Reduzir pegada de carbono é mote também de pequenas empresas


Negócios ajustam ações cotidianas para ser carbono zero e compram créditos de compensação; iFood estimula restaurantes parceiros com campanha

Por Bianca Zanatta

Reduzir a pegada de CO2, ser carbono zero, neutralizar emissões, comprar créditos de carbono. Empreender hoje vai muito além de ter uma boa ideia, um plano de negócio sólido e dinheiro em caixa. Em tempos em que a preocupação não é só com a qualidade do produto ou do serviço que a empresa oferece, mas também como ela lida com seus impactos socioambientais, é preciso aprender todo esse bê-a-bá.

“Muitas das atividades desempenhadas pelas empresas são intensivas em emissão de dióxido de carbono (CO2) e outros gases do efeito estufa”, explica Mauricio Salla, head de energia e indústria da Crowe Macro. “O conceito de ‘carbono zero’ consiste no esforço dessas empresas para transformar gradativamente seus métodos produtivos, visando a neutralização de sua pegada de carbono.”

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Mas quando se trata de uma empresa menor, o que é mais válido? Tentar reduzir a emissão de CO2 ou fazer a compensação do que emite? “Mesmo para pequenos negócios, basta adotar algumas medidas, como a seleção criteriosa de fornecedores, dando preferência àqueles que já possuem algum tipo de engajamento social local ou que participam de programas de neutralização de carbono”, afirma o executivo. “Assim, eles contribuem indiretamente com a redução de gases do efeito estufa.”

Segundo ele, a própria pequena empresa também pode comprar créditos de carbono. “Já temos diversas empresas que atuam nesse setor e seus créditos representam efetivamente uma redução certificada de emissões”, diz. “Os recursos desses créditos geralmente são aplicados em projetos locais de sustentabilidade, como adoção de fontes de energia renováveis, biomassa e redução de desmatamento e degradação (REDD+).”

Mariana Yoshimoto (à esq.) e sua mãe, Estela Passoni: restaurante virou ponto de coleta de materiais como buchas de lavar louça. Foto: Werther Santana/Estadão
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Engajadas no tema da sustentabilidade, a chef Estela Passoni e sua filha, Mariana Yoshimoto, estabeleceram diversas frentes para reduzir as emissões de CO2 de seu restaurante em São Paulo, o Estela Passoni. “É uma preocupação pessoal que quisemos trazer para o negócio”, conta Mariana. “A gente queria tomar decisões que coubessem no orçamento e contribuíssem para a comunidade.” 

O restaurante conta com uma pessoa para fazer parte das entregas de bicicleta e criou pontos de coleta de materiais de difícil descarte, como esponjas, material escolar, pilhas, baterias e tampinhas, aos quais é dada a destinação correta.

“Outra decisão foi trabalhar com pequenos produtores locais que têm a mesma preocupação que a gente”, conta a empreendedora. “Não compramos nada importado e as entregas dos nossos fornecedores acontecem só uma vez por semana, quando eles abastecem todos os clientes.” 

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A proposta do Estela Passoni também permite fazer compras mais precisas e com desperdício zero, de acordo com Mariana. “90% da nossa produção é com insumos in natura, além de não trabalharmos com carne vermelha ou proteína de soja, por questão de sustentabilidade. A Green Mining faz a coleta seletiva do pouco lixo que geramos”, relata. 

Compra de créditos de carbono

O estabelecimento agora mergulhou de vez na causa, comprando créditos da Biofílica, que faz a conservação de florestas nativas a partir da comercialização de serviços ambientais e créditos de carbono. “A gente já namorava a ideia, mas foi a pandemia que despertou uma vontade maior”, diz Mariana. 

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Com a calculadora de carbono da Biofílica, elas viram que as emissões de 2020 somaram quase 19 toneladas. “Para meu espanto, quase tudo foi em traslados, como entregas (delivery por aplicativos) e deslocamento dos funcionários”, ela afirma. “Mesmo usando transporte coletivo, o impacto é bem maior do que eu imaginava e a compra de créditos foi uma forma de compensar essas emissões.” 

Receitas do Estela Passoni levam ingredientes de pequenos produtores locais e prezam desperdício zero. Foto: Bruno Geraldi

Cofundador da Biofílica, recém-adquirida pela líder de gestão ambiental Ambipar, o empresário Plínio Ribeiro explica que o mercado de créditos de carbono existe para financiar atividades ligadas ao uso da terra, como projetos de redução do desmatamento, restauração florestal, agroflorestas e práticas agrícolas que sequestram carbono no solo. 

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“A empresa precisa fazer uma jornada investigativa, um inventário de carbono para entender quanto ela emite na sua atividade”, ele fala. E essa emissão varia de acordo com o setor de atuação. “Mas a compensação não deve ser a única forma de reduzir esse carbono. A gente recomenda ações na cadeia de produção, como desligar o ar condicionado ou a luz quando não é necessária.”

Mesmo aliando práticas cotidianas à tecnologia, que auxilia na diminuição da pegada de carbono, ele fala que muitos negócios ainda não conseguem eliminar certas emissões – e são essas que podem ser compensadas com a compra de créditos. 

Cada crédito corresponde a uma tonelada de CO2 equivalente. No caso do restaurante Estela Passoni, por exemplo, foram comprados 19 créditos para neutralizar as 19 toneladas emitidas em 2020.

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Ribeiro ressalta que, pelo fato de o carbono ser um elemento global, não importa se as emissões ocorrem em um local e são neutralizadas em outro. “Um carro que roda em São Paulo tem o mesmo efeito atmosférico do que aquele que circula em Bombaim”, esclarece. 

