Estilista brasileira PatBo, que vestiu Beyoncé e fatura com luxo, começou em call center e fábrica


Patricia Bonaldi, dona de 11 lojas da marca de roupas PatBo no Brasil e duas no exterior, começou vida profissional aos 17 anos em atendimento de cartão de crédito e depois trabalhou em fábrica no Japão

Por Geovanna Hora
Atualização: Correção:

É difícil falar de moda no Brasil em 2024 sem citar Patricia Bonaldi, de 43 anos. Além disso , ela também tem uma história no empreendedorismo. A empresária, que foi criada em Uberlândia (MG), decidiu abrir a própria marca de roupas quando sua loja estava a ponto de quebrar e atualmente comercializa as peças da PatBo para mais de 30 países, com itens que chegam a R$ 25 mil.

A empresa não divulga o faturamento anual, mas o crescimento entre janeiro e maio de 2024 foi de 31% em comparação com o mesmo período do ano passado, com o mercado internacional responsável por metade do lucro.

A estilista começou no mercado de trabalho aos 17 anos, como operadora de call center na emissora de cartões de crédito American Express.

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A estilista mineira Patricia Bonaldi, criadora da marca de moda PatBo. Foto: Divulgação/Gabriel Correa

Trancou faculdade e foi para o Japão

Uma das viradas na sua vida ocorreu quando ela decidiu trancar a matrícula no curso de direito da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

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Aos 19 anos, ela se mudou com o marido - e atualmente sócio - Luiz Moraes para o Japão. O casal não falava japonês e trabalhava em uma fábrica de componentes eletrônicos, onde passava cerca de 14 horas por dia.

Três anos depois, eles decidiram voltar ao Brasil e abrir o próprio negócio com o dinheiro que haviam juntado nas terras asiáticas. Como a empresária já tinha identificação com moda, eles optaram por uma loja de roupas multimarcas.

Loja não deu certo, mas clientes gostavam das roupas que ela usava

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A marca própria nasceu justamente no momento em que o primeiro empreendimento deu errado, em 2002. Os itens comercializados não agradavam as clientes, que sempre perguntavam de onde eram as peças que a empresária vestia.

“Estava prestes a perder todo o dinheiro investido. Elas reclamavam da manga ou de outro detalhe dos artigos que eu vendia, mas elogiavam o que eu usava. Então me ofereci para fazer um vestido para uma mulher. Essa venda atraiu outra, que atraiu mais uma e percebi que esse era o caminho”, conta.

Ela já tinha contato com a fabricação de trajes porque costumava frequentar a costureira com a mãe quando era pequena. A marca recebeu o mesmo nome da dona, era focada na produção de peças de alto padrão para festas e explodiu em um ano.

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Duas temporadas depois, os seus modelos desfilaram nas passarelas do Minas Trend Show, principal evento para fabricantes e lojistas da indústria da moda no Brasil.

Dez anos depois, Patricia decidiu que era hora de mudar, trocou a Patricia Bonaldi pela PatBo e ingressou no desafiador mundo do casual.

Para se destacar, ela decidiu investir em roupas com tecidos tradicionais, como jeans e moletom, mas incrementados com trabalhos bordados a mão.

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“Eu não queria fazer um casual qualquer, mas sim algo que as pessoas percebessem o valor, o trabalho e o tempo empenhados em cada item”, explica.

Parceria com personalidades das redes

Na mesma época, a estilista decidiu olhar para um campo que dava seus primeiros passos: as blogueiras de moda. Ela convidou personalidades da internet, como Thássia Naves e Camila Coutinho, para participar das campanhas, o que foi visto com estranheza no início, mas depois se provou uma das maiores tendências do mundo fashion.

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Apesar de não vincular a Patbo a sua imagem e destacar que o negócio tem personalidade própria, a empresária não deixa de aproveitar a sua força no universo digital para impulsionar a marca.

Patricia tinha o perfil no Instagram privado, mas decidiu mostrar ao público um pouco do seu trabalho e já conta com 1,3 milhão de seguidores. Em suas publicações, ela fala pouco e prefere focar no que está vestindo para mostrar que também é consumidora dos seus produtos e gerar desejo.

