Mulheres empreendedoras têm medo de precificar seu valor?


Especialistas comentam o impacto de tabus culturais no empreendedorismo feminino e oferecem caminhos para uma reflexão mais igualitária sobre o valor da hora de trabalho

Por Redação
Atualização:
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“Estamos tão acostumadas a emprestar nossa hora, a cuidar dos outros e a ter afazeres domésticos não remunerados que desenvolvemos culturalmente uma falsa ideia de que nossa hora não tem valor. E, muitas vezes, repercutimos a mesma cultura no trabalho” – Daniela Graicar, fundadora da agência PROS e do movimento Aladas

Precificar o tempo de trabalho é um desafio comum no início de uma jornada de empreendedorismo. Para a vasta maioria das mulheres empreendedoras, entretanto, essa questão perpassa os números e esbarra em aspectos culturais que dificultam ainda mais a mensuração do real valor cobrado pelas horas de trabalho.

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“Nós, mulheres, temos incrível dificuldade de falar disso. Algumas atribuem o preço de seus produtos ao custo da matéria-prima, mas não incluem no valor seu esforço e a hora de trabalho”, afirma Daniela Graicar, fundadora da agência PROS e do movimento Aladas, criado em apoio ao empreendedorismo feminino.

Nas ações de formação realizadas pelo grupo, os debates sobre o valor cobrado por serviços ou produtos constantemente esbarram em tabus presentes na sociedade. “Estamos tão acostumadas a emprestar nossa hora, a cuidar dos outros e a ter afazeres domésticos não remunerados que desenvolvemos culturalmente uma falsa ideia de que nossa hora não tem valor. E, muitas vezes, repercutimos a mesma cultura no trabalho”, explica.

Participação no cenário econômico

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Boa parte dos aspectos culturais mencionados por Daniela ainda estão frescos no imaginário brasileiro, visto que até 1962 a participação feminina no mercado de trabalho esteve condicionada à autorização masculina, especialmente para as mulheres casadas, que deveriam requerer do marido o direito de empreender ou aceitar uma vaga.

Ainda que os últimos 60 anos tenham alterado essa e outras prerrogativas, permitindo a entrada de mais mulheres no mercado, a participação na criação de novas empresas e nos rendimentos ainda estão aquém da equidade. “Existem questões inconscientes que atrapalham as mulheres, passadas de geração em geração, e que embutem crenças e padrões de comportamento desde a infância: isso não é coisa de menina, não é jeito de falar, a coisa mais importante que uma mulher pode fazer é ser mãe, etc.”, aponta Renata Malheiros, analista de Relacionamento com o Cliente e coordenadora nacional do Sebrae Delas.

Dados da instituição mostram, por exemplo, que até 2019 as mulheres representavam 34,3% do contingente de donos de negócios no País, mas com rendimentos até 17% menores do que os empreendimentos conduzidos por homens.

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Renata conta que já ouviu toda sorte de argumentos que tentam minimizar a baixa participação feminina, especialmente em setores como inovação e tecnologia. “Há quem diga que existe um instinto natural nos homens para empreender e lidar com dinheiro que não existe nas mulheres, mas não temos comprovações científicas disso, apenas culturais. Cabe a nós, adultos do século 21, parar e pensar: faz sentido? Será que vou continuar pensando assim hoje? E, mais importante, será que vou continuar passando isso para meus filhos?”

Investimento no futuro

No mercado financeiro, investidoras também vêm trabalhando para ampliar sua atuação e derrubar tabus. Em 2020, o número de mulheres na Bolsa de Valores cresceu 118% em comparação com o ano anterior, mas elas ainda representam apenas 26% de um setor predominantemente masculino. Segundo Marta Pinheiro, diretora ESG da XP Inc., os dados revelam um impacto histórico, mas trazem à tona uma oportunidade para que mulheres obtenham conhecimento financeiro para sua independência.

