Maldivas à brasileira: casas flutuantes incrementam negócios de turismo


Construções sobre a água ganham reforço do turismo rural e de escapada e crescem durante a pandemia; veja dicas para empreender no nicho

Por Juliana Pio

Construções tradicionais no Norte, a exemplo de regiões do Amazonas, as casas flutuantes, que estão sobre águas, seja rio, lago, represa ou mar, têm incrementado negócios de turismo como opção de hospedagem para quem deseja maior contato com a natureza, de forma isolada e sem abrir mão da infraestrutura. 

Empreendimentos em diferentes locais do País, como Altar, Eco Boat House e Flutuante Tukano, viram a demanda crescer diante de tendências turísticas aceleradas na pandemia. As hospedagens flutuantes, que sempre foram reconhecidas como moradia, de alguns anos para cá passaram a ser vistas também como oportunidade de negócio, conta o arquiteto Felippe Mendes.

“São opções para quem aprecia as escapadas na natureza, quer conhecer destinos fora do habitual, procura por roteiros românticos ou quer combinar lazer e descanso com trabalho remoto”, explica Mendes. “Também não deixa de ser uma oportunidade mais acessível para quem sonha em experimentar se hospedar sobre águas no estilo Maldivas ou Ilhas do Pacífico, porém, com outra proposta.”

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O carro-chefe do Altar são as hospedagens flutuantes, sendo uma em represa de terreno privado, em Joanópolis (SP), e outra no Legado das Águas, também em São Paulo. Foto: Mel Audi

As estruturas das casas flutuantes variam de acordo com os empreendimentos, com opções luxuosas e rústicas integradas à natureza, podendo ser ou não motorizadas, mas com uma pegada sustentável, uma vez que precisam seguir normas, inclusive ambientais, de autoridade marítima e demais órgãos governamentais locais.

O Altar oferece quatro tipos de hospedagens, seguindo a tendência dos glampings (espécie de camping com glamour), mas o carro-chefe são as flutuantes, sendo uma em represa de terreno privado, localizado em Joanópolis, a duas horas da capital paulista, e outra no Legado das Águas, reserva privada também a duas horas de São Paulo. 

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A inspiração veio de projetos semelhantes observados pelos sócios durante viagem a países nórdicos. “A ideia é fazer uma escapada, desconectar. Não é competir com uma pousada no litoral da Bahia, que você programa nas férias. É algo que se pode pegar o carro e em poucas horas já estar lá”, explica Pedro Lira, um dos quatro proprietários, além de Rodrigo Martins, Facundo Guerra e Renata Bagnolesi.

A startup Altar aluga casasflutuantes em São Paulo e busca entregar aos viajantes experiência e qualidade semelhante a um quarto de hotel de alto padrão, em termos de acabamento e conforto. Foto: Bemloc

A empresa, fundada no início da pandemia, em 2020, tem dobrado o faturamento a cada ano e está em processo de expansão, organizando captação de investimentos, inicialmente, da ordem de R$ 10 milhões. A meta é chegar em 2023 com um total de 10 hospedagens, não apenas flutuantes, e nos próximos cinco anos, 100 construções espalhadas pelo Brasil. As diárias das flutuantes custam a partir de R$ 1.400, para o casal, sendo que as reservas nos finais de semana já estão fechadas até julho, por meio da plataforma Airbnb.

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O projeto busca entregar experiência semelhante a um quarto de hotel de alto padrão. Além de sala com cozinha integrada, banheiro e quarto, as casas contam ainda com deck, caiaque, churrasqueira e stand-up paddle. A alimentação fica por conta do hóspede, que também tem acesso a um pequeno mercado com produtos básicos no local.

Manutenção complexa 

Para a construção de uma flutuante, o Altar investiu entre R$ 700 mil e R$ 1 milhão. A fabricação e instalação são feitas em cerca de 120 dias, mas a operação é mais complexa e mais cara do que uma hospedagem em terra. “É uma casa e um barco ao mesmo tempo. Não está conectado com a energia do continente”, diz Lira, que também é arquiteto.

