Empreendedorismo: consumo consciente ganha primeiro marketplace


Plataforma começa com 100 empresas, como Trama Livre, Irene Ri e Mina Art; até o fim de 2023, expectativa é chegar a 500 lojistas

Por Bianca Zanatta

Responsabilidade socioambiental, uso de matéria-prima reciclada, valorização da mão de obra e uma série de pilares associados ao consumo consciente eram uma preocupação embrionária no Brasil quando as empreendedoras Gladys Tchoport e Claudia Kievel se conheceram pelo Facebook, em 2011. Formada em Moda, Gladys organizava bazares na época enquanto Claudia realizava festas noturnas.

Vendo uma sinergia de ideias, elas decidiram criar algo do zero, ainda sem saber ao certo o que seria. “Queríamos uma atividade diurna, que na época era tudo muito noturno, que tivesse uma ligação forte com o manual e uma preocupação socioambiental para o trabalho”, conta.

Foi assim que nasceu o projeto Jardim Secreto, hoje uma rede que envolve feiras, festivais, espaço físico – a Casa Jardim Secreto, instalada no bairro paulistano de Santa Cecília – e que acaba de expandir sua atuação para o online, inaugurando o primeiro marketplace de consumo consciente para todo o País.

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Com o propósito de valorizar o “local, pequeno e atemporal” e apoiar e impulsionar empreendedores de segmentos como arte, decoração, moda, bem-estar e mercearia que se pautam pela causa, a plataforma conta com 100 marcas já na largada, e o objetivo é chegar a 500 até o final de 2023.

Na foto, as sócias do Jardim Secreto, Matketplace de consumo consciente. Foto: Pamela Alves/ Divulgação Foto: Pamela Alves/ Divulgação

“Desde o começo a gente faz uma curadoria muito forte, é o nosso grande diferencial. Quando eu estava no universo da moda, presenciei situações de trabalho escravo no Bom Retiro. Isso marcou minha vida. Nosso trabalho é evidenciar marcas que se preocupam com questões como essa”, diz Gladys.

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Do manual para o digital

A empreendedora fala que o marketplace foi um grande desafio porque elas ficaram muitos anos sem querer nada com a internet, valorizando sempre o contato presencial. Mas a pandemia transformou o pensamento. Como muitos, acabaram por fazer o primeiro atendimento por WhatsApp na história do negócio e aprenderam a estruturar a logística de entrega na raça, mas o digital continuava não sendo o foco.

Foi no início de 2022 que elas tomaram a decisão de desenvolver a plataforma para expandir o negócio, sem a limitação física. Conseguiram uma investidora-anjo e, com um aporte inicial de R$ 180 mil, passaram a focar no portfólio, que inclui pequenos e médios empreendedores de todo o Brasil capazes de entregar seus produtos nacionalmente.

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Para fazer parte desse time, as marcas precisam atender a quatro regras de curadoria da rede: consumo consciente (projetos alinhados ao propósito de transformar a relação com aquilo que consumimos, com transparência e sem excessos); produção justa (compromisso com uma produção responsável, justa e sustentável, da retirada da matéria-primeira ao pagamento da mão de obra); foco socioambiental (projetos, marcas e artistas dedicados a diminuir o impacto negativo no meio ambiente e gerar impacto positivo na sociedade); e originalidade (trabalhos com referências à própria vivência e visão de mundo do empreendedor, deixando de lado o olhar para o concorrente).

Empoderamento responsável

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Criada no período pré-eleitoral de 2018, a paulistana Trama Livre está entre as 100 marcas que o público encontra na plataforma. A empreendedora Patrícia Rios, que idealizou e desenvolveu a ideia com seu parceiro, conta que tem o propósito de empoderar as mulheres contra a opressão do patriarcado através de artigos subversivos - mas há também a preocupação de trazer um impacto socioambiental positivo. Com frases como “lute como uma mãe” e “homem bonito é o que questiona seus privilégios”, os panos de prato são produzidos a partir de matéria-prima reciclada pela indústria brasileira.

Os demais produtos, como camisetas e ecobags, são biodegradáveis, confeccionados em tecido 100% algodão e serigrafados com tinta atóxica. Além disso, a produção acontece sob demanda, reduzindo o desperdício e o descarte, tão comuns no setor têxtil.

