Morou na rua, perdeu o emprego e agora fatura R$ 2 milhões com app de transporte no interior de MG


Sérgio Brito fundou a Te Levo Mobile, concorrente local da Uber, após perder o emprego durante a pandemia

Por João Scheller

Muito se passou na vida do empresário Sérgio Brito, de 43 anos, até que ele criasse um aplicativo de transporte concorrente da Uber, na cidade de Araxá (MG). Desde a busca por trabalho na colheita de café em Itamogi (MG), passando pelas dificuldades financeiras que o levaram a morar na rua durante mais de dois anos, até o empreendedorismo que surgiu após anos trabalhando com gastronomia.

Atualmente, ele fatura cerca de R$ 2 milhões com a Te Levo Mobile, que fundou durante a pandemia, depois de perder o emprego e trabalhar como motorista de aplicativo por alguns meses.

“Fui crescendo e tive vontade de mudar o quadro de vida da minha família”, conta Brito, cuja mãe trabalhava como diarista e o pai em uma usina de cana-de-açúcar. Seu emprego de assistente de padeiro na cidade não permitia com que conseguisse dinheiro suficiente para ajudar a família e decidiu sair da cidade para buscar uma oportunidade melhor.

continua após a publicidade
Sérgio Brito é fundador da Te Levo Mobile, concorrente da Uber em Araxá (MG) Foto: Te Levo Mobile/Divulgação

Procura de oportunidades na colheita de café

Em 2005, Brito, então com 25 anos, se mudou para Itamogi, cidade com cerca de 10 mil habitantes, distante 400 km da capital Belo Horizonte, para trabalhar na colheita de café. A empolgação inicial tomou conta do rapaz.

continua após a publicidade

Pela primeira vez ele teve oportunidade de comprar o que nunca pôde e alugar uma casa confortável. A falta de cuidado com a gestão financeira, porém, fez com que não tivesse dinheiro para se manter no período de entressafra.

Foi obrigado a deixar a casa alugada e passou a dormir nos bancos próximos ao estádio municipal da cidade. “Eu tinha que ter voltado para casa”, afirma Brito, olhando para trás com mais experiência. Ele lembra claramente da vergonha de contar sobre sua situação para a família e o sentimento de ter “fracassado” na procura de um futuro melhor.

“Todo mundo que se torna um morador de rua sempre pensa que o outro dia vai dar certo. Que amanhã vai arranjar algum trabalho pequeno e vai dar certo. Mas no outro dia não deu certo, nem no outro”, relembra. “Nisso, já passaram três dias que eu não conseguia tomar banho, a barba já estava maior e as pessoas já começam a te olhar de outra forma. É impressionante o quão rápido você passa de uma pessoa que tinha uma casa, para quem não tem nada”, completa.

continua após a publicidade

Com o tempo, Sérgio não tinha mais dinheiro para telefonar para a família e perdeu o contato. Ele viveu nas ruas de Itamogi por mais de dois anos.

No retorno para casa, Brito se encontra na gastronomia

Foi na igreja local da cidade que surgiu a oportunidade de reencontrar a família. O pai de Brito, sabendo da fé do filho e do costume de frequentar os cultos, contatou todas as igrejas da denominação seguida pela família nas cidades da região.

continua após a publicidade

Depois de alguns meses, o pastor de Itamogi comentou que havia um rapaz que frequentava os cultos e se sentava nos fundos da igreja, com as mesmas características descritas pelo pai.

Com ajuda de um pastor de Miguelópolis, o pai de Sérgio, José Carlos, foi até Itamogi resgatar o filho e levá-lo de volta para casa. De volta a Miguelópolis e junto da família, Brito retomou o trabalho como assistente de padeiro.