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“A mulher entrou no mercado de trabalho depois do homem e apenas mais tarde pôde ter uma conta no banco em seu nome sem precisar do marido assinando. Isso traz um pouco da realidade que temos hoje. Falar disso é importante não apenas do ponto de vista profissional, mas também pelo fato de envolver independência financeira individual e a possibilidade de escolher o que fazer com o próprio dinheiro”, reflete.

Entre as funcionárias da empresa, temas como esse fazem parte dos debates de um coletivo feminino criado para promover ações de equidade. Em 2021, com objetivo de externalizar a pauta, elas também criaram a premiação Mulheres que Transformam, que em março vai reconhecer profissionais brasileiras de áreas como tecnologia, educação, finanças, empreendedorismo, cultura e economia.

“Temos muito a evoluir, é uma jornada. Por isso, temos criado uma série de ações para estimular e dar referência para que a mulher entenda que o mercado financeiro também é para ela, colocando-a cada vez mais dentro de um espaço equalitário”, completa.

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Espaços de valorização

De acordo com as entrevistadas, o caminho para mais equidade exige um rol de ações, tanto no âmbito pessoal quanto no coletivo. Entre os aspectos pessoais, Daniela Graicar ressalta que a valorização profissional das mulheres passa também por um processo de autoconhecimento.

“Precisamos valorizar nossa hora de trabalho para que outros a valorizem. A dificuldade de precificar um produto ou serviço é de toda ordem, mas a mulher tem como agravante o medo social de cobrar mais e ouvir não. O importante é saber que não existe hora cara ou barata demais, mas sim o impacto que ela tem em quem adquire essa hora”, afirma.

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Para além dos aspectos relacionados à autoestima e de um olhar para os tabus culturais, Renata Malheiros destaca o impacto positivo de ações coletivas, como mentorias e apoio de grupos de mulheres, especialmente para aquelas que buscam caminhos para empreender. “As mentorias podem oferecer apoio profissional, além de espaço para falar de questões de teor socioemocional e comportamental que impactam nas finanças dos negócios conduzidos por elas”, explica.

No caso das redes, ela cita desde grupos privados formados entre amigas e colegas de trabalho que buscam se apoiar mutuamente, até redes profissionais organizadas, como Sebrae Delas, Movimento Aladas, DWEN (Dell Women's Entrepreneur Network), Rede Mulher Empreendedora, entre outras que abrem espaços de debate e formação.

“A rede de apoio é a forma que pessoas individuais têm de se tornarem mais fortes. Fazer parte dessas redes nos torna mais inteligentes, encurta a curva de aprendizagem, dá acesso a informações e contatos e coloca em perspectiva o sofrimento das mulheres ao perceberem que outras têm questões semelhantes”, conclui Renata.

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“Estamos tão acostumadas a emprestar nossa hora, a cuidar dos outros e a ter afazeres domésticos não remunerados que desenvolvemos culturalmente uma falsa ideia de que nossa hora não tem valor. E, muitas vezes, repercutimos a mesma cultura no trabalho” – Daniela Graicar, fundadora da agência PROS e do movimento Aladas

Precificar o tempo de trabalho é um desafio comum no início de uma jornada de empreendedorismo. Para a vasta maioria das mulheres empreendedoras, entretanto, essa questão perpassa os números e esbarra em aspectos culturais que dificultam ainda mais a mensuração do real valor cobrado pelas horas de trabalho.

“Nós, mulheres, temos incrível dificuldade de falar disso. Algumas atribuem o preço de seus produtos ao custo da matéria-prima, mas não incluem no valor seu esforço e a hora de trabalho”, afirma Daniela Graicar, fundadora da agência PROS e do movimento Aladas, criado em apoio ao empreendedorismo feminino.

Nas ações de formação realizadas pelo grupo, os debates sobre o valor cobrado por serviços ou produtos constantemente esbarram em tabus presentes na sociedade. “Estamos tão acostumadas a emprestar nossa hora, a cuidar dos outros e a ter afazeres domésticos não remunerados que desenvolvemos culturalmente uma falsa ideia de que nossa hora não tem valor. E, muitas vezes, repercutimos a mesma cultura no trabalho”, explica.