Patrícia Rios, fundadora da marca Trama Livre. Foto: Pamela Alves/ Divulgação
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Para Patrícia, o público de fato está mais preocupado e interessado em entender como, onde e quem faz os produtos que leva para casa. O novo marketplace vai encurtar o caminho entre esses negócios e quem compra de forma consciente. “Fazer parte do Jardim Secreto é estar em contato com um público muito mais consciente e disposto a nos ouvir, não apenas como marcas, mas também como pessoas”, diz ela. “A expectativa é alcançar um público que compreende e apoia pequenos negócios em nível nacional e conseguir expandir nossa marca para além de onde os espaços físicos e as feiras nos permitem chegar.”

Da Chapada Diamantina para o Brasil

Outra marca que esta no marketplace é a Irene Ri, empresa de cosméticos naturais, da empreendedora Tais Tatit Barossi. Ela conta que nasceu na capital paulista, mas o gosto por estar perto da natureza a levou a escrever uma outra história. Viajou pelo Brasil, trabalhou no Pantanal com comunidades ribeirinhas, na Amazônia com os indígenas Yanomami e viveu por um tempo na Chapada Diamantina, no coração do Cerrado baiano. “Sempre questionei a forma precária e consumista como nós da metrópole nos relacionamos com a natureza e a maneira inconsciente com que usamos os recursos que o planeta nos disponibiliza”, diz.

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Tais Tatit Barossi, fundadora da Irene Ri, sempre questionou o consumismo dos moradores das metrópoles Foto: Kahuan Teixeira/ Divulgação

A empreendedora ainda morava no Cerrado quando teve o primeiro filho e passou meses sem trabalho e angustiada, tentando resolver uma equação que parecia impossível: ter um trabalho que trouxesse remuneração e impactasse positivamente o meio ambiente e as pessoas, mas ao mesmo tempo lhe permitisse continuar próxima do filho. “Aos poucos fui me dando conta que a resposta estava bem na minha cara. Ficou claro como a natureza é fundamental para o equilíbrio da saúde, e foi lá que me caiu a ficha de que é possível levar o espírito da natureza, seus cheiros, aromas e texturas para a grande cidade onde eu nasci”, revela.

A Irene Ri começou no pequeno vilarejo onde ela vivia antes de voltar para São Paulo. “Era tudo muito artesanal mesmo, eu escrevia os rótulos a mão”, lembra Tais, que lançou a marca oficialmente em 2019 e, de lá para cá, tem visto o faturamento dobrar a cada ano. “As meninas do Jardim Secreto deram um baita empurrão para a gente começar a decolar. Ainda estamos no começo, mas queremos continuar ao lado delas porque têm esse olhar cuidadoso para marcas que estimulam o consumo consciente e também por serem criativas nas diferentes maneiras de tornar viável o encontro dessas marcas com o público”, afirma.

Arte e representatividade

Outra que espera ampliar seu alcance com o novo marketplace é a Mina Art, fundada por Maria Eduarda Henriques e Helena Sammarone Henriques, que são também pai e filha. Maria Eduarda - ou Duda -, artista plástica por trás das jóias, peças de moda e artigos de decoração da marca, é uma mulher trans. A filha conta que ela estava há 27 anos trabalhando em uma multinacional quando começou sua transição de gênero, em 2018, e decidiu se desligar do emprego para trabalhar com artes plásticas.

Fez cursos no exterior para desenvolver caleidoscópios, que ela sempre colecionou, e no meio do caminho aprendeu um processo de produção de joalheria que hoje é o carro-chefe delas: a pintura de cobre com chama de alta temperatura, em que a artista gradualmente oxida o cobre com um maçarico e as cores vão se revelando.

Maria Eduarda Henriques e Helena Sammarone Henriques, fundadoras da Mina Art, fazem joias e objetos de decoração Foto: Mina Art/Divulgação

“Eu estava fazendo intercâmbio no meio disso tudo e, quando eu voltei para o Brasil, encontrei a Duda com os produtos já desenvolvidos e a possibilidade de participar de um evento, mas ainda sem um nome por trás da marca. Foi aí que nasceu a Mina”, conta a jovem empreendedora, que se tornou sócia do pai na empreitada. “Hoje em dia a gente é uma marca muito focada nos caleidoscópios, jóias e estampas para roupa, e tem como objetivo falar sobre a causa trans e sobre a nossa família, mostrando um case de otimismo e esperança para a comunidade trans, que é muito marginalizada no nosso País”, ela acrescenta.