Te Levo Mobile faturou cerca de R$ 2 milhões no primeiro ano de operação Foto: Te Levo Mobile/Divulgação
continua após a publicidade

A rotina de assar pães, fazer bolos e outros produtos vendidos na padaria o fez desenvolver gosto pela culinária. Mas o salário ainda era baixo. Nessa época, foi incentivado a participar de um concurso de beleza promovido na cidade de Franca (SP), cerca de uma hora de distância de onde morava, para concorrer a uma bolsa de estudos.

“O pessoal falava que eu deveria me inscrever. Eles conseguiram me fazer acreditar que eu era bonito e fui disputar esse concurso de modelo, olha que loucura”, relembra Brito, aos risos.

Ele ficou em segundo lugar e ganhou uma bolsa para estudar gastronomia. Passou os anos seguintes indo e voltando de Franca para concluir os estudos. Ao fim do período, arranjou emprego em um hotel de luxo em Araxá.

continua após a publicidade

Pandemia muda os planos

Brito trabalhou no hotel por quase seis anos, até a chegada da pandemia. O local teve que fechar temporariamente e desligou parte do seu quadro de funcionários - entre eles, Brito. Assim, ele passou a trabalhar como motorista de aplicativo na Uber durante alguns meses.

“Me questionava se todos os motoristas de aplicativo trabalhavam assim”, diz, mencionando o que ele descreve como “falta de assistência” das empresas de transporte por apps. “Tinha um cliente que não me pagou, eu não tinha para quem relatar, era só por e-mail. Não tinha como ir no banheiro, porque não havia um local para os motoristas, um ponto de apoio”, completa. Foi aí que surgiu a ideia de criar a Te Levo Mobile, uma espécie de concorrente da Uber na cidade de Araxá.

O movimento de aplicativos de transporte locais têm sido visto em diferentes cidades do interior do País. Estas plataformas se apresentam como alternativas aos grandes players do setor, como Uber e 99 e, em geral, oferecem algum tipo de vantagem para os usuários, como atendimento personalizado e taxas menores, para se diferenciar no mercado.

No caso da Te Levo, os motoristas parceiros contam tanto com seguro, quanto com suporte da própria empresa em caso de acidentes rotineiros, como a necessidade de troca de um pneu furado, por exemplo. Há ainda uma central telefônica na cidade que atende tanto motoristas, quanto passageiros, o que faz com que o atendimento seja mais efetivo e rápido.

“Como a Te Levo é daqui, se acontecer algo, já tenho apoio, assistência. Eles não te deixam na mão de forma alguma”, conta Mayko Oliveira, que há um ano e três meses trabalha na plataforma. Ele, que opera também com outros apps de transporte na cidade - prática comum entre os motoristas - diz que o suporte que tem na companhia criada por Sérgio é um dos diferenciais que tem atraído mais clientes e parceiros para a plataforma.

A empresa conta com uma sede onde os motoristas podem ir ao banheiro, tomar água, café, ou descansar durante o período de trabalho. Uma vez por mês, Brito realiza um café da tarde com os motoristas para ouvir as demandas dos parceiros. Há ainda desconto no combustível e na compra de peças para parceiros do app.

“A gente conseguiu perceber que o segredo do negócio é o motorista”, diz Brito. A novidade parece ter dado certo. Começando a operar em janeiro de 2022, a Te Levo já faturou R$ 2 milhões no primeiro ano de operações e já funciona em outras cidades da região, como Ibiá (MG), Sacramento (MG) e Monte Carmelo (MG).

Ainda este mês a empresa expande suas operações também para Catalão (GO) e Miguelópolis. Em 2024 a meta é chegar em mais 15 cidades, apostando no sistema de franquias.

Olhando para trás, a história de vida de Brito não passou sem deixar marcas. Ele teve de passar por um tratamento de saúde, quando deixou as ruas, para tratar de uma infecção desenvolvida nas cordas vocais. A suspeita é que ele a tenha contraído ao ingerir alimentos estragados enquanto morava na rua. Ao falar com a reportagem, Brito gagueja um pouco, parte da sequela que o acompanha até hoje.