Atualmente, a marca tem 11 lojas em shoppings e bairros nobres de oito estados brasileiros e do Distrito Federal e duas unidades nos Estados Unidos - uma no agitado bairro do Soho, em Nova York, e outra no sofisticado Design District, em Miami.

Além da forte atuação no e-commerce, ela conta ainda com 110 pontos de vendas: 80 no Brasil e 30 no exterior. As multimarcas com perfis que combinam com a PatBo podem ir até um showroom, comprar as peças da coleção e ganhar autorização para comercializar os itens.

“Empreender é um eletrocardiograma, e o sucesso não é linear. Tem dia que vende bem, tem dia que vende mal. O segredo é manter a constância”, comenta.

Vestir celebridades trouxe um novo capítulo

A cantora Beyoncé vestiu uma peça da PatBo, feita sob medida, em um show da sua turnê “Renaissance Tour” no Canadá, em setembro de 2023. Meses depois, ela teve uma rápida passagem pelo Brasil e desembarcou com outro figurino exclusivo da marca.

“Foi um dos momentos mais importantes em termos de marketing, branding e posicionamento. Foi revolucionário. Entre todas as marcas disponíveis no planeta, ela escolheu a nossa”, comenta.

Além de Beyoncé, a cantora Camila Cabello também usou um look da PatBo, no tapete vermelho do Grammy de 2023.

A atriz e cantora Jennifer Lopez escolheu um figurino da brasileira para vestir em uma campanha de sapatos.

Os bordados com técnicas manuais têm destaque nos modelos feitos por Patricia. Com a dificuldade para encontrar profissionais que dominassem essas táticas, a empresária fundou uma escola para ensinar gratuitamente mulheres a bordar e costurar.

A ideia cresceu e se tornou o projeto Costurando Sonhos, que já formou mais de 500 alunas em Uberlândia. Parte das bordadeiras é contratada para trabalhar na produção das roupas.

“Sempre tive esse olhar para o trabalho manual, é uma identidade muito forte desde o início, e hoje a gente é desejado e reconhecido por isso. Eu falo sempre: se eu tivesse olhado para o lado e me tornado uma marca minimalista, de alfaiataria ou qualquer outra coisa que não fosse o meu estilo, eu não teria vestido a Beyoncé.”

A marca também é a primeira brasileira a estar no calendário do Conselho de Designers de Moda da América (CFDA na sigla em inglês), responsável pela Semana de Moda de Nova York.

Os próximos passos no empreendedorismo

O espírito empreendedor de Patrícia não ficou satisfeito com o sucesso da Patbo. Em 2014, ela criou o Grupo Nohda, após a compra da marca Apartamento 03, criada por Luiz Cláudio Silva e especializada em alfaiataria. No início, a aquisição foi uma forma de ajudar o estilista que enfrentava uma crise financeira, mas o sucesso da parceria mostrou que esse pode ser um caminho para o futuro.

A intenção é adquirir talentos que saibam fazer algo que ela não saiba, mas possa ajudar a desenvolver, como foi com a Apartamento 03.

Ela não quer ser vista apenas como uma investidora, mas sim como alguém que pode impulsionar uma promessa. Nenhuma outra aquisição foi feita até o momento porque a marca primogênita ocupa a maior parte do tempo da dona.

O principal objetivo no momento é ampliar a presença internacional da PatBo, especialmente com a abertura de novas lojas físicas. Mas ela reforça que a identidade da marca não pode se perder, o que coloca um limite para esse crescimento.

Entender clientes é essencial no mercado de luxo, diz especialista

A gestora nacional de Moda do Sebrae, Kamila Merle, aponta que entender as necessidades e os desejos dos clientes, como Patricia fez, é essencial em qualquer segmento, mas se torna ainda mais importante no mercado de luxo. “Esse público-alvo possui expectativas e demandas específicas. Compreender os detalhes pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma marca”, explica.