Participação no cenário econômico

Boa parte dos aspectos culturais mencionados por Daniela ainda estão frescos no imaginário brasileiro, visto que até 1962 a participação feminina no mercado de trabalho esteve condicionada à autorização masculina, especialmente para as mulheres casadas, que deveriam requerer do marido o direito de empreender ou aceitar uma vaga.

Ainda que os últimos 60 anos tenham alterado essa e outras prerrogativas, permitindo a entrada de mais mulheres no mercado, a participação na criação de novas empresas e nos rendimentos ainda estão aquém da equidade. “Existem questões inconscientes que atrapalham as mulheres, passadas de geração em geração, e que embutem crenças e padrões de comportamento desde a infância: isso não é coisa de menina, não é jeito de falar, a coisa mais importante que uma mulher pode fazer é ser mãe, etc.”, aponta Renata Malheiros, analista de Relacionamento com o Cliente e coordenadora nacional do Sebrae Delas.

Dados da instituição mostram, por exemplo, que até 2019 as mulheres representavam 34,3% do contingente de donos de negócios no País, mas com rendimentos até 17% menores do que os empreendimentos conduzidos por homens.

Renata conta que já ouviu toda sorte de argumentos que tentam minimizar a baixa participação feminina, especialmente em setores como inovação e tecnologia. “Há quem diga que existe um instinto natural nos homens para empreender e lidar com dinheiro que não existe nas mulheres, mas não temos comprovações científicas disso, apenas culturais. Cabe a nós, adultos do século 21, parar e pensar: faz sentido? Será que vou continuar pensando assim hoje? E, mais importante, será que vou continuar passando isso para meus filhos?”

Investimento no futuro

No mercado financeiro, investidoras também vêm trabalhando para ampliar sua atuação e derrubar tabus. Em 2020, o número de mulheres na Bolsa de Valores cresceu 118% em comparação com o ano anterior, mas elas ainda representam apenas 26% de um setor predominantemente masculino. Segundo Marta Pinheiro, diretora ESG da XP Inc., os dados revelam um impacto histórico, mas trazem à tona uma oportunidade para que mulheres obtenham conhecimento financeiro para sua independência.

“A mulher entrou no mercado de trabalho depois do homem e apenas mais tarde pôde ter uma conta no banco em seu nome sem precisar do marido assinando. Isso traz um pouco da realidade que temos hoje. Falar disso é importante não apenas do ponto de vista profissional, mas também pelo fato de envolver independência financeira individual e a possibilidade de escolher o que fazer com o próprio dinheiro”, reflete.

Entre as funcionárias da empresa, temas como esse fazem parte dos debates de um coletivo feminino criado para promover ações de equidade. Em 2021, com objetivo de externalizar a pauta, elas também criaram a premiação Mulheres que Transformam, que em março vai reconhecer profissionais brasileiras de áreas como tecnologia, educação, finanças, empreendedorismo, cultura e economia.

“Temos muito a evoluir, é uma jornada. Por isso, temos criado uma série de ações para estimular e dar referência para que a mulher entenda que o mercado financeiro também é para ela, colocando-a cada vez mais dentro de um espaço equalitário”, completa.

Espaços de valorização

De acordo com as entrevistadas, o caminho para mais equidade exige um rol de ações, tanto no âmbito pessoal quanto no coletivo. Entre os aspectos pessoais, Daniela Graicar ressalta que a valorização profissional das mulheres passa também por um processo de autoconhecimento.

“Precisamos valorizar nossa hora de trabalho para que outros a valorizem. A dificuldade de precificar um produto ou serviço é de toda ordem, mas a mulher tem como agravante o medo social de cobrar mais e ouvir não. O importante é saber que não existe hora cara ou barata demais, mas sim o impacto que ela tem em quem adquire essa hora”, afirma.

