Como a Polishop pode vender franquias em meio a processo de recuperação judicial?


Empresa lançou modelo durante feira do setor; especialistas apontam que situação financeira da marca deve ser levada em consideração no momento da compra

Por João Scheller

No estande da Polishop na ABF Franchising Expo, feira do setor de franquias, o empresário João Appolinário cumprimentava um grupo variado de pessoas, desde interessados em adquirir franquias da marca até fãs e curiosos, que o conheciam por sua participação no programa Shark Tank, do canal Sony. Foi no evento que a Polishop lançou, de fato, seu novo modelo de franquias, que já havia sido anunciado há cerca de um ano por Appolinário.

Apesar da empolgação da estreia no franchising, a empresa passa por uma de suas maiores crises, o que a fez dar entrada com um pedido de recuperação judicial, aceito no final de maio pela Justiça. A companhia somava uma dívida bancária na ordem de R$ 300 milhões — já reduzida para menos de R$ 60 milhões, segundo o empresário.

Mesmo em meio às dívidas e ordens de despejo — a empresa já fechou mais de 100 lojas em shopping centers —, Appolinário defende que a situação da Polishop não afetará os franqueados da marca, que devem contar com um modelo de negócio lucrativo e competitivo.

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Já especialistas ouvidos pela reportagem ponderam que, apesar de o modelo de negócio ser interessante, a situação financeira da companhia deve ser considerada pelo franqueado e pode ser um sinal vermelho para quem deseja investir sem correr riscos.

Unidade da Polishop em shopping center de São Paulo. Empresa aposta agora na abertura de franquias Foto: Estadão

Franquias da Polishop em cidades menores e com estoque reduzido

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O modelo de franquias tem como foco a abertura de lojas menores, em especial em cidades do interior, que contarão com o suporte logístico de unidades maiores.

A ideia é que exista uma grande loja operada pela Polishop em um raio de cerca de 200 quilômetros de todas as unidades, o que permitiria ao franqueado operar sem um estoque grande (e custoso).

Com o passar do tempo, o plano de Appolinário é que exista ao menos uma loja para oferecer esse suporte em cada Estado, sendo que em alguns, esse número seria ainda maior, para atender a centros regionais.

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“É importante o franqueado colocar na ponta do papel e saber o que ele vai ter de investimento de fato. Eu garanto para você que (uma franquia da Polishop) é muito mais barata que uma sorveteria, porque é para montar um negócio que tem uma margem muito melhor. Vamos ter uma oportunidade de fazer com que a taxa de franquia vire sempre um benefício para o empreendedor”, afirma Appolinário.

Ele cita que as 23 primeiras franquias vendidas pela Polishop terão o estoque e obras de adequação do ponto bancadas pela empresa, o que fará com que o investimento inicial do franqueado seja efetivamente menor. Segundo a empresa, já foram vendidas cinco unidades durante a feira.

João Appolinário no estande da Polishop durante feira ABF Expo Foto: João Scheller/Estadão
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Recuperação judicial deve ser avaliada com cuidado, dizem analistas

Para Rafael Ribeiro, consultor da Raz Consulting, considerando um franqueado com um perfil de investidor menos arrojado, que espere um bom retorno de seu investimento, a situação da Polishop acende um alerta.

“Parece um pouco contraditório alguém com esse perfil investir na franquia de uma empresa que passa por notórios problemas de caixa, a ponto de ter recorrido a uma recuperação judicial”, afirma.

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Ele pondera, porém, que os franqueados não são atingidos diretamente no momento em que uma empresa entra em recuperação judicial. Ele cita como exemplo o pedido apresentado pela Casa do Pão de Queijo na semana passada, que não incluía suas operações de franquia.

No caso de um eventual processo de falência, a franqueadora pode, inclusive, ser vendida para terceiros em meio ao processo, segundo o advogado especializado em franquias, Paulo Bardella Caparelli, sócio da Galvão Villani, Navarro, Zangiácomo e Bardella Advogados. “Se a franqueadora for vendida, os franqueados acompanham e o contrato de franquia não se encerra. Isso é o que normalmente acontece, a não ser que exista algo previsto no contrato”, afirma.

