Um dos maiores erros do empreendedor é não saber o que fazer com o dinheiro, diz Monique Evelle


Como integrante da bancada de ‘tubarões’ da nova temporada do programa Shark Tank Brasil, a investidora conversa com o ‘Estadão’ sobre o cenário do empreendedorismo no Brasil e as mudanças no mercado de trabalho

Por Jayanne Rodrigues
Atualização:
Foto: Guido Ferreira/Divulgação Sony Channel
Entrevista comMonique EvelleEmpreendedora, investidora e fundadora da plataforma Inventivos

Um investimento de peso é um dos fatores fundamentais para alavancar um negócio. Agora, imagine vender o ‘peixe’ e tentar convencer o investidor de que o seu empreendimento tem futuro. Pode até parecer simples, mas exige jogo de cintura e entendimento em profundidade. Para Monique Evelle, nova ‘tubarão’ do Shark Tank Brasil - reality show com investidores renomados que financiam ideias de empreendimentos -, só vale apostar em um negócio se houver indícios claros de retorno financeiro. Caso contrário, a investidora assume um alto risco de queimar dinheiro.

A empresária, de 28 anos, é a mais nova jurada da 8ª edição da versão brasileira do programa da Sony Channel, que deve ir ao ar em setembro. Mas a pouca idade nada tem a ver com falta de experiência. Há 12 anos no mercado de empreendedorismo inovador, Evelle é fundadora da Inventivos, plataforma de formação para novos empreendedores, e já foi eleita Under 30 pela Forbes - lista que reúne profissionais com menos de 30 anos que se destacaram no mundo dos negócios - e reconhecida como uma das 50 profissionais mais criativas do País pela revista americana Wired.

Ao ‘Estadão’, a ‘tubarão’ contou detalhes do novo desafio, discutiu o futuro do trabalho e como a inteligência artificial vai impactar o empreendedorismo. Durante o programa, a prioridade serão negócios B2B (empresas que vendem produtos para outras empresas) e B2C (vendem serviços diretamente para o cliente final). A empresária ainda reforçou que está em busca de empreendimentos lucrativos, “não de projeto social”. Confira trechos da entrevistas:

continua após a publicidade

Quais serão os fatores determinantes para definir o negócio como um bom investimento?

O nome do programa é Shark Tank Brasil, somos ‘sharks’. As pessoas que me acompanham no mercado precisam entender que sou shark. Eu sou o tubarão. O segundo ponto é que estou atrás de negócio, não de projeto social, não de organizações sem fins lucrativos. Estou atrás de negócios e os negócios precisam dar retorno financeiro. Pode mudar o mundo e ganhar dinheiro ao mesmo tempo? Pode! Mas o ganhar dinheiro ao mesmo tempo precisa existir. Se for só para impactar o mundo para mim não faz sentido.

Um terceiro ponto, não é porque tenho um olhar atento para questões de diversidades que não estou vendo os números da empresa. Às vezes, o empreendedor é isso tudo que acredito, o time é diverso, mas o negócio não para em pé, as contas não fecham e não sabe nem como vai resolver esse problema. Não apenas invisto no negócio, também incluo a minha rede, estou falando de capital intelectual, capital social, como é que ajustamos a rota se for necessário. Viro quase uma funcionária da empresa. A minha bagagem vem muito no lugar do B2B. Já o B2C faz mais sentido quando tem recorrência.

continua após a publicidade
Se o negócio é tão bom como a pessoa está falando, por que está sendo difícil de entender?

Monique Evelle

E quais empreendimentos não valem o seu investimento?

É menos sobre isso que você perguntou, e mais sobre: ‘consigo entender o que empreendedor está explicando sobre o negócio?’. Se o negócio é tão bom como a pessoa está falando, por que está sendo difícil de entender? Sempre me coloco no lugar do consumidor. Apesar disso, pode ser que dê um voto de confiança para outras características do negócio do candidato. Tem que entender se o empreendedor está nervoso ou se o negócio realmente é difícil de explicar. A dificuldade de entender o negócio e de relacionar o nome da empresa com o segmento que atua faz com que tenha mais resistência. Mas se em algum momento o empreendedor ou empreendedora trouxer algo que: “Opa, isso aqui não estava olhando e me conquistou” repenso com mais atenção.

continua após a publicidade

Qual o cenário do empreendedorismo inovador em 2023?

O mercado sabe que estamos passando por um cenário difícil de dinheiro. O inverno das startups é real. Mas agora existe uma percepção (sobre empreendedorismo inovador) do mercado, dos investidores, que sempre concentraram investimento em um único perfil de negócio. Agora os investidores estão recuando. Será que para todos os tipos de negócios e pessoas? Ou para um formato específico de startup, um perfil específico de empreendedor? Essa é a minha preocupação. Não saberei responder agora porque precisamos terminar 2023 para ver se houve investimento em negócios mais plurais, startups que resolvam problemas reais e que funcionem, tenham caixa, margem, seja bruta ou líquida, e que conseguem vender o seu produto. Então, pensando no cenário de negócios e inovação no Brasil, estou sentindo que empresas estão caminhando para negócio de impacto surgindo muito mais por questões de ESG.

Sobre o futuro do trabalho, pesquisas recentes atestam o surgimento e o sumiço de algumas profissões, como é que fica o empreendedorismo em meio às mudanças do mercado de trabalho?

continua após a publicidade

Quem conseguir identificar as dores já consegue criar negócios para resolvê-los. E tem que ser mais ágil. Os comportamentos têm mudado muito rápido, então se você não é atento as mudanças, não consegue criar. Acredito que existe mais possibilidade de criação de negócios dentro do universo de edtech (startups de base tecnológica que desenvolvem soluções para a educação). Pensa em um estudante universitário que está fazendo determinado curso que provavelmente não vai existir quando ele finalizar a graduação. Como é que preparamos essas pessoas? Mas, dentro da sua área de estudo, você pode migrar sua expertise para outros tipos de aplicação. E precisamos de educadores e professores do mercado para explicar como vai aplicar além de ser professor em sala de aula, além de trabalhar, continuar sua carreira acadêmica. Então, se os empreendedores conseguem acompanhar os comportamentos com agilidade, vai conseguir criar negócios que vão resolver dores absurdas. Isso vai mudar o jogo.

A inteligência artificial e as novas tecnologias são aliadas dos empreendedores, sejam em pequenos negócios ou de médias, grandes empresas?

