Não seja mais um: a estratégia do fundador da Chilli Beans para criar uma marca única


Caito Maia diz que marcas devem aumentar seu portfólio de referências para se destacar no mercado e que encontrar um nicho de atuação é fundamental para o sucesso de empreendedores

Por João Scheller
Foto: Claudio Gatti/Chilli Beans/Divulgação
Entrevista comCaito MaiaFundador e CEO da Chilli Beans

Variar é essencial, seja em fontes de inspiração ou ao buscar novas tendências. É nisso que o empresário Caito Maia, 55, defende. O fundador e CEO da Chilli Beans conta em seu novo livro Se parar o sangue esfria, que traz dicas para empreendedores, como usou diferentes estratégias para fazer com que a sua empresa crescesse e criasse um DNA tão facilmente reconhecível.

“É essencial achar o seu lugar na cadeia (de produção)”, diz Maia, em referência à necessidade de os empreendedores buscarem nichos de mercado onde podem ser mais competitivos.

Em entrevista ao Estadão, o empresário, que também faz parte da equipe do programa de TV Shark Tank, discute outros pontos abordados no livro. Entre eles, a importância de ouvir a própria equipe, como não se deixar levar por tendências passageiras e a necessidade de variar as fontes de inspiração para o negócio. “Vejo muitas empresas bebendo da mesma fonte, ficam com a mesma cara”, diz Maia.

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Para ele, a atenção com esses pontos, junto do respeito à diversidade e a revisão constante dos rumos da empresa, o que ele chama de “ser mutante”, são alguns dos principais pontos que fazem a Chilli Beans ser o que é hoje.

Abaixo, os principais trechos da entrevista.

No livro, você menciona a importância de o empreendedor buscar a essência da própria empresa e com o que ela se preocupa. Como fazer isso?

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É importante que você ache o seu lugar na cadeia. Achar no que você é bom e colocar energia naquilo, assim você pode fazer uma empresa crescer. No que você não é bom, no que não sabe fazer, é preciso contratar um time profissional que possa te ajudar. É o único jeito de você crescer, não tem outro.

É importante deixar isso claro porque no começo é natural que as pessoas não tenham dinheiro para contratar um time (ideal), mas na hora em que as coisas começam a acontecer, você precisa se preocupar muito, mas muito mesmo, com isso. É sua equipe que vai fazer você ganhar o jogo.

É ter pessoas boas do seu lado, que vão te confrontar no bom sentido. Uma equipe no mesmo nível que você, com técnicos e profissionais de maturidade, que às vezes não vão concordar com você, mas isso é muito importante.

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Caito Maia é empresário e membro do programa Shark Tank Foto: Claudio Gatti/Chilli Beans/Divulgação

E como o líder pode dar essa voz à sua equipe, de fato, para não ficar só no discurso?

É muito louco, porque as pessoas me perguntam isso direto, e as respostas são sutilezas. São sutilezas do dia a dia, você trazer realmente o seu time para construir, realmente escutar e dar voz.

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Quando faz isso, as coisas fazem muita diferença. Pode ser meio piegas, mas independentemente disso, as empresas do futuro são empresas colaborativas, são comunidades onde as pessoas cooperam entre si, e é absolutamente essencial que essas pessoas tenham consciência de que fazem parte de uma companhia onde elas fazem diferença.

É construir junto, é escutar, é pegar opinião. Quando você faz isso, uma coisa muito interessante acontece, a reação inicial dessa pessoa é não ter certeza se pode falar o que pensa ou imaginar que não tenha nada a complementar.

E, como se fosse um exercício físico, a pessoa começa a pegar o jeito, a se sentir parte integrante e a notar que não tinha ideia do quanto podia cooperar, do quanto suas ideias funcionam.

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Aí você começa a fortalecer a criatividade e a confiança das pessoas, é muito legal. De novo, não tem uma fórmula, mas é com as sutilezas do dia a dia que você conquista seu time.