Durante a entrevista ele se emociona ao contar da sua trajetória. “Se essa história conseguir dar esperança para ao menos uma pessoa já vou ficar muito feliz”, diz. “Para quem morava na rua, olha a vida que eu tenho hoje”, completa.

Muito se passou na vida do empresário Sérgio Brito, de 43 anos, até que ele criasse um aplicativo de transporte concorrente da Uber, na cidade de Araxá (MG). Desde a busca por trabalho na colheita de café em Itamogi (MG), passando pelas dificuldades financeiras que o levaram a morar na rua durante mais de dois anos, até o empreendedorismo que surgiu após anos trabalhando com gastronomia.

Atualmente, ele fatura cerca de R$ 2 milhões com a Te Levo Mobile, que fundou durante a pandemia, depois de perder o emprego e trabalhar como motorista de aplicativo por alguns meses.

“Fui crescendo e tive vontade de mudar o quadro de vida da minha família”, conta Brito, cuja mãe trabalhava como diarista e o pai em uma usina de cana-de-açúcar. Seu emprego de assistente de padeiro na cidade não permitia com que conseguisse dinheiro suficiente para ajudar a família e decidiu sair da cidade para buscar uma oportunidade melhor.

Sérgio Brito é fundador da Te Levo Mobile, concorrente da Uber em Araxá (MG) Foto: Te Levo Mobile/Divulgação

Procura de oportunidades na colheita de café

Em 2005, Brito, então com 25 anos, se mudou para Itamogi, cidade com cerca de 10 mil habitantes, distante 400 km da capital Belo Horizonte, para trabalhar na colheita de café. A empolgação inicial tomou conta do rapaz.

Pela primeira vez ele teve oportunidade de comprar o que nunca pôde e alugar uma casa confortável. A falta de cuidado com a gestão financeira, porém, fez com que não tivesse dinheiro para se manter no período de entressafra.

Foi obrigado a deixar a casa alugada e passou a dormir nos bancos próximos ao estádio municipal da cidade. “Eu tinha que ter voltado para casa”, afirma Brito, olhando para trás com mais experiência. Ele lembra claramente da vergonha de contar sobre sua situação para a família e o sentimento de ter “fracassado” na procura de um futuro melhor.

“Todo mundo que se torna um morador de rua sempre pensa que o outro dia vai dar certo. Que amanhã vai arranjar algum trabalho pequeno e vai dar certo. Mas no outro dia não deu certo, nem no outro”, relembra. “Nisso, já passaram três dias que eu não conseguia tomar banho, a barba já estava maior e as pessoas já começam a te olhar de outra forma. É impressionante o quão rápido você passa de uma pessoa que tinha uma casa, para quem não tem nada”, completa.

Com o tempo, Sérgio não tinha mais dinheiro para telefonar para a família e perdeu o contato. Ele viveu nas ruas de Itamogi por mais de dois anos.

No retorno para casa, Brito se encontra na gastronomia

Foi na igreja local da cidade que surgiu a oportunidade de reencontrar a família. O pai de Brito, sabendo da fé do filho e do costume de frequentar os cultos, contatou todas as igrejas da denominação seguida pela família nas cidades da região.

Depois de alguns meses, o pastor de Itamogi comentou que havia um rapaz que frequentava os cultos e se sentava nos fundos da igreja, com as mesmas características descritas pelo pai.

Com ajuda de um pastor de Miguelópolis, o pai de Sérgio, José Carlos, foi até Itamogi resgatar o filho e levá-lo de volta para casa. De volta a Miguelópolis e junto da família, Brito retomou o trabalho como assistente de padeiro.

Te Levo Mobile faturou cerca de R$ 2 milhões no primeiro ano de operação Foto: Te Levo Mobile/Divulgação

A rotina de assar pães, fazer bolos e outros produtos vendidos na padaria o fez desenvolver gosto pela culinária. Mas o salário ainda era baixo. Nessa época, foi incentivado a participar de um concurso de beleza promovido na cidade de Franca (SP), cerca de uma hora de distância de onde morava, para concorrer a uma bolsa de estudos.