“As pessoas que compram nossas peças acabam comprando também a nossa mensagem e ajudando a gente a levar adiante todo esse propósito que criamos na nossa marca, a partir da construção da nossa família.”

Responsabilidade socioambiental, uso de matéria-prima reciclada, valorização da mão de obra e uma série de pilares associados ao consumo consciente eram uma preocupação embrionária no Brasil quando as empreendedoras Gladys Tchoport e Claudia Kievel se conheceram pelo Facebook, em 2011. Formada em Moda, Gladys organizava bazares na época enquanto Claudia realizava festas noturnas.

Vendo uma sinergia de ideias, elas decidiram criar algo do zero, ainda sem saber ao certo o que seria. “Queríamos uma atividade diurna, que na época era tudo muito noturno, que tivesse uma ligação forte com o manual e uma preocupação socioambiental para o trabalho”, conta.

Foi assim que nasceu o projeto Jardim Secreto, hoje uma rede que envolve feiras, festivais, espaço físico – a Casa Jardim Secreto, instalada no bairro paulistano de Santa Cecília – e que acaba de expandir sua atuação para o online, inaugurando o primeiro marketplace de consumo consciente para todo o País.

Com o propósito de valorizar o “local, pequeno e atemporal” e apoiar e impulsionar empreendedores de segmentos como arte, decoração, moda, bem-estar e mercearia que se pautam pela causa, a plataforma conta com 100 marcas já na largada, e o objetivo é chegar a 500 até o final de 2023.

Na foto, as sócias do Jardim Secreto, Matketplace de consumo consciente. Foto: Pamela Alves/ Divulgação Foto: Pamela Alves/ Divulgação

“Desde o começo a gente faz uma curadoria muito forte, é o nosso grande diferencial. Quando eu estava no universo da moda, presenciei situações de trabalho escravo no Bom Retiro. Isso marcou minha vida. Nosso trabalho é evidenciar marcas que se preocupam com questões como essa”, diz Gladys.

Do manual para o digital

A empreendedora fala que o marketplace foi um grande desafio porque elas ficaram muitos anos sem querer nada com a internet, valorizando sempre o contato presencial. Mas a pandemia transformou o pensamento. Como muitos, acabaram por fazer o primeiro atendimento por WhatsApp na história do negócio e aprenderam a estruturar a logística de entrega na raça, mas o digital continuava não sendo o foco.

Foi no início de 2022 que elas tomaram a decisão de desenvolver a plataforma para expandir o negócio, sem a limitação física. Conseguiram uma investidora-anjo e, com um aporte inicial de R$ 180 mil, passaram a focar no portfólio, que inclui pequenos e médios empreendedores de todo o Brasil capazes de entregar seus produtos nacionalmente.

Para fazer parte desse time, as marcas precisam atender a quatro regras de curadoria da rede: consumo consciente (projetos alinhados ao propósito de transformar a relação com aquilo que consumimos, com transparência e sem excessos); produção justa (compromisso com uma produção responsável, justa e sustentável, da retirada da matéria-primeira ao pagamento da mão de obra); foco socioambiental (projetos, marcas e artistas dedicados a diminuir o impacto negativo no meio ambiente e gerar impacto positivo na sociedade); e originalidade (trabalhos com referências à própria vivência e visão de mundo do empreendedor, deixando de lado o olhar para o concorrente).

Empoderamento responsável

Criada no período pré-eleitoral de 2018, a paulistana Trama Livre está entre as 100 marcas que o público encontra na plataforma. A empreendedora Patrícia Rios, que idealizou e desenvolveu a ideia com seu parceiro, conta que tem o propósito de empoderar as mulheres contra a opressão do patriarcado através de artigos subversivos - mas há também a preocupação de trazer um impacto socioambiental positivo. Com frases como “lute como uma mãe” e “homem bonito é o que questiona seus privilégios”, os panos de prato são produzidos a partir de matéria-prima reciclada pela indústria brasileira.

Os demais produtos, como camisetas e ecobags, são biodegradáveis, confeccionados em tecido 100% algodão e serigrafados com tinta atóxica. Além disso, a produção acontece sob demanda, reduzindo o desperdício e o descarte, tão comuns no setor têxtil.