Para além dos aspectos relacionados à autoestima e de um olhar para os tabus culturais, Renata Malheiros destaca o impacto positivo de ações coletivas, como mentorias e apoio de grupos de mulheres, especialmente para aquelas que buscam caminhos para empreender. “As mentorias podem oferecer apoio profissional, além de espaço para falar de questões de teor socioemocional e comportamental que impactam nas finanças dos negócios conduzidos por elas”, explica.

No caso das redes, ela cita desde grupos privados formados entre amigas e colegas de trabalho que buscam se apoiar mutuamente, até redes profissionais organizadas, como Sebrae Delas, Movimento Aladas, DWEN (Dell Women's Entrepreneur Network), Rede Mulher Empreendedora, entre outras que abrem espaços de debate e formação.

“A rede de apoio é a forma que pessoas individuais têm de se tornarem mais fortes. Fazer parte dessas redes nos torna mais inteligentes, encurta a curva de aprendizagem, dá acesso a informações e contatos e coloca em perspectiva o sofrimento das mulheres ao perceberem que outras têm questões semelhantes”, conclui Renata.

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“Estamos tão acostumadas a emprestar nossa hora, a cuidar dos outros e a ter afazeres domésticos não remunerados que desenvolvemos culturalmente uma falsa ideia de que nossa hora não tem valor. E, muitas vezes, repercutimos a mesma cultura no trabalho” – Daniela Graicar, fundadora da agência PROS e do movimento Aladas

Precificar o tempo de trabalho é um desafio comum no início de uma jornada de empreendedorismo. Para a vasta maioria das mulheres empreendedoras, entretanto, essa questão perpassa os números e esbarra em aspectos culturais que dificultam ainda mais a mensuração do real valor cobrado pelas horas de trabalho.

“Nós, mulheres, temos incrível dificuldade de falar disso. Algumas atribuem o preço de seus produtos ao custo da matéria-prima, mas não incluem no valor seu esforço e a hora de trabalho”, afirma Daniela Graicar, fundadora da agência PROS e do movimento Aladas, criado em apoio ao empreendedorismo feminino.

Nas ações de formação realizadas pelo grupo, os debates sobre o valor cobrado por serviços ou produtos constantemente esbarram em tabus presentes na sociedade. “Estamos tão acostumadas a emprestar nossa hora, a cuidar dos outros e a ter afazeres domésticos não remunerados que desenvolvemos culturalmente uma falsa ideia de que nossa hora não tem valor. E, muitas vezes, repercutimos a mesma cultura no trabalho”, explica.

Participação no cenário econômico

Boa parte dos aspectos culturais mencionados por Daniela ainda estão frescos no imaginário brasileiro, visto que até 1962 a participação feminina no mercado de trabalho esteve condicionada à autorização masculina, especialmente para as mulheres casadas, que deveriam requerer do marido o direito de empreender ou aceitar uma vaga.

Ainda que os últimos 60 anos tenham alterado essa e outras prerrogativas, permitindo a entrada de mais mulheres no mercado, a participação na criação de novas empresas e nos rendimentos ainda estão aquém da equidade. “Existem questões inconscientes que atrapalham as mulheres, passadas de geração em geração, e que embutem crenças e padrões de comportamento desde a infância: isso não é coisa de menina, não é jeito de falar, a coisa mais importante que uma mulher pode fazer é ser mãe, etc.”, aponta Renata Malheiros, analista de Relacionamento com o Cliente e coordenadora nacional do Sebrae Delas.

Dados da instituição mostram, por exemplo, que até 2019 as mulheres representavam 34,3% do contingente de donos de negócios no País, mas com rendimentos até 17% menores do que os empreendimentos conduzidos por homens.

Renata conta que já ouviu toda sorte de argumentos que tentam minimizar a baixa participação feminina, especialmente em setores como inovação e tecnologia. “Há quem diga que existe um instinto natural nos homens para empreender e lidar com dinheiro que não existe nas mulheres, mas não temos comprovações científicas disso, apenas culturais. Cabe a nós, adultos do século 21, parar e pensar: faz sentido? Será que vou continuar pensando assim hoje? E, mais importante, será que vou continuar passando isso para meus filhos?”