  • Quer debater assuntos de Carreira e Empreendedorismo? Entre para o nosso grupo no Telegram pelo link ou digite @gruposuacarreira na barra de pesquisa do aplicativo

Ele conta que o mercado de neutralização movimenta 150 milhões de toneladas de CO2 no mundo, mas 90% dos créditos são comprados por grandes organizações e marcas que querem fazer parte da solução, não do problema. “As PMEs ainda são muito desassistidas nisso, mas quando calculam suas emissões, percebem que o custo é muito baixo”, diz. “Estamos falando de poucas centenas de reais, uma vez por ano.”

Moda sustentável

Diversidade, processos sustentáveis, consumo consciente, valorização da mão de obra e priorização de recursos locais são os pilares da Honey Belt, marca de roupas de yoga criada pelas empreendedoras Gabrielle Chimento, Caroline Alves e Marta Gurian.

A produção dos tecidos tem uma estação de tratamento que reaproveita 100% da água utilizada e os materiais possuem a certificação Oeko-Tex, que atesta a responsabilidade humana e ecológica. A marca também planeja suas coleções anualmente e concentra a logística das compras por semestre, recebendo as entregas apenas duas vezes no ano. 

“Temos 98% de aproveitamento dos tecidos nas roupas e os retalhos utilizamos na produção de frufrus e saquinhos para guardar as peças”, diz Marta. “Também fomentamos a mão de obra local para reduzir a necessidade de transitar com veículos.” Outra escolha importante foi despachar os pedidos só pelos Correios, que adotam medidas para redução da emissão de CO2 desde 2013.

Modelo com roupas de yoga da Honey Belt: mão de obra local e menos trânsito de veículos. Foto: Jair Leite Roque

Mais uma que assumiu o compromisso de ser carbono zero é a Blake Rings, marca de anéis e pulseiras de silicone. “Estudamos companhias nos países nórdicos, que em geral estão à frente nessa área, para servir como guia”, conta o fundador, Erik Nerback. 

Além de usar o mínimo possível de embalagem (leve e feita em papel), a Blake tem estoque e escritório compartilhados com outra empresa, e também optou por calcular as emissões de CO2 e investir em projetos para zerar o impacto. 

“Existem muitos projetos para plantar ou deixar de desmatar as florestas. A dificuldade é achar os que são controlados e sérios, entregando o prometido”, ele fala. No caso da marca, a escolha foi pelos créditos da Pachama, que tem clientes como Microsoft e Shopify.

Campanha do iFood apoia boas práticas de parceiros

Com a meta de se tornar uma empresa carbono neutro até 2025, realizando 50% das entregas por modais não poluentes, o iFood criou a campanha Amigo da Natureza, que reconhece boas práticas ambientais, como forma de engajar os estabelecimentos cadastrados no aplicativo.

“Para ativar a campanha, o restaurante precisa ter a opção para que os usuários possam escolher não receber talheres plásticos e outros itens descartáveis”, explica André Borges, head de sustentabilidade da empresa. “Já temos 40 mil restaurantes adeptos e mais de 18 milhões de pedidos entregues sem talheres, guardanapos e canudos plásticos.” 

Ele conta que muitos restaurantes têm migrado para o mercado de energia de fontes renováveis, vinda de usinas solares ou eólicas, e que o iFood apoia esses parceiros com o programa Vantagens do Chef. 

“Além da sustentabilidade, também traz uma economia de até 15% na conta de energia”, lembra o executivo. “Outra iniciativa interessante que muitos têm feito é priorizar fornecedores locais. Isso reduz as distâncias e a logística e, consequentemente, as emissões de carbono.”

Reduzir a pegada de CO2, ser carbono zero, neutralizar emissões, comprar créditos de carbono. Empreender hoje vai muito além de ter uma boa ideia, um plano de negócio sólido e dinheiro em caixa. Em tempos em que a preocupação não é só com a qualidade do produto ou do serviço que a empresa oferece, mas também como ela lida com seus impactos socioambientais, é preciso aprender todo esse bê-a-bá.

“Muitas das atividades desempenhadas pelas empresas são intensivas em emissão de dióxido de carbono (CO2) e outros gases do efeito estufa”, explica Mauricio Salla, head de energia e indústria da Crowe Macro. “O conceito de ‘carbono zero’ consiste no esforço dessas empresas para transformar gradativamente seus métodos produtivos, visando a neutralização de sua pegada de carbono.”

Mas quando se trata de uma empresa menor, o que é mais válido? Tentar reduzir a emissão de CO2 ou fazer a compensação do que emite? “Mesmo para pequenos negócios, basta adotar algumas medidas, como a seleção criteriosa de fornecedores, dando preferência àqueles que já possuem algum tipo de engajamento social local ou que participam de programas de neutralização de carbono”, afirma o executivo. “Assim, eles contribuem indiretamente com a redução de gases do efeito estufa.”

Segundo ele, a própria pequena empresa também pode comprar créditos de carbono. “Já temos diversas empresas que atuam nesse setor e seus créditos representam efetivamente uma redução certificada de emissões”, diz. “Os recursos desses créditos geralmente são aplicados em projetos locais de sustentabilidade, como adoção de fontes de energia renováveis, biomassa e redução de desmatamento e degradação (REDD+).”

Mariana Yoshimoto (à esq.) e sua mãe, Estela Passoni: restaurante virou ponto de coleta de materiais como buchas de lavar louça. Foto: Werther Santana/Estadão

Engajadas no tema da sustentabilidade, a chef Estela Passoni e sua filha, Mariana Yoshimoto, estabeleceram diversas frentes para reduzir as emissões de CO2 de seu restaurante em São Paulo, o Estela Passoni. “É uma preocupação pessoal que quisemos trazer para o negócio”, conta Mariana. “A gente queria tomar decisões que coubessem no orçamento e contribuíssem para a comunidade.” 