Toda tecnologia pode ser aliada quando você sabe utilizar. A cada década aparece essa discussão: ‘vamos perder os empregos pelas máquinas?’ Claro, hoje algumas empresas começaram o movimento de substituir pessoas pelo ChatGPT. E tem pessoas que utilizam sem fazer revisão do conteúdo o que o chat entrega. Por isso, se utilizarmos a inteligência artificial exclusivamente para obter respostas sem verificação vai ser uma dor de cabeça. Hoje, pensando na sociedade e o uso da internet, independente se empreende ou não, as pessoas afirmam, ninguém quer perguntar. Precisamos aprender a fazer boas perguntas para ter os resultados que gostaríamos.

continua após a publicidade

Gosto de visualizar como um momento da famosa chuva de ideias, o brainstorm. Às vezes, você está engessada, nem todo dia acordamos com pensamento ágil, talvez a inteligência artificial ajude a iniciar essa jornada criativa. Existe uma outra dúvida que precisamos começar a discutir: profissionais, quando criam um conteúdo exclusivamente a partir de inteligências artificiais, seja em texto, imagem ou vídeo, essa criação é sua porque você soube perguntar, é da inteligência artificial que te entregou ou dos dois? Não sabemos a resposta ainda, então isso vai influenciar coisas relacionadas ao mundo dos negócios, sobre propriedade intelectual e patente.

Para a empresária e investidora Monique Evelle, o futuro do trabalho vai exigir mais agilidade dos empreendedores. Ela aposta no crescimento de edtechs brasileiras. Foto: Guido Ferreira/Divulgação Sony Channel

Por falar em negócios diversos, você trabalha há anos com o empreendedorismo fora do eixo Sul e Sudeste. Hoje, o que vem sendo feito para potencializar esses negócios na região Norte e Nordeste?

continua após a publicidade

Uma das maiores dores e erros dos empreendedores é não saber o que fazer com o dinheiro. Precisamos de dinheiro, mas o que faz quando o dinheiro chega? Esse é um ponto importante que leva um negócio a fechar e falir. Tem um lugar de formação que pode ser desde o empreender do zero, as pessoas estão empreendendo há muito tempo, mas não estão trazendo os resultados que querem.

Temos outro lugar importante, o de conexão. Na verdade, como o dinheiro está concentrado no Sudeste fica parecendo que nada que não seja dessa região, funcione. É o contrário, tem funcionado bem porque sabem fazer funcionar. Então, a parte de conexão é muito importante. Preciso não só me conectar com os empreendedores em diferentes estágios, para entender os desafios e como conseguem resolver com mais agilidade, como também conexão com o mercado brasileiro. O terceiro ponto é investimento, como conseguimos entender que precisa de investimento, se não daqui a três anos vai fazer parte de uma estatística de negócios que fecham por ausência de investimento, ausência de gestão e ausência também de saber como colocar em prática esse investimento. Então, são três pontos: formar, conectar e investir. E uma outra coisa é: raramente aparece fundos destinados para as regiões Norte e Nordeste. A Inventivos têm um ecossistema de parceiros que apoiam as nossas startups e empresas investidas. Temos parceiros que auxiliam nessa segunda etapa, um deles é a Lighthouse que criou um fundo de R$ 100 milhões de reais para essas regiões.

Qual dica deixa para quem empreende na internet e para aqueles que desejam participar de futuras seleções do Shark Tank Brasil?

É raro o empreendedor já começar um pitch fazendo com que entendam que dor está resolvendo. Talvez seja incrível para você, não para os clientes e para grande parte das pessoas. Quero entender que dor está realmente resolvendo. Desde uma sandália ou um sapato, mas se não tem uma dor para um público específico, provavelmente, não vamos conseguir enxergar se resolve ou não. Por que é para quem? Esse é um outro problema, o público. Qual é a persona? Está direcionando para quem? Dessas 20 bilhões de pessoas que passam por isso, quantas pessoas quer atingir para resolver esse problema?

Por mais que a história de vida da pessoa seja incrível, não é isso que vai fazer o investidor entrar. Traga números, se está fazendo um pitch, independente para onde seja, mesmo que não fature agora, tem que fazer um cálculo de projeção. Preciso entender dos números, saber o quanto pretende vender, o quanto já vendeu, com esse investimento o que vai fazer com dinheiro que é uma outra coisa. A pergunta que sempre faço quando alguém me pede dinheiro é: ‘você daria dinheiro para alguém que não conhece e que não consegue te explicar o que vai fazer com esse dinheiro?’ Provavelmente, a resposta de qualquer pessoa é não. Por último, é explicar quanto dinheiro precisa e o que fará com cada centavo.

Um investimento de peso é um dos fatores fundamentais para alavancar um negócio. Agora, imagine vender o ‘peixe’ e tentar convencer o investidor de que o seu empreendimento tem futuro. Pode até parecer simples, mas exige jogo de cintura e entendimento em profundidade. Para Monique Evelle, nova ‘tubarão’ do Shark Tank Brasil - reality show com investidores renomados que financiam ideias de empreendimentos -, só vale apostar em um negócio se houver indícios claros de retorno financeiro. Caso contrário, a investidora assume um alto risco de queimar dinheiro.

A empresária, de 28 anos, é a mais nova jurada da 8ª edição da versão brasileira do programa da Sony Channel, que deve ir ao ar em setembro. Mas a pouca idade nada tem a ver com falta de experiência. Há 12 anos no mercado de empreendedorismo inovador, Evelle é fundadora da Inventivos, plataforma de formação para novos empreendedores, e já foi eleita Under 30 pela Forbes - lista que reúne profissionais com menos de 30 anos que se destacaram no mundo dos negócios - e reconhecida como uma das 50 profissionais mais criativas do País pela revista americana Wired.

Ao ‘Estadão’, a ‘tubarão’ contou detalhes do novo desafio, discutiu o futuro do trabalho e como a inteligência artificial vai impactar o empreendedorismo. Durante o programa, a prioridade serão negócios B2B (empresas que vendem produtos para outras empresas) e B2C (vendem serviços diretamente para o cliente final). A empresária ainda reforçou que está em busca de empreendimentos lucrativos, “não de projeto social”. Confira trechos da entrevistas:

Quais serão os fatores determinantes para definir o negócio como um bom investimento?

O nome do programa é Shark Tank Brasil, somos ‘sharks’. As pessoas que me acompanham no mercado precisam entender que sou shark. Eu sou o tubarão. O segundo ponto é que estou atrás de negócio, não de projeto social, não de organizações sem fins lucrativos. Estou atrás de negócios e os negócios precisam dar retorno financeiro. Pode mudar o mundo e ganhar dinheiro ao mesmo tempo? Pode! Mas o ganhar dinheiro ao mesmo tempo precisa existir. Se for só para impactar o mundo para mim não faz sentido.