“O pessoal falava que eu deveria me inscrever. Eles conseguiram me fazer acreditar que eu era bonito e fui disputar esse concurso de modelo, olha que loucura”, relembra Brito, aos risos.

Ele ficou em segundo lugar e ganhou uma bolsa para estudar gastronomia. Passou os anos seguintes indo e voltando de Franca para concluir os estudos. Ao fim do período, arranjou emprego em um hotel de luxo em Araxá.

Pandemia muda os planos

Brito trabalhou no hotel por quase seis anos, até a chegada da pandemia. O local teve que fechar temporariamente e desligou parte do seu quadro de funcionários - entre eles, Brito. Assim, ele passou a trabalhar como motorista de aplicativo na Uber durante alguns meses.

“Me questionava se todos os motoristas de aplicativo trabalhavam assim”, diz, mencionando o que ele descreve como “falta de assistência” das empresas de transporte por apps. “Tinha um cliente que não me pagou, eu não tinha para quem relatar, era só por e-mail. Não tinha como ir no banheiro, porque não havia um local para os motoristas, um ponto de apoio”, completa. Foi aí que surgiu a ideia de criar a Te Levo Mobile, uma espécie de concorrente da Uber na cidade de Araxá.

O movimento de aplicativos de transporte locais têm sido visto em diferentes cidades do interior do País. Estas plataformas se apresentam como alternativas aos grandes players do setor, como Uber e 99 e, em geral, oferecem algum tipo de vantagem para os usuários, como atendimento personalizado e taxas menores, para se diferenciar no mercado.

No caso da Te Levo, os motoristas parceiros contam tanto com seguro, quanto com suporte da própria empresa em caso de acidentes rotineiros, como a necessidade de troca de um pneu furado, por exemplo. Há ainda uma central telefônica na cidade que atende tanto motoristas, quanto passageiros, o que faz com que o atendimento seja mais efetivo e rápido.

“Como a Te Levo é daqui, se acontecer algo, já tenho apoio, assistência. Eles não te deixam na mão de forma alguma”, conta Mayko Oliveira, que há um ano e três meses trabalha na plataforma. Ele, que opera também com outros apps de transporte na cidade - prática comum entre os motoristas - diz que o suporte que tem na companhia criada por Sérgio é um dos diferenciais que tem atraído mais clientes e parceiros para a plataforma.

A empresa conta com uma sede onde os motoristas podem ir ao banheiro, tomar água, café, ou descansar durante o período de trabalho. Uma vez por mês, Brito realiza um café da tarde com os motoristas para ouvir as demandas dos parceiros. Há ainda desconto no combustível e na compra de peças para parceiros do app.

“A gente conseguiu perceber que o segredo do negócio é o motorista”, diz Brito. A novidade parece ter dado certo. Começando a operar em janeiro de 2022, a Te Levo já faturou R$ 2 milhões no primeiro ano de operações e já funciona em outras cidades da região, como Ibiá (MG), Sacramento (MG) e Monte Carmelo (MG).

Ainda este mês a empresa expande suas operações também para Catalão (GO) e Miguelópolis. Em 2024 a meta é chegar em mais 15 cidades, apostando no sistema de franquias.

Olhando para trás, a história de vida de Brito não passou sem deixar marcas. Ele teve de passar por um tratamento de saúde, quando deixou as ruas, para tratar de uma infecção desenvolvida nas cordas vocais. A suspeita é que ele a tenha contraído ao ingerir alimentos estragados enquanto morava na rua. Ao falar com a reportagem, Brito gagueja um pouco, parte da sequela que o acompanha até hoje.