O restaurante conta com uma pessoa para fazer parte das entregas de bicicleta e criou pontos de coleta de materiais de difícil descarte, como esponjas, material escolar, pilhas, baterias e tampinhas, aos quais é dada a destinação correta.

“Outra decisão foi trabalhar com pequenos produtores locais que têm a mesma preocupação que a gente”, conta a empreendedora. “Não compramos nada importado e as entregas dos nossos fornecedores acontecem só uma vez por semana, quando eles abastecem todos os clientes.” 

A proposta do Estela Passoni também permite fazer compras mais precisas e com desperdício zero, de acordo com Mariana. “90% da nossa produção é com insumos in natura, além de não trabalharmos com carne vermelha ou proteína de soja, por questão de sustentabilidade. A Green Mining faz a coleta seletiva do pouco lixo que geramos”, relata. 

Compra de créditos de carbono

O estabelecimento agora mergulhou de vez na causa, comprando créditos da Biofílica, que faz a conservação de florestas nativas a partir da comercialização de serviços ambientais e créditos de carbono. “A gente já namorava a ideia, mas foi a pandemia que despertou uma vontade maior”, diz Mariana. 

Com a calculadora de carbono da Biofílica, elas viram que as emissões de 2020 somaram quase 19 toneladas. “Para meu espanto, quase tudo foi em traslados, como entregas (delivery por aplicativos) e deslocamento dos funcionários”, ela afirma. “Mesmo usando transporte coletivo, o impacto é bem maior do que eu imaginava e a compra de créditos foi uma forma de compensar essas emissões.” 

Receitas do Estela Passoni levam ingredientes de pequenos produtores locais e prezam desperdício zero. Foto: Bruno Geraldi

Cofundador da Biofílica, recém-adquirida pela líder de gestão ambiental Ambipar, o empresário Plínio Ribeiro explica que o mercado de créditos de carbono existe para financiar atividades ligadas ao uso da terra, como projetos de redução do desmatamento, restauração florestal, agroflorestas e práticas agrícolas que sequestram carbono no solo. 

“A empresa precisa fazer uma jornada investigativa, um inventário de carbono para entender quanto ela emite na sua atividade”, ele fala. E essa emissão varia de acordo com o setor de atuação. “Mas a compensação não deve ser a única forma de reduzir esse carbono. A gente recomenda ações na cadeia de produção, como desligar o ar condicionado ou a luz quando não é necessária.”

Mesmo aliando práticas cotidianas à tecnologia, que auxilia na diminuição da pegada de carbono, ele fala que muitos negócios ainda não conseguem eliminar certas emissões – e são essas que podem ser compensadas com a compra de créditos. 

Cada crédito corresponde a uma tonelada de CO2 equivalente. No caso do restaurante Estela Passoni, por exemplo, foram comprados 19 créditos para neutralizar as 19 toneladas emitidas em 2020.

Ribeiro ressalta que, pelo fato de o carbono ser um elemento global, não importa se as emissões ocorrem em um local e são neutralizadas em outro. “Um carro que roda em São Paulo tem o mesmo efeito atmosférico do que aquele que circula em Bombaim”, esclarece. 

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Ele conta que o mercado de neutralização movimenta 150 milhões de toneladas de CO2 no mundo, mas 90% dos créditos são comprados por grandes organizações e marcas que querem fazer parte da solução, não do problema. “As PMEs ainda são muito desassistidas nisso, mas quando calculam suas emissões, percebem que o custo é muito baixo”, diz. “Estamos falando de poucas centenas de reais, uma vez por ano.”

Moda sustentável

Diversidade, processos sustentáveis, consumo consciente, valorização da mão de obra e priorização de recursos locais são os pilares da Honey Belt, marca de roupas de yoga criada pelas empreendedoras Gabrielle Chimento, Caroline Alves e Marta Gurian.

A produção dos tecidos tem uma estação de tratamento que reaproveita 100% da água utilizada e os materiais possuem a certificação Oeko-Tex, que atesta a responsabilidade humana e ecológica. A marca também planeja suas coleções anualmente e concentra a logística das compras por semestre, recebendo as entregas apenas duas vezes no ano. 

“Temos 98% de aproveitamento dos tecidos nas roupas e os retalhos utilizamos na produção de frufrus e saquinhos para guardar as peças”, diz Marta. “Também fomentamos a mão de obra local para reduzir a necessidade de transitar com veículos.” Outra escolha importante foi despachar os pedidos só pelos Correios, que adotam medidas para redução da emissão de CO2 desde 2013.

Modelo com roupas de yoga da Honey Belt: mão de obra local e menos trânsito de veículos. Foto: Jair Leite Roque

Mais uma que assumiu o compromisso de ser carbono zero é a Blake Rings, marca de anéis e pulseiras de silicone. “Estudamos companhias nos países nórdicos, que em geral estão à frente nessa área, para servir como guia”, conta o fundador, Erik Nerback. 

Além de usar o mínimo possível de embalagem (leve e feita em papel), a Blake tem estoque e escritório compartilhados com outra empresa, e também optou por calcular as emissões de CO2 e investir em projetos para zerar o impacto. 

“Existem muitos projetos para plantar ou deixar de desmatar as florestas. A dificuldade é achar os que são controlados e sérios, entregando o prometido”, ele fala. No caso da marca, a escolha foi pelos créditos da Pachama, que tem clientes como Microsoft e Shopify.