Um terceiro ponto, não é porque tenho um olhar atento para questões de diversidades que não estou vendo os números da empresa. Às vezes, o empreendedor é isso tudo que acredito, o time é diverso, mas o negócio não para em pé, as contas não fecham e não sabe nem como vai resolver esse problema. Não apenas invisto no negócio, também incluo a minha rede, estou falando de capital intelectual, capital social, como é que ajustamos a rota se for necessário. Viro quase uma funcionária da empresa. A minha bagagem vem muito no lugar do B2B. Já o B2C faz mais sentido quando tem recorrência.

Se o negócio é tão bom como a pessoa está falando, por que está sendo difícil de entender?

Monique Evelle

E quais empreendimentos não valem o seu investimento?

É menos sobre isso que você perguntou, e mais sobre: ‘consigo entender o que empreendedor está explicando sobre o negócio?’. Se o negócio é tão bom como a pessoa está falando, por que está sendo difícil de entender? Sempre me coloco no lugar do consumidor. Apesar disso, pode ser que dê um voto de confiança para outras características do negócio do candidato. Tem que entender se o empreendedor está nervoso ou se o negócio realmente é difícil de explicar. A dificuldade de entender o negócio e de relacionar o nome da empresa com o segmento que atua faz com que tenha mais resistência. Mas se em algum momento o empreendedor ou empreendedora trouxer algo que: “Opa, isso aqui não estava olhando e me conquistou” repenso com mais atenção.

Qual o cenário do empreendedorismo inovador em 2023?

O mercado sabe que estamos passando por um cenário difícil de dinheiro. O inverno das startups é real. Mas agora existe uma percepção (sobre empreendedorismo inovador) do mercado, dos investidores, que sempre concentraram investimento em um único perfil de negócio. Agora os investidores estão recuando. Será que para todos os tipos de negócios e pessoas? Ou para um formato específico de startup, um perfil específico de empreendedor? Essa é a minha preocupação. Não saberei responder agora porque precisamos terminar 2023 para ver se houve investimento em negócios mais plurais, startups que resolvam problemas reais e que funcionem, tenham caixa, margem, seja bruta ou líquida, e que conseguem vender o seu produto. Então, pensando no cenário de negócios e inovação no Brasil, estou sentindo que empresas estão caminhando para negócio de impacto surgindo muito mais por questões de ESG.

Sobre o futuro do trabalho, pesquisas recentes atestam o surgimento e o sumiço de algumas profissões, como é que fica o empreendedorismo em meio às mudanças do mercado de trabalho?

Quem conseguir identificar as dores já consegue criar negócios para resolvê-los. E tem que ser mais ágil. Os comportamentos têm mudado muito rápido, então se você não é atento as mudanças, não consegue criar. Acredito que existe mais possibilidade de criação de negócios dentro do universo de edtech (startups de base tecnológica que desenvolvem soluções para a educação). Pensa em um estudante universitário que está fazendo determinado curso que provavelmente não vai existir quando ele finalizar a graduação. Como é que preparamos essas pessoas? Mas, dentro da sua área de estudo, você pode migrar sua expertise para outros tipos de aplicação. E precisamos de educadores e professores do mercado para explicar como vai aplicar além de ser professor em sala de aula, além de trabalhar, continuar sua carreira acadêmica. Então, se os empreendedores conseguem acompanhar os comportamentos com agilidade, vai conseguir criar negócios que vão resolver dores absurdas. Isso vai mudar o jogo.

A inteligência artificial e as novas tecnologias são aliadas dos empreendedores, sejam em pequenos negócios ou de médias, grandes empresas?

Toda tecnologia pode ser aliada quando você sabe utilizar. A cada década aparece essa discussão: ‘vamos perder os empregos pelas máquinas?’ Claro, hoje algumas empresas começaram o movimento de substituir pessoas pelo ChatGPT. E tem pessoas que utilizam sem fazer revisão do conteúdo o que o chat entrega. Por isso, se utilizarmos a inteligência artificial exclusivamente para obter respostas sem verificação vai ser uma dor de cabeça. Hoje, pensando na sociedade e o uso da internet, independente se empreende ou não, as pessoas afirmam, ninguém quer perguntar. Precisamos aprender a fazer boas perguntas para ter os resultados que gostaríamos.

Gosto de visualizar como um momento da famosa chuva de ideias, o brainstorm. Às vezes, você está engessada, nem todo dia acordamos com pensamento ágil, talvez a inteligência artificial ajude a iniciar essa jornada criativa. Existe uma outra dúvida que precisamos começar a discutir: profissionais, quando criam um conteúdo exclusivamente a partir de inteligências artificiais, seja em texto, imagem ou vídeo, essa criação é sua porque você soube perguntar, é da inteligência artificial que te entregou ou dos dois? Não sabemos a resposta ainda, então isso vai influenciar coisas relacionadas ao mundo dos negócios, sobre propriedade intelectual e patente.

Para a empresária e investidora Monique Evelle, o futuro do trabalho vai exigir mais agilidade dos empreendedores. Ela aposta no crescimento de edtechs brasileiras. Foto: Guido Ferreira/Divulgação Sony Channel

Por falar em negócios diversos, você trabalha há anos com o empreendedorismo fora do eixo Sul e Sudeste. Hoje, o que vem sendo feito para potencializar esses negócios na região Norte e Nordeste?

Uma das maiores dores e erros dos empreendedores é não saber o que fazer com o dinheiro. Precisamos de dinheiro, mas o que faz quando o dinheiro chega? Esse é um ponto importante que leva um negócio a fechar e falir. Tem um lugar de formação que pode ser desde o empreender do zero, as pessoas estão empreendendo há muito tempo, mas não estão trazendo os resultados que querem.

Temos outro lugar importante, o de conexão. Na verdade, como o dinheiro está concentrado no Sudeste fica parecendo que nada que não seja dessa região, funcione. É o contrário, tem funcionado bem porque sabem fazer funcionar. Então, a parte de conexão é muito importante. Preciso não só me conectar com os empreendedores em diferentes estágios, para entender os desafios e como conseguem resolver com mais agilidade, como também conexão com o mercado brasileiro. O terceiro ponto é investimento, como conseguimos entender que precisa de investimento, se não daqui a três anos vai fazer parte de uma estatística de negócios que fecham por ausência de investimento, ausência de gestão e ausência também de saber como colocar em prática esse investimento. Então, são três pontos: formar, conectar e investir. E uma outra coisa é: raramente aparece fundos destinados para as regiões Norte e Nordeste. A Inventivos têm um ecossistema de parceiros que apoiam as nossas startups e empresas investidas. Temos parceiros que auxiliam nessa segunda etapa, um deles é a Lighthouse que criou um fundo de R$ 100 milhões de reais para essas regiões.