Este ponto também é mencionado pelo consultor de negócios do Sebrae-SP Leandro Reale. Segundo ele, como as franquias se enquadram em outro CNPJ, o da Polishop franqueadora, elas não são afetadas diretamente pela recuperação judicial. “O varejo em si tem esses problemas tradicionais de atualização de modelagem. Quando a marca vai para franquia consegue ser muito mais exponencial, escalável, isso tudo por meio do franqueado”, comenta Reale.

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Mesmo assim, cabe atenção ao andamento do processo, já que os produtos comercializados nas lojas vêm da Polishop. “Se o novo franqueador descumprir o contrato porque foi à falência, aí sim o franqueado pode pedir a rescisão do contrato”, afirma Caparelli, citando a possibilidade da empresa não conseguir entregar os produtos vendidos pelas franquias. Ele pontua, porém, que caso isso ocorra antes do franqueado ter tido retorno sobre seu investimento, não há espaço para se processar a franqueadora. “Qualquer pessoa que queira investir numa franquia deve fazer a análise da situação da empresa. É uma análise de negócio”, diz.

Reale pondera, porém, que não é possível se descartar a decisão de compra da franquia da Polishop, mas que o comprador deve estar alerta e pesar os valores de investimento e retorno estimados. Ele cita ainda que outra empresa de Appolinário, que também opera com franchising, a Decor Color, tem tido bons resultados com o modelo.

Já para José Sarkis Arakelian, professor da FAAP e consultor de negócios, as franquias da Polishop podem se enquadrar como um investimento de risco, considerando a situação financeira da empresa.

“Deve existir alguma cláusula no contrato, alguma ‘porta de saída’, caso a empresa entre em processo de falência, apontando, por exemplo, quem passará a fornecer os produtos. Se o preço da franquia é o mesmo de outras marcas do segmento, considerando um processo de recuperação judicial, o risco é majorado”, afirma.

Segundo o professor, o investimento não seria indicado para o chamado investidor comum. “Não é recomendado para a pessoa que pegou o dinheiro do FGTS e vai investir numa franquia”, exemplifica.

Questionada pela reportagem sobre a participação de uma empresa em recuperação judicial na feira de franquias, a organizadora do evento, a Associação Brasileira de Franchising (ABF), respondeu em nota que considera o instrumento “um recurso jurídico legítimo para se buscar a recuperação de uma empresa”.

A associação pontua ainda que um possível interessado em comprar uma franquia da marca “deve sim levar em consideração esse fato em sua avaliação de adquirir uma franquia, pesando em sua análise de risco” e menciona ainda que a Polishop “deve prestar informações sobre esta questão”.

Valores de investimento nas franquias da Polishop

  • Investimento inicial estimado: de R$ 250 mil a R$ 345 mil
  • Faturamento médio estimado: de R$ 1,8 milhão a R$ 3 milhões por ano
  • Lucro estimado: de 13% a 15%
  • Retorno do investimento: de 12 a 15 meses
  • Royalties/taxas: não há taxa de marketing, e os royalties são embutidos no preço dos produtos comprados pelo franqueado, em média 12,5% sobre o valor

A empresa opera com três modelos de franquia: Standard, Plus e Mega, que possuem valores de investimento maiores, conforme o tamanho das unidades. A taxa de franquia, incluída no investimento inicial, é de R$ 90 mil para qualquer um dos modelos.

No estande da Polishop na ABF Franchising Expo, feira do setor de franquias, o empresário João Appolinário cumprimentava um grupo variado de pessoas, desde interessados em adquirir franquias da marca até fãs e curiosos, que o conheciam por sua participação no programa Shark Tank, do canal Sony. Foi no evento que a Polishop lançou, de fato, seu novo modelo de franquias, que já havia sido anunciado há cerca de um ano por Appolinário.

Apesar da empolgação da estreia no franchising, a empresa passa por uma de suas maiores crises, o que a fez dar entrada com um pedido de recuperação judicial, aceito no final de maio pela Justiça. A companhia somava uma dívida bancária na ordem de R$ 300 milhões — já reduzida para menos de R$ 60 milhões, segundo o empresário.

