De um terço à metade dos adultos em todo o mundo sofre de algum distúrbio do sono, sendo que ao menos 15% têm insônia crônica - ou seja, dormem mal ou não dormem ao menos 3 vezes por semana. No Brasil, a insônia crônica é pior: salta de 15% para quase 25% dos adultos, segundo Gustavo Moreira Afip, médico do Instituto do Sono.
Predisposições genéticas, idade, doenças crônicas, excesso de estímulos e ruídos, além de maus hábitos como ingerir álcool em excesso, são fatores que prejudicam o sono de qualidade e favorecem a insônia.
“Viver em um ambiente urbano como São Paulo, com excesso de estímulos o tempo todo, aumenta as chances de insônia”, diz o médico. “As pessoas também perderam a rotina nas grandes cidades. Não têm horário certo para dormir e acordar, com tendência a exagerar nos finais de semana.”
Ciente desse problema, a engenheira Renata Bonaldi, que sempre trabalhou com inovações disruptivas e tecnologias ligadas à saúde, resolveu fazer algo a respeito. “Além de os fármacos não trabalharem a causa, há pouquíssimos especialistas e médicos do sono e o tratamento é caro”, diz a empreendedora e CEO da SleepUp, que desenvolveu uma solução de terapia digital para suprir a necessidade de um tratamento de sono acessível.
A startup foi selecionada pela última edição do programa de aceleração Samsung Creative Startups, ao lado de outras 13 empresas. “Tivemos um respaldo muito bacana, revisitamos todo nosso design thinking em testes de usabilidade do aplicativo”, ela conta. A tecnologia para insônia da SleepUp inclusive acaba de ser aprovada pela Anvisa, tornando-se a primeira terapia digital, segundo a empreendedora, a passar pelo crivo do órgão regulatório.
A versão inicial do aplicativo surgiu durante a pandemia, em julho de 2020, e já teve mais de 6 mil downloads. Segundo Renata, que tem como sócia Paula Redondo, o plano gratuito traz dicas, índices, um diário do sono e módulos temáticos como depressão e menopausa, além de 9 testes clínicos que captam as informações para personalizar a terapia. Já a versão premium, que é paga, tem uma terapia cognitiva completa e oferece telemedicina para casos mais crônicos.
Agora a empresa está desenvolvendo uma faixa que, quando colocada na cabeça durante o sono, capta sinais vitais e envia para o aplicativo, detectando movimento, atividade cerebral, temperatura e batimento cardíaco.
“As pessoas e os profissionais de saúde querem uma alternativa para monitorar o sono. É uma tecnologia portátil do eletroencefalograma para tratamento contínuo, um gadget para entender e avaliar a qualidade do sono”, explica.
Diagnóstico compartilhado com médicos
Outra que se debruçou sobre as noites mal dormidas foi a Vigilantes do Sono, fundada pelos engenheiros Lucas Baraças e Guilherme Hashioka e pela psicóloga do sono Laura Castro. De acordo com Lucas, ele e o sócio trabalhavam com consultoria para desenvolver aplicativos quando uma empresa farmacêutica decidiu melhorar o processo terapêutico de quem usava suas medicações para dormir. “Queriam criar um diário do sono, mas a gente entendeu que as pessoas não iriam querer usar um app só com isso. Precisávamos agregar mais valor”, ele conta.
A dupla chegou a apresentar o projeto que seria a semente da Vigilantes do Sono para a farmacêutica, mas a empresa optou por não investir. Foi então que eles mesmos decidiram tocar a ideia.
O aplicativo aposta na mudança de comportamento para melhorar as condições clínicas da pessoa trabalhando quatro pilares, segundo o engenheiro: monitoramento da condição do sono, ensino sobre as mudanças de comportamento necessárias e apresentação de técnicas que podem ser aplicadas no dia a dia para dormir melhor e descansar (ouça abaixo podcast sobre como promover descanso de corpo e mente para melhorar a saúde).
“A gente digitalizou o protocolo da terapia cognitiva comportamental para insônia e uma robozinha chamada Sonia vai passando para a pessoa tudo que ela pode estar fazendo de errado”, ele explica. “A comunidade (em que as pessoas podem trocar experiências) também ajuda porque a insônia é uma condição muito solitária, um processo que as pessoas muitas vezes não conseguem compartilhar nem com quem dorme do lado delas.”
Ele destaca ainda que o app vincula o usuário a um especialista para fazer o acompanhamento. “Geralmente são médicos, mas tem psicólogo, dentista, fisioterapeuta e uma série de profissionais de saúde que hoje usam o Vigilantes com os pacientes deles para fazer esse acompanhamento e engajar as pessoas dentro do programa”, conta.
Fábrica de cochilos
Também inspirada no universo do descanso, a Cochilo aponta para uma outra necessidade ainda pouco (ou quase nada) explorada no mercado - o cochilo. O primeiro “cochilódromo” da empresa foi inaugurado em 2012 na Rua Augusta, no centro de São Paulo. “Não havia no mundo algo que fosse dedicado ao descanso por um espaço curto de tempo”, relata Camila Alonso, sócia da empreitada ao lado dos pais. “Viraram pontos de acolhimento e silêncio dentro de uma grande cidade”, ela observa.
As funcionalidades do espaço são voltadas para esse sono curto, que pode durar de 15 a 60 minutos. “A ideia é que a cabine faça você relaxar o mais rápido possível e não dormir tanto tempo, uma vez que um sono profundo durante o dia não é indicado porque pode desregular o sono noturno.”
Para garantir o relaxamento, as cabines são privativas e têm camas com um formato diferente, que ajuda na circulação sanguínea e onde a lombar encaixa bem. Dentro do equipamento também é possível regular a cromoterapia e optar por canais de música. Para quem prefere o silêncio, as paredes contam com isolamento acústico. “Quando o período do cochilo termina, a própria cabine te desperta de maneira suave, com uma vibração da cama e o acender das luzes”, Camila esclarece.
Apesar de o cochilódromo ter nascido em resposta a uma não-aderência das empresas aos espaços para descanso, ela conta que, desde 2015, a Cochilo conseguiu entrar no mundo corporativo. Hoje, além de hospitais como o Albert Einstein e fábricas que não puderam interromper as atividades na pandemia, algumas companhias mantêm cabines mesmo no cenário pandêmico, como as gigantes Procter & Gamble e Novartis.
“São empresas que se preocupam com o bem-estar dos colaboradores porque, quando a cabine do cochilo chega, ela está chancelando a bandeira do descanso”, diz a empreendedora, contando que muitas empresas acham, de forma preconceituosa, que o cochilo é “coisa de preguiçoso”.
Agora, com as pessoas em home office, a interação da Cochilo com as empresas se transformou ainda em um serviço chamado Desligue 30 Minutos, com experiências adaptadas ao online para promover um momento de desconexão. “São ideias como som-terapia, contação de histórias, lives e outras provocações para realmente se desligar na pausa agendada no meio do dia”, diz Camila.
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