Você também aborda a necessidade de o empreendedor ter parcimônia ao aderir a novas tendências. Numa passagem do livro, você menciona que um empresário não podia ter fechado a sua loja física há alguns anos e aberto um e-commerce só porque as vendas on-line estavam crescendo. Como ter esse cuidado?

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Na Chilli Beans, acredito que conseguimos incorporar tendências sem extrapolar, mantendo o core da empresa. Essa é a cabeça que a gente tem. Você não pode ficar cego às novidades, é preciso praticar, mas sem esquecer do que te trouxe (até aqui), que é o arroz e o feijão, a base.

O que eu vejo é um monte de empresas deixando de fazer aquilo em que elas são boas, o que traz segurança em termos de faturamento, para serem radicais, aderirem a novas tendências. Isso leva à perda total de foco. É um perigo, e vejo isso acontecer muito.

Neste caso, cabe ao CEO e aos diretores, aos líderes da companhia, ter essa consciência. Faz parte do trabalho deles trazer esse assunto à tona. É muito louco, porque você vê que empresas de sucesso se mantêm vendendo o básico, mas sempre inovando. Acho que ter essa consciência é o mais importante.

Nós temos uma consciência muito grande disso. Por exemplo, o nosso e-commerce fatura muito bem, os franqueados têm os aplicativos da Chilli Beans, onde eles vendem, isso é muito legal. Mas tudo isso acontece sem perdermos nosso foco, sem perder essa relação muito clara (com clientes e franqueados).

E qual é esse foco, essa essência da Chilli Beans, que vocês nunca mudaram?

Acho que o respeito à diversidade é o maior ponto, que se propaga em tudo. Você está falando de diversidade de pessoas, diversidade de tudo, de ser uma empresa irreverente. Além disso, ela é uma companhia mutante, totalmente consciente e atenta às tendências. A Chilli Beans vai, de certa maneira, se adaptando (às mudanças do mercado), mas mantendo as raízes.

Existe também o outro lado dessa moeda, que é o empreendedor que tem dificuldade de implementar mudanças. Ele se cerca de referências, mas tem dificuldade de colocar em prática o que foi planejado. Como evitar essa situação?

Deixa eu te dar um exemplo. Durante a pandemia deu um desespero sobre como iríamos conduzir os negócios naquelas circunstâncias. O que fizemos? Começamos a atirar para todos os lados, procurando soluções. Acertamos e erramos, porque tínhamos que ver o que estava acontecendo no mercado.

Mas teve uma hora em que escolhemos dois ou três projetos, dos 20 que estávamos experimentando, para pôr energia. Depois disso, essas ideias que experimentamos foram absolutamente abandonadas, para focarmos no que foi escolhido.

Você tem que entender o mercado, identificar as oportunidades e testar. Mas há um momento em que você tem que parar e escolher no que colocar energia. Essa é uma mensagem importante, o empreendedor tem que testar, mas uma hora escolher no que colocar seus esforços, essa abordagem funcionou muito para nós.

Você fala muito sobre a importância de o empreendedor não ficar preso às mesmas referências de gestão e empreendedorismo. Gostaria de entender um pouco sobre sua visão do assunto.

É beber de fontes diferentes. Vejo muitas empresas e empresários bebendo da mesma fonte, ficam todos com a mesma cara. É importante buscar informações em outros mercados, ver o que se pode trazer deles. Isso faz com que você traga uma personalidade, uma cara nova, você não vai ficar igual a todos no mercado.

Se você é do ramo da culinária ou da gastronomia, é importante ir a uma feira de moda, de tecnologia, de trade, entendeu? Beba em fontes diferentes. Isso vai te trazer um posicionamento absolutamente diferente do que há no mercado.

Existe uma feira em Nova York chamada NRF (Retail Big Show, um dos maiores eventos de varejo do mundo). Eu não tenho nada contra a feira, mas todo mundo vai lá.

Vou te dar um exemplo. Tem um festival que se chama Burning Man, são 75 mil pessoas que se reúnem no meio do deserto e ficam acampadas nesse lugar. É o maior museu de obra de arte do mundo, aberto.