Mesmo em meio às dívidas e ordens de despejo — a empresa já fechou mais de 100 lojas em shopping centers —, Appolinário defende que a situação da Polishop não afetará os franqueados da marca, que devem contar com um modelo de negócio lucrativo e competitivo.

Já especialistas ouvidos pela reportagem ponderam que, apesar de o modelo de negócio ser interessante, a situação financeira da companhia deve ser considerada pelo franqueado e pode ser um sinal vermelho para quem deseja investir sem correr riscos.

Unidade da Polishop em shopping center de São Paulo. Empresa aposta agora na abertura de franquias Foto: Estadão

Franquias da Polishop em cidades menores e com estoque reduzido

O modelo de franquias tem como foco a abertura de lojas menores, em especial em cidades do interior, que contarão com o suporte logístico de unidades maiores.

A ideia é que exista uma grande loja operada pela Polishop em um raio de cerca de 200 quilômetros de todas as unidades, o que permitiria ao franqueado operar sem um estoque grande (e custoso).

Com o passar do tempo, o plano de Appolinário é que exista ao menos uma loja para oferecer esse suporte em cada Estado, sendo que em alguns, esse número seria ainda maior, para atender a centros regionais.

“É importante o franqueado colocar na ponta do papel e saber o que ele vai ter de investimento de fato. Eu garanto para você que (uma franquia da Polishop) é muito mais barata que uma sorveteria, porque é para montar um negócio que tem uma margem muito melhor. Vamos ter uma oportunidade de fazer com que a taxa de franquia vire sempre um benefício para o empreendedor”, afirma Appolinário.

Ele cita que as 23 primeiras franquias vendidas pela Polishop terão o estoque e obras de adequação do ponto bancadas pela empresa, o que fará com que o investimento inicial do franqueado seja efetivamente menor. Segundo a empresa, já foram vendidas cinco unidades durante a feira.

João Appolinário no estande da Polishop durante feira ABF Expo Foto: João Scheller/Estadão

Recuperação judicial deve ser avaliada com cuidado, dizem analistas

Para Rafael Ribeiro, consultor da Raz Consulting, considerando um franqueado com um perfil de investidor menos arrojado, que espere um bom retorno de seu investimento, a situação da Polishop acende um alerta.

“Parece um pouco contraditório alguém com esse perfil investir na franquia de uma empresa que passa por notórios problemas de caixa, a ponto de ter recorrido a uma recuperação judicial”, afirma.

Ele pondera, porém, que os franqueados não são atingidos diretamente no momento em que uma empresa entra em recuperação judicial. Ele cita como exemplo o pedido apresentado pela Casa do Pão de Queijo na semana passada, que não incluía suas operações de franquia.

No caso de um eventual processo de falência, a franqueadora pode, inclusive, ser vendida para terceiros em meio ao processo, segundo o advogado especializado em franquias, Paulo Bardella Caparelli, sócio da Galvão Villani, Navarro, Zangiácomo e Bardella Advogados. “Se a franqueadora for vendida, os franqueados acompanham e o contrato de franquia não se encerra. Isso é o que normalmente acontece, a não ser que exista algo previsto no contrato”, afirma.

Este ponto também é mencionado pelo consultor de negócios do Sebrae-SP Leandro Reale. Segundo ele, como as franquias se enquadram em outro CNPJ, o da Polishop franqueadora, elas não são afetadas diretamente pela recuperação judicial. “O varejo em si tem esses problemas tradicionais de atualização de modelagem. Quando a marca vai para franquia consegue ser muito mais exponencial, escalável, isso tudo por meio do franqueado”, comenta Reale.

Mesmo assim, cabe atenção ao andamento do processo, já que os produtos comercializados nas lojas vêm da Polishop. “Se o novo franqueador descumprir o contrato porque foi à falência, aí sim o franqueado pode pedir a rescisão do contrato”, afirma Caparelli, citando a possibilidade da empresa não conseguir entregar os produtos vendidos pelas franquias. Ele pontua, porém, que caso isso ocorra antes do franqueado ter tido retorno sobre seu investimento, não há espaço para se processar a franqueadora. “Qualquer pessoa que queira investir numa franquia deve fazer a análise da situação da empresa. É uma análise de negócio”, diz.