Investimento no futuro

No mercado financeiro, investidoras também vêm trabalhando para ampliar sua atuação e derrubar tabus. Em 2020, o número de mulheres na Bolsa de Valores cresceu 118% em comparação com o ano anterior, mas elas ainda representam apenas 26% de um setor predominantemente masculino. Segundo Marta Pinheiro, diretora ESG da XP Inc., os dados revelam um impacto histórico, mas trazem à tona uma oportunidade para que mulheres obtenham conhecimento financeiro para sua independência.

“A mulher entrou no mercado de trabalho depois do homem e apenas mais tarde pôde ter uma conta no banco em seu nome sem precisar do marido assinando. Isso traz um pouco da realidade que temos hoje. Falar disso é importante não apenas do ponto de vista profissional, mas também pelo fato de envolver independência financeira individual e a possibilidade de escolher o que fazer com o próprio dinheiro”, reflete.

Entre as funcionárias da empresa, temas como esse fazem parte dos debates de um coletivo feminino criado para promover ações de equidade. Em 2021, com objetivo de externalizar a pauta, elas também criaram a premiação Mulheres que Transformam, que em março vai reconhecer profissionais brasileiras de áreas como tecnologia, educação, finanças, empreendedorismo, cultura e economia.

“Temos muito a evoluir, é uma jornada. Por isso, temos criado uma série de ações para estimular e dar referência para que a mulher entenda que o mercado financeiro também é para ela, colocando-a cada vez mais dentro de um espaço equalitário”, completa.

Espaços de valorização

De acordo com as entrevistadas, o caminho para mais equidade exige um rol de ações, tanto no âmbito pessoal quanto no coletivo. Entre os aspectos pessoais, Daniela Graicar ressalta que a valorização profissional das mulheres passa também por um processo de autoconhecimento.

“Precisamos valorizar nossa hora de trabalho para que outros a valorizem. A dificuldade de precificar um produto ou serviço é de toda ordem, mas a mulher tem como agravante o medo social de cobrar mais e ouvir não. O importante é saber que não existe hora cara ou barata demais, mas sim o impacto que ela tem em quem adquire essa hora”, afirma.

Para além dos aspectos relacionados à autoestima e de um olhar para os tabus culturais, Renata Malheiros destaca o impacto positivo de ações coletivas, como mentorias e apoio de grupos de mulheres, especialmente para aquelas que buscam caminhos para empreender. “As mentorias podem oferecer apoio profissional, além de espaço para falar de questões de teor socioemocional e comportamental que impactam nas finanças dos negócios conduzidos por elas”, explica.

No caso das redes, ela cita desde grupos privados formados entre amigas e colegas de trabalho que buscam se apoiar mutuamente, até redes profissionais organizadas, como Sebrae Delas, Movimento Aladas, DWEN (Dell Women's Entrepreneur Network), Rede Mulher Empreendedora, entre outras que abrem espaços de debate e formação.

“A rede de apoio é a forma que pessoas individuais têm de se tornarem mais fortes. Fazer parte dessas redes nos torna mais inteligentes, encurta a curva de aprendizagem, dá acesso a informações e contatos e coloca em perspectiva o sofrimento das mulheres ao perceberem que outras têm questões semelhantes”, conclui Renata.

Getty Images 
“Estamos tão acostumadas a emprestar nossa hora, a cuidar dos outros e a ter afazeres domésticos não remunerados que desenvolvemos culturalmente uma falsa ideia de que nossa hora não tem valor. E, muitas vezes, repercutimos a mesma cultura no trabalho” – Daniela Graicar, fundadora da agência PROS e do movimento Aladas

Precificar o tempo de trabalho é um desafio comum no início de uma jornada de empreendedorismo. Para a vasta maioria das mulheres empreendedoras, entretanto, essa questão perpassa os números e esbarra em aspectos culturais que dificultam ainda mais a mensuração do real valor cobrado pelas horas de trabalho.