Qual dica deixa para quem empreende na internet e para aqueles que desejam participar de futuras seleções do Shark Tank Brasil?

É raro o empreendedor já começar um pitch fazendo com que entendam que dor está resolvendo. Talvez seja incrível para você, não para os clientes e para grande parte das pessoas. Quero entender que dor está realmente resolvendo. Desde uma sandália ou um sapato, mas se não tem uma dor para um público específico, provavelmente, não vamos conseguir enxergar se resolve ou não. Por que é para quem? Esse é um outro problema, o público. Qual é a persona? Está direcionando para quem? Dessas 20 bilhões de pessoas que passam por isso, quantas pessoas quer atingir para resolver esse problema?

Por mais que a história de vida da pessoa seja incrível, não é isso que vai fazer o investidor entrar. Traga números, se está fazendo um pitch, independente para onde seja, mesmo que não fature agora, tem que fazer um cálculo de projeção. Preciso entender dos números, saber o quanto pretende vender, o quanto já vendeu, com esse investimento o que vai fazer com dinheiro que é uma outra coisa. A pergunta que sempre faço quando alguém me pede dinheiro é: ‘você daria dinheiro para alguém que não conhece e que não consegue te explicar o que vai fazer com esse dinheiro?’ Provavelmente, a resposta de qualquer pessoa é não. Por último, é explicar quanto dinheiro precisa e o que fará com cada centavo.

Um investimento de peso é um dos fatores fundamentais para alavancar um negócio. Agora, imagine vender o ‘peixe’ e tentar convencer o investidor de que o seu empreendimento tem futuro. Pode até parecer simples, mas exige jogo de cintura e entendimento em profundidade. Para Monique Evelle, nova ‘tubarão’ do Shark Tank Brasil - reality show com investidores renomados que financiam ideias de empreendimentos -, só vale apostar em um negócio se houver indícios claros de retorno financeiro. Caso contrário, a investidora assume um alto risco de queimar dinheiro.

A empresária, de 28 anos, é a mais nova jurada da 8ª edição da versão brasileira do programa da Sony Channel, que deve ir ao ar em setembro. Mas a pouca idade nada tem a ver com falta de experiência. Há 12 anos no mercado de empreendedorismo inovador, Evelle é fundadora da Inventivos, plataforma de formação para novos empreendedores, e já foi eleita Under 30 pela Forbes - lista que reúne profissionais com menos de 30 anos que se destacaram no mundo dos negócios - e reconhecida como uma das 50 profissionais mais criativas do País pela revista americana Wired.

Ao ‘Estadão’, a ‘tubarão’ contou detalhes do novo desafio, discutiu o futuro do trabalho e como a inteligência artificial vai impactar o empreendedorismo. Durante o programa, a prioridade serão negócios B2B (empresas que vendem produtos para outras empresas) e B2C (vendem serviços diretamente para o cliente final). A empresária ainda reforçou que está em busca de empreendimentos lucrativos, “não de projeto social”. Confira trechos da entrevistas:

Quais serão os fatores determinantes para definir o negócio como um bom investimento?

O nome do programa é Shark Tank Brasil, somos ‘sharks’. As pessoas que me acompanham no mercado precisam entender que sou shark. Eu sou o tubarão. O segundo ponto é que estou atrás de negócio, não de projeto social, não de organizações sem fins lucrativos. Estou atrás de negócios e os negócios precisam dar retorno financeiro. Pode mudar o mundo e ganhar dinheiro ao mesmo tempo? Pode! Mas o ganhar dinheiro ao mesmo tempo precisa existir. Se for só para impactar o mundo para mim não faz sentido.

Um terceiro ponto, não é porque tenho um olhar atento para questões de diversidades que não estou vendo os números da empresa. Às vezes, o empreendedor é isso tudo que acredito, o time é diverso, mas o negócio não para em pé, as contas não fecham e não sabe nem como vai resolver esse problema. Não apenas invisto no negócio, também incluo a minha rede, estou falando de capital intelectual, capital social, como é que ajustamos a rota se for necessário. Viro quase uma funcionária da empresa. A minha bagagem vem muito no lugar do B2B. Já o B2C faz mais sentido quando tem recorrência.

Se o negócio é tão bom como a pessoa está falando, por que está sendo difícil de entender?

Monique Evelle

E quais empreendimentos não valem o seu investimento?

É menos sobre isso que você perguntou, e mais sobre: ‘consigo entender o que empreendedor está explicando sobre o negócio?’. Se o negócio é tão bom como a pessoa está falando, por que está sendo difícil de entender? Sempre me coloco no lugar do consumidor. Apesar disso, pode ser que dê um voto de confiança para outras características do negócio do candidato. Tem que entender se o empreendedor está nervoso ou se o negócio realmente é difícil de explicar. A dificuldade de entender o negócio e de relacionar o nome da empresa com o segmento que atua faz com que tenha mais resistência. Mas se em algum momento o empreendedor ou empreendedora trouxer algo que: “Opa, isso aqui não estava olhando e me conquistou” repenso com mais atenção.

Qual o cenário do empreendedorismo inovador em 2023?

O mercado sabe que estamos passando por um cenário difícil de dinheiro. O inverno das startups é real. Mas agora existe uma percepção (sobre empreendedorismo inovador) do mercado, dos investidores, que sempre concentraram investimento em um único perfil de negócio. Agora os investidores estão recuando. Será que para todos os tipos de negócios e pessoas? Ou para um formato específico de startup, um perfil específico de empreendedor? Essa é a minha preocupação. Não saberei responder agora porque precisamos terminar 2023 para ver se houve investimento em negócios mais plurais, startups que resolvam problemas reais e que funcionem, tenham caixa, margem, seja bruta ou líquida, e que conseguem vender o seu produto. Então, pensando no cenário de negócios e inovação no Brasil, estou sentindo que empresas estão caminhando para negócio de impacto surgindo muito mais por questões de ESG.

Sobre o futuro do trabalho, pesquisas recentes atestam o surgimento e o sumiço de algumas profissões, como é que fica o empreendedorismo em meio às mudanças do mercado de trabalho?