“É necessário conhecer as preferências de estilo, valores, hábitos de compra e até mesmo os canais de comunicação que eles preferem. A personalização e o relacionamento próximo com o cliente são fundamentais para criar uma experiência única e satisfatória”.

Merle também considera importante a construção da narrativa para os empresários focados em clientes com um poder aquisitivo mais alto, já que esse público valoriza a história e o artesanato por trás das peças.

Ela aponta que esses consumidores não compram apenas um produto, mas toda a narrativa e o valor intangível associados a ele.

A gestora do Sebrae explica que as redes sociais são grandes aliadas para quem quer investir no mercado de luxo, porque permitem a construção de uma comunidade ao compartilhar a história, o processo de criação e o estilo de vida que a marca representa.

As plataformas também auxiliam no engajamento direto com os clientes. “As parcerias com influenciadores e a utilização de conteúdo visual de alta qualidade também são eficazes para atrair e fidelizar esses consumidores”, afirma.

Merle aponta que o principal desafio para quem ingressa nesse mercado é justamente garantir a qualidade e a exclusividade dos produtos, já que os clientes exigem excelência em cada detalhe, desde a escolha dos materiais até o atendimento.

Por outro lado, a boa notícia é a margem de lucro elevada. Por terem uma clientela menos sensível ao preço, as marcas podem cobrar valores mais altos, além de contar com uma valorização contínua dos produtos, especialmente aqueles que se tornam icônicos e desejados ao longo do tempo.

Avaliação de clientes

A PatBo tem 55 reclamações registradas no site Reclame Aqui. A maioria das queixas são relacionadas a troca ou devolução dos produtos e 100% das mensagens foram respondidas. Os consumidores classificaram a marca como ótima, com nota 8.1.

É difícil falar de moda no Brasil em 2024 sem citar Patricia Bonaldi, de 43 anos. Além disso , ela também tem uma história no empreendedorismo. A empresária, que foi criada em Uberlândia (MG), decidiu abrir a própria marca de roupas quando sua loja estava a ponto de quebrar e atualmente comercializa as peças da PatBo para mais de 30 países, com itens que chegam a R$ 25 mil.

A empresa não divulga o faturamento anual, mas o crescimento entre janeiro e maio de 2024 foi de 31% em comparação com o mesmo período do ano passado, com o mercado internacional responsável por metade do lucro.

A estilista começou no mercado de trabalho aos 17 anos, como operadora de call center na emissora de cartões de crédito American Express.

A estilista mineira Patricia Bonaldi, criadora da marca de moda PatBo. Foto: Divulgação/Gabriel Correa

Trancou faculdade e foi para o Japão

Uma das viradas na sua vida ocorreu quando ela decidiu trancar a matrícula no curso de direito da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

Aos 19 anos, ela se mudou com o marido - e atualmente sócio - Luiz Moraes para o Japão. O casal não falava japonês e trabalhava em uma fábrica de componentes eletrônicos, onde passava cerca de 14 horas por dia.

Três anos depois, eles decidiram voltar ao Brasil e abrir o próprio negócio com o dinheiro que haviam juntado nas terras asiáticas. Como a empresária já tinha identificação com moda, eles optaram por uma loja de roupas multimarcas.

Loja não deu certo, mas clientes gostavam das roupas que ela usava

A marca própria nasceu justamente no momento em que o primeiro empreendimento deu errado, em 2002. Os itens comercializados não agradavam as clientes, que sempre perguntavam de onde eram as peças que a empresária vestia.

“Estava prestes a perder todo o dinheiro investido. Elas reclamavam da manga ou de outro detalhe dos artigos que eu vendia, mas elogiavam o que eu usava. Então me ofereci para fazer um vestido para uma mulher. Essa venda atraiu outra, que atraiu mais uma e percebi que esse era o caminho”, conta.

Ela já tinha contato com a fabricação de trajes porque costumava frequentar a costureira com a mãe quando era pequena. A marca recebeu o mesmo nome da dona, era focada na produção de peças de alto padrão para festas e explodiu em um ano.

Duas temporadas depois, os seus modelos desfilaram nas passarelas do Minas Trend Show, principal evento para fabricantes e lojistas da indústria da moda no Brasil.