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A casa é presa ao fundo da represa por poitas, uma espécie de âncora mais pesada, e rotaciona no dia a dia apenas no próprio eixo, mas pode ser transferida para outro lugar. A estrutura é feita de madeira de reflorestamento, a energia é solar e os banheiros contam com um biodigestor que filtra os resíduos sólidos e devolve a água utilizada à represa.

“Há leis ambientais específicas de cada lugar e documentação própria da casa, aprovada e inspecionada pela Marinha”, salienta ele, que enxerga, pelo potencial do Brasil em ecoturismo, espaço de crescimento no setor. 

Eco Boat House, hospedagem flutuante em mar aberto, localizada na Vila do Abraão, em Ilha Grande, no Rio de Janeiro. Foto: Victor Sales
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Sócios da Eco Boat House, Gustavo Pergentino e Michele Hainz ainda precisam lidar com as adversidades do mar aberto, como ondas, salinidade e ventos de alta velocidade, na moradia flutuante que fica na Vila do Abraão, em Ilha Grande (RJ). Para se precaverem, acompanham constantemente ferramentas de análises meteorológicas. 

A Eco Boat House não tem motor e fica ancorada por oito poitas, permitindo que ela tenha certo movimento, mas sem sair de certo perímetro. A estrutura em madeira maçaranduba, tipo cabana, com quarto, sala e cozinha, fica em cima de um deck de cerca de 120 metros quadrados. Abaixo, a uma distância do mar em torno de 1,20m, ficam apoiados 186 flutuadores.

“A casa fica muito alta e é muito segura, prova disso é que está aqui há 20 anos, mesmo com todas as intempéries”, afirma o proprietário, que comprou o imóvel em 2019 e o decorou com artigos de arte que remetem a lembranças afetivas, como câmera antiga, vitrola e discos. “Isso agrega charme ao lugar, que por si só já é pitoresco.”

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A hospedagem também conta com um ecoarium, ao lado da cama, que permite vista para o fundo do mar. A energia é solar e, para os resíduos do banheiro, há um biodigestor. O esgoto, além de tratado, é coletado e descartado em local adequado no continente. 

De acordo com Pergentino, a Eco Boat House é registrada na Marinha. “O local onde estou tem as poitas da casa registradas, o que me dá a segurança de que esse lugar está sob domínio da embarcação.” A diária varia de R$ 800 e R$ 900, para o casal, e o custo para construção de hospedagem semelhante, hoje, gira em torno de R$ 500 mil a R$ 600 mil.

No Eco Boat House, há um ecoarium, ao lado da cama, que permite vista para o fundo do mar. Foto: Eco Boat House/Instagram

Como no Norte do Brasil

Quando construiu o Flutuante Tukano no Rio Tarumã, em Manaus, em 2019, Letícia Barros era a segunda empreendedora no local. Hoje, já há cerca de 30 negócios semelhantes, conta ela. Diferentemente do Altar e da Eco Boat House, a casa costuma ser alugada por grupos de 10 a 15 pessoas, amigos ou familiares, para passar o dia. 

A diária varia de R$ 250 a R$ 500 e a locação é feita pelo Instagram. “A tradição é ir para o flutuante, assar uma banda de tambaqui (peixe), deitar na rede e depois ficar de bubuia (mergulhado) na água”, diz Letícia, que sempre sonhou com o negócio. “Queria que os brasileiros conhecessem mais o Norte.” A água do rio é própria para nado e não raro os hóspedes encontram com animais, como boto e garça. 

De acordo com a manauara, embora o flutuante faça parte da cultura local, requer autorização da Marinha e, mais recentemente, documentação por parte do Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas). “Por muito tempo, o flutuante foi banalizado. Há cinco ou sete anos começou a ser visto, além de moradia, como empreendimento e isso se intensificou na pandemia.”

Flutuante Tukano, instalado no Rio Tarumã, em Manaus, recebe grupos de 10 a 15 pessoas, amigos ou familiares, para passar o dia. Foto: Pedro Paulo

A estrutura do Tukano é feita com MDF naval e ferro. O investimento foi entre R$ 60 mil e R$ 75 mil. “É diferente de um barco. Fica presa por quatro poitas e não tem motor. Para descolá-la, é preciso de nova autorização da Marinha.” A energia é solar e a água utilizada nos banheiros e na cozinha é captada do rio.