Quem conseguir identificar as dores já consegue criar negócios para resolvê-los. E tem que ser mais ágil. Os comportamentos têm mudado muito rápido, então se você não é atento as mudanças, não consegue criar. Acredito que existe mais possibilidade de criação de negócios dentro do universo de edtech (startups de base tecnológica que desenvolvem soluções para a educação). Pensa em um estudante universitário que está fazendo determinado curso que provavelmente não vai existir quando ele finalizar a graduação. Como é que preparamos essas pessoas? Mas, dentro da sua área de estudo, você pode migrar sua expertise para outros tipos de aplicação. E precisamos de educadores e professores do mercado para explicar como vai aplicar além de ser professor em sala de aula, além de trabalhar, continuar sua carreira acadêmica. Então, se os empreendedores conseguem acompanhar os comportamentos com agilidade, vai conseguir criar negócios que vão resolver dores absurdas. Isso vai mudar o jogo.

A inteligência artificial e as novas tecnologias são aliadas dos empreendedores, sejam em pequenos negócios ou de médias, grandes empresas?

Toda tecnologia pode ser aliada quando você sabe utilizar. A cada década aparece essa discussão: ‘vamos perder os empregos pelas máquinas?’ Claro, hoje algumas empresas começaram o movimento de substituir pessoas pelo ChatGPT. E tem pessoas que utilizam sem fazer revisão do conteúdo o que o chat entrega. Por isso, se utilizarmos a inteligência artificial exclusivamente para obter respostas sem verificação vai ser uma dor de cabeça. Hoje, pensando na sociedade e o uso da internet, independente se empreende ou não, as pessoas afirmam, ninguém quer perguntar. Precisamos aprender a fazer boas perguntas para ter os resultados que gostaríamos.

Gosto de visualizar como um momento da famosa chuva de ideias, o brainstorm. Às vezes, você está engessada, nem todo dia acordamos com pensamento ágil, talvez a inteligência artificial ajude a iniciar essa jornada criativa. Existe uma outra dúvida que precisamos começar a discutir: profissionais, quando criam um conteúdo exclusivamente a partir de inteligências artificiais, seja em texto, imagem ou vídeo, essa criação é sua porque você soube perguntar, é da inteligência artificial que te entregou ou dos dois? Não sabemos a resposta ainda, então isso vai influenciar coisas relacionadas ao mundo dos negócios, sobre propriedade intelectual e patente.

Para a empresária e investidora Monique Evelle, o futuro do trabalho vai exigir mais agilidade dos empreendedores. Ela aposta no crescimento de edtechs brasileiras. Foto: Guido Ferreira/Divulgação Sony Channel

Por falar em negócios diversos, você trabalha há anos com o empreendedorismo fora do eixo Sul e Sudeste. Hoje, o que vem sendo feito para potencializar esses negócios na região Norte e Nordeste?

Uma das maiores dores e erros dos empreendedores é não saber o que fazer com o dinheiro. Precisamos de dinheiro, mas o que faz quando o dinheiro chega? Esse é um ponto importante que leva um negócio a fechar e falir. Tem um lugar de formação que pode ser desde o empreender do zero, as pessoas estão empreendendo há muito tempo, mas não estão trazendo os resultados que querem.

Temos outro lugar importante, o de conexão. Na verdade, como o dinheiro está concentrado no Sudeste fica parecendo que nada que não seja dessa região, funcione. É o contrário, tem funcionado bem porque sabem fazer funcionar. Então, a parte de conexão é muito importante. Preciso não só me conectar com os empreendedores em diferentes estágios, para entender os desafios e como conseguem resolver com mais agilidade, como também conexão com o mercado brasileiro. O terceiro ponto é investimento, como conseguimos entender que precisa de investimento, se não daqui a três anos vai fazer parte de uma estatística de negócios que fecham por ausência de investimento, ausência de gestão e ausência também de saber como colocar em prática esse investimento. Então, são três pontos: formar, conectar e investir. E uma outra coisa é: raramente aparece fundos destinados para as regiões Norte e Nordeste. A Inventivos têm um ecossistema de parceiros que apoiam as nossas startups e empresas investidas. Temos parceiros que auxiliam nessa segunda etapa, um deles é a Lighthouse que criou um fundo de R$ 100 milhões de reais para essas regiões.

Qual dica deixa para quem empreende na internet e para aqueles que desejam participar de futuras seleções do Shark Tank Brasil?

É raro o empreendedor já começar um pitch fazendo com que entendam que dor está resolvendo. Talvez seja incrível para você, não para os clientes e para grande parte das pessoas. Quero entender que dor está realmente resolvendo. Desde uma sandália ou um sapato, mas se não tem uma dor para um público específico, provavelmente, não vamos conseguir enxergar se resolve ou não. Por que é para quem? Esse é um outro problema, o público. Qual é a persona? Está direcionando para quem? Dessas 20 bilhões de pessoas que passam por isso, quantas pessoas quer atingir para resolver esse problema?

Por mais que a história de vida da pessoa seja incrível, não é isso que vai fazer o investidor entrar. Traga números, se está fazendo um pitch, independente para onde seja, mesmo que não fature agora, tem que fazer um cálculo de projeção. Preciso entender dos números, saber o quanto pretende vender, o quanto já vendeu, com esse investimento o que vai fazer com dinheiro que é uma outra coisa. A pergunta que sempre faço quando alguém me pede dinheiro é: ‘você daria dinheiro para alguém que não conhece e que não consegue te explicar o que vai fazer com esse dinheiro?’ Provavelmente, a resposta de qualquer pessoa é não. Por último, é explicar quanto dinheiro precisa e o que fará com cada centavo.

Um investimento de peso é um dos fatores fundamentais para alavancar um negócio. Agora, imagine vender o ‘peixe’ e tentar convencer o investidor de que o seu empreendimento tem futuro. Pode até parecer simples, mas exige jogo de cintura e entendimento em profundidade. Para Monique Evelle, nova ‘tubarão’ do Shark Tank Brasil - reality show com investidores renomados que financiam ideias de empreendimentos -, só vale apostar em um negócio se houver indícios claros de retorno financeiro. Caso contrário, a investidora assume um alto risco de queimar dinheiro.

A empresária, de 28 anos, é a mais nova jurada da 8ª edição da versão brasileira do programa da Sony Channel, que deve ir ao ar em setembro. Mas a pouca idade nada tem a ver com falta de experiência. Há 12 anos no mercado de empreendedorismo inovador, Evelle é fundadora da Inventivos, plataforma de formação para novos empreendedores, e já foi eleita Under 30 pela Forbes - lista que reúne profissionais com menos de 30 anos que se destacaram no mundo dos negócios - e reconhecida como uma das 50 profissionais mais criativas do País pela revista americana Wired.