Reale pondera, porém, que não é possível se descartar a decisão de compra da franquia da Polishop, mas que o comprador deve estar alerta e pesar os valores de investimento e retorno estimados. Ele cita ainda que outra empresa de Appolinário, que também opera com franchising, a Decor Color, tem tido bons resultados com o modelo.

Já para José Sarkis Arakelian, professor da FAAP e consultor de negócios, as franquias da Polishop podem se enquadrar como um investimento de risco, considerando a situação financeira da empresa.

“Deve existir alguma cláusula no contrato, alguma ‘porta de saída’, caso a empresa entre em processo de falência, apontando, por exemplo, quem passará a fornecer os produtos. Se o preço da franquia é o mesmo de outras marcas do segmento, considerando um processo de recuperação judicial, o risco é majorado”, afirma.

Segundo o professor, o investimento não seria indicado para o chamado investidor comum. “Não é recomendado para a pessoa que pegou o dinheiro do FGTS e vai investir numa franquia”, exemplifica.

Questionada pela reportagem sobre a participação de uma empresa em recuperação judicial na feira de franquias, a organizadora do evento, a Associação Brasileira de Franchising (ABF), respondeu em nota que considera o instrumento “um recurso jurídico legítimo para se buscar a recuperação de uma empresa”.

A associação pontua ainda que um possível interessado em comprar uma franquia da marca “deve sim levar em consideração esse fato em sua avaliação de adquirir uma franquia, pesando em sua análise de risco” e menciona ainda que a Polishop “deve prestar informações sobre esta questão”.

Valores de investimento nas franquias da Polishop

  • Investimento inicial estimado: de R$ 250 mil a R$ 345 mil
  • Faturamento médio estimado: de R$ 1,8 milhão a R$ 3 milhões por ano
  • Lucro estimado: de 13% a 15%
  • Retorno do investimento: de 12 a 15 meses
  • Royalties/taxas: não há taxa de marketing, e os royalties são embutidos no preço dos produtos comprados pelo franqueado, em média 12,5% sobre o valor

A empresa opera com três modelos de franquia: Standard, Plus e Mega, que possuem valores de investimento maiores, conforme o tamanho das unidades. A taxa de franquia, incluída no investimento inicial, é de R$ 90 mil para qualquer um dos modelos.

No estande da Polishop na ABF Franchising Expo, feira do setor de franquias, o empresário João Appolinário cumprimentava um grupo variado de pessoas, desde interessados em adquirir franquias da marca até fãs e curiosos, que o conheciam por sua participação no programa Shark Tank, do canal Sony. Foi no evento que a Polishop lançou, de fato, seu novo modelo de franquias, que já havia sido anunciado há cerca de um ano por Appolinário.

Apesar da empolgação da estreia no franchising, a empresa passa por uma de suas maiores crises, o que a fez dar entrada com um pedido de recuperação judicial, aceito no final de maio pela Justiça. A companhia somava uma dívida bancária na ordem de R$ 300 milhões — já reduzida para menos de R$ 60 milhões, segundo o empresário.

Mesmo em meio às dívidas e ordens de despejo — a empresa já fechou mais de 100 lojas em shopping centers —, Appolinário defende que a situação da Polishop não afetará os franqueados da marca, que devem contar com um modelo de negócio lucrativo e competitivo.

Já especialistas ouvidos pela reportagem ponderam que, apesar de o modelo de negócio ser interessante, a situação financeira da companhia deve ser considerada pelo franqueado e pode ser um sinal vermelho para quem deseja investir sem correr riscos.

Unidade da Polishop em shopping center de São Paulo. Empresa aposta agora na abertura de franquias Foto: Estadão

Franquias da Polishop em cidades menores e com estoque reduzido

O modelo de franquias tem como foco a abertura de lojas menores, em especial em cidades do interior, que contarão com o suporte logístico de unidades maiores.

A ideia é que exista uma grande loja operada pela Polishop em um raio de cerca de 200 quilômetros de todas as unidades, o que permitiria ao franqueado operar sem um estoque grande (e custoso).

Com o passar do tempo, o plano de Appolinário é que exista ao menos uma loja para oferecer esse suporte em cada Estado, sendo que em alguns, esse número seria ainda maior, para atender a centros regionais.