O faturamento gira em torno de R$ 2.600 a R$ 3.200 por mês, mas no período de vazante, quando o nível da água desce, a hospedagem fica fechada para locação. Outro desafio, na visão de Barros, é que esse tipo de casa ainda é pouco conhecida no Brasil como opção de hospedagem. “Até hoje, só recebi três pessoas de outros Estados. Gostaria muito que os flutuantes fizessem parte do roteiro turístico de Manaus.”

3 dicas para empreender com casa flutuante

1. Licenças e legislação Identifique órgãos ambientais, estaduais e os relacionados a corpos d'água do território onde a casa será implantada, como a Marinha, para obter autorização de registro e de funcionamento. As normas variam de acordo com o tipo de operação, localização, se é represa, rio ou mar, por exemplo, cidade e Estado.

2. Autonomia e sustentabilidade Busque soluções sustentáveis e autônomas para água, energia e esgoto, uma vez que a estrutura em geral fica distante do continente. Além disso, garanta os cuidados com o ambiente, conforme a legislação, no que se refere ao tratamento de dejetos do banheiro e lixo.

3. Previsão do tempo Esteja preparado para lidar com imprevistos e intempéries. Em rios, por exemplo, há o processo de vazante, quando o nível da água desce ao longo de vários dias. No mar aberto, é preciso ter uma casa que se sustente diante de ondas, salinidade e ventos de alta velocidade. 

Quer debater assuntos de Carreira e Empreendedorismo? Entre para o nosso grupo no Telegram pelo link ou digite @gruposuacarreira na barra de pesquisa do aplicativo.

Construções tradicionais no Norte, a exemplo de regiões do Amazonas, as casas flutuantes, que estão sobre águas, seja rio, lago, represa ou mar, têm incrementado negócios de turismo como opção de hospedagem para quem deseja maior contato com a natureza, de forma isolada e sem abrir mão da infraestrutura. 

Empreendimentos em diferentes locais do País, como Altar, Eco Boat House e Flutuante Tukano, viram a demanda crescer diante de tendências turísticas aceleradas na pandemia. As hospedagens flutuantes, que sempre foram reconhecidas como moradia, de alguns anos para cá passaram a ser vistas também como oportunidade de negócio, conta o arquiteto Felippe Mendes.

“São opções para quem aprecia as escapadas na natureza, quer conhecer destinos fora do habitual, procura por roteiros românticos ou quer combinar lazer e descanso com trabalho remoto”, explica Mendes. “Também não deixa de ser uma oportunidade mais acessível para quem sonha em experimentar se hospedar sobre águas no estilo Maldivas ou Ilhas do Pacífico, porém, com outra proposta.”

O carro-chefe do Altar são as hospedagens flutuantes, sendo uma em represa de terreno privado, em Joanópolis (SP), e outra no Legado das Águas, também em São Paulo. Foto: Mel Audi

As estruturas das casas flutuantes variam de acordo com os empreendimentos, com opções luxuosas e rústicas integradas à natureza, podendo ser ou não motorizadas, mas com uma pegada sustentável, uma vez que precisam seguir normas, inclusive ambientais, de autoridade marítima e demais órgãos governamentais locais.

O Altar oferece quatro tipos de hospedagens, seguindo a tendência dos glampings (espécie de camping com glamour), mas o carro-chefe são as flutuantes, sendo uma em represa de terreno privado, localizado em Joanópolis, a duas horas da capital paulista, e outra no Legado das Águas, reserva privada também a duas horas de São Paulo. 

A inspiração veio de projetos semelhantes observados pelos sócios durante viagem a países nórdicos. “A ideia é fazer uma escapada, desconectar. Não é competir com uma pousada no litoral da Bahia, que você programa nas férias. É algo que se pode pegar o carro e em poucas horas já estar lá”, explica Pedro Lira, um dos quatro proprietários, além de Rodrigo Martins, Facundo Guerra e Renata Bagnolesi.