Durante a entrevista ele se emociona ao contar da sua trajetória. “Se essa história conseguir dar esperança para ao menos uma pessoa já vou ficar muito feliz”, diz. “Para quem morava na rua, olha a vida que eu tenho hoje”, completa.

Muito se passou na vida do empresário Sérgio Brito, de 43 anos, até que ele criasse um aplicativo de transporte concorrente da Uber, na cidade de Araxá (MG). Desde a busca por trabalho na colheita de café em Itamogi (MG), passando pelas dificuldades financeiras que o levaram a morar na rua durante mais de dois anos, até o empreendedorismo que surgiu após anos trabalhando com gastronomia.

Atualmente, ele fatura cerca de R$ 2 milhões com a Te Levo Mobile, que fundou durante a pandemia, depois de perder o emprego e trabalhar como motorista de aplicativo por alguns meses.

“Fui crescendo e tive vontade de mudar o quadro de vida da minha família”, conta Brito, cuja mãe trabalhava como diarista e o pai em uma usina de cana-de-açúcar. Seu emprego de assistente de padeiro na cidade não permitia com que conseguisse dinheiro suficiente para ajudar a família e decidiu sair da cidade para buscar uma oportunidade melhor.

Sérgio Brito é fundador da Te Levo Mobile, concorrente da Uber em Araxá (MG) Foto: Te Levo Mobile/Divulgação

Procura de oportunidades na colheita de café

Em 2005, Brito, então com 25 anos, se mudou para Itamogi, cidade com cerca de 10 mil habitantes, distante 400 km da capital Belo Horizonte, para trabalhar na colheita de café. A empolgação inicial tomou conta do rapaz.

Pela primeira vez ele teve oportunidade de comprar o que nunca pôde e alugar uma casa confortável. A falta de cuidado com a gestão financeira, porém, fez com que não tivesse dinheiro para se manter no período de entressafra.

Foi obrigado a deixar a casa alugada e passou a dormir nos bancos próximos ao estádio municipal da cidade. “Eu tinha que ter voltado para casa”, afirma Brito, olhando para trás com mais experiência. Ele lembra claramente da vergonha de contar sobre sua situação para a família e o sentimento de ter “fracassado” na procura de um futuro melhor.

“Todo mundo que se torna um morador de rua sempre pensa que o outro dia vai dar certo. Que amanhã vai arranjar algum trabalho pequeno e vai dar certo. Mas no outro dia não deu certo, nem no outro”, relembra. “Nisso, já passaram três dias que eu não conseguia tomar banho, a barba já estava maior e as pessoas já começam a te olhar de outra forma. É impressionante o quão rápido você passa de uma pessoa que tinha uma casa, para quem não tem nada”, completa.

Com o tempo, Sérgio não tinha mais dinheiro para telefonar para a família e perdeu o contato. Ele viveu nas ruas de Itamogi por mais de dois anos.

No retorno para casa, Brito se encontra na gastronomia

Foi na igreja local da cidade que surgiu a oportunidade de reencontrar a família. O pai de Brito, sabendo da fé do filho e do costume de frequentar os cultos, contatou todas as igrejas da denominação seguida pela família nas cidades da região.

Depois de alguns meses, o pastor de Itamogi comentou que havia um rapaz que frequentava os cultos e se sentava nos fundos da igreja, com as mesmas características descritas pelo pai.

Com ajuda de um pastor de Miguelópolis, o pai de Sérgio, José Carlos, foi até Itamogi resgatar o filho e levá-lo de volta para casa. De volta a Miguelópolis e junto da família, Brito retomou o trabalho como assistente de padeiro.

Te Levo Mobile faturou cerca de R$ 2 milhões no primeiro ano de operação Foto: Te Levo Mobile/Divulgação

A rotina de assar pães, fazer bolos e outros produtos vendidos na padaria o fez desenvolver gosto pela culinária. Mas o salário ainda era baixo. Nessa época, foi incentivado a participar de um concurso de beleza promovido na cidade de Franca (SP), cerca de uma hora de distância de onde morava, para concorrer a uma bolsa de estudos.