“É importante o franqueado colocar na ponta do papel e saber o que ele vai ter de investimento de fato. Eu garanto para você que (uma franquia da Polishop) é muito mais barata que uma sorveteria, porque é para montar um negócio que tem uma margem muito melhor. Vamos ter uma oportunidade de fazer com que a taxa de franquia vire sempre um benefício para o empreendedor”, afirma Appolinário.

Ele cita que as 23 primeiras franquias vendidas pela Polishop terão o estoque e obras de adequação do ponto bancadas pela empresa, o que fará com que o investimento inicial do franqueado seja efetivamente menor. Segundo a empresa, já foram vendidas cinco unidades durante a feira.

João Appolinário no estande da Polishop durante feira ABF Expo Foto: João Scheller/Estadão

Recuperação judicial deve ser avaliada com cuidado, dizem analistas

Para Rafael Ribeiro, consultor da Raz Consulting, considerando um franqueado com um perfil de investidor menos arrojado, que espere um bom retorno de seu investimento, a situação da Polishop acende um alerta.

“Parece um pouco contraditório alguém com esse perfil investir na franquia de uma empresa que passa por notórios problemas de caixa, a ponto de ter recorrido a uma recuperação judicial”, afirma.

Ele pondera, porém, que os franqueados não são atingidos diretamente no momento em que uma empresa entra em recuperação judicial. Ele cita como exemplo o pedido apresentado pela Casa do Pão de Queijo na semana passada, que não incluía suas operações de franquia.

No caso de um eventual processo de falência, a franqueadora pode, inclusive, ser vendida para terceiros em meio ao processo, segundo o advogado especializado em franquias, Paulo Bardella Caparelli, sócio da Galvão Villani, Navarro, Zangiácomo e Bardella Advogados. “Se a franqueadora for vendida, os franqueados acompanham e o contrato de franquia não se encerra. Isso é o que normalmente acontece, a não ser que exista algo previsto no contrato”, afirma.

Este ponto também é mencionado pelo consultor de negócios do Sebrae-SP Leandro Reale. Segundo ele, como as franquias se enquadram em outro CNPJ, o da Polishop franqueadora, elas não são afetadas diretamente pela recuperação judicial. “O varejo em si tem esses problemas tradicionais de atualização de modelagem. Quando a marca vai para franquia consegue ser muito mais exponencial, escalável, isso tudo por meio do franqueado”, comenta Reale.

Mesmo assim, cabe atenção ao andamento do processo, já que os produtos comercializados nas lojas vêm da Polishop. “Se o novo franqueador descumprir o contrato porque foi à falência, aí sim o franqueado pode pedir a rescisão do contrato”, afirma Caparelli, citando a possibilidade da empresa não conseguir entregar os produtos vendidos pelas franquias. Ele pontua, porém, que caso isso ocorra antes do franqueado ter tido retorno sobre seu investimento, não há espaço para se processar a franqueadora. “Qualquer pessoa que queira investir numa franquia deve fazer a análise da situação da empresa. É uma análise de negócio”, diz.

Reale pondera, porém, que não é possível se descartar a decisão de compra da franquia da Polishop, mas que o comprador deve estar alerta e pesar os valores de investimento e retorno estimados. Ele cita ainda que outra empresa de Appolinário, que também opera com franchising, a Decor Color, tem tido bons resultados com o modelo.

Já para José Sarkis Arakelian, professor da FAAP e consultor de negócios, as franquias da Polishop podem se enquadrar como um investimento de risco, considerando a situação financeira da empresa.

“Deve existir alguma cláusula no contrato, alguma ‘porta de saída’, caso a empresa entre em processo de falência, apontando, por exemplo, quem passará a fornecer os produtos. Se o preço da franquia é o mesmo de outras marcas do segmento, considerando um processo de recuperação judicial, o risco é majorado”, afirma.

Segundo o professor, o investimento não seria indicado para o chamado investidor comum. “Não é recomendado para a pessoa que pegou o dinheiro do FGTS e vai investir numa franquia”, exemplifica.

Questionada pela reportagem sobre a participação de uma empresa em recuperação judicial na feira de franquias, a organizadora do evento, a Associação Brasileira de Franchising (ABF), respondeu em nota que considera o instrumento “um recurso jurídico legítimo para se buscar a recuperação de uma empresa”.