Você tem um nível de informação de um jeito radical. É um exemplo de fonte em que eu bebo, um lugar que faz você ter diferentes movimentações e trazer uma visão diferente para o seu negócio.

Variar é essencial, seja em fontes de inspiração ou ao buscar novas tendências. É nisso que o empresário Caito Maia, 55, defende. O fundador e CEO da Chilli Beans conta em seu novo livro Se parar o sangue esfria, que traz dicas para empreendedores, como usou diferentes estratégias para fazer com que a sua empresa crescesse e criasse um DNA tão facilmente reconhecível.

“É essencial achar o seu lugar na cadeia (de produção)”, diz Maia, em referência à necessidade de os empreendedores buscarem nichos de mercado onde podem ser mais competitivos.

Em entrevista ao Estadão, o empresário, que também faz parte da equipe do programa de TV Shark Tank, discute outros pontos abordados no livro. Entre eles, a importância de ouvir a própria equipe, como não se deixar levar por tendências passageiras e a necessidade de variar as fontes de inspiração para o negócio. “Vejo muitas empresas bebendo da mesma fonte, ficam com a mesma cara”, diz Maia.

Para ele, a atenção com esses pontos, junto do respeito à diversidade e a revisão constante dos rumos da empresa, o que ele chama de “ser mutante”, são alguns dos principais pontos que fazem a Chilli Beans ser o que é hoje.

Abaixo, os principais trechos da entrevista.

No livro, você menciona a importância de o empreendedor buscar a essência da própria empresa e com o que ela se preocupa. Como fazer isso?

É importante que você ache o seu lugar na cadeia. Achar no que você é bom e colocar energia naquilo, assim você pode fazer uma empresa crescer. No que você não é bom, no que não sabe fazer, é preciso contratar um time profissional que possa te ajudar. É o único jeito de você crescer, não tem outro.

É importante deixar isso claro porque no começo é natural que as pessoas não tenham dinheiro para contratar um time (ideal), mas na hora em que as coisas começam a acontecer, você precisa se preocupar muito, mas muito mesmo, com isso. É sua equipe que vai fazer você ganhar o jogo.

É ter pessoas boas do seu lado, que vão te confrontar no bom sentido. Uma equipe no mesmo nível que você, com técnicos e profissionais de maturidade, que às vezes não vão concordar com você, mas isso é muito importante.

Caito Maia é empresário e membro do programa Shark Tank Foto: Claudio Gatti/Chilli Beans/Divulgação

E como o líder pode dar essa voz à sua equipe, de fato, para não ficar só no discurso?

É muito louco, porque as pessoas me perguntam isso direto, e as respostas são sutilezas. São sutilezas do dia a dia, você trazer realmente o seu time para construir, realmente escutar e dar voz.

Quando faz isso, as coisas fazem muita diferença. Pode ser meio piegas, mas independentemente disso, as empresas do futuro são empresas colaborativas, são comunidades onde as pessoas cooperam entre si, e é absolutamente essencial que essas pessoas tenham consciência de que fazem parte de uma companhia onde elas fazem diferença.

É construir junto, é escutar, é pegar opinião. Quando você faz isso, uma coisa muito interessante acontece, a reação inicial dessa pessoa é não ter certeza se pode falar o que pensa ou imaginar que não tenha nada a complementar.

E, como se fosse um exercício físico, a pessoa começa a pegar o jeito, a se sentir parte integrante e a notar que não tinha ideia do quanto podia cooperar, do quanto suas ideias funcionam.

Aí você começa a fortalecer a criatividade e a confiança das pessoas, é muito legal. De novo, não tem uma fórmula, mas é com as sutilezas do dia a dia que você conquista seu time.

Você também aborda a necessidade de o empreendedor ter parcimônia ao aderir a novas tendências. Numa passagem do livro, você menciona que um empresário não podia ter fechado a sua loja física há alguns anos e aberto um e-commerce só porque as vendas on-line estavam crescendo. Como ter esse cuidado?