A startup Altar aluga casasflutuantes em São Paulo e busca entregar aos viajantes experiência e qualidade semelhante a um quarto de hotel de alto padrão, em termos de acabamento e conforto. Foto: Bemloc

A empresa, fundada no início da pandemia, em 2020, tem dobrado o faturamento a cada ano e está em processo de expansão, organizando captação de investimentos, inicialmente, da ordem de R$ 10 milhões. A meta é chegar em 2023 com um total de 10 hospedagens, não apenas flutuantes, e nos próximos cinco anos, 100 construções espalhadas pelo Brasil. As diárias das flutuantes custam a partir de R$ 1.400, para o casal, sendo que as reservas nos finais de semana já estão fechadas até julho, por meio da plataforma Airbnb.

O projeto busca entregar experiência semelhante a um quarto de hotel de alto padrão. Além de sala com cozinha integrada, banheiro e quarto, as casas contam ainda com deck, caiaque, churrasqueira e stand-up paddle. A alimentação fica por conta do hóspede, que também tem acesso a um pequeno mercado com produtos básicos no local.

Manutenção complexa 

Para a construção de uma flutuante, o Altar investiu entre R$ 700 mil e R$ 1 milhão. A fabricação e instalação são feitas em cerca de 120 dias, mas a operação é mais complexa e mais cara do que uma hospedagem em terra. “É uma casa e um barco ao mesmo tempo. Não está conectado com a energia do continente”, diz Lira, que também é arquiteto.

A casa é presa ao fundo da represa por poitas, uma espécie de âncora mais pesada, e rotaciona no dia a dia apenas no próprio eixo, mas pode ser transferida para outro lugar. A estrutura é feita de madeira de reflorestamento, a energia é solar e os banheiros contam com um biodigestor que filtra os resíduos sólidos e devolve a água utilizada à represa.

“Há leis ambientais específicas de cada lugar e documentação própria da casa, aprovada e inspecionada pela Marinha”, salienta ele, que enxerga, pelo potencial do Brasil em ecoturismo, espaço de crescimento no setor. 

Eco Boat House, hospedagem flutuante em mar aberto, localizada na Vila do Abraão, em Ilha Grande, no Rio de Janeiro. Foto: Victor Sales

Sócios da Eco Boat House, Gustavo Pergentino e Michele Hainz ainda precisam lidar com as adversidades do mar aberto, como ondas, salinidade e ventos de alta velocidade, na moradia flutuante que fica na Vila do Abraão, em Ilha Grande (RJ). Para se precaverem, acompanham constantemente ferramentas de análises meteorológicas. 

A Eco Boat House não tem motor e fica ancorada por oito poitas, permitindo que ela tenha certo movimento, mas sem sair de certo perímetro. A estrutura em madeira maçaranduba, tipo cabana, com quarto, sala e cozinha, fica em cima de um deck de cerca de 120 metros quadrados. Abaixo, a uma distância do mar em torno de 1,20m, ficam apoiados 186 flutuadores.

“A casa fica muito alta e é muito segura, prova disso é que está aqui há 20 anos, mesmo com todas as intempéries”, afirma o proprietário, que comprou o imóvel em 2019 e o decorou com artigos de arte que remetem a lembranças afetivas, como câmera antiga, vitrola e discos. “Isso agrega charme ao lugar, que por si só já é pitoresco.”

A hospedagem também conta com um ecoarium, ao lado da cama, que permite vista para o fundo do mar. A energia é solar e, para os resíduos do banheiro, há um biodigestor. O esgoto, além de tratado, é coletado e descartado em local adequado no continente. 

De acordo com Pergentino, a Eco Boat House é registrada na Marinha. “O local onde estou tem as poitas da casa registradas, o que me dá a segurança de que esse lugar está sob domínio da embarcação.” A diária varia de R$ 800 e R$ 900, para o casal, e o custo para construção de hospedagem semelhante, hoje, gira em torno de R$ 500 mil a R$ 600 mil.

No Eco Boat House, há um ecoarium, ao lado da cama, que permite vista para o fundo do mar. Foto: Eco Boat House/Instagram

Como no Norte do Brasil

Quando construiu o Flutuante Tukano no Rio Tarumã, em Manaus, em 2019, Letícia Barros era a segunda empreendedora no local. Hoje, já há cerca de 30 negócios semelhantes, conta ela. Diferentemente do Altar e da Eco Boat House, a casa costuma ser alugada por grupos de 10 a 15 pessoas, amigos ou familiares, para passar o dia. 