Dez anos depois, Patricia decidiu que era hora de mudar, trocou a Patricia Bonaldi pela PatBo e ingressou no desafiador mundo do casual.

Para se destacar, ela decidiu investir em roupas com tecidos tradicionais, como jeans e moletom, mas incrementados com trabalhos bordados a mão.

“Eu não queria fazer um casual qualquer, mas sim algo que as pessoas percebessem o valor, o trabalho e o tempo empenhados em cada item”, explica.

Parceria com personalidades das redes

Na mesma época, a estilista decidiu olhar para um campo que dava seus primeiros passos: as blogueiras de moda. Ela convidou personalidades da internet, como Thássia Naves e Camila Coutinho, para participar das campanhas, o que foi visto com estranheza no início, mas depois se provou uma das maiores tendências do mundo fashion.

Apesar de não vincular a Patbo a sua imagem e destacar que o negócio tem personalidade própria, a empresária não deixa de aproveitar a sua força no universo digital para impulsionar a marca.

Patricia tinha o perfil no Instagram privado, mas decidiu mostrar ao público um pouco do seu trabalho e já conta com 1,3 milhão de seguidores. Em suas publicações, ela fala pouco e prefere focar no que está vestindo para mostrar que também é consumidora dos seus produtos e gerar desejo.

Atualmente, a marca tem 11 lojas em shoppings e bairros nobres de oito estados brasileiros e do Distrito Federal e duas unidades nos Estados Unidos - uma no agitado bairro do Soho, em Nova York, e outra no sofisticado Design District, em Miami.

Além da forte atuação no e-commerce, ela conta ainda com 110 pontos de vendas: 80 no Brasil e 30 no exterior. As multimarcas com perfis que combinam com a PatBo podem ir até um showroom, comprar as peças da coleção e ganhar autorização para comercializar os itens.

“Empreender é um eletrocardiograma, e o sucesso não é linear. Tem dia que vende bem, tem dia que vende mal. O segredo é manter a constância”, comenta.

Vestir celebridades trouxe um novo capítulo

A cantora Beyoncé vestiu uma peça da PatBo, feita sob medida, em um show da sua turnê “Renaissance Tour” no Canadá, em setembro de 2023. Meses depois, ela teve uma rápida passagem pelo Brasil e desembarcou com outro figurino exclusivo da marca.

“Foi um dos momentos mais importantes em termos de marketing, branding e posicionamento. Foi revolucionário. Entre todas as marcas disponíveis no planeta, ela escolheu a nossa”, comenta.

Além de Beyoncé, a cantora Camila Cabello também usou um look da PatBo, no tapete vermelho do Grammy de 2023.

A atriz e cantora Jennifer Lopez escolheu um figurino da brasileira para vestir em uma campanha de sapatos.

Os bordados com técnicas manuais têm destaque nos modelos feitos por Patricia. Com a dificuldade para encontrar profissionais que dominassem essas táticas, a empresária fundou uma escola para ensinar gratuitamente mulheres a bordar e costurar.

A ideia cresceu e se tornou o projeto Costurando Sonhos, que já formou mais de 500 alunas em Uberlândia. Parte das bordadeiras é contratada para trabalhar na produção das roupas.

“Sempre tive esse olhar para o trabalho manual, é uma identidade muito forte desde o início, e hoje a gente é desejado e reconhecido por isso. Eu falo sempre: se eu tivesse olhado para o lado e me tornado uma marca minimalista, de alfaiataria ou qualquer outra coisa que não fosse o meu estilo, eu não teria vestido a Beyoncé.”

A marca também é a primeira brasileira a estar no calendário do Conselho de Designers de Moda da América (CFDA na sigla em inglês), responsável pela Semana de Moda de Nova York.

Os próximos passos no empreendedorismo

O espírito empreendedor de Patrícia não ficou satisfeito com o sucesso da Patbo. Em 2014, ela criou o Grupo Nohda, após a compra da marca Apartamento 03, criada por Luiz Cláudio Silva e especializada em alfaiataria. No início, a aquisição foi uma forma de ajudar o estilista que enfrentava uma crise financeira, mas o sucesso da parceria mostrou que esse pode ser um caminho para o futuro.