Na Chilli Beans, acredito que conseguimos incorporar tendências sem extrapolar, mantendo o core da empresa. Essa é a cabeça que a gente tem. Você não pode ficar cego às novidades, é preciso praticar, mas sem esquecer do que te trouxe (até aqui), que é o arroz e o feijão, a base.

O que eu vejo é um monte de empresas deixando de fazer aquilo em que elas são boas, o que traz segurança em termos de faturamento, para serem radicais, aderirem a novas tendências. Isso leva à perda total de foco. É um perigo, e vejo isso acontecer muito.

Neste caso, cabe ao CEO e aos diretores, aos líderes da companhia, ter essa consciência. Faz parte do trabalho deles trazer esse assunto à tona. É muito louco, porque você vê que empresas de sucesso se mantêm vendendo o básico, mas sempre inovando. Acho que ter essa consciência é o mais importante.

Nós temos uma consciência muito grande disso. Por exemplo, o nosso e-commerce fatura muito bem, os franqueados têm os aplicativos da Chilli Beans, onde eles vendem, isso é muito legal. Mas tudo isso acontece sem perdermos nosso foco, sem perder essa relação muito clara (com clientes e franqueados).

E qual é esse foco, essa essência da Chilli Beans, que vocês nunca mudaram?

Acho que o respeito à diversidade é o maior ponto, que se propaga em tudo. Você está falando de diversidade de pessoas, diversidade de tudo, de ser uma empresa irreverente. Além disso, ela é uma companhia mutante, totalmente consciente e atenta às tendências. A Chilli Beans vai, de certa maneira, se adaptando (às mudanças do mercado), mas mantendo as raízes.

Existe também o outro lado dessa moeda, que é o empreendedor que tem dificuldade de implementar mudanças. Ele se cerca de referências, mas tem dificuldade de colocar em prática o que foi planejado. Como evitar essa situação?

Deixa eu te dar um exemplo. Durante a pandemia deu um desespero sobre como iríamos conduzir os negócios naquelas circunstâncias. O que fizemos? Começamos a atirar para todos os lados, procurando soluções. Acertamos e erramos, porque tínhamos que ver o que estava acontecendo no mercado.

Mas teve uma hora em que escolhemos dois ou três projetos, dos 20 que estávamos experimentando, para pôr energia. Depois disso, essas ideias que experimentamos foram absolutamente abandonadas, para focarmos no que foi escolhido.

Você tem que entender o mercado, identificar as oportunidades e testar. Mas há um momento em que você tem que parar e escolher no que colocar energia. Essa é uma mensagem importante, o empreendedor tem que testar, mas uma hora escolher no que colocar seus esforços, essa abordagem funcionou muito para nós.

Você fala muito sobre a importância de o empreendedor não ficar preso às mesmas referências de gestão e empreendedorismo. Gostaria de entender um pouco sobre sua visão do assunto.

É beber de fontes diferentes. Vejo muitas empresas e empresários bebendo da mesma fonte, ficam todos com a mesma cara. É importante buscar informações em outros mercados, ver o que se pode trazer deles. Isso faz com que você traga uma personalidade, uma cara nova, você não vai ficar igual a todos no mercado.

Se você é do ramo da culinária ou da gastronomia, é importante ir a uma feira de moda, de tecnologia, de trade, entendeu? Beba em fontes diferentes. Isso vai te trazer um posicionamento absolutamente diferente do que há no mercado.

Existe uma feira em Nova York chamada NRF (Retail Big Show, um dos maiores eventos de varejo do mundo). Eu não tenho nada contra a feira, mas todo mundo vai lá.

Vou te dar um exemplo. Tem um festival que se chama Burning Man, são 75 mil pessoas que se reúnem no meio do deserto e ficam acampadas nesse lugar. É o maior museu de obra de arte do mundo, aberto.