“Nós, mulheres, temos incrível dificuldade de falar disso. Algumas atribuem o preço de seus produtos ao custo da matéria-prima, mas não incluem no valor seu esforço e a hora de trabalho”, afirma Daniela Graicar, fundadora da agência PROS e do movimento Aladas, criado em apoio ao empreendedorismo feminino.

Nas ações de formação realizadas pelo grupo, os debates sobre o valor cobrado por serviços ou produtos constantemente esbarram em tabus presentes na sociedade. “Estamos tão acostumadas a emprestar nossa hora, a cuidar dos outros e a ter afazeres domésticos não remunerados que desenvolvemos culturalmente uma falsa ideia de que nossa hora não tem valor. E, muitas vezes, repercutimos a mesma cultura no trabalho”, explica.

Participação no cenário econômico

Boa parte dos aspectos culturais mencionados por Daniela ainda estão frescos no imaginário brasileiro, visto que até 1962 a participação feminina no mercado de trabalho esteve condicionada à autorização masculina, especialmente para as mulheres casadas, que deveriam requerer do marido o direito de empreender ou aceitar uma vaga.

Ainda que os últimos 60 anos tenham alterado essa e outras prerrogativas, permitindo a entrada de mais mulheres no mercado, a participação na criação de novas empresas e nos rendimentos ainda estão aquém da equidade. “Existem questões inconscientes que atrapalham as mulheres, passadas de geração em geração, e que embutem crenças e padrões de comportamento desde a infância: isso não é coisa de menina, não é jeito de falar, a coisa mais importante que uma mulher pode fazer é ser mãe, etc.”, aponta Renata Malheiros, analista de Relacionamento com o Cliente e coordenadora nacional do Sebrae Delas.

Dados da instituição mostram, por exemplo, que até 2019 as mulheres representavam 34,3% do contingente de donos de negócios no País, mas com rendimentos até 17% menores do que os empreendimentos conduzidos por homens.

Renata conta que já ouviu toda sorte de argumentos que tentam minimizar a baixa participação feminina, especialmente em setores como inovação e tecnologia. “Há quem diga que existe um instinto natural nos homens para empreender e lidar com dinheiro que não existe nas mulheres, mas não temos comprovações científicas disso, apenas culturais. Cabe a nós, adultos do século 21, parar e pensar: faz sentido? Será que vou continuar pensando assim hoje? E, mais importante, será que vou continuar passando isso para meus filhos?”

Investimento no futuro

No mercado financeiro, investidoras também vêm trabalhando para ampliar sua atuação e derrubar tabus. Em 2020, o número de mulheres na Bolsa de Valores cresceu 118% em comparação com o ano anterior, mas elas ainda representam apenas 26% de um setor predominantemente masculino. Segundo Marta Pinheiro, diretora ESG da XP Inc., os dados revelam um impacto histórico, mas trazem à tona uma oportunidade para que mulheres obtenham conhecimento financeiro para sua independência.

“A mulher entrou no mercado de trabalho depois do homem e apenas mais tarde pôde ter uma conta no banco em seu nome sem precisar do marido assinando. Isso traz um pouco da realidade que temos hoje. Falar disso é importante não apenas do ponto de vista profissional, mas também pelo fato de envolver independência financeira individual e a possibilidade de escolher o que fazer com o próprio dinheiro”, reflete.

Entre as funcionárias da empresa, temas como esse fazem parte dos debates de um coletivo feminino criado para promover ações de equidade. Em 2021, com objetivo de externalizar a pauta, elas também criaram a premiação Mulheres que Transformam, que em março vai reconhecer profissionais brasileiras de áreas como tecnologia, educação, finanças, empreendedorismo, cultura e economia.

“Temos muito a evoluir, é uma jornada. Por isso, temos criado uma série de ações para estimular e dar referência para que a mulher entenda que o mercado financeiro também é para ela, colocando-a cada vez mais dentro de um espaço equalitário”, completa.