Campanha do iFood apoia boas práticas de parceiros

Com a meta de se tornar uma empresa carbono neutro até 2025, realizando 50% das entregas por modais não poluentes, o iFood criou a campanha Amigo da Natureza, que reconhece boas práticas ambientais, como forma de engajar os estabelecimentos cadastrados no aplicativo.

“Para ativar a campanha, o restaurante precisa ter a opção para que os usuários possam escolher não receber talheres plásticos e outros itens descartáveis”, explica André Borges, head de sustentabilidade da empresa. “Já temos 40 mil restaurantes adeptos e mais de 18 milhões de pedidos entregues sem talheres, guardanapos e canudos plásticos.” 

Ele conta que muitos restaurantes têm migrado para o mercado de energia de fontes renováveis, vinda de usinas solares ou eólicas, e que o iFood apoia esses parceiros com o programa Vantagens do Chef. 

“Além da sustentabilidade, também traz uma economia de até 15% na conta de energia”, lembra o executivo. “Outra iniciativa interessante que muitos têm feito é priorizar fornecedores locais. Isso reduz as distâncias e a logística e, consequentemente, as emissões de carbono.”

Reduzir a pegada de CO2, ser carbono zero, neutralizar emissões, comprar créditos de carbono. Empreender hoje vai muito além de ter uma boa ideia, um plano de negócio sólido e dinheiro em caixa. Em tempos em que a preocupação não é só com a qualidade do produto ou do serviço que a empresa oferece, mas também como ela lida com seus impactos socioambientais, é preciso aprender todo esse bê-a-bá.

“Muitas das atividades desempenhadas pelas empresas são intensivas em emissão de dióxido de carbono (CO2) e outros gases do efeito estufa”, explica Mauricio Salla, head de energia e indústria da Crowe Macro. “O conceito de ‘carbono zero’ consiste no esforço dessas empresas para transformar gradativamente seus métodos produtivos, visando a neutralização de sua pegada de carbono.”

Mas quando se trata de uma empresa menor, o que é mais válido? Tentar reduzir a emissão de CO2 ou fazer a compensação do que emite? “Mesmo para pequenos negócios, basta adotar algumas medidas, como a seleção criteriosa de fornecedores, dando preferência àqueles que já possuem algum tipo de engajamento social local ou que participam de programas de neutralização de carbono”, afirma o executivo. “Assim, eles contribuem indiretamente com a redução de gases do efeito estufa.”

Segundo ele, a própria pequena empresa também pode comprar créditos de carbono. “Já temos diversas empresas que atuam nesse setor e seus créditos representam efetivamente uma redução certificada de emissões”, diz. “Os recursos desses créditos geralmente são aplicados em projetos locais de sustentabilidade, como adoção de fontes de energia renováveis, biomassa e redução de desmatamento e degradação (REDD+).”

Mariana Yoshimoto (à esq.) e sua mãe, Estela Passoni: restaurante virou ponto de coleta de materiais como buchas de lavar louça. Foto: Werther Santana/Estadão

Engajadas no tema da sustentabilidade, a chef Estela Passoni e sua filha, Mariana Yoshimoto, estabeleceram diversas frentes para reduzir as emissões de CO2 de seu restaurante em São Paulo, o Estela Passoni. “É uma preocupação pessoal que quisemos trazer para o negócio”, conta Mariana. “A gente queria tomar decisões que coubessem no orçamento e contribuíssem para a comunidade.” 

O restaurante conta com uma pessoa para fazer parte das entregas de bicicleta e criou pontos de coleta de materiais de difícil descarte, como esponjas, material escolar, pilhas, baterias e tampinhas, aos quais é dada a destinação correta.

“Outra decisão foi trabalhar com pequenos produtores locais que têm a mesma preocupação que a gente”, conta a empreendedora. “Não compramos nada importado e as entregas dos nossos fornecedores acontecem só uma vez por semana, quando eles abastecem todos os clientes.” 

A proposta do Estela Passoni também permite fazer compras mais precisas e com desperdício zero, de acordo com Mariana. “90% da nossa produção é com insumos in natura, além de não trabalharmos com carne vermelha ou proteína de soja, por questão de sustentabilidade. A Green Mining faz a coleta seletiva do pouco lixo que geramos”, relata. 

Compra de créditos de carbono

O estabelecimento agora mergulhou de vez na causa, comprando créditos da Biofílica, que faz a conservação de florestas nativas a partir da comercialização de serviços ambientais e créditos de carbono. “A gente já namorava a ideia, mas foi a pandemia que despertou uma vontade maior”, diz Mariana. 

Com a calculadora de carbono da Biofílica, elas viram que as emissões de 2020 somaram quase 19 toneladas. “Para meu espanto, quase tudo foi em traslados, como entregas (delivery por aplicativos) e deslocamento dos funcionários”, ela afirma. “Mesmo usando transporte coletivo, o impacto é bem maior do que eu imaginava e a compra de créditos foi uma forma de compensar essas emissões.” 

Receitas do Estela Passoni levam ingredientes de pequenos produtores locais e prezam desperdício zero. Foto: Bruno Geraldi

Cofundador da Biofílica, recém-adquirida pela líder de gestão ambiental Ambipar, o empresário Plínio Ribeiro explica que o mercado de créditos de carbono existe para financiar atividades ligadas ao uso da terra, como projetos de redução do desmatamento, restauração florestal, agroflorestas e práticas agrícolas que sequestram carbono no solo. 