“O pessoal falava que eu deveria me inscrever. Eles conseguiram me fazer acreditar que eu era bonito e fui disputar esse concurso de modelo, olha que loucura”, relembra Brito, aos risos.

Ele ficou em segundo lugar e ganhou uma bolsa para estudar gastronomia. Passou os anos seguintes indo e voltando de Franca para concluir os estudos. Ao fim do período, arranjou emprego em um hotel de luxo em Araxá.

Pandemia muda os planos

Brito trabalhou no hotel por quase seis anos, até a chegada da pandemia. O local teve que fechar temporariamente e desligou parte do seu quadro de funcionários - entre eles, Brito. Assim, ele passou a trabalhar como motorista de aplicativo na Uber durante alguns meses.

“Me questionava se todos os motoristas de aplicativo trabalhavam assim”, diz, mencionando o que ele descreve como “falta de assistência” das empresas de transporte por apps. “Tinha um cliente que não me pagou, eu não tinha para quem relatar, era só por e-mail. Não tinha como ir no banheiro, porque não havia um local para os motoristas, um ponto de apoio”, completa. Foi aí que surgiu a ideia de criar a Te Levo Mobile, uma espécie de concorrente da Uber na cidade de Araxá.

O movimento de aplicativos de transporte locais têm sido visto em diferentes cidades do interior do País. Estas plataformas se apresentam como alternativas aos grandes players do setor, como Uber e 99 e, em geral, oferecem algum tipo de vantagem para os usuários, como atendimento personalizado e taxas menores, para se diferenciar no mercado.

No caso da Te Levo, os motoristas parceiros contam tanto com seguro, quanto com suporte da própria empresa em caso de acidentes rotineiros, como a necessidade de troca de um pneu furado, por exemplo. Há ainda uma central telefônica na cidade que atende tanto motoristas, quanto passageiros, o que faz com que o atendimento seja mais efetivo e rápido.

“Como a Te Levo é daqui, se acontecer algo, já tenho apoio, assistência. Eles não te deixam na mão de forma alguma”, conta Mayko Oliveira, que há um ano e três meses trabalha na plataforma. Ele, que opera também com outros apps de transporte na cidade - prática comum entre os motoristas - diz que o suporte que tem na companhia criada por Sérgio é um dos diferenciais que tem atraído mais clientes e parceiros para a plataforma.

A empresa conta com uma sede onde os motoristas podem ir ao banheiro, tomar água, café, ou descansar durante o período de trabalho. Uma vez por mês, Brito realiza um café da tarde com os motoristas para ouvir as demandas dos parceiros. Há ainda desconto no combustível e na compra de peças para parceiros do app.

“A gente conseguiu perceber que o segredo do negócio é o motorista”, diz Brito. A novidade parece ter dado certo. Começando a operar em janeiro de 2022, a Te Levo já faturou R$ 2 milhões no primeiro ano de operações e já funciona em outras cidades da região, como Ibiá (MG), Sacramento (MG) e Monte Carmelo (MG).

Ainda este mês a empresa expande suas operações também para Catalão (GO) e Miguelópolis. Em 2024 a meta é chegar em mais 15 cidades, apostando no sistema de franquias.

Olhando para trás, a história de vida de Brito não passou sem deixar marcas. Ele teve de passar por um tratamento de saúde, quando deixou as ruas, para tratar de uma infecção desenvolvida nas cordas vocais. A suspeita é que ele a tenha contraído ao ingerir alimentos estragados enquanto morava na rua. Ao falar com a reportagem, Brito gagueja um pouco, parte da sequela que o acompanha até hoje.

Durante a entrevista ele se emociona ao contar da sua trajetória. “Se essa história conseguir dar esperança para ao menos uma pessoa já vou ficar muito feliz”, diz. “Para quem morava na rua, olha a vida que eu tenho hoje”, completa.