Patrícia Rios, fundadora da marca Trama Livre. Foto: Pamela Alves/ Divulgação

Para Patrícia, o público de fato está mais preocupado e interessado em entender como, onde e quem faz os produtos que leva para casa. O novo marketplace vai encurtar o caminho entre esses negócios e quem compra de forma consciente. “Fazer parte do Jardim Secreto é estar em contato com um público muito mais consciente e disposto a nos ouvir, não apenas como marcas, mas também como pessoas”, diz ela. “A expectativa é alcançar um público que compreende e apoia pequenos negócios em nível nacional e conseguir expandir nossa marca para além de onde os espaços físicos e as feiras nos permitem chegar.”

Da Chapada Diamantina para o Brasil

Outra marca que esta no marketplace é a Irene Ri, empresa de cosméticos naturais, da empreendedora Tais Tatit Barossi. Ela conta que nasceu na capital paulista, mas o gosto por estar perto da natureza a levou a escrever uma outra história. Viajou pelo Brasil, trabalhou no Pantanal com comunidades ribeirinhas, na Amazônia com os indígenas Yanomami e viveu por um tempo na Chapada Diamantina, no coração do Cerrado baiano. “Sempre questionei a forma precária e consumista como nós da metrópole nos relacionamos com a natureza e a maneira inconsciente com que usamos os recursos que o planeta nos disponibiliza”, diz.

Tais Tatit Barossi, fundadora da Irene Ri, sempre questionou o consumismo dos moradores das metrópoles Foto: Kahuan Teixeira/ Divulgação

A empreendedora ainda morava no Cerrado quando teve o primeiro filho e passou meses sem trabalho e angustiada, tentando resolver uma equação que parecia impossível: ter um trabalho que trouxesse remuneração e impactasse positivamente o meio ambiente e as pessoas, mas ao mesmo tempo lhe permitisse continuar próxima do filho. “Aos poucos fui me dando conta que a resposta estava bem na minha cara. Ficou claro como a natureza é fundamental para o equilíbrio da saúde, e foi lá que me caiu a ficha de que é possível levar o espírito da natureza, seus cheiros, aromas e texturas para a grande cidade onde eu nasci”, revela.

A Irene Ri começou no pequeno vilarejo onde ela vivia antes de voltar para São Paulo. “Era tudo muito artesanal mesmo, eu escrevia os rótulos a mão”, lembra Tais, que lançou a marca oficialmente em 2019 e, de lá para cá, tem visto o faturamento dobrar a cada ano. “As meninas do Jardim Secreto deram um baita empurrão para a gente começar a decolar. Ainda estamos no começo, mas queremos continuar ao lado delas porque têm esse olhar cuidadoso para marcas que estimulam o consumo consciente e também por serem criativas nas diferentes maneiras de tornar viável o encontro dessas marcas com o público”, afirma.

Arte e representatividade

Outra que espera ampliar seu alcance com o novo marketplace é a Mina Art, fundada por Maria Eduarda Henriques e Helena Sammarone Henriques, que são também pai e filha. Maria Eduarda - ou Duda -, artista plástica por trás das jóias, peças de moda e artigos de decoração da marca, é uma mulher trans. A filha conta que ela estava há 27 anos trabalhando em uma multinacional quando começou sua transição de gênero, em 2018, e decidiu se desligar do emprego para trabalhar com artes plásticas.

Fez cursos no exterior para desenvolver caleidoscópios, que ela sempre colecionou, e no meio do caminho aprendeu um processo de produção de joalheria que hoje é o carro-chefe delas: a pintura de cobre com chama de alta temperatura, em que a artista gradualmente oxida o cobre com um maçarico e as cores vão se revelando.

Maria Eduarda Henriques e Helena Sammarone Henriques, fundadoras da Mina Art, fazem joias e objetos de decoração Foto: Mina Art/Divulgação

“Eu estava fazendo intercâmbio no meio disso tudo e, quando eu voltei para o Brasil, encontrei a Duda com os produtos já desenvolvidos e a possibilidade de participar de um evento, mas ainda sem um nome por trás da marca. Foi aí que nasceu a Mina”, conta a jovem empreendedora, que se tornou sócia do pai na empreitada. “Hoje em dia a gente é uma marca muito focada nos caleidoscópios, jóias e estampas para roupa, e tem como objetivo falar sobre a causa trans e sobre a nossa família, mostrando um case de otimismo e esperança para a comunidade trans, que é muito marginalizada no nosso País”, ela acrescenta.

“As pessoas que compram nossas peças acabam comprando também a nossa mensagem e ajudando a gente a levar adiante todo esse propósito que criamos na nossa marca, a partir da construção da nossa família.”