A diária varia de R$ 250 a R$ 500 e a locação é feita pelo Instagram. “A tradição é ir para o flutuante, assar uma banda de tambaqui (peixe), deitar na rede e depois ficar de bubuia (mergulhado) na água”, diz Letícia, que sempre sonhou com o negócio. “Queria que os brasileiros conhecessem mais o Norte.” A água do rio é própria para nado e não raro os hóspedes encontram com animais, como boto e garça. 

De acordo com a manauara, embora o flutuante faça parte da cultura local, requer autorização da Marinha e, mais recentemente, documentação por parte do Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas). “Por muito tempo, o flutuante foi banalizado. Há cinco ou sete anos começou a ser visto, além de moradia, como empreendimento e isso se intensificou na pandemia.”

Flutuante Tukano, instalado no Rio Tarumã, em Manaus, recebe grupos de 10 a 15 pessoas, amigos ou familiares, para passar o dia. Foto: Pedro Paulo

A estrutura do Tukano é feita com MDF naval e ferro. O investimento foi entre R$ 60 mil e R$ 75 mil. “É diferente de um barco. Fica presa por quatro poitas e não tem motor. Para descolá-la, é preciso de nova autorização da Marinha.” A energia é solar e a água utilizada nos banheiros e na cozinha é captada do rio.

O faturamento gira em torno de R$ 2.600 a R$ 3.200 por mês, mas no período de vazante, quando o nível da água desce, a hospedagem fica fechada para locação. Outro desafio, na visão de Barros, é que esse tipo de casa ainda é pouco conhecida no Brasil como opção de hospedagem. “Até hoje, só recebi três pessoas de outros Estados. Gostaria muito que os flutuantes fizessem parte do roteiro turístico de Manaus.”

3 dicas para empreender com casa flutuante

1. Licenças e legislação Identifique órgãos ambientais, estaduais e os relacionados a corpos d'água do território onde a casa será implantada, como a Marinha, para obter autorização de registro e de funcionamento. As normas variam de acordo com o tipo de operação, localização, se é represa, rio ou mar, por exemplo, cidade e Estado.

2. Autonomia e sustentabilidade Busque soluções sustentáveis e autônomas para água, energia e esgoto, uma vez que a estrutura em geral fica distante do continente. Além disso, garanta os cuidados com o ambiente, conforme a legislação, no que se refere ao tratamento de dejetos do banheiro e lixo.

3. Previsão do tempo Esteja preparado para lidar com imprevistos e intempéries. Em rios, por exemplo, há o processo de vazante, quando o nível da água desce ao longo de vários dias. No mar aberto, é preciso ter uma casa que se sustente diante de ondas, salinidade e ventos de alta velocidade. 

Quer debater assuntos de Carreira e Empreendedorismo? Entre para o nosso grupo no Telegram pelo link ou digite @gruposuacarreira na barra de pesquisa do aplicativo.

Construções tradicionais no Norte, a exemplo de regiões do Amazonas, as casas flutuantes, que estão sobre águas, seja rio, lago, represa ou mar, têm incrementado negócios de turismo como opção de hospedagem para quem deseja maior contato com a natureza, de forma isolada e sem abrir mão da infraestrutura. 

Empreendimentos em diferentes locais do País, como Altar, Eco Boat House e Flutuante Tukano, viram a demanda crescer diante de tendências turísticas aceleradas na pandemia. As hospedagens flutuantes, que sempre foram reconhecidas como moradia, de alguns anos para cá passaram a ser vistas também como oportunidade de negócio, conta o arquiteto Felippe Mendes.

“São opções para quem aprecia as escapadas na natureza, quer conhecer destinos fora do habitual, procura por roteiros românticos ou quer combinar lazer e descanso com trabalho remoto”, explica Mendes. “Também não deixa de ser uma oportunidade mais acessível para quem sonha em experimentar se hospedar sobre águas no estilo Maldivas ou Ilhas do Pacífico, porém, com outra proposta.”

