O mercado dos microempreendedores individuais cresceu tanto desde o início do programa MEI, há dez anos, que hoje eles são maioria entre todos os empreendimentos do Brasil. Uma mistura de crise econômica com desemprego empurrou trabalhadores ao programa e ao mercado de serviços, que, com um recente reaquecimento da economia, tem potencial de crescimento neste ano.
Relatório anual da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), o chamado Global Report, diz que 53% de todos os empreendimentos no Brasil são MEIs. O estudo aponta também que, com a perspectiva de melhora da economia, 31% dos brasileiros adultos veem o momento como oportuno para investir em um novo negócio.
Criado em 2008, o programa MEI tem ganhado mais popularidade entre possíveis empreendedores por, além de formalizar trabalhadores informais e garantir-lhes benefícios como salário-maternidade e auxílio-doença, também ser uma saída para o desemprego crescente nos últimos anos. Em média, há 1 milhão de novos MEIs por ano, segundo o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).
Para o professor e coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV-SP, Edgard Barki, o grande número de MEIs está ligado a três principais fatores: crise, facilitação e mudança de cultura. “A crise econômica fez o desemprego crescer, e o empreendimento individual torna-se uma alternativa para muitos. Outro fator é que o MEI é uma forma muito simples e vantajosa de abrir e manter um negócio. E o terceiro fator fica no sentido de uma geração que busca outras formas de vida e carreira.”
De acordo com o recente relatório do Sebrae “Os Negócios Promissores em 2019”, o contexto atual da melhora da economia deve favorecer principalmente empresas de micro e pequeno porte voltadas à prestação de serviços pessoais, como cuidador de idosos e os chamados “maridos de aluguel”, profissionais que realizam serviços gerais em residências e empresas.
“Quanto mais a economia se reaquece, mais o poder de compra das pessoas aumenta e, naturalmente, mais serviços são demandados e mais oportunidades são geradas”, diz o diretor superintendente do Sebrae-SP, Luis Sobral.
O documento anual do Sebrae contabiliza 3,4 milhões de MEIs no setor de serviços, que representam 45% do total de negócios nesse setor no País. Além disso, o crescimento dos micros nesse nicho é constante. Entre 2014 e 2018, houve um aumento médio de 18% ao ano de MEIs no setor de serviços.
A tendência de crescimento se mantém para 2019, diz o Sebrae, ainda mais observado o aumento, no ano passado, do limite de faturamento anual para MEIs de R$ 61 mil para R$ 81 mil. “(O valor) limitava muito, a empresa era empurrada para virar uma microempresa por conta do faturamento médio mensal e isso desestimulava novos empreendedores”, comenta Sobral.
Novos micros. Wagner Cardoso Ferreira, de 45 anos, engrossa a lista de microempreendedores individuais desde outubro de 2018. Depois de fazer carreira na área comercial de um grande banco, após sair do emprego decidiu empreender em um negócio próprio voltado para pessoas da terceira idade, a Trust Sênior.
Estava acostumado a acompanhar a mãe e a sogra em tarefas do dia a dia e teve a ideia. “Enxerguei uma oportunidade por ver muitos deles se deparando com coisas a que não estavam acostumados ou tarefas que se tornaram difíceis para eles fazerem sozinhos”, conta.
Sua atuação envolve serviço de companhia e transporte, como acompanhamentos a consultas médicas e relatórios para a família do idoso, além de fazer compras e levar o cliente a eventos. “Fazemos companhia, mas não somos cuidadores enfermeiros. Somos um braço de suporte para idosos que precisam manter a qualidade de vida e sua rotina com segurança e tranquilidade.”
Além dos serviços prestados a idosos, como revelado pelo Sebrae, o ramo de “marido de aluguel” também é um dos que mais devem se beneficiar com o novo momento do País. Exemplo desse nicho é Itamar Reveriego, que consegue aproveitar o momento disponibilizando suas habilidades ao estilo “faz tudo”.
Formado em administração de empresas, depois de fechar um restaurante que teve por 17 anos Itamar morou nos Estados Unidos, na Nova Zelândia e em Portugal trabalhando no ramo de serviços em domicílio. Ao voltar ao Brasil, há dois anos, decidiu continuar apostando em ser marido de aluguel, pois não via grandes oportunidades.
“O mercado de trabalho tradicional no Brasil está muito difícil. Quando tem vaga, o salário é muito baixo”, conta. Hoje, depois de passar por cursos no Sebrae, fundou a Aloha para fazer serviços que vão desde lavagem de fachada a consertos de telhado.
Setores com maior potencial de expansão para MEIs em 2019
Serviços pessoais Assistência em domicílio, manutenção elétrica, cabeleireiros, manicure e fotografia
Serviços prestados a empresas Apoio administrativo, entregas, marketing direto, promoção de vendas e eventos
Serviços em transporte e educação Desenvolvimento profissional, transporte escolar e de carga e ensino de artes
*ESTAGIÁRIO SOB A SUPERVISÃO DO EDITOR DE SUPLEMENTOS, DANIEL FERNANDES