A associação pontua ainda que um possível interessado em comprar uma franquia da marca “deve sim levar em consideração esse fato em sua avaliação de adquirir uma franquia, pesando em sua análise de risco” e menciona ainda que a Polishop “deve prestar informações sobre esta questão”.

Valores de investimento nas franquias da Polishop

  • Investimento inicial estimado: de R$ 250 mil a R$ 345 mil
  • Faturamento médio estimado: de R$ 1,8 milhão a R$ 3 milhões por ano
  • Lucro estimado: de 13% a 15%
  • Retorno do investimento: de 12 a 15 meses
  • Royalties/taxas: não há taxa de marketing, e os royalties são embutidos no preço dos produtos comprados pelo franqueado, em média 12,5% sobre o valor

A empresa opera com três modelos de franquia: Standard, Plus e Mega, que possuem valores de investimento maiores, conforme o tamanho das unidades. A taxa de franquia, incluída no investimento inicial, é de R$ 90 mil para qualquer um dos modelos.

No estande da Polishop na ABF Franchising Expo, feira do setor de franquias, o empresário João Appolinário cumprimentava um grupo variado de pessoas, desde interessados em adquirir franquias da marca até fãs e curiosos, que o conheciam por sua participação no programa Shark Tank, do canal Sony. Foi no evento que a Polishop lançou, de fato, seu novo modelo de franquias, que já havia sido anunciado há cerca de um ano por Appolinário.

Apesar da empolgação da estreia no franchising, a empresa passa por uma de suas maiores crises, o que a fez dar entrada com um pedido de recuperação judicial, aceito no final de maio pela Justiça. A companhia somava uma dívida bancária na ordem de R$ 300 milhões — já reduzida para menos de R$ 60 milhões, segundo o empresário.

Mesmo em meio às dívidas e ordens de despejo — a empresa já fechou mais de 100 lojas em shopping centers —, Appolinário defende que a situação da Polishop não afetará os franqueados da marca, que devem contar com um modelo de negócio lucrativo e competitivo.

Já especialistas ouvidos pela reportagem ponderam que, apesar de o modelo de negócio ser interessante, a situação financeira da companhia deve ser considerada pelo franqueado e pode ser um sinal vermelho para quem deseja investir sem correr riscos.

Unidade da Polishop em shopping center de São Paulo. Empresa aposta agora na abertura de franquias Foto: Estadão

Franquias da Polishop em cidades menores e com estoque reduzido

O modelo de franquias tem como foco a abertura de lojas menores, em especial em cidades do interior, que contarão com o suporte logístico de unidades maiores.

A ideia é que exista uma grande loja operada pela Polishop em um raio de cerca de 200 quilômetros de todas as unidades, o que permitiria ao franqueado operar sem um estoque grande (e custoso).

Com o passar do tempo, o plano de Appolinário é que exista ao menos uma loja para oferecer esse suporte em cada Estado, sendo que em alguns, esse número seria ainda maior, para atender a centros regionais.

“É importante o franqueado colocar na ponta do papel e saber o que ele vai ter de investimento de fato. Eu garanto para você que (uma franquia da Polishop) é muito mais barata que uma sorveteria, porque é para montar um negócio que tem uma margem muito melhor. Vamos ter uma oportunidade de fazer com que a taxa de franquia vire sempre um benefício para o empreendedor”, afirma Appolinário.

Ele cita que as 23 primeiras franquias vendidas pela Polishop terão o estoque e obras de adequação do ponto bancadas pela empresa, o que fará com que o investimento inicial do franqueado seja efetivamente menor. Segundo a empresa, já foram vendidas cinco unidades durante a feira.

João Appolinário no estande da Polishop durante feira ABF Expo Foto: João Scheller/Estadão

Recuperação judicial deve ser avaliada com cuidado, dizem analistas

Para Rafael Ribeiro, consultor da Raz Consulting, considerando um franqueado com um perfil de investidor menos arrojado, que espere um bom retorno de seu investimento, a situação da Polishop acende um alerta.