Você tem um nível de informação de um jeito radical. É um exemplo de fonte em que eu bebo, um lugar que faz você ter diferentes movimentações e trazer uma visão diferente para o seu negócio.

Variar é essencial, seja em fontes de inspiração ou ao buscar novas tendências. É nisso que o empresário Caito Maia, 55, defende. O fundador e CEO da Chilli Beans conta em seu novo livro Se parar o sangue esfria, que traz dicas para empreendedores, como usou diferentes estratégias para fazer com que a sua empresa crescesse e criasse um DNA tão facilmente reconhecível.

“É essencial achar o seu lugar na cadeia (de produção)”, diz Maia, em referência à necessidade de os empreendedores buscarem nichos de mercado onde podem ser mais competitivos.

Em entrevista ao Estadão, o empresário, que também faz parte da equipe do programa de TV Shark Tank, discute outros pontos abordados no livro. Entre eles, a importância de ouvir a própria equipe, como não se deixar levar por tendências passageiras e a necessidade de variar as fontes de inspiração para o negócio. “Vejo muitas empresas bebendo da mesma fonte, ficam com a mesma cara”, diz Maia.

Para ele, a atenção com esses pontos, junto do respeito à diversidade e a revisão constante dos rumos da empresa, o que ele chama de “ser mutante”, são alguns dos principais pontos que fazem a Chilli Beans ser o que é hoje.

Abaixo, os principais trechos da entrevista.

No livro, você menciona a importância de o empreendedor buscar a essência da própria empresa e com o que ela se preocupa. Como fazer isso?

É importante que você ache o seu lugar na cadeia. Achar no que você é bom e colocar energia naquilo, assim você pode fazer uma empresa crescer. No que você não é bom, no que não sabe fazer, é preciso contratar um time profissional que possa te ajudar. É o único jeito de você crescer, não tem outro.

É importante deixar isso claro porque no começo é natural que as pessoas não tenham dinheiro para contratar um time (ideal), mas na hora em que as coisas começam a acontecer, você precisa se preocupar muito, mas muito mesmo, com isso. É sua equipe que vai fazer você ganhar o jogo.

É ter pessoas boas do seu lado, que vão te confrontar no bom sentido. Uma equipe no mesmo nível que você, com técnicos e profissionais de maturidade, que às vezes não vão concordar com você, mas isso é muito importante.

Caito Maia é empresário e membro do programa Shark Tank Foto: Claudio Gatti/Chilli Beans/Divulgação

E como o líder pode dar essa voz à sua equipe, de fato, para não ficar só no discurso?

É muito louco, porque as pessoas me perguntam isso direto, e as respostas são sutilezas. São sutilezas do dia a dia, você trazer realmente o seu time para construir, realmente escutar e dar voz.

Quando faz isso, as coisas fazem muita diferença. Pode ser meio piegas, mas independentemente disso, as empresas do futuro são empresas colaborativas, são comunidades onde as pessoas cooperam entre si, e é absolutamente essencial que essas pessoas tenham consciência de que fazem parte de uma companhia onde elas fazem diferença.

É construir junto, é escutar, é pegar opinião. Quando você faz isso, uma coisa muito interessante acontece, a reação inicial dessa pessoa é não ter certeza se pode falar o que pensa ou imaginar que não tenha nada a complementar.

E, como se fosse um exercício físico, a pessoa começa a pegar o jeito, a se sentir parte integrante e a notar que não tinha ideia do quanto podia cooperar, do quanto suas ideias funcionam.

Aí você começa a fortalecer a criatividade e a confiança das pessoas, é muito legal. De novo, não tem uma fórmula, mas é com as sutilezas do dia a dia que você conquista seu time.

Você também aborda a necessidade de o empreendedor ter parcimônia ao aderir a novas tendências. Numa passagem do livro, você menciona que um empresário não podia ter fechado a sua loja física há alguns anos e aberto um e-commerce só porque as vendas on-line estavam crescendo. Como ter esse cuidado?

