Os serviços de saúde particulares e públicos do Brasil nunca estiveram em tanta evidência como neste momento de pandemia causada pelo novo coronavírus. E com essa crise startups do segmento, conhecidas como healthtechs, colocam seus serviços à disposição da população com custos mais baixos ou, em alguns casos, até de graça. Para os fundadores, o objetivo é contribuir para minimizar os efeitos da doença. A atitude não gera apenas impacto social, mas também destaca temas importantes para o setor, como mostrar que é possível aderir a plataformas online para serviços de cuidadores e terapia, por exemplo, ou mesmo contribui para as discussões sobre a regulamentação da telemedicina no País.
Em entrevista coletiva na última quarta-feira, 18, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que disponibilizará um sistema de teleatendimento para responder dúvidas e dar orientações sobre o novo coronavírus. O ministro ainda afirmou que o governo pretende “empregar a telemedicina de médico para médico”. Já na quinta-feira, 19, o Conselho Federal de Medicina (CFM) encaminhou um ofício ao ministro em que informa sua decisão de reconhecer o uso da telemedicina no País. A entidade afirma que a decisão vale em caráter excepcional enquanto durar o combate à epidemia. A resolução 2.227/2018, que regulamenta a telemedicina no Brasil, foi revogada pelo Conselho Federal de Medicina em fevereiro de 2019.
Para startups de saúde e bem-estar ainda em processo de consolidação ou escala, o momento é oportuno. É o caso da Mais Vívida, empresa que promove a conexão entre jovens e idosos por meio de geolocalização. A empresa, criada em junho de 2019, trabalha essencialmente com três frentes: inserção de idosos no mundo da tecnologia (como ensinar a usar celular, aplicativos, redes sociais, fazer chamadas de vídeo), companhia para fazer compras ou ida a consultas e “manter a mente ativa”, com jogos de todos os tipos. A empresa trabalha com planos mensais (70% dos clientes da base) ou pela contratação da hora, que custa R$ 60.
“Com a pandemia, pensei: nossa meu negócio acabou”, conta Viviane Palladino, sócia-fundadora da Mais Vívida. Como os idosos são o grupo de risco da covid-19, a saída foi continuar a atendê-los, mas de forma remota. “Muitos idosos moram sozinhos ou terão de ficar isolados da família. Por isso, comecei uma jornada gratuita de atendimento por meio de voluntários”, conta.
Agora, o atendimento é remoto. Por meio do hangout, plataforma de comunicação em vídeo do Google, os voluntários vão ajudar na instalação de aplicativos do plano de saúde e informações sobre como se prevenir contra o novo vírus, compra de suprimentos (supermercado, farmácia, entre outros), para que os idosos não saiam de casa.
“Estamos em busca de parceiros na questão da compra e entrega de suprimentos. Como esse não é o nosso modelo de negócio, é a operação mais difícil”, completa Viviane. Os voluntários ainda vão realizar chamadas de vídeo, para fazer companhia virtual aos idosos. A operação será na cidade do Rio de Janeiro e em São Paulo.
Também de forma gratuita, a Labi Exames, startup de realização e agendamento de exames de análises clínicas fundada em 2017, disponibilizou metade dos atendimentos em domicílio por dia para idosos acima de 80 anos que precisam fazer o exame para a covid-19 nos próximos 15 dias.
“Ao longo do último final de semana, eu e meus sócios ficamos pensando como poderíamos contribuir com a crise causada pelo coronavírus. Então, das 20 coletas em domicílio, decidimos disponibilizar 10 de forma gratuita para esse público. Sabemos que pode ser uma contribuição pequena, mas para nós, que não somos um grande laboratório, é o que pode ser feito agora”, conta Marcelo Barboza, um dos fundadores do