“Parece um pouco contraditório alguém com esse perfil investir na franquia de uma empresa que passa por notórios problemas de caixa, a ponto de ter recorrido a uma recuperação judicial”, afirma.

Ele pondera, porém, que os franqueados não são atingidos diretamente no momento em que uma empresa entra em recuperação judicial. Ele cita como exemplo o pedido apresentado pela Casa do Pão de Queijo na semana passada, que não incluía suas operações de franquia.

No caso de um eventual processo de falência, a franqueadora pode, inclusive, ser vendida para terceiros em meio ao processo, segundo o advogado especializado em franquias, Paulo Bardella Caparelli, sócio da Galvão Villani, Navarro, Zangiácomo e Bardella Advogados. “Se a franqueadora for vendida, os franqueados acompanham e o contrato de franquia não se encerra. Isso é o que normalmente acontece, a não ser que exista algo previsto no contrato”, afirma.

Este ponto também é mencionado pelo consultor de negócios do Sebrae-SP Leandro Reale. Segundo ele, como as franquias se enquadram em outro CNPJ, o da Polishop franqueadora, elas não são afetadas diretamente pela recuperação judicial. “O varejo em si tem esses problemas tradicionais de atualização de modelagem. Quando a marca vai para franquia consegue ser muito mais exponencial, escalável, isso tudo por meio do franqueado”, comenta Reale.

Mesmo assim, cabe atenção ao andamento do processo, já que os produtos comercializados nas lojas vêm da Polishop. “Se o novo franqueador descumprir o contrato porque foi à falência, aí sim o franqueado pode pedir a rescisão do contrato”, afirma Caparelli, citando a possibilidade da empresa não conseguir entregar os produtos vendidos pelas franquias. Ele pontua, porém, que caso isso ocorra antes do franqueado ter tido retorno sobre seu investimento, não há espaço para se processar a franqueadora. “Qualquer pessoa que queira investir numa franquia deve fazer a análise da situação da empresa. É uma análise de negócio”, diz.

Reale pondera, porém, que não é possível se descartar a decisão de compra da franquia da Polishop, mas que o comprador deve estar alerta e pesar os valores de investimento e retorno estimados. Ele cita ainda que outra empresa de Appolinário, que também opera com franchising, a Decor Color, tem tido bons resultados com o modelo.

Já para José Sarkis Arakelian, professor da FAAP e consultor de negócios, as franquias da Polishop podem se enquadrar como um investimento de risco, considerando a situação financeira da empresa.

“Deve existir alguma cláusula no contrato, alguma ‘porta de saída’, caso a empresa entre em processo de falência, apontando, por exemplo, quem passará a fornecer os produtos. Se o preço da franquia é o mesmo de outras marcas do segmento, considerando um processo de recuperação judicial, o risco é majorado”, afirma.

Segundo o professor, o investimento não seria indicado para o chamado investidor comum. “Não é recomendado para a pessoa que pegou o dinheiro do FGTS e vai investir numa franquia”, exemplifica.

Questionada pela reportagem sobre a participação de uma empresa em recuperação judicial na feira de franquias, a organizadora do evento, a Associação Brasileira de Franchising (ABF), respondeu em nota que considera o instrumento “um recurso jurídico legítimo para se buscar a recuperação de uma empresa”.

A associação pontua ainda que um possível interessado em comprar uma franquia da marca “deve sim levar em consideração esse fato em sua avaliação de adquirir uma franquia, pesando em sua análise de risco” e menciona ainda que a Polishop “deve prestar informações sobre esta questão”.

Valores de investimento nas franquias da Polishop

  • Investimento inicial estimado: de R$ 250 mil a R$ 345 mil
  • Faturamento médio estimado: de R$ 1,8 milhão a R$ 3 milhões por ano
  • Lucro estimado: de 13% a 15%
  • Retorno do investimento: de 12 a 15 meses
  • Royalties/taxas: não há taxa de marketing, e os royalties são embutidos no preço dos produtos comprados pelo franqueado, em média 12,5% sobre o valor

A empresa opera com três modelos de franquia: Standard, Plus e Mega, que possuem valores de investimento maiores, conforme o tamanho das unidades. A taxa de franquia, incluída no investimento inicial, é de R$ 90 mil para qualquer um dos modelos.

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