Na Chilli Beans, acredito que conseguimos incorporar tendências sem extrapolar, mantendo o core da empresa. Essa é a cabeça que a gente tem. Você não pode ficar cego às novidades, é preciso praticar, mas sem esquecer do que te trouxe (até aqui), que é o arroz e o feijão, a base.

O que eu vejo é um monte de empresas deixando de fazer aquilo em que elas são boas, o que traz segurança em termos de faturamento, para serem radicais, aderirem a novas tendências. Isso leva à perda total de foco. É um perigo, e vejo isso acontecer muito.

Neste caso, cabe ao CEO e aos diretores, aos líderes da companhia, ter essa consciência. Faz parte do trabalho deles trazer esse assunto à tona. É muito louco, porque você vê que empresas de sucesso se mantêm vendendo o básico, mas sempre inovando. Acho que ter essa consciência é o mais importante.

Nós temos uma consciência muito grande disso. Por exemplo, o nosso e-commerce fatura muito bem, os franqueados têm os aplicativos da Chilli Beans, onde eles vendem, isso é muito legal. Mas tudo isso acontece sem perdermos nosso foco, sem perder essa relação muito clara (com clientes e franqueados).

E qual é esse foco, essa essência da Chilli Beans, que vocês nunca mudaram?

Acho que o respeito à diversidade é o maior ponto, que se propaga em tudo. Você está falando de diversidade de pessoas, diversidade de tudo, de ser uma empresa irreverente. Além disso, ela é uma companhia mutante, totalmente consciente e atenta às tendências. A Chilli Beans vai, de certa maneira, se adaptando (às mudanças do mercado), mas mantendo as raízes.

Existe também o outro lado dessa moeda, que é o empreendedor que tem dificuldade de implementar mudanças. Ele se cerca de referências, mas tem dificuldade de colocar em prática o que foi planejado. Como evitar essa situação?

Deixa eu te dar um exemplo. Durante a pandemia deu um desespero sobre como iríamos conduzir os negócios naquelas circunstâncias. O que fizemos? Começamos a atirar para todos os lados, procurando soluções. Acertamos e erramos, porque tínhamos que ver o que estava acontecendo no mercado.

Mas teve uma hora em que escolhemos dois ou três projetos, dos 20 que estávamos experimentando, para pôr energia. Depois disso, essas ideias que experimentamos foram absolutamente abandonadas, para focarmos no que foi escolhido.

Você tem que entender o mercado, identificar as oportunidades e testar. Mas há um momento em que você tem que parar e escolher no que colocar energia. Essa é uma mensagem importante, o empreendedor tem que testar, mas uma hora escolher no que colocar seus esforços, essa abordagem funcionou muito para nós.

Você fala muito sobre a importância de o empreendedor não ficar preso às mesmas referências de gestão e empreendedorismo. Gostaria de entender um pouco sobre sua visão do assunto.

É beber de fontes diferentes. Vejo muitas empresas e empresários bebendo da mesma fonte, ficam todos com a mesma cara. É importante buscar informações em outros mercados, ver o que se pode trazer deles. Isso faz com que você traga uma personalidade, uma cara nova, você não vai ficar igual a todos no mercado.

Se você é do ramo da culinária ou da gastronomia, é importante ir a uma feira de moda, de tecnologia, de trade, entendeu? Beba em fontes diferentes. Isso vai te trazer um posicionamento absolutamente diferente do que há no mercado.

Existe uma feira em Nova York chamada NRF (Retail Big Show, um dos maiores eventos de varejo do mundo). Eu não tenho nada contra a feira, mas todo mundo vai lá.

Vou te dar um exemplo. Tem um festival que se chama Burning Man, são 75 mil pessoas que se reúnem no meio do deserto e ficam acampadas nesse lugar. É o maior museu de obra de arte do mundo, aberto.

Você tem um nível de informação de um jeito radical. É um exemplo de fonte em que eu bebo, um lugar que faz você ter diferentes movimentações e trazer uma visão diferente para o seu negócio.