Ao ‘Estadão’, a ‘tubarão’ contou detalhes do novo desafio, discutiu o futuro do trabalho e como a inteligência artificial vai impactar o empreendedorismo. Durante o programa, a prioridade serão negócios B2B (empresas que vendem produtos para outras empresas) e B2C (vendem serviços diretamente para o cliente final). A empresária ainda reforçou que está em busca de empreendimentos lucrativos, “não de projeto social”. Confira trechos da entrevistas:

Quais serão os fatores determinantes para definir o negócio como um bom investimento?

O nome do programa é Shark Tank Brasil, somos ‘sharks’. As pessoas que me acompanham no mercado precisam entender que sou shark. Eu sou o tubarão. O segundo ponto é que estou atrás de negócio, não de projeto social, não de organizações sem fins lucrativos. Estou atrás de negócios e os negócios precisam dar retorno financeiro. Pode mudar o mundo e ganhar dinheiro ao mesmo tempo? Pode! Mas o ganhar dinheiro ao mesmo tempo precisa existir. Se for só para impactar o mundo para mim não faz sentido.

Um terceiro ponto, não é porque tenho um olhar atento para questões de diversidades que não estou vendo os números da empresa. Às vezes, o empreendedor é isso tudo que acredito, o time é diverso, mas o negócio não para em pé, as contas não fecham e não sabe nem como vai resolver esse problema. Não apenas invisto no negócio, também incluo a minha rede, estou falando de capital intelectual, capital social, como é que ajustamos a rota se for necessário. Viro quase uma funcionária da empresa. A minha bagagem vem muito no lugar do B2B. Já o B2C faz mais sentido quando tem recorrência.

Se o negócio é tão bom como a pessoa está falando, por que está sendo difícil de entender?

Monique Evelle

E quais empreendimentos não valem o seu investimento?

É menos sobre isso que você perguntou, e mais sobre: ‘consigo entender o que empreendedor está explicando sobre o negócio?’. Se o negócio é tão bom como a pessoa está falando, por que está sendo difícil de entender? Sempre me coloco no lugar do consumidor. Apesar disso, pode ser que dê um voto de confiança para outras características do negócio do candidato. Tem que entender se o empreendedor está nervoso ou se o negócio realmente é difícil de explicar. A dificuldade de entender o negócio e de relacionar o nome da empresa com o segmento que atua faz com que tenha mais resistência. Mas se em algum momento o empreendedor ou empreendedora trouxer algo que: “Opa, isso aqui não estava olhando e me conquistou” repenso com mais atenção.

Qual o cenário do empreendedorismo inovador em 2023?

O mercado sabe que estamos passando por um cenário difícil de dinheiro. O inverno das startups é real. Mas agora existe uma percepção (sobre empreendedorismo inovador) do mercado, dos investidores, que sempre concentraram investimento em um único perfil de negócio. Agora os investidores estão recuando. Será que para todos os tipos de negócios e pessoas? Ou para um formato específico de startup, um perfil específico de empreendedor? Essa é a minha preocupação. Não saberei responder agora porque precisamos terminar 2023 para ver se houve investimento em negócios mais plurais, startups que resolvam problemas reais e que funcionem, tenham caixa, margem, seja bruta ou líquida, e que conseguem vender o seu produto. Então, pensando no cenário de negócios e inovação no Brasil, estou sentindo que empresas estão caminhando para negócio de impacto surgindo muito mais por questões de ESG.

Sobre o futuro do trabalho, pesquisas recentes atestam o surgimento e o sumiço de algumas profissões, como é que fica o empreendedorismo em meio às mudanças do mercado de trabalho?

Quem conseguir identificar as dores já consegue criar negócios para resolvê-los. E tem que ser mais ágil. Os comportamentos têm mudado muito rápido, então se você não é atento as mudanças, não consegue criar. Acredito que existe mais possibilidade de criação de negócios dentro do universo de edtech (startups de base tecnológica que desenvolvem soluções para a educação). Pensa em um estudante universitário que está fazendo determinado curso que provavelmente não vai existir quando ele finalizar a graduação. Como é que preparamos essas pessoas? Mas, dentro da sua área de estudo, você pode migrar sua expertise para outros tipos de aplicação. E precisamos de educadores e professores do mercado para explicar como vai aplicar além de ser professor em sala de aula, além de trabalhar, continuar sua carreira acadêmica. Então, se os empreendedores conseguem acompanhar os comportamentos com agilidade, vai conseguir criar negócios que vão resolver dores absurdas. Isso vai mudar o jogo.

A inteligência artificial e as novas tecnologias são aliadas dos empreendedores, sejam em pequenos negócios ou de médias, grandes empresas?

Toda tecnologia pode ser aliada quando você sabe utilizar. A cada década aparece essa discussão: ‘vamos perder os empregos pelas máquinas?’ Claro, hoje algumas empresas começaram o movimento de substituir pessoas pelo ChatGPT. E tem pessoas que utilizam sem fazer revisão do conteúdo o que o chat entrega. Por isso, se utilizarmos a inteligência artificial exclusivamente para obter respostas sem verificação vai ser uma dor de cabeça. Hoje, pensando na sociedade e o uso da internet, independente se empreende ou não, as pessoas afirmam, ninguém quer perguntar. Precisamos aprender a fazer boas perguntas para ter os resultados que gostaríamos.

Gosto de visualizar como um momento da famosa chuva de ideias, o brainstorm. Às vezes, você está engessada, nem todo dia acordamos com pensamento ágil, talvez a inteligência artificial ajude a iniciar essa jornada criativa. Existe uma outra dúvida que precisamos começar a discutir: profissionais, quando criam um conteúdo exclusivamente a partir de inteligências artificiais, seja em texto, imagem ou vídeo, essa criação é sua porque você soube perguntar, é da inteligência artificial que te entregou ou dos dois? Não sabemos a resposta ainda, então isso vai influenciar coisas relacionadas ao mundo dos negócios, sobre propriedade intelectual e patente.

Para a empresária e investidora Monique Evelle, o futuro do trabalho vai exigir mais agilidade dos empreendedores. Ela aposta no crescimento de edtechs brasileiras. Foto: Guido Ferreira/Divulgação Sony Channel

Por falar em negócios diversos, você trabalha há anos com o empreendedorismo fora do eixo Sul e Sudeste. Hoje, o que vem sendo feito para potencializar esses negócios na região Norte e Nordeste?

Uma das maiores dores e erros dos empreendedores é não saber o que fazer com o dinheiro. Precisamos de dinheiro, mas o que faz quando o dinheiro chega? Esse é um ponto importante que leva um negócio a fechar e falir. Tem um lugar de formação que pode ser desde o empreender do zero, as pessoas estão empreendendo há muito tempo, mas não estão trazendo os resultados que querem.