“A empresa precisa fazer uma jornada investigativa, um inventário de carbono para entender quanto ela emite na sua atividade”, ele fala. E essa emissão varia de acordo com o setor de atuação. “Mas a compensação não deve ser a única forma de reduzir esse carbono. A gente recomenda ações na cadeia de produção, como desligar o ar condicionado ou a luz quando não é necessária.”

Mesmo aliando práticas cotidianas à tecnologia, que auxilia na diminuição da pegada de carbono, ele fala que muitos negócios ainda não conseguem eliminar certas emissões – e são essas que podem ser compensadas com a compra de créditos. 

Cada crédito corresponde a uma tonelada de CO2 equivalente. No caso do restaurante Estela Passoni, por exemplo, foram comprados 19 créditos para neutralizar as 19 toneladas emitidas em 2020.

Ribeiro ressalta que, pelo fato de o carbono ser um elemento global, não importa se as emissões ocorrem em um local e são neutralizadas em outro. “Um carro que roda em São Paulo tem o mesmo efeito atmosférico do que aquele que circula em Bombaim”, esclarece. 

  • Quer debater assuntos de Carreira e Empreendedorismo? Entre para o nosso grupo no Telegram pelo link ou digite @gruposuacarreira na barra de pesquisa do aplicativo

Ele conta que o mercado de neutralização movimenta 150 milhões de toneladas de CO2 no mundo, mas 90% dos créditos são comprados por grandes organizações e marcas que querem fazer parte da solução, não do problema. “As PMEs ainda são muito desassistidas nisso, mas quando calculam suas emissões, percebem que o custo é muito baixo”, diz. “Estamos falando de poucas centenas de reais, uma vez por ano.”

Moda sustentável

Diversidade, processos sustentáveis, consumo consciente, valorização da mão de obra e priorização de recursos locais são os pilares da Honey Belt, marca de roupas de yoga criada pelas empreendedoras Gabrielle Chimento, Caroline Alves e Marta Gurian.

A produção dos tecidos tem uma estação de tratamento que reaproveita 100% da água utilizada e os materiais possuem a certificação Oeko-Tex, que atesta a responsabilidade humana e ecológica. A marca também planeja suas coleções anualmente e concentra a logística das compras por semestre, recebendo as entregas apenas duas vezes no ano. 

“Temos 98% de aproveitamento dos tecidos nas roupas e os retalhos utilizamos na produção de frufrus e saquinhos para guardar as peças”, diz Marta. “Também fomentamos a mão de obra local para reduzir a necessidade de transitar com veículos.” Outra escolha importante foi despachar os pedidos só pelos Correios, que adotam medidas para redução da emissão de CO2 desde 2013.

Modelo com roupas de yoga da Honey Belt: mão de obra local e menos trânsito de veículos. Foto: Jair Leite Roque

Mais uma que assumiu o compromisso de ser carbono zero é a Blake Rings, marca de anéis e pulseiras de silicone. “Estudamos companhias nos países nórdicos, que em geral estão à frente nessa área, para servir como guia”, conta o fundador, Erik Nerback. 

Além de usar o mínimo possível de embalagem (leve e feita em papel), a Blake tem estoque e escritório compartilhados com outra empresa, e também optou por calcular as emissões de CO2 e investir em projetos para zerar o impacto. 

“Existem muitos projetos para plantar ou deixar de desmatar as florestas. A dificuldade é achar os que são controlados e sérios, entregando o prometido”, ele fala. No caso da marca, a escolha foi pelos créditos da Pachama, que tem clientes como Microsoft e Shopify.

Campanha do iFood apoia boas práticas de parceiros

Com a meta de se tornar uma empresa carbono neutro até 2025, realizando 50% das entregas por modais não poluentes, o iFood criou a campanha Amigo da Natureza, que reconhece boas práticas ambientais, como forma de engajar os estabelecimentos cadastrados no aplicativo.

“Para ativar a campanha, o restaurante precisa ter a opção para que os usuários possam escolher não receber talheres plásticos e outros itens descartáveis”, explica André Borges, head de sustentabilidade da empresa. “Já temos 40 mil restaurantes adeptos e mais de 18 milhões de pedidos entregues sem talheres, guardanapos e canudos plásticos.” 

Ele conta que muitos restaurantes têm migrado para o mercado de energia de fontes renováveis, vinda de usinas solares ou eólicas, e que o iFood apoia esses parceiros com o programa Vantagens do Chef. 

“Além da sustentabilidade, também traz uma economia de até 15% na conta de energia”, lembra o executivo. “Outra iniciativa interessante que muitos têm feito é priorizar fornecedores locais. Isso reduz as distâncias e a logística e, consequentemente, as emissões de carbono.”

Reduzir a pegada de CO2, ser carbono zero, neutralizar emissões, comprar créditos de carbono. Empreender hoje vai muito além de ter uma boa ideia, um plano de negócio sólido e dinheiro em caixa. Em tempos em que a preocupação não é só com a qualidade do produto ou do serviço que a empresa oferece, mas também como ela lida com seus impactos socioambientais, é preciso aprender todo esse bê-a-bá.

“Muitas das atividades desempenhadas pelas empresas são intensivas em emissão de dióxido de carbono (CO2) e outros gases do efeito estufa”, explica Mauricio Salla, head de energia e indústria da Crowe Macro. “O conceito de ‘carbono zero’ consiste no esforço dessas empresas para transformar gradativamente seus métodos produtivos, visando a neutralização de sua pegada de carbono.”