Variar é essencial, seja em fontes de inspiração ou ao buscar novas tendências. É nisso que o empresário Caito Maia, 55, defende. O fundador e CEO da Chilli Beans conta em seu novo livro Se parar o sangue esfria, que traz dicas para empreendedores, como usou diferentes estratégias para fazer com que a sua empresa crescesse e criasse um DNA tão facilmente reconhecível.

“É essencial achar o seu lugar na cadeia (de produção)”, diz Maia, em referência à necessidade de os empreendedores buscarem nichos de mercado onde podem ser mais competitivos.

Em entrevista ao Estadão, o empresário, que também faz parte da equipe do programa de TV Shark Tank, discute outros pontos abordados no livro. Entre eles, a importância de ouvir a própria equipe, como não se deixar levar por tendências passageiras e a necessidade de variar as fontes de inspiração para o negócio. “Vejo muitas empresas bebendo da mesma fonte, ficam com a mesma cara”, diz Maia.

Para ele, a atenção com esses pontos, junto do respeito à diversidade e a revisão constante dos rumos da empresa, o que ele chama de “ser mutante”, são alguns dos principais pontos que fazem a Chilli Beans ser o que é hoje.

Abaixo, os principais trechos da entrevista.

No livro, você menciona a importância de o empreendedor buscar a essência da própria empresa e com o que ela se preocupa. Como fazer isso?

É importante que você ache o seu lugar na cadeia. Achar no que você é bom e colocar energia naquilo, assim você pode fazer uma empresa crescer. No que você não é bom, no que não sabe fazer, é preciso contratar um time profissional que possa te ajudar. É o único jeito de você crescer, não tem outro.

É importante deixar isso claro porque no começo é natural que as pessoas não tenham dinheiro para contratar um time (ideal), mas na hora em que as coisas começam a acontecer, você precisa se preocupar muito, mas muito mesmo, com isso. É sua equipe que vai fazer você ganhar o jogo.

É ter pessoas boas do seu lado, que vão te confrontar no bom sentido. Uma equipe no mesmo nível que você, com técnicos e profissionais de maturidade, que às vezes não vão concordar com você, mas isso é muito importante.

Caito Maia é empresário e membro do programa Shark Tank Foto: Claudio Gatti/Chilli Beans/Divulgação

E como o líder pode dar essa voz à sua equipe, de fato, para não ficar só no discurso?

É muito louco, porque as pessoas me perguntam isso direto, e as respostas são sutilezas. São sutilezas do dia a dia, você trazer realmente o seu time para construir, realmente escutar e dar voz.

Quando faz isso, as coisas fazem muita diferença. Pode ser meio piegas, mas independentemente disso, as empresas do futuro são empresas colaborativas, são comunidades onde as pessoas cooperam entre si, e é absolutamente essencial que essas pessoas tenham consciência de que fazem parte de uma companhia onde elas fazem diferença.

É construir junto, é escutar, é pegar opinião. Quando você faz isso, uma coisa muito interessante acontece, a reação inicial dessa pessoa é não ter certeza se pode falar o que pensa ou imaginar que não tenha nada a complementar.

E, como se fosse um exercício físico, a pessoa começa a pegar o jeito, a se sentir parte integrante e a notar que não tinha ideia do quanto podia cooperar, do quanto suas ideias funcionam.

Aí você começa a fortalecer a criatividade e a confiança das pessoas, é muito legal. De novo, não tem uma fórmula, mas é com as sutilezas do dia a dia que você conquista seu time.

Você também aborda a necessidade de o empreendedor ter parcimônia ao aderir a novas tendências. Numa passagem do livro, você menciona que um empresário não podia ter fechado a sua loja física há alguns anos e aberto um e-commerce só porque as vendas on-line estavam crescendo. Como ter esse cuidado?

Na Chilli Beans, acredito que conseguimos incorporar tendências sem extrapolar, mantendo o core da empresa. Essa é a cabeça que a gente tem. Você não pode ficar cego às novidades, é preciso praticar, mas sem esquecer do que te trouxe (até aqui), que é o arroz e o feijão, a base.