Responsabilidade socioambiental, uso de matéria-prima reciclada, valorização da mão de obra e uma série de pilares associados ao consumo consciente eram uma preocupação embrionária no Brasil quando as empreendedoras Gladys Tchoport e Claudia Kievel se conheceram pelo Facebook, em 2011. Formada em Moda, Gladys organizava bazares na época enquanto Claudia realizava festas noturnas.

Vendo uma sinergia de ideias, elas decidiram criar algo do zero, ainda sem saber ao certo o que seria. “Queríamos uma atividade diurna, que na época era tudo muito noturno, que tivesse uma ligação forte com o manual e uma preocupação socioambiental para o trabalho”, conta.

Foi assim que nasceu o projeto Jardim Secreto, hoje uma rede que envolve feiras, festivais, espaço físico – a Casa Jardim Secreto, instalada no bairro paulistano de Santa Cecília – e que acaba de expandir sua atuação para o online, inaugurando o primeiro marketplace de consumo consciente para todo o País.

Com o propósito de valorizar o “local, pequeno e atemporal” e apoiar e impulsionar empreendedores de segmentos como arte, decoração, moda, bem-estar e mercearia que se pautam pela causa, a plataforma conta com 100 marcas já na largada, e o objetivo é chegar a 500 até o final de 2023.

Na foto, as sócias do Jardim Secreto, Matketplace de consumo consciente. Foto: Pamela Alves/ Divulgação Foto: Pamela Alves/ Divulgação

“Desde o começo a gente faz uma curadoria muito forte, é o nosso grande diferencial. Quando eu estava no universo da moda, presenciei situações de trabalho escravo no Bom Retiro. Isso marcou minha vida. Nosso trabalho é evidenciar marcas que se preocupam com questões como essa”, diz Gladys.

Do manual para o digital

A empreendedora fala que o marketplace foi um grande desafio porque elas ficaram muitos anos sem querer nada com a internet, valorizando sempre o contato presencial. Mas a pandemia transformou o pensamento. Como muitos, acabaram por fazer o primeiro atendimento por WhatsApp na história do negócio e aprenderam a estruturar a logística de entrega na raça, mas o digital continuava não sendo o foco.

Foi no início de 2022 que elas tomaram a decisão de desenvolver a plataforma para expandir o negócio, sem a limitação física. Conseguiram uma investidora-anjo e, com um aporte inicial de R$ 180 mil, passaram a focar no portfólio, que inclui pequenos e médios empreendedores de todo o Brasil capazes de entregar seus produtos nacionalmente.

Para fazer parte desse time, as marcas precisam atender a quatro regras de curadoria da rede: consumo consciente (projetos alinhados ao propósito de transformar a relação com aquilo que consumimos, com transparência e sem excessos); produção justa (compromisso com uma produção responsável, justa e sustentável, da retirada da matéria-primeira ao pagamento da mão de obra); foco socioambiental (projetos, marcas e artistas dedicados a diminuir o impacto negativo no meio ambiente e gerar impacto positivo na sociedade); e originalidade (trabalhos com referências à própria vivência e visão de mundo do empreendedor, deixando de lado o olhar para o concorrente).

Empoderamento responsável

Criada no período pré-eleitoral de 2018, a paulistana Trama Livre está entre as 100 marcas que o público encontra na plataforma. A empreendedora Patrícia Rios, que idealizou e desenvolveu a ideia com seu parceiro, conta que tem o propósito de empoderar as mulheres contra a opressão do patriarcado através de artigos subversivos - mas há também a preocupação de trazer um impacto socioambiental positivo. Com frases como “lute como uma mãe” e “homem bonito é o que questiona seus privilégios”, os panos de prato são produzidos a partir de matéria-prima reciclada pela indústria brasileira.

Os demais produtos, como camisetas e ecobags, são biodegradáveis, confeccionados em tecido 100% algodão e serigrafados com tinta atóxica. Além disso, a produção acontece sob demanda, reduzindo o desperdício e o descarte, tão comuns no setor têxtil.