Muito se passou na vida do empresário Sérgio Brito, de 43 anos, até que ele criasse um aplicativo de transporte concorrente da Uber, na cidade de Araxá (MG). Desde a busca por trabalho na colheita de café em Itamogi (MG), passando pelas dificuldades financeiras que o levaram a morar na rua durante mais de dois anos, até o empreendedorismo que surgiu após anos trabalhando com gastronomia.

Atualmente, ele fatura cerca de R$ 2 milhões com a Te Levo Mobile, que fundou durante a pandemia, depois de perder o emprego e trabalhar como motorista de aplicativo por alguns meses.

“Fui crescendo e tive vontade de mudar o quadro de vida da minha família”, conta Brito, cuja mãe trabalhava como diarista e o pai em uma usina de cana-de-açúcar. Seu emprego de assistente de padeiro na cidade não permitia com que conseguisse dinheiro suficiente para ajudar a família e decidiu sair da cidade para buscar uma oportunidade melhor.

Sérgio Brito é fundador da Te Levo Mobile, concorrente da Uber em Araxá (MG) Foto: Te Levo Mobile/Divulgação

Procura de oportunidades na colheita de café

Em 2005, Brito, então com 25 anos, se mudou para Itamogi, cidade com cerca de 10 mil habitantes, distante 400 km da capital Belo Horizonte, para trabalhar na colheita de café. A empolgação inicial tomou conta do rapaz.

Pela primeira vez ele teve oportunidade de comprar o que nunca pôde e alugar uma casa confortável. A falta de cuidado com a gestão financeira, porém, fez com que não tivesse dinheiro para se manter no período de entressafra.

Foi obrigado a deixar a casa alugada e passou a dormir nos bancos próximos ao estádio municipal da cidade. “Eu tinha que ter voltado para casa”, afirma Brito, olhando para trás com mais experiência. Ele lembra claramente da vergonha de contar sobre sua situação para a família e o sentimento de ter “fracassado” na procura de um futuro melhor.

“Todo mundo que se torna um morador de rua sempre pensa que o outro dia vai dar certo. Que amanhã vai arranjar algum trabalho pequeno e vai dar certo. Mas no outro dia não deu certo, nem no outro”, relembra. “Nisso, já passaram três dias que eu não conseguia tomar banho, a barba já estava maior e as pessoas já começam a te olhar de outra forma. É impressionante o quão rápido você passa de uma pessoa que tinha uma casa, para quem não tem nada”, completa.

Com o tempo, Sérgio não tinha mais dinheiro para telefonar para a família e perdeu o contato. Ele viveu nas ruas de Itamogi por mais de dois anos.

No retorno para casa, Brito se encontra na gastronomia

Foi na igreja local da cidade que surgiu a oportunidade de reencontrar a família. O pai de Brito, sabendo da fé do filho e do costume de frequentar os cultos, contatou todas as igrejas da denominação seguida pela família nas cidades da região.

Depois de alguns meses, o pastor de Itamogi comentou que havia um rapaz que frequentava os cultos e se sentava nos fundos da igreja, com as mesmas características descritas pelo pai.

Com ajuda de um pastor de Miguelópolis, o pai de Sérgio, José Carlos, foi até Itamogi resgatar o filho e levá-lo de volta para casa. De volta a Miguelópolis e junto da família, Brito retomou o trabalho como assistente de padeiro.

Te Levo Mobile faturou cerca de R$ 2 milhões no primeiro ano de operação Foto: Te Levo Mobile/Divulgação

A rotina de assar pães, fazer bolos e outros produtos vendidos na padaria o fez desenvolver gosto pela culinária. Mas o salário ainda era baixo. Nessa época, foi incentivado a participar de um concurso de beleza promovido na cidade de Franca (SP), cerca de uma hora de distância de onde morava, para concorrer a uma bolsa de estudos.