O carro-chefe do Altar são as hospedagens flutuantes, sendo uma em represa de terreno privado, em Joanópolis (SP), e outra no Legado das Águas, também em São Paulo. Foto: Mel Audi

As estruturas das casas flutuantes variam de acordo com os empreendimentos, com opções luxuosas e rústicas integradas à natureza, podendo ser ou não motorizadas, mas com uma pegada sustentável, uma vez que precisam seguir normas, inclusive ambientais, de autoridade marítima e demais órgãos governamentais locais.

O Altar oferece quatro tipos de hospedagens, seguindo a tendência dos glampings (espécie de camping com glamour), mas o carro-chefe são as flutuantes, sendo uma em represa de terreno privado, localizado em Joanópolis, a duas horas da capital paulista, e outra no Legado das Águas, reserva privada também a duas horas de São Paulo. 

A inspiração veio de projetos semelhantes observados pelos sócios durante viagem a países nórdicos. “A ideia é fazer uma escapada, desconectar. Não é competir com uma pousada no litoral da Bahia, que você programa nas férias. É algo que se pode pegar o carro e em poucas horas já estar lá”, explica Pedro Lira, um dos quatro proprietários, além de Rodrigo Martins, Facundo Guerra e Renata Bagnolesi.

A startup Altar aluga casasflutuantes em São Paulo e busca entregar aos viajantes experiência e qualidade semelhante a um quarto de hotel de alto padrão, em termos de acabamento e conforto. Foto: Bemloc

A empresa, fundada no início da pandemia, em 2020, tem dobrado o faturamento a cada ano e está em processo de expansão, organizando captação de investimentos, inicialmente, da ordem de R$ 10 milhões. A meta é chegar em 2023 com um total de 10 hospedagens, não apenas flutuantes, e nos próximos cinco anos, 100 construções espalhadas pelo Brasil. As diárias das flutuantes custam a partir de R$ 1.400, para o casal, sendo que as reservas nos finais de semana já estão fechadas até julho, por meio da plataforma Airbnb.

O projeto busca entregar experiência semelhante a um quarto de hotel de alto padrão. Além de sala com cozinha integrada, banheiro e quarto, as casas contam ainda com deck, caiaque, churrasqueira e stand-up paddle. A alimentação fica por conta do hóspede, que também tem acesso a um pequeno mercado com produtos básicos no local.

Manutenção complexa 

Para a construção de uma flutuante, o Altar investiu entre R$ 700 mil e R$ 1 milhão. A fabricação e instalação são feitas em cerca de 120 dias, mas a operação é mais complexa e mais cara do que uma hospedagem em terra. “É uma casa e um barco ao mesmo tempo. Não está conectado com a energia do continente”, diz Lira, que também é arquiteto.

A casa é presa ao fundo da represa por poitas, uma espécie de âncora mais pesada, e rotaciona no dia a dia apenas no próprio eixo, mas pode ser transferida para outro lugar. A estrutura é feita de madeira de reflorestamento, a energia é solar e os banheiros contam com um biodigestor que filtra os resíduos sólidos e devolve a água utilizada à represa.

“Há leis ambientais específicas de cada lugar e documentação própria da casa, aprovada e inspecionada pela Marinha”, salienta ele, que enxerga, pelo potencial do Brasil em ecoturismo, espaço de crescimento no setor. 

Eco Boat House, hospedagem flutuante em mar aberto, localizada na Vila do Abraão, em Ilha Grande, no Rio de Janeiro. Foto: Victor Sales

Sócios da Eco Boat House, Gustavo Pergentino e Michele Hainz ainda precisam lidar com as adversidades do mar aberto, como ondas, salinidade e ventos de alta velocidade, na moradia flutuante que fica na Vila do Abraão, em Ilha Grande (RJ). Para se precaverem, acompanham constantemente ferramentas de análises meteorológicas. 

A Eco Boat House não tem motor e fica ancorada por oito poitas, permitindo que ela tenha certo movimento, mas sem sair de certo perímetro. A estrutura em madeira maçaranduba, tipo cabana, com quarto, sala e cozinha, fica em cima de um deck de cerca de 120 metros quadrados. Abaixo, a uma distância do mar em torno de 1,20m, ficam apoiados 186 flutuadores.