Temos outro lugar importante, o de conexão. Na verdade, como o dinheiro está concentrado no Sudeste fica parecendo que nada que não seja dessa região, funcione. É o contrário, tem funcionado bem porque sabem fazer funcionar. Então, a parte de conexão é muito importante. Preciso não só me conectar com os empreendedores em diferentes estágios, para entender os desafios e como conseguem resolver com mais agilidade, como também conexão com o mercado brasileiro. O terceiro ponto é investimento, como conseguimos entender que precisa de investimento, se não daqui a três anos vai fazer parte de uma estatística de negócios que fecham por ausência de investimento, ausência de gestão e ausência também de saber como colocar em prática esse investimento. Então, são três pontos: formar, conectar e investir. E uma outra coisa é: raramente aparece fundos destinados para as regiões Norte e Nordeste. A Inventivos têm um ecossistema de parceiros que apoiam as nossas startups e empresas investidas. Temos parceiros que auxiliam nessa segunda etapa, um deles é a Lighthouse que criou um fundo de R$ 100 milhões de reais para essas regiões.

Qual dica deixa para quem empreende na internet e para aqueles que desejam participar de futuras seleções do Shark Tank Brasil?

É raro o empreendedor já começar um pitch fazendo com que entendam que dor está resolvendo. Talvez seja incrível para você, não para os clientes e para grande parte das pessoas. Quero entender que dor está realmente resolvendo. Desde uma sandália ou um sapato, mas se não tem uma dor para um público específico, provavelmente, não vamos conseguir enxergar se resolve ou não. Por que é para quem? Esse é um outro problema, o público. Qual é a persona? Está direcionando para quem? Dessas 20 bilhões de pessoas que passam por isso, quantas pessoas quer atingir para resolver esse problema?

Por mais que a história de vida da pessoa seja incrível, não é isso que vai fazer o investidor entrar. Traga números, se está fazendo um pitch, independente para onde seja, mesmo que não fature agora, tem que fazer um cálculo de projeção. Preciso entender dos números, saber o quanto pretende vender, o quanto já vendeu, com esse investimento o que vai fazer com dinheiro que é uma outra coisa. A pergunta que sempre faço quando alguém me pede dinheiro é: ‘você daria dinheiro para alguém que não conhece e que não consegue te explicar o que vai fazer com esse dinheiro?’ Provavelmente, a resposta de qualquer pessoa é não. Por último, é explicar quanto dinheiro precisa e o que fará com cada centavo.

Um investimento de peso é um dos fatores fundamentais para alavancar um negócio. Agora, imagine vender o ‘peixe’ e tentar convencer o investidor de que o seu empreendimento tem futuro. Pode até parecer simples, mas exige jogo de cintura e entendimento em profundidade. Para Monique Evelle, nova ‘tubarão’ do Shark Tank Brasil - reality show com investidores renomados que financiam ideias de empreendimentos -, só vale apostar em um negócio se houver indícios claros de retorno financeiro. Caso contrário, a investidora assume um alto risco de queimar dinheiro.

A empresária, de 28 anos, é a mais nova jurada da 8ª edição da versão brasileira do programa da Sony Channel, que deve ir ao ar em setembro. Mas a pouca idade nada tem a ver com falta de experiência. Há 12 anos no mercado de empreendedorismo inovador, Evelle é fundadora da Inventivos, plataforma de formação para novos empreendedores, e já foi eleita Under 30 pela Forbes - lista que reúne profissionais com menos de 30 anos que se destacaram no mundo dos negócios - e reconhecida como uma das 50 profissionais mais criativas do País pela revista americana Wired.

Ao ‘Estadão’, a ‘tubarão’ contou detalhes do novo desafio, discutiu o futuro do trabalho e como a inteligência artificial vai impactar o empreendedorismo. Durante o programa, a prioridade serão negócios B2B (empresas que vendem produtos para outras empresas) e B2C (vendem serviços diretamente para o cliente final). A empresária ainda reforçou que está em busca de empreendimentos lucrativos, “não de projeto social”. Confira trechos da entrevistas:

Quais serão os fatores determinantes para definir o negócio como um bom investimento?

O nome do programa é Shark Tank Brasil, somos ‘sharks’. As pessoas que me acompanham no mercado precisam entender que sou shark. Eu sou o tubarão. O segundo ponto é que estou atrás de negócio, não de projeto social, não de organizações sem fins lucrativos. Estou atrás de negócios e os negócios precisam dar retorno financeiro. Pode mudar o mundo e ganhar dinheiro ao mesmo tempo? Pode! Mas o ganhar dinheiro ao mesmo tempo precisa existir. Se for só para impactar o mundo para mim não faz sentido.

Um terceiro ponto, não é porque tenho um olhar atento para questões de diversidades que não estou vendo os números da empresa. Às vezes, o empreendedor é isso tudo que acredito, o time é diverso, mas o negócio não para em pé, as contas não fecham e não sabe nem como vai resolver esse problema. Não apenas invisto no negócio, também incluo a minha rede, estou falando de capital intelectual, capital social, como é que ajustamos a rota se for necessário. Viro quase uma funcionária da empresa. A minha bagagem vem muito no lugar do B2B. Já o B2C faz mais sentido quando tem recorrência.

Se o negócio é tão bom como a pessoa está falando, por que está sendo difícil de entender?

Monique Evelle

E quais empreendimentos não valem o seu investimento?

É menos sobre isso que você perguntou, e mais sobre: ‘consigo entender o que empreendedor está explicando sobre o negócio?’. Se o negócio é tão bom como a pessoa está falando, por que está sendo difícil de entender? Sempre me coloco no lugar do consumidor. Apesar disso, pode ser que dê um voto de confiança para outras características do negócio do candidato. Tem que entender se o empreendedor está nervoso ou se o negócio realmente é difícil de explicar. A dificuldade de entender o negócio e de relacionar o nome da empresa com o segmento que atua faz com que tenha mais resistência. Mas se em algum momento o empreendedor ou empreendedora trouxer algo que: “Opa, isso aqui não estava olhando e me conquistou” repenso com mais atenção.

Qual o cenário do empreendedorismo inovador em 2023?

O mercado sabe que estamos passando por um cenário difícil de dinheiro. O inverno das startups é real. Mas agora existe uma percepção (sobre empreendedorismo inovador) do mercado, dos investidores, que sempre concentraram investimento em um único perfil de negócio. Agora os investidores estão recuando. Será que para todos os tipos de negócios e pessoas? Ou para um formato específico de startup, um perfil específico de empreendedor? Essa é a minha preocupação. Não saberei responder agora porque precisamos terminar 2023 para ver se houve investimento em negócios mais plurais, startups que resolvam problemas reais e que funcionem, tenham caixa, margem, seja bruta ou líquida, e que conseguem vender o seu produto. Então, pensando no cenário de negócios e inovação no Brasil, estou sentindo que empresas estão caminhando para negócio de impacto surgindo muito mais por questões de ESG.