O que eu vejo é um monte de empresas deixando de fazer aquilo em que elas são boas, o que traz segurança em termos de faturamento, para serem radicais, aderirem a novas tendências. Isso leva à perda total de foco. É um perigo, e vejo isso acontecer muito.

Neste caso, cabe ao CEO e aos diretores, aos líderes da companhia, ter essa consciência. Faz parte do trabalho deles trazer esse assunto à tona. É muito louco, porque você vê que empresas de sucesso se mantêm vendendo o básico, mas sempre inovando. Acho que ter essa consciência é o mais importante.

Nós temos uma consciência muito grande disso. Por exemplo, o nosso e-commerce fatura muito bem, os franqueados têm os aplicativos da Chilli Beans, onde eles vendem, isso é muito legal. Mas tudo isso acontece sem perdermos nosso foco, sem perder essa relação muito clara (com clientes e franqueados).

E qual é esse foco, essa essência da Chilli Beans, que vocês nunca mudaram?

Acho que o respeito à diversidade é o maior ponto, que se propaga em tudo. Você está falando de diversidade de pessoas, diversidade de tudo, de ser uma empresa irreverente. Além disso, ela é uma companhia mutante, totalmente consciente e atenta às tendências. A Chilli Beans vai, de certa maneira, se adaptando (às mudanças do mercado), mas mantendo as raízes.

Existe também o outro lado dessa moeda, que é o empreendedor que tem dificuldade de implementar mudanças. Ele se cerca de referências, mas tem dificuldade de colocar em prática o que foi planejado. Como evitar essa situação?

Deixa eu te dar um exemplo. Durante a pandemia deu um desespero sobre como iríamos conduzir os negócios naquelas circunstâncias. O que fizemos? Começamos a atirar para todos os lados, procurando soluções. Acertamos e erramos, porque tínhamos que ver o que estava acontecendo no mercado.

Mas teve uma hora em que escolhemos dois ou três projetos, dos 20 que estávamos experimentando, para pôr energia. Depois disso, essas ideias que experimentamos foram absolutamente abandonadas, para focarmos no que foi escolhido.

Você tem que entender o mercado, identificar as oportunidades e testar. Mas há um momento em que você tem que parar e escolher no que colocar energia. Essa é uma mensagem importante, o empreendedor tem que testar, mas uma hora escolher no que colocar seus esforços, essa abordagem funcionou muito para nós.

Você fala muito sobre a importância de o empreendedor não ficar preso às mesmas referências de gestão e empreendedorismo. Gostaria de entender um pouco sobre sua visão do assunto.

É beber de fontes diferentes. Vejo muitas empresas e empresários bebendo da mesma fonte, ficam todos com a mesma cara. É importante buscar informações em outros mercados, ver o que se pode trazer deles. Isso faz com que você traga uma personalidade, uma cara nova, você não vai ficar igual a todos no mercado.

Se você é do ramo da culinária ou da gastronomia, é importante ir a uma feira de moda, de tecnologia, de trade, entendeu? Beba em fontes diferentes. Isso vai te trazer um posicionamento absolutamente diferente do que há no mercado.

Existe uma feira em Nova York chamada NRF (Retail Big Show, um dos maiores eventos de varejo do mundo). Eu não tenho nada contra a feira, mas todo mundo vai lá.

Vou te dar um exemplo. Tem um festival que se chama Burning Man, são 75 mil pessoas que se reúnem no meio do deserto e ficam acampadas nesse lugar. É o maior museu de obra de arte do mundo, aberto.

Você tem um nível de informação de um jeito radical. É um exemplo de fonte em que eu bebo, um lugar que faz você ter diferentes movimentações e trazer uma visão diferente para o seu negócio.

Entrevista por João Scheller

Repórter de economia, com foco na cobertura de PMEs e franquias. Tem passagem pelas editorias de Política e Home. Formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

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