Espaços de valorização

De acordo com as entrevistadas, o caminho para mais equidade exige um rol de ações, tanto no âmbito pessoal quanto no coletivo. Entre os aspectos pessoais, Daniela Graicar ressalta que a valorização profissional das mulheres passa também por um processo de autoconhecimento.

“Precisamos valorizar nossa hora de trabalho para que outros a valorizem. A dificuldade de precificar um produto ou serviço é de toda ordem, mas a mulher tem como agravante o medo social de cobrar mais e ouvir não. O importante é saber que não existe hora cara ou barata demais, mas sim o impacto que ela tem em quem adquire essa hora”, afirma.

Para além dos aspectos relacionados à autoestima e de um olhar para os tabus culturais, Renata Malheiros destaca o impacto positivo de ações coletivas, como mentorias e apoio de grupos de mulheres, especialmente para aquelas que buscam caminhos para empreender. “As mentorias podem oferecer apoio profissional, além de espaço para falar de questões de teor socioemocional e comportamental que impactam nas finanças dos negócios conduzidos por elas”, explica.

No caso das redes, ela cita desde grupos privados formados entre amigas e colegas de trabalho que buscam se apoiar mutuamente, até redes profissionais organizadas, como Sebrae Delas, Movimento Aladas, DWEN (Dell Women's Entrepreneur Network), Rede Mulher Empreendedora, entre outras que abrem espaços de debate e formação.

“A rede de apoio é a forma que pessoas individuais têm de se tornarem mais fortes. Fazer parte dessas redes nos torna mais inteligentes, encurta a curva de aprendizagem, dá acesso a informações e contatos e coloca em perspectiva o sofrimento das mulheres ao perceberem que outras têm questões semelhantes”, conclui Renata.

Getty Images 
“Estamos tão acostumadas a emprestar nossa hora, a cuidar dos outros e a ter afazeres domésticos não remunerados que desenvolvemos culturalmente uma falsa ideia de que nossa hora não tem valor. E, muitas vezes, repercutimos a mesma cultura no trabalho” – Daniela Graicar, fundadora da agência PROS e do movimento Aladas

Precificar o tempo de trabalho é um desafio comum no início de uma jornada de empreendedorismo. Para a vasta maioria das mulheres empreendedoras, entretanto, essa questão perpassa os números e esbarra em aspectos culturais que dificultam ainda mais a mensuração do real valor cobrado pelas horas de trabalho.

“Nós, mulheres, temos incrível dificuldade de falar disso. Algumas atribuem o preço de seus produtos ao custo da matéria-prima, mas não incluem no valor seu esforço e a hora de trabalho”, afirma Daniela Graicar, fundadora da agência PROS e do movimento Aladas, criado em apoio ao empreendedorismo feminino.

Nas ações de formação realizadas pelo grupo, os debates sobre o valor cobrado por serviços ou produtos constantemente esbarram em tabus presentes na sociedade. “Estamos tão acostumadas a emprestar nossa hora, a cuidar dos outros e a ter afazeres domésticos não remunerados que desenvolvemos culturalmente uma falsa ideia de que nossa hora não tem valor. E, muitas vezes, repercutimos a mesma cultura no trabalho”, explica.

Participação no cenário econômico

Boa parte dos aspectos culturais mencionados por Daniela ainda estão frescos no imaginário brasileiro, visto que até 1962 a participação feminina no mercado de trabalho esteve condicionada à autorização masculina, especialmente para as mulheres casadas, que deveriam requerer do marido o direito de empreender ou aceitar uma vaga.

Ainda que os últimos 60 anos tenham alterado essa e outras prerrogativas, permitindo a entrada de mais mulheres no mercado, a participação na criação de novas empresas e nos rendimentos ainda estão aquém da equidade. “Existem questões inconscientes que atrapalham as mulheres, passadas de geração em geração, e que embutem crenças e padrões de comportamento desde a infância: isso não é coisa de menina, não é jeito de falar, a coisa mais importante que uma mulher pode fazer é ser mãe, etc.”, aponta Renata Malheiros, analista de Relacionamento com o Cliente e coordenadora nacional do Sebrae Delas.