“O pessoal falava que eu deveria me inscrever. Eles conseguiram me fazer acreditar que eu era bonito e fui disputar esse concurso de modelo, olha que loucura”, relembra Brito, aos risos.

Ele ficou em segundo lugar e ganhou uma bolsa para estudar gastronomia. Passou os anos seguintes indo e voltando de Franca para concluir os estudos. Ao fim do período, arranjou emprego em um hotel de luxo em Araxá.

Pandemia muda os planos

Brito trabalhou no hotel por quase seis anos, até a chegada da pandemia. O local teve que fechar temporariamente e desligou parte do seu quadro de funcionários - entre eles, Brito. Assim, ele passou a trabalhar como motorista de aplicativo na Uber durante alguns meses.

“Me questionava se todos os motoristas de aplicativo trabalhavam assim”, diz, mencionando o que ele descreve como “falta de assistência” das empresas de transporte por apps. “Tinha um cliente que não me pagou, eu não tinha para quem relatar, era só por e-mail. Não tinha como ir no banheiro, porque não havia um local para os motoristas, um ponto de apoio”, completa. Foi aí que surgiu a ideia de criar a Te Levo Mobile, uma espécie de concorrente da Uber na cidade de Araxá.

O movimento de aplicativos de transporte locais têm sido visto em diferentes cidades do interior do País. Estas plataformas se apresentam como alternativas aos grandes players do setor, como Uber e 99 e, em geral, oferecem algum tipo de vantagem para os usuários, como atendimento personalizado e taxas menores, para se diferenciar no mercado.

No caso da Te Levo, os motoristas parceiros contam tanto com seguro, quanto com suporte da própria empresa em caso de acidentes rotineiros, como a necessidade de troca de um pneu furado, por exemplo. Há ainda uma central telefônica na cidade que atende tanto motoristas, quanto passageiros, o que faz com que o atendimento seja mais efetivo e rápido.

“Como a Te Levo é daqui, se acontecer algo, já tenho apoio, assistência. Eles não te deixam na mão de forma alguma”, conta Mayko Oliveira, que há um ano e três meses trabalha na plataforma. Ele, que opera também com outros apps de transporte na cidade - prática comum entre os motoristas - diz que o suporte que tem na companhia criada por Sérgio é um dos diferenciais que tem atraído mais clientes e parceiros para a plataforma.

A empresa conta com uma sede onde os motoristas podem ir ao banheiro, tomar água, café, ou descansar durante o período de trabalho. Uma vez por mês, Brito realiza um café da tarde com os motoristas para ouvir as demandas dos parceiros. Há ainda desconto no combustível e na compra de peças para parceiros do app.

“A gente conseguiu perceber que o segredo do negócio é o motorista”, diz Brito. A novidade parece ter dado certo. Começando a operar em janeiro de 2022, a Te Levo já faturou R$ 2 milhões no primeiro ano de operações e já funciona em outras cidades da região, como Ibiá (MG), Sacramento (MG) e Monte Carmelo (MG).

Ainda este mês a empresa expande suas operações também para Catalão (GO) e Miguelópolis. Em 2024 a meta é chegar em mais 15 cidades, apostando no sistema de franquias.

Olhando para trás, a história de vida de Brito não passou sem deixar marcas. Ele teve de passar por um tratamento de saúde, quando deixou as ruas, para tratar de uma infecção desenvolvida nas cordas vocais. A suspeita é que ele a tenha contraído ao ingerir alimentos estragados enquanto morava na rua. Ao falar com a reportagem, Brito gagueja um pouco, parte da sequela que o acompanha até hoje.

Durante a entrevista ele se emociona ao contar da sua trajetória. “Se essa história conseguir dar esperança para ao menos uma pessoa já vou ficar muito feliz”, diz. “Para quem morava na rua, olha a vida que eu tenho hoje”, completa.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.