimento dos produtos dos fornecedores, por assar e repor os salgados à medida que os produtos vão saindo, pela cobrança dos pagamentos em cartão ou dinheiro, e por prestar assistência aos clientes.
“O Brasil não se deu muito bem com vending machine porque, muitas vezes, não tem troco, não tem produto. Então fiz um negócio inspirado nisso, mas com um atendente”, explica. As unidades funcionam diariamente entre 7h e 21h.
O ticket médio dos produtos é de R$ 13,90. Todos os utensílios são descartáveis, então a instalação dos pequenos boxes só precisa de um ponto de água e energia para a máquina de café. “Cabe em qualquer lugar e é uma estrutura muito fácil”, avalia o mineiro.
Pandemia impulsionou franchising
O Pra Comer ficou fechado por quase dois anos durante a pandemia de coronavírus. O empresário Charleston Souza aproveitou esse tempo para estruturar a expansão da marca. Contratou uma consultoria de São Paulo e, após um ano e oito meses de espera, conseguiu a aprovação da Associação Brasileira de Franchising (ABF), em maio de 2023.
“O clube estava fechado. O hospital cancelou cirurgias eletivas, visitas e acompanhantes. Então não tinha faturamento. Foi um processo longo, caro e difícil”, relata. A campanha de expansão iniciou em março deste ano.
Até então, duas unidades foram vendidas: uma em São Gonçalo (RJ), que deve ser inaugurada em 30 dias; outra em um supermercado de Contagem (MG), com inauguração prevista para 60 dias.
Veja quanto custa para investir em franquia da marca:
Os valores são estimativas divulgadas pela rede de franquias Pra Comer.
- Investimento inicial total: R$ 39.970 de taxa de franquia + R$ 10.000 para estoque inicial/transporte/abertura de empresa
- Royalties/mês: 7,5%
- Faturamento médio mensal: R$ 45.000
- Lucro médio mensal: 20% a 25% líquido
- Prazo de retorno do investimento: entre 8 e 12 meses
A pandemia também facilitou o entendimento sobre o negócio, acredita Souza. “Há oito anos, uma lanchonete desse jeito era novidade. Hoje, o modelo faz mais sentido para a população, é como se fosse híbrido”, diz.
Ele atribuiu a sobrevivência da empresa na pandemia ao estudo e planejamento do negócio, além da organização financeira que aprendeu a ter com a orientação e ensinamentos de empresários mais experientes.
“No início, era difícil separar o que era o dinheiro do negócio e o meu, mas depois aprendi a não misturar”, afirma.
O empresário espera chegar a 50 unidades vendidas até o fim do ano, com previsão de faturamento em torno de R$ 5 milhões.
A meta da empresa é tornar-se 100% autônoma em cinco anos. Em contato com uma empresa da Alemanha, Souza quer trazer para a lanchonete um “robô colaborativo”, que se assemelha a um braço que fica em uma base móvel, programado para realizar centenas de movimentos.
“A ideia é que esse robô substitua os atendentes em todas as funções. Ele vai abrir o expositor de bebidas, a estufa, montar a bandeja de salgados, colocar no forno, acionar o forno na temperatura correta, retirar, abastecer estufa e preparar a loja para o início do dia. Terminada a operação de preparo, ele irá aguardar até ser acionado pelo cliente no totem e, concluído o pagamento, ele serve o pedido, entrega em bandeja descartável para o cliente”, explica.
O estabelecimento não tem registro de avaliações no Google ou no site Reclame Aqui.