“A casa fica muito alta e é muito segura, prova disso é que está aqui há 20 anos, mesmo com todas as intempéries”, afirma o proprietário, que comprou o imóvel em 2019 e o decorou com artigos de arte que remetem a lembranças afetivas, como câmera antiga, vitrola e discos. “Isso agrega charme ao lugar, que por si só já é pitoresco.”

A hospedagem também conta com um ecoarium, ao lado da cama, que permite vista para o fundo do mar. A energia é solar e, para os resíduos do banheiro, há um biodigestor. O esgoto, além de tratado, é coletado e descartado em local adequado no continente. 

De acordo com Pergentino, a Eco Boat House é registrada na Marinha. “O local onde estou tem as poitas da casa registradas, o que me dá a segurança de que esse lugar está sob domínio da embarcação.” A diária varia de R$ 800 e R$ 900, para o casal, e o custo para construção de hospedagem semelhante, hoje, gira em torno de R$ 500 mil a R$ 600 mil.

No Eco Boat House, há um ecoarium, ao lado da cama, que permite vista para o fundo do mar. Foto: Eco Boat House/Instagram

Como no Norte do Brasil

Quando construiu o Flutuante Tukano no Rio Tarumã, em Manaus, em 2019, Letícia Barros era a segunda empreendedora no local. Hoje, já há cerca de 30 negócios semelhantes, conta ela. Diferentemente do Altar e da Eco Boat House, a casa costuma ser alugada por grupos de 10 a 15 pessoas, amigos ou familiares, para passar o dia. 

A diária varia de R$ 250 a R$ 500 e a locação é feita pelo Instagram. “A tradição é ir para o flutuante, assar uma banda de tambaqui (peixe), deitar na rede e depois ficar de bubuia (mergulhado) na água”, diz Letícia, que sempre sonhou com o negócio. “Queria que os brasileiros conhecessem mais o Norte.” A água do rio é própria para nado e não raro os hóspedes encontram com animais, como boto e garça. 

De acordo com a manauara, embora o flutuante faça parte da cultura local, requer autorização da Marinha e, mais recentemente, documentação por parte do Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas). “Por muito tempo, o flutuante foi banalizado. Há cinco ou sete anos começou a ser visto, além de moradia, como empreendimento e isso se intensificou na pandemia.”

Flutuante Tukano, instalado no Rio Tarumã, em Manaus, recebe grupos de 10 a 15 pessoas, amigos ou familiares, para passar o dia. Foto: Pedro Paulo

A estrutura do Tukano é feita com MDF naval e ferro. O investimento foi entre R$ 60 mil e R$ 75 mil. “É diferente de um barco. Fica presa por quatro poitas e não tem motor. Para descolá-la, é preciso de nova autorização da Marinha.” A energia é solar e a água utilizada nos banheiros e na cozinha é captada do rio.

O faturamento gira em torno de R$ 2.600 a R$ 3.200 por mês, mas no período de vazante, quando o nível da água desce, a hospedagem fica fechada para locação. Outro desafio, na visão de Barros, é que esse tipo de casa ainda é pouco conhecida no Brasil como opção de hospedagem. “Até hoje, só recebi três pessoas de outros Estados. Gostaria muito que os flutuantes fizessem parte do roteiro turístico de Manaus.”

3 dicas para empreender com casa flutuante

1. Licenças e legislação Identifique órgãos ambientais, estaduais e os relacionados a corpos d'água do território onde a casa será implantada, como a Marinha, para obter autorização de registro e de funcionamento. As normas variam de acordo com o tipo de operação, localização, se é represa, rio ou mar, por exemplo, cidade e Estado.

2. Autonomia e sustentabilidade Busque soluções sustentáveis e autônomas para água, energia e esgoto, uma vez que a estrutura em geral fica distante do continente. Além disso, garanta os cuidados com o ambiente, conforme a legislação, no que se refere ao tratamento de dejetos do banheiro e lixo.

3. Previsão do tempo Esteja preparado para lidar com imprevistos e intempéries. Em rios, por exemplo, há o processo de vazante, quando o nível da água desce ao longo de vários dias. No mar aberto, é preciso ter uma casa que se sustente diante de ondas, salinidade e ventos de alta velocidade. 

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