Sobre o futuro do trabalho, pesquisas recentes atestam o surgimento e o sumiço de algumas profissões, como é que fica o empreendedorismo em meio às mudanças do mercado de trabalho?

Quem conseguir identificar as dores já consegue criar negócios para resolvê-los. E tem que ser mais ágil. Os comportamentos têm mudado muito rápido, então se você não é atento as mudanças, não consegue criar. Acredito que existe mais possibilidade de criação de negócios dentro do universo de edtech (startups de base tecnológica que desenvolvem soluções para a educação). Pensa em um estudante universitário que está fazendo determinado curso que provavelmente não vai existir quando ele finalizar a graduação. Como é que preparamos essas pessoas? Mas, dentro da sua área de estudo, você pode migrar sua expertise para outros tipos de aplicação. E precisamos de educadores e professores do mercado para explicar como vai aplicar além de ser professor em sala de aula, além de trabalhar, continuar sua carreira acadêmica. Então, se os empreendedores conseguem acompanhar os comportamentos com agilidade, vai conseguir criar negócios que vão resolver dores absurdas. Isso vai mudar o jogo.

A inteligência artificial e as novas tecnologias são aliadas dos empreendedores, sejam em pequenos negócios ou de médias, grandes empresas?

Toda tecnologia pode ser aliada quando você sabe utilizar. A cada década aparece essa discussão: ‘vamos perder os empregos pelas máquinas?’ Claro, hoje algumas empresas começaram o movimento de substituir pessoas pelo ChatGPT. E tem pessoas que utilizam sem fazer revisão do conteúdo o que o chat entrega. Por isso, se utilizarmos a inteligência artificial exclusivamente para obter respostas sem verificação vai ser uma dor de cabeça. Hoje, pensando na sociedade e o uso da internet, independente se empreende ou não, as pessoas afirmam, ninguém quer perguntar. Precisamos aprender a fazer boas perguntas para ter os resultados que gostaríamos.

Gosto de visualizar como um momento da famosa chuva de ideias, o brainstorm. Às vezes, você está engessada, nem todo dia acordamos com pensamento ágil, talvez a inteligência artificial ajude a iniciar essa jornada criativa. Existe uma outra dúvida que precisamos começar a discutir: profissionais, quando criam um conteúdo exclusivamente a partir de inteligências artificiais, seja em texto, imagem ou vídeo, essa criação é sua porque você soube perguntar, é da inteligência artificial que te entregou ou dos dois? Não sabemos a resposta ainda, então isso vai influenciar coisas relacionadas ao mundo dos negócios, sobre propriedade intelectual e patente.

Para a empresária e investidora Monique Evelle, o futuro do trabalho vai exigir mais agilidade dos empreendedores. Ela aposta no crescimento de edtechs brasileiras. Foto: Guido Ferreira/Divulgação Sony Channel

Por falar em negócios diversos, você trabalha há anos com o empreendedorismo fora do eixo Sul e Sudeste. Hoje, o que vem sendo feito para potencializar esses negócios na região Norte e Nordeste?

Uma das maiores dores e erros dos empreendedores é não saber o que fazer com o dinheiro. Precisamos de dinheiro, mas o que faz quando o dinheiro chega? Esse é um ponto importante que leva um negócio a fechar e falir. Tem um lugar de formação que pode ser desde o empreender do zero, as pessoas estão empreendendo há muito tempo, mas não estão trazendo os resultados que querem.

Temos outro lugar importante, o de conexão. Na verdade, como o dinheiro está concentrado no Sudeste fica parecendo que nada que não seja dessa região, funcione. É o contrário, tem funcionado bem porque sabem fazer funcionar. Então, a parte de conexão é muito importante. Preciso não só me conectar com os empreendedores em diferentes estágios, para entender os desafios e como conseguem resolver com mais agilidade, como também conexão com o mercado brasileiro. O terceiro ponto é investimento, como conseguimos entender que precisa de investimento, se não daqui a três anos vai fazer parte de uma estatística de negócios que fecham por ausência de investimento, ausência de gestão e ausência também de saber como colocar em prática esse investimento. Então, são três pontos: formar, conectar e investir. E uma outra coisa é: raramente aparece fundos destinados para as regiões Norte e Nordeste. A Inventivos têm um ecossistema de parceiros que apoiam as nossas startups e empresas investidas. Temos parceiros que auxiliam nessa segunda etapa, um deles é a Lighthouse que criou um fundo de R$ 100 milhões de reais para essas regiões.

Qual dica deixa para quem empreende na internet e para aqueles que desejam participar de futuras seleções do Shark Tank Brasil?

É raro o empreendedor já começar um pitch fazendo com que entendam que dor está resolvendo. Talvez seja incrível para você, não para os clientes e para grande parte das pessoas. Quero entender que dor está realmente resolvendo. Desde uma sandália ou um sapato, mas se não tem uma dor para um público específico, provavelmente, não vamos conseguir enxergar se resolve ou não. Por que é para quem? Esse é um outro problema, o público. Qual é a persona? Está direcionando para quem? Dessas 20 bilhões de pessoas que passam por isso, quantas pessoas quer atingir para resolver esse problema?

Por mais que a história de vida da pessoa seja incrível, não é isso que vai fazer o investidor entrar. Traga números, se está fazendo um pitch, independente para onde seja, mesmo que não fature agora, tem que fazer um cálculo de projeção. Preciso entender dos números, saber o quanto pretende vender, o quanto já vendeu, com esse investimento o que vai fazer com dinheiro que é uma outra coisa. A pergunta que sempre faço quando alguém me pede dinheiro é: ‘você daria dinheiro para alguém que não conhece e que não consegue te explicar o que vai fazer com esse dinheiro?’ Provavelmente, a resposta de qualquer pessoa é não. Por último, é explicar quanto dinheiro precisa e o que fará com cada centavo.

Entrevista por Jayanne Rodrigues

Formada em jornalismo pela Universidade do Estado da Bahia, é repórter de Carreiras. Cobre futuro do trabalho, tendências no mundo corporativo, lideranças e outros assuntos que impactam diretamente a cultura de trabalho no Brasil. No Estadão, também atuou como plantonista da madrugada, cobriu judiciário e tem passagem pela home page do jornal.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.