A intenção é adquirir talentos que saibam fazer algo que ela não saiba, mas possa ajudar a desenvolver, como foi com a Apartamento 03.

Ela não quer ser vista apenas como uma investidora, mas sim como alguém que pode impulsionar uma promessa. Nenhuma outra aquisição foi feita até o momento porque a marca primogênita ocupa a maior parte do tempo da dona.

O principal objetivo no momento é ampliar a presença internacional da PatBo, especialmente com a abertura de novas lojas físicas. Mas ela reforça que a identidade da marca não pode se perder, o que coloca um limite para esse crescimento.

Entender clientes é essencial no mercado de luxo, diz especialista

A gestora nacional de Moda do Sebrae, Kamila Merle, aponta que entender as necessidades e os desejos dos clientes, como Patricia fez, é essencial em qualquer segmento, mas se torna ainda mais importante no mercado de luxo. “Esse público-alvo possui expectativas e demandas específicas. Compreender os detalhes pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma marca”, explica.

“É necessário conhecer as preferências de estilo, valores, hábitos de compra e até mesmo os canais de comunicação que eles preferem. A personalização e o relacionamento próximo com o cliente são fundamentais para criar uma experiência única e satisfatória”.

Merle também considera importante a construção da narrativa para os empresários focados em clientes com um poder aquisitivo mais alto, já que esse público valoriza a história e o artesanato por trás das peças.

Ela aponta que esses consumidores não compram apenas um produto, mas toda a narrativa e o valor intangível associados a ele.

A gestora do Sebrae explica que as redes sociais são grandes aliadas para quem quer investir no mercado de luxo, porque permitem a construção de uma comunidade ao compartilhar a história, o processo de criação e o estilo de vida que a marca representa.

As plataformas também auxiliam no engajamento direto com os clientes. “As parcerias com influenciadores e a utilização de conteúdo visual de alta qualidade também são eficazes para atrair e fidelizar esses consumidores”, afirma.

Merle aponta que o principal desafio para quem ingressa nesse mercado é justamente garantir a qualidade e a exclusividade dos produtos, já que os clientes exigem excelência em cada detalhe, desde a escolha dos materiais até o atendimento.

Por outro lado, a boa notícia é a margem de lucro elevada. Por terem uma clientela menos sensível ao preço, as marcas podem cobrar valores mais altos, além de contar com uma valorização contínua dos produtos, especialmente aqueles que se tornam icônicos e desejados ao longo do tempo.

Avaliação de clientes

A PatBo tem 55 reclamações registradas no site Reclame Aqui. A maioria das queixas são relacionadas a troca ou devolução dos produtos e 100% das mensagens foram respondidas. Os consumidores classificaram a marca como ótima, com nota 8.1.

É difícil falar de moda no Brasil em 2024 sem citar Patricia Bonaldi, de 43 anos. Além disso , ela também tem uma história no empreendedorismo. A empresária, que foi criada em Uberlândia (MG), decidiu abrir a própria marca de roupas quando sua loja estava a ponto de quebrar e atualmente comercializa as peças da PatBo para mais de 30 países, com itens que chegam a R$ 25 mil.

A empresa não divulga o faturamento anual, mas o crescimento entre janeiro e maio de 2024 foi de 31% em comparação com o mesmo período do ano passado, com o mercado internacional responsável por metade do lucro.

A estilista começou no mercado de trabalho aos 17 anos, como operadora de call center na emissora de cartões de crédito American Express.

A estilista mineira Patricia Bonaldi, criadora da marca de moda PatBo. Foto: Divulgação/Gabriel Correa

Trancou faculdade e foi para o Japão

Uma das viradas na sua vida ocorreu quando ela decidiu trancar a matrícula no curso de direito da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

Aos 19 anos, ela se mudou com o marido - e atualmente sócio - Luiz Moraes para o Japão. O casal não falava japonês e trabalhava em uma fábrica de componentes eletrônicos, onde passava cerca de 14 horas por dia.