Patrícia Rios, fundadora da marca Trama Livre. Foto: Pamela Alves/ Divulgação

Para Patrícia, o público de fato está mais preocupado e interessado em entender como, onde e quem faz os produtos que leva para casa. O novo marketplace vai encurtar o caminho entre esses negócios e quem compra de forma consciente. “Fazer parte do Jardim Secreto é estar em contato com um público muito mais consciente e disposto a nos ouvir, não apenas como marcas, mas também como pessoas”, diz ela. “A expectativa é alcançar um público que compreende e apoia pequenos negócios em nível nacional e conseguir expandir nossa marca para além de onde os espaços físicos e as feiras nos permitem chegar.”

Da Chapada Diamantina para o Brasil

Outra marca que esta no marketplace é a Irene Ri, empresa de cosméticos naturais, da empreendedora Tais Tatit Barossi. Ela conta que nasceu na capital paulista, mas o gosto por estar perto da natureza a levou a escrever uma outra história. Viajou pelo Brasil, trabalhou no Pantanal com comunidades ribeirinhas, na Amazônia com os indígenas Yanomami e viveu por um tempo na Chapada Diamantina, no coração do Cerrado baiano. “Sempre questionei a forma precária e consumista como nós da metrópole nos relacionamos com a natureza e a maneira inconsciente com que usamos os recursos que o planeta nos disponibiliza”, diz.

Tais Tatit Barossi, fundadora da Irene Ri, sempre questionou o consumismo dos moradores das metrópoles Foto: Kahuan Teixeira/ Divulgação

A empreendedora ainda morava no Cerrado quando teve o primeiro filho e passou meses sem trabalho e angustiada, tentando resolver uma equação que parecia impossível: ter um trabalho que trouxesse remuneração e impactasse positivamente o meio ambiente e as pessoas, mas ao mesmo tempo lhe permitisse continuar próxima do filho. “Aos poucos fui me dando conta que a resposta estava bem na minha cara. Ficou claro como a natureza é fundamental para o equilíbrio da saúde, e foi lá que me caiu a ficha de que é possível levar o espírito da natureza, seus cheiros, aromas e texturas para a grande cidade onde eu nasci”, revela.

A Irene Ri começou no pequeno vilarejo onde ela vivia antes de voltar para São Paulo. “Era tudo muito artesanal mesmo, eu escrevia os rótulos a mão”, lembra Tais, que lançou a marca oficialmente em 2019 e, de lá para cá, tem visto o faturamento dobrar a cada ano. “As meninas do Jardim Secreto deram um baita empurrão para a gente começar a decolar. Ainda estamos no começo, mas queremos continuar ao lado delas porque têm esse olhar cuidadoso para marcas que estimulam o consumo consciente e também por serem criativas nas diferentes maneiras de tornar viável o encontro dessas marcas com o público”, afirma.

Arte e representatividade

Outra que espera ampliar seu alcance com o novo marketplace é a Mina Art, fundada por Maria Eduarda Henriques e Helena Sammarone Henriques, que são também pai e filha. Maria Eduarda - ou Duda -, artista plástica por trás das jóias, peças de moda e artigos de decoração da marca, é uma mulher trans. A filha conta que ela estava há 27 anos trabalhando em uma multinacional quando começou sua transição de gênero, em 2018, e decidiu se desligar do emprego para trabalhar com artes plásticas.

Fez cursos no exterior para desenvolver caleidoscópios, que ela sempre colecionou, e no meio do caminho aprendeu um processo de produção de joalheria que hoje é o carro-chefe delas: a pintura de cobre com chama de alta temperatura, em que a artista gradualmente oxida o cobre com um maçarico e as cores vão se revelando.

Maria Eduarda Henriques e Helena Sammarone Henriques, fundadoras da Mina Art, fazem joias e objetos de decoração Foto: Mina Art/Divulgação

“Eu estava fazendo intercâmbio no meio disso tudo e, quando eu voltei para o Brasil, encontrei a Duda com os produtos já desenvolvidos e a possibilidade de participar de um evento, mas ainda sem um nome por trás da marca. Foi aí que nasceu a Mina”, conta a jovem empreendedora, que se tornou sócia do pai na empreitada. “Hoje em dia a gente é uma marca muito focada nos caleidoscópios, jóias e estampas para roupa, e tem como objetivo falar sobre a causa trans e sobre a nossa família, mostrando um case de otimismo e esperança para a comunidade trans, que é muito marginalizada no nosso País”, ela acrescenta.

“As pessoas que compram nossas peças acabam comprando também a nossa mensagem e ajudando a gente a levar adiante todo esse propósito que criamos na nossa marca, a partir da construção da nossa família.”

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