Filho de imigrante judeu romeno, Ari Svartsnaider visitava todos os fins de semana a loja de tapetes do pai, localizada na famosa Rua da Alfândega, no Rio de Janeiro. Era um local pequeno e com uma diferença importante em relação aos concorrentes vizinhos. Não havia letreiros. “Depois eu comecei a entender que a loja do meu pai era cheia, tanto quanto as outras, porque ele construiu confiança”, diz o hoje empresário.
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É justamente essa construção de confiança que Ari tem como ideal para sua rede de calçados e acessórios, a Mr. Cat. Para o empreendedor, criar essa relação é muito mais importante do que fazer sapatos. E olha que a produção não é nada pequena. A previsão é fechar o ano com 1,2 milhão de pares e continuar a expansão da marca carioca por meio de franquias.
A fabricação de sapatos, aliás, entrou na vida do empresário por pura necessidade. Depois de começar a cursar engenharia, mas optar pela arquitetura por vocação, Ari recebeu a notícia de que seria pai. Na época, ele ainda era estagiário e lembra que não tinha dinheiro sequer para abastecer o automóvel.
“Nunca gostei de competição. Eu brinco que quando jogava vôlei, quando estava 14 a 14, eu falava para dar a bola para outro. Não queria responsabilidade nenhuma. Mas aí apareceu a gravidez, estava 14 a 14 e a bola veio pra mim. Começou a bater um desespero e pensei: como vou resolver essa história?”
A saída foi buscar um negócio sem concorrentes e a resposta veio de um amigo que trabalhava em uma butique com a mãe. “Fui lá e perguntei: o que você precisa e que ninguém faz? Ele respondeu: sapato.” Foi aí que Ari lembrou de um estilo de calçado que todo mundo usava na época em que fez intercâmbio nos Estados Unidos: o buck.
O investimento inicial da empresa foi um metro de couro, comprado com dinheiro emprestado da mãe. O início da Mr. Cat, em 1980, e outras experiências de Ari foram compartilhadas pelo empresário no Encontro PME. Confira os principais trechos.
Praticidade Na busca por um sócio, Ari deparou-se com o engenheiro Alberto Zyngier, que topou vender sua moto CB 400 para aplicar no negócio. “Ele comprou 50% da Mr. Cat com o dinheiro de uma moto. Foi muito bom para mim e muito bom para ele. A gente tem 250 brigas, mas se combinou, não precisa combinar duas vezes. Quer se associar com alguém? Olha o histórico. Falou está falado, combinou, está combinado”, afirmou Ari.
O empresário também adota um modelo diferente de conduzir a empresa – chega a fazer reuniões em um quiosques à beira da praia, por exemplo. “Reunião tem que ser onde der para ser. Ficar escravo de padrões é ruim”, disse. Ari também aconselha o empreendedor a buscar sua essência e fazer o seu próprio estilo. Um exemplo? O logotipo da Mr. Cat é um pato. “Já me chamaram na faculdade para falar sobre isso. Palestra? Só porque estou fazendo o que eu quero?”
Varejo Outra dica de Ari para quem pretende atuar no varejo é reduzir a variedade. E ele aprendeu isso da pior forma possível: endividando-se. “Eu desenhava melhor do que nossa capacidade de administrar. Fazia coleções enormes quando a inflação era de 30% ao mês”, contou. A solução veio com um mostruário feito apenas de sobras. Em seguida, a Mr. Cat passou a ter um fornecedor em Franca.
Receita Quando fez 40 anos, Ari decidiu que era o momento de equilibrar o trabalho na Mr. Cat com os esportes e passou então a surfar, nadar e praticar jiu-jítsu e musculação. “Sei que meu mau humor flutua em cima da endorfina que eu produzo nos meus esportes”, conta Ari, atualmente com 58 anos.
Esse grupo de atividades integra a receita recomendada a ele por um médico na Califórnia: boa alimentação, prática de esportes, tentar ter um baixo nível de estresse e humor no fim do dia. “É impossível. Mas se você prestar atenção nas quatro coisas, você pode mudar sua vida”, garante o empreendedor.
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