Três anos depois, eles decidiram voltar ao Brasil e abrir o próprio negócio com o dinheiro que haviam juntado nas terras asiáticas. Como a empresária já tinha identificação com moda, eles optaram por uma loja de roupas multimarcas.

Loja não deu certo, mas clientes gostavam das roupas que ela usava

A marca própria nasceu justamente no momento em que o primeiro empreendimento deu errado, em 2002. Os itens comercializados não agradavam as clientes, que sempre perguntavam de onde eram as peças que a empresária vestia.

“Estava prestes a perder todo o dinheiro investido. Elas reclamavam da manga ou de outro detalhe dos artigos que eu vendia, mas elogiavam o que eu usava. Então me ofereci para fazer um vestido para uma mulher. Essa venda atraiu outra, que atraiu mais uma e percebi que esse era o caminho”, conta.

Ela já tinha contato com a fabricação de trajes porque costumava frequentar a costureira com a mãe quando era pequena. A marca recebeu o mesmo nome da dona, era focada na produção de peças de alto padrão para festas e explodiu em um ano.

Duas temporadas depois, os seus modelos desfilaram nas passarelas do Minas Trend Show, principal evento para fabricantes e lojistas da indústria da moda no Brasil.

Dez anos depois, Patricia decidiu que era hora de mudar, trocou a Patricia Bonaldi pela PatBo e ingressou no desafiador mundo do casual.

Para se destacar, ela decidiu investir em roupas com tecidos tradicionais, como jeans e moletom, mas incrementados com trabalhos bordados a mão.

“Eu não queria fazer um casual qualquer, mas sim algo que as pessoas percebessem o valor, o trabalho e o tempo empenhados em cada item”, explica.

Parceria com personalidades das redes

Na mesma época, a estilista decidiu olhar para um campo que dava seus primeiros passos: as blogueiras de moda. Ela convidou personalidades da internet, como Thássia Naves e Camila Coutinho, para participar das campanhas, o que foi visto com estranheza no início, mas depois se provou uma das maiores tendências do mundo fashion.

Apesar de não vincular a Patbo a sua imagem e destacar que o negócio tem personalidade própria, a empresária não deixa de aproveitar a sua força no universo digital para impulsionar a marca.

Patricia tinha o perfil no Instagram privado, mas decidiu mostrar ao público um pouco do seu trabalho e já conta com 1,3 milhão de seguidores. Em suas publicações, ela fala pouco e prefere focar no que está vestindo para mostrar que também é consumidora dos seus produtos e gerar desejo.

Atualmente, a marca tem 11 lojas em shoppings e bairros nobres de oito estados brasileiros e do Distrito Federal e duas unidades nos Estados Unidos - uma no agitado bairro do Soho, em Nova York, e outra no sofisticado Design District, em Miami.

Além da forte atuação no e-commerce, ela conta ainda com 110 pontos de vendas: 80 no Brasil e 30 no exterior. As multimarcas com perfis que combinam com a PatBo podem ir até um showroom, comprar as peças da coleção e ganhar autorização para comercializar os itens.

“Empreender é um eletrocardiograma, e o sucesso não é linear. Tem dia que vende bem, tem dia que vende mal. O segredo é manter a constância”, comenta.

Vestir celebridades trouxe um novo capítulo

A cantora Beyoncé vestiu uma peça da PatBo, feita sob medida, em um show da sua turnê “Renaissance Tour” no Canadá, em setembro de 2023. Meses depois, ela teve uma rápida passagem pelo Brasil e desembarcou com outro figurino exclusivo da marca.

“Foi um dos momentos mais importantes em termos de marketing, branding e posicionamento. Foi revolucionário. Entre todas as marcas disponíveis no planeta, ela escolheu a nossa”, comenta.

Além de Beyoncé, a cantora Camila Cabello também usou um look da PatBo, no tapete vermelho do Grammy de 2023.

A atriz e cantora Jennifer Lopez escolheu um figurino da brasileira para vestir em uma campanha de sapatos.