Mas quando se trata de uma empresa menor, o que é mais válido? Tentar reduzir a emissão de CO2 ou fazer a compensação do que emite? “Mesmo para pequenos negócios, basta adotar algumas medidas, como a seleção criteriosa de fornecedores, dando preferência àqueles que já possuem algum tipo de engajamento social local ou que participam de programas de neutralização de carbono”, afirma o executivo. “Assim, eles contribuem indiretamente com a redução de gases do efeito estufa.”

Segundo ele, a própria pequena empresa também pode comprar créditos de carbono. “Já temos diversas empresas que atuam nesse setor e seus créditos representam efetivamente uma redução certificada de emissões”, diz. “Os recursos desses créditos geralmente são aplicados em projetos locais de sustentabilidade, como adoção de fontes de energia renováveis, biomassa e redução de desmatamento e degradação (REDD+).”

Mariana Yoshimoto (à esq.) e sua mãe, Estela Passoni: restaurante virou ponto de coleta de materiais como buchas de lavar louça. Foto: Werther Santana/Estadão

Engajadas no tema da sustentabilidade, a chef Estela Passoni e sua filha, Mariana Yoshimoto, estabeleceram diversas frentes para reduzir as emissões de CO2 de seu restaurante em São Paulo, o Estela Passoni. “É uma preocupação pessoal que quisemos trazer para o negócio”, conta Mariana. “A gente queria tomar decisões que coubessem no orçamento e contribuíssem para a comunidade.” 

O restaurante conta com uma pessoa para fazer parte das entregas de bicicleta e criou pontos de coleta de materiais de difícil descarte, como esponjas, material escolar, pilhas, baterias e tampinhas, aos quais é dada a destinação correta.

“Outra decisão foi trabalhar com pequenos produtores locais que têm a mesma preocupação que a gente”, conta a empreendedora. “Não compramos nada importado e as entregas dos nossos fornecedores acontecem só uma vez por semana, quando eles abastecem todos os clientes.” 

A proposta do Estela Passoni também permite fazer compras mais precisas e com desperdício zero, de acordo com Mariana. “90% da nossa produção é com insumos in natura, além de não trabalharmos com carne vermelha ou proteína de soja, por questão de sustentabilidade. A Green Mining faz a coleta seletiva do pouco lixo que geramos”, relata. 

Compra de créditos de carbono

O estabelecimento agora mergulhou de vez na causa, comprando créditos da Biofílica, que faz a conservação de florestas nativas a partir da comercialização de serviços ambientais e créditos de carbono. “A gente já namorava a ideia, mas foi a pandemia que despertou uma vontade maior”, diz Mariana. 

Com a calculadora de carbono da Biofílica, elas viram que as emissões de 2020 somaram quase 19 toneladas. “Para meu espanto, quase tudo foi em traslados, como entregas (delivery por aplicativos) e deslocamento dos funcionários”, ela afirma. “Mesmo usando transporte coletivo, o impacto é bem maior do que eu imaginava e a compra de créditos foi uma forma de compensar essas emissões.” 

Receitas do Estela Passoni levam ingredientes de pequenos produtores locais e prezam desperdício zero. Foto: Bruno Geraldi

Cofundador da Biofílica, recém-adquirida pela líder de gestão ambiental Ambipar, o empresário Plínio Ribeiro explica que o mercado de créditos de carbono existe para financiar atividades ligadas ao uso da terra, como projetos de redução do desmatamento, restauração florestal, agroflorestas e práticas agrícolas que sequestram carbono no solo. 

“A empresa precisa fazer uma jornada investigativa, um inventário de carbono para entender quanto ela emite na sua atividade”, ele fala. E essa emissão varia de acordo com o setor de atuação. “Mas a compensação não deve ser a única forma de reduzir esse carbono. A gente recomenda ações na cadeia de produção, como desligar o ar condicionado ou a luz quando não é necessária.”

Mesmo aliando práticas cotidianas à tecnologia, que auxilia na diminuição da pegada de carbono, ele fala que muitos negócios ainda não conseguem eliminar certas emissões – e são essas que podem ser compensadas com a compra de créditos. 

Cada crédito corresponde a uma tonelada de CO2 equivalente. No caso do restaurante Estela Passoni, por exemplo, foram comprados 19 créditos para neutralizar as 19 toneladas emitidas em 2020.

Ribeiro ressalta que, pelo fato de o carbono ser um elemento global, não importa se as emissões ocorrem em um local e são neutralizadas em outro. “Um carro que roda em São Paulo tem o mesmo efeito atmosférico do que aquele que circula em Bombaim”, esclarece. 

  • Quer debater assuntos de Carreira e Empreendedorismo? Entre para o nosso grupo no Telegram pelo link ou digite @gruposuacarreira na barra de pesquisa do aplicativo

Ele conta que o mercado de neutralização movimenta 150 milhões de toneladas de CO2 no mundo, mas 90% dos créditos são comprados por grandes organizações e marcas que querem fazer parte da solução, não do problema. “As PMEs ainda são muito desassistidas nisso, mas quando calculam suas emissões, percebem que o custo é muito baixo”, diz. “Estamos falando de poucas centenas de reais, uma vez por ano.”

Moda sustentável

Diversidade, processos sustentáveis, consumo consciente, valorização da mão de obra e priorização de recursos locais são os pilares da Honey Belt, marca de roupas de yoga criada pelas empreendedoras Gabrielle Chimento, Caroline Alves e Marta Gurian.

A produção dos tecidos tem uma estação de tratamento que reaproveita 100% da água utilizada e os materiais possuem a certificação Oeko-Tex, que atesta a responsabilidade humana e ecológica. A marca também planeja suas coleções anualmente e concentra a logística das compras por semestre, recebendo as entregas apenas duas vezes no ano. 