Dados da instituição mostram, por exemplo, que até 2019 as mulheres representavam 34,3% do contingente de donos de negócios no País, mas com rendimentos até 17% menores do que os empreendimentos conduzidos por homens.

Renata conta que já ouviu toda sorte de argumentos que tentam minimizar a baixa participação feminina, especialmente em setores como inovação e tecnologia. “Há quem diga que existe um instinto natural nos homens para empreender e lidar com dinheiro que não existe nas mulheres, mas não temos comprovações científicas disso, apenas culturais. Cabe a nós, adultos do século 21, parar e pensar: faz sentido? Será que vou continuar pensando assim hoje? E, mais importante, será que vou continuar passando isso para meus filhos?”

Investimento no futuro

No mercado financeiro, investidoras também vêm trabalhando para ampliar sua atuação e derrubar tabus. Em 2020, o número de mulheres na Bolsa de Valores cresceu 118% em comparação com o ano anterior, mas elas ainda representam apenas 26% de um setor predominantemente masculino. Segundo Marta Pinheiro, diretora ESG da XP Inc., os dados revelam um impacto histórico, mas trazem à tona uma oportunidade para que mulheres obtenham conhecimento financeiro para sua independência.

“A mulher entrou no mercado de trabalho depois do homem e apenas mais tarde pôde ter uma conta no banco em seu nome sem precisar do marido assinando. Isso traz um pouco da realidade que temos hoje. Falar disso é importante não apenas do ponto de vista profissional, mas também pelo fato de envolver independência financeira individual e a possibilidade de escolher o que fazer com o próprio dinheiro”, reflete.

Entre as funcionárias da empresa, temas como esse fazem parte dos debates de um coletivo feminino criado para promover ações de equidade. Em 2021, com objetivo de externalizar a pauta, elas também criaram a premiação Mulheres que Transformam, que em março vai reconhecer profissionais brasileiras de áreas como tecnologia, educação, finanças, empreendedorismo, cultura e economia.

“Temos muito a evoluir, é uma jornada. Por isso, temos criado uma série de ações para estimular e dar referência para que a mulher entenda que o mercado financeiro também é para ela, colocando-a cada vez mais dentro de um espaço equalitário”, completa.

Espaços de valorização

De acordo com as entrevistadas, o caminho para mais equidade exige um rol de ações, tanto no âmbito pessoal quanto no coletivo. Entre os aspectos pessoais, Daniela Graicar ressalta que a valorização profissional das mulheres passa também por um processo de autoconhecimento.

“Precisamos valorizar nossa hora de trabalho para que outros a valorizem. A dificuldade de precificar um produto ou serviço é de toda ordem, mas a mulher tem como agravante o medo social de cobrar mais e ouvir não. O importante é saber que não existe hora cara ou barata demais, mas sim o impacto que ela tem em quem adquire essa hora”, afirma.

Para além dos aspectos relacionados à autoestima e de um olhar para os tabus culturais, Renata Malheiros destaca o impacto positivo de ações coletivas, como mentorias e apoio de grupos de mulheres, especialmente para aquelas que buscam caminhos para empreender. “As mentorias podem oferecer apoio profissional, além de espaço para falar de questões de teor socioemocional e comportamental que impactam nas finanças dos negócios conduzidos por elas”, explica.

No caso das redes, ela cita desde grupos privados formados entre amigas e colegas de trabalho que buscam se apoiar mutuamente, até redes profissionais organizadas, como Sebrae Delas, Movimento Aladas, DWEN (Dell Women's Entrepreneur Network), Rede Mulher Empreendedora, entre outras que abrem espaços de debate e formação.

“A rede de apoio é a forma que pessoas individuais têm de se tornarem mais fortes. Fazer parte dessas redes nos torna mais inteligentes, encurta a curva de aprendizagem, dá acesso a informações e contatos e coloca em perspectiva o sofrimento das mulheres ao perceberem que outras têm questões semelhantes”, conclui Renata.

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