Os bordados com técnicas manuais têm destaque nos modelos feitos por Patricia. Com a dificuldade para encontrar profissionais que dominassem essas táticas, a empresária fundou uma escola para ensinar gratuitamente mulheres a bordar e costurar.

A ideia cresceu e se tornou o projeto Costurando Sonhos, que já formou mais de 500 alunas em Uberlândia. Parte das bordadeiras é contratada para trabalhar na produção das roupas.

“Sempre tive esse olhar para o trabalho manual, é uma identidade muito forte desde o início, e hoje a gente é desejado e reconhecido por isso. Eu falo sempre: se eu tivesse olhado para o lado e me tornado uma marca minimalista, de alfaiataria ou qualquer outra coisa que não fosse o meu estilo, eu não teria vestido a Beyoncé.”

A marca também é a primeira brasileira a estar no calendário do Conselho de Designers de Moda da América (CFDA na sigla em inglês), responsável pela Semana de Moda de Nova York.

Os próximos passos no empreendedorismo

O espírito empreendedor de Patrícia não ficou satisfeito com o sucesso da Patbo. Em 2014, ela criou o Grupo Nohda, após a compra da marca Apartamento 03, criada por Luiz Cláudio Silva e especializada em alfaiataria. No início, a aquisição foi uma forma de ajudar o estilista que enfrentava uma crise financeira, mas o sucesso da parceria mostrou que esse pode ser um caminho para o futuro.

A intenção é adquirir talentos que saibam fazer algo que ela não saiba, mas possa ajudar a desenvolver, como foi com a Apartamento 03.

Ela não quer ser vista apenas como uma investidora, mas sim como alguém que pode impulsionar uma promessa. Nenhuma outra aquisição foi feita até o momento porque a marca primogênita ocupa a maior parte do tempo da dona.

O principal objetivo no momento é ampliar a presença internacional da PatBo, especialmente com a abertura de novas lojas físicas. Mas ela reforça que a identidade da marca não pode se perder, o que coloca um limite para esse crescimento.

Entender clientes é essencial no mercado de luxo, diz especialista

A gestora nacional de Moda do Sebrae, Kamila Merle, aponta que entender as necessidades e os desejos dos clientes, como Patricia fez, é essencial em qualquer segmento, mas se torna ainda mais importante no mercado de luxo. “Esse público-alvo possui expectativas e demandas específicas. Compreender os detalhes pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma marca”, explica.

“É necessário conhecer as preferências de estilo, valores, hábitos de compra e até mesmo os canais de comunicação que eles preferem. A personalização e o relacionamento próximo com o cliente são fundamentais para criar uma experiência única e satisfatória”.

Merle também considera importante a construção da narrativa para os empresários focados em clientes com um poder aquisitivo mais alto, já que esse público valoriza a história e o artesanato por trás das peças.

Ela aponta que esses consumidores não compram apenas um produto, mas toda a narrativa e o valor intangível associados a ele.

A gestora do Sebrae explica que as redes sociais são grandes aliadas para quem quer investir no mercado de luxo, porque permitem a construção de uma comunidade ao compartilhar a história, o processo de criação e o estilo de vida que a marca representa.

As plataformas também auxiliam no engajamento direto com os clientes. “As parcerias com influenciadores e a utilização de conteúdo visual de alta qualidade também são eficazes para atrair e fidelizar esses consumidores”, afirma.

Merle aponta que o principal desafio para quem ingressa nesse mercado é justamente garantir a qualidade e a exclusividade dos produtos, já que os clientes exigem excelência em cada detalhe, desde a escolha dos materiais até o atendimento.

Por outro lado, a boa notícia é a margem de lucro elevada. Por terem uma clientela menos sensível ao preço, as marcas podem cobrar valores mais altos, além de contar com uma valorização contínua dos produtos, especialmente aqueles que se tornam icônicos e desejados ao longo do tempo.

Avaliação de clientes

A PatBo tem 55 reclamações registradas no site Reclame Aqui. A maioria das queixas são relacionadas a troca ou devolução dos produtos e 100% das mensagens foram respondidas. Os consumidores classificaram a marca como ótima, com nota 8.1.

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