“Temos 98% de aproveitamento dos tecidos nas roupas e os retalhos utilizamos na produção de frufrus e saquinhos para guardar as peças”, diz Marta. “Também fomentamos a mão de obra local para reduzir a necessidade de transitar com veículos.” Outra escolha importante foi despachar os pedidos só pelos Correios, que adotam medidas para redução da emissão de CO2 desde 2013.

Modelo com roupas de yoga da Honey Belt: mão de obra local e menos trânsito de veículos. Foto: Jair Leite Roque

Mais uma que assumiu o compromisso de ser carbono zero é a Blake Rings, marca de anéis e pulseiras de silicone. “Estudamos companhias nos países nórdicos, que em geral estão à frente nessa área, para servir como guia”, conta o fundador, Erik Nerback. 

Além de usar o mínimo possível de embalagem (leve e feita em papel), a Blake tem estoque e escritório compartilhados com outra empresa, e também optou por calcular as emissões de CO2 e investir em projetos para zerar o impacto. 

“Existem muitos projetos para plantar ou deixar de desmatar as florestas. A dificuldade é achar os que são controlados e sérios, entregando o prometido”, ele fala. No caso da marca, a escolha foi pelos créditos da Pachama, que tem clientes como Microsoft e Shopify.

Campanha do iFood apoia boas práticas de parceiros

Com a meta de se tornar uma empresa carbono neutro até 2025, realizando 50% das entregas por modais não poluentes, o iFood criou a campanha Amigo da Natureza, que reconhece boas práticas ambientais, como forma de engajar os estabelecimentos cadastrados no aplicativo.

“Para ativar a campanha, o restaurante precisa ter a opção para que os usuários possam escolher não receber talheres plásticos e outros itens descartáveis”, explica André Borges, head de sustentabilidade da empresa. “Já temos 40 mil restaurantes adeptos e mais de 18 milhões de pedidos entregues sem talheres, guardanapos e canudos plásticos.” 

Ele conta que muitos restaurantes têm migrado para o mercado de energia de fontes renováveis, vinda de usinas solares ou eólicas, e que o iFood apoia esses parceiros com o programa Vantagens do Chef. 

“Além da sustentabilidade, também traz uma economia de até 15% na conta de energia”, lembra o executivo. “Outra iniciativa interessante que muitos têm feito é priorizar fornecedores locais. Isso reduz as distâncias e a logística e, consequentemente, as emissões de carbono.”

Reduzir a pegada de CO2, ser carbono zero, neutralizar emissões, comprar créditos de carbono. Empreender hoje vai muito além de ter uma boa ideia, um plano de negócio sólido e dinheiro em caixa. Em tempos em que a preocupação não é só com a qualidade do produto ou do serviço que a empresa oferece, mas também como ela lida com seus impactos socioambientais, é preciso aprender todo esse bê-a-bá.

“Muitas das atividades desempenhadas pelas empresas são intensivas em emissão de dióxido de carbono (CO2) e outros gases do efeito estufa”, explica Mauricio Salla, head de energia e indústria da Crowe Macro. “O conceito de ‘carbono zero’ consiste no esforço dessas empresas para transformar gradativamente seus métodos produtivos, visando a neutralização de sua pegada de carbono.”

Mas quando se trata de uma empresa menor, o que é mais válido? Tentar reduzir a emissão de CO2 ou fazer a compensação do que emite? “Mesmo para pequenos negócios, basta adotar algumas medidas, como a seleção criteriosa de fornecedores, dando preferência àqueles que já possuem algum tipo de engajamento social local ou que participam de programas de neutralização de carbono”, afirma o executivo. “Assim, eles contribuem indiretamente com a redução de gases do efeito estufa.”

Segundo ele, a própria pequena empresa também pode comprar créditos de carbono. “Já temos diversas empresas que atuam nesse setor e seus créditos representam efetivamente uma redução certificada de emissões”, diz. “Os recursos desses créditos geralmente são aplicados em projetos locais de sustentabilidade, como adoção de fontes de energia renováveis, biomassa e redução de desmatamento e degradação (REDD+).”

Mariana Yoshimoto (à esq.) e sua mãe, Estela Passoni: restaurante virou ponto de coleta de materiais como buchas de lavar louça. Foto: Werther Santana/Estadão

Engajadas no tema da sustentabilidade, a chef Estela Passoni e sua filha, Mariana Yoshimoto, estabeleceram diversas frentes para reduzir as emissões de CO2 de seu restaurante em São Paulo, o Estela Passoni. “É uma preocupação pessoal que quisemos trazer para o negócio”, conta Mariana. “A gente queria tomar decisões que coubessem no orçamento e contribuíssem para a comunidade.” 

O restaurante conta com uma pessoa para fazer parte das entregas de bicicleta e criou pontos de coleta de materiais de difícil descarte, como esponjas, material escolar, pilhas, baterias e tampinhas, aos quais é dada a destinação correta.

“Outra decisão foi trabalhar com pequenos produtores locais que têm a mesma preocupação que a gente”, conta a empreendedora. “Não compramos nada importado e as entregas dos nossos fornecedores acontecem só uma vez por semana, quando eles abastecem todos os clientes.” 

A proposta do Estela Passoni também permite fazer compras mais precisas e com desperdício zero, de acordo com Mariana. “90% da nossa produção é com insumos in natura, além de não trabalharmos com carne vermelha ou proteína de soja, por questão de sustentabilidade. A Green Mining faz a coleta seletiva do pouco lixo que geramos”, relata. 

Compra de créditos de carbono

O estabelecimento agora mergulhou de vez na causa, comprando créditos da Biofílica, que faz a conservação de florestas nativas a partir da comercialização de serviços ambientais e créditos de carbono. “A gente já namorava a ideia, mas foi a pandemia que despertou uma vontade maior”, diz Mariana. 

Com a calculadora de carbono da Biofílica, elas viram que as emissões de 2020 somaram quase 19 toneladas. “Para meu espanto, quase tudo foi em traslados, como entregas (delivery por aplicativos) e deslocamento dos funcionários”, ela afirma. “Mesmo usando transporte coletivo, o impacto é bem maior do que eu imaginava e a compra de créditos foi uma forma de compensar essas emissões.” 

Receitas do Estela Passoni levam ingredientes de pequenos produtores locais e prezam desperdício zero. Foto: Bruno Geraldi

Cofundador da Biofílica, recém-adquirida pela líder de gestão ambiental Ambipar, o empresário Plínio Ribeiro explica que o mercado de créditos de carbono existe para financiar atividades ligadas ao uso da terra, como projetos de redução do desmatamento, restauração florestal, agroflorestas e práticas agrícolas que sequestram carbono no solo. 

“A empresa precisa fazer uma jornada investigativa, um inventário de carbono para entender quanto ela emite na sua atividade”, ele fala. E essa emissão varia de acordo com o setor de atuação. “Mas a compensação não deve ser a única forma de reduzir esse carbono. A gente recomenda ações na cadeia de produção, como desligar o ar condicionado ou a luz quando não é necessária.”

Mesmo aliando práticas cotidianas à tecnologia, que auxilia na diminuição da pegada de carbono, ele fala que muitos negócios ainda não conseguem eliminar certas emissões – e são essas que podem ser compensadas com a compra de créditos. 

Cada crédito corresponde a uma tonelada de CO2 equivalente. No caso do restaurante Estela Passoni, por exemplo, foram comprados 19 créditos para neutralizar as 19 toneladas emitidas em 2020.

Ribeiro ressalta que, pelo fato de o carbono ser um elemento global, não importa se as emissões ocorrem em um local e são neutralizadas em outro. “Um carro que roda em São Paulo tem o mesmo efeito atmosférico do que aquele que circula em Bombaim”, esclarece. 

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Ele conta que o mercado de neutralização movimenta 150 milhões de toneladas de CO2 no mundo, mas 90% dos créditos são comprados por grandes organizações e marcas que querem fazer parte da solução, não do problema. “As PMEs ainda são muito desassistidas nisso, mas quando calculam suas emissões, percebem que o custo é muito baixo”, diz. “Estamos falando de poucas centenas de reais, uma vez por ano.”

Moda sustentável

Diversidade, processos sustentáveis, consumo consciente, valorização da mão de obra e priorização de recursos locais são os pilares da Honey Belt, marca de roupas de yoga criada pelas empreendedoras Gabrielle Chimento, Caroline Alves e Marta Gurian.

A produção dos tecidos tem uma estação de tratamento que reaproveita 100% da água utilizada e os materiais possuem a certificação Oeko-Tex, que atesta a responsabilidade humana e ecológica. A marca também planeja suas coleções anualmente e concentra a logística das compras por semestre, recebendo as entregas apenas duas vezes no ano. 

“Temos 98% de aproveitamento dos tecidos nas roupas e os retalhos utilizamos na produção de frufrus e saquinhos para guardar as peças”, diz Marta. “Também fomentamos a mão de obra local para reduzir a necessidade de transitar com veículos.” Outra escolha importante foi despachar os pedidos só pelos Correios, que adotam medidas para redução da emissão de CO2 desde 2013.

Modelo com roupas de yoga da Honey Belt: mão de obra local e menos trânsito de veículos. Foto: Jair Leite Roque

Mais uma que assumiu o compromisso de ser carbono zero é a Blake Rings, marca de anéis e pulseiras de silicone. “Estudamos companhias nos países nórdicos, que em geral estão à frente nessa área, para servir como guia”, conta o fundador, Erik Nerback. 

Além de usar o mínimo possível de embalagem (leve e feita em papel), a Blake tem estoque e escritório compartilhados com outra empresa, e também optou por calcular as emissões de CO2 e investir em projetos para zerar o impacto. 

“Existem muitos projetos para plantar ou deixar de desmatar as florestas. A dificuldade é achar os que são controlados e sérios, entregando o prometido”, ele fala. No caso da marca, a escolha foi pelos créditos da Pachama, que tem clientes como Microsoft e Shopify.

Campanha do iFood apoia boas práticas de parceiros

Com a meta de se tornar uma empresa carbono neutro até 2025, realizando 50% das entregas por modais não poluentes, o iFood criou a campanha Amigo da Natureza, que reconhece boas práticas ambientais, como forma de engajar os estabelecimentos cadastrados no aplicativo.

“Para ativar a campanha, o restaurante precisa ter a opção para que os usuários possam escolher não receber talheres plásticos e outros itens descartáveis”, explica André Borges, head de sustentabilidade da empresa. “Já temos 40 mil restaurantes adeptos e mais de 18 milhões de pedidos entregues sem talheres, guardanapos e canudos plásticos.” 

Ele conta que muitos restaurantes têm migrado para o mercado de energia de fontes renováveis, vinda de usinas solares ou eólicas, e que o iFood apoia esses parceiros com o programa Vantagens do Chef. 

“Além da sustentabilidade, também traz uma economia de até 15% na conta de energia”, lembra o executivo. “Outra iniciativa interessante que muitos têm feito é priorizar fornecedores locais. Isso reduz as distâncias e a logística e, consequentemente, as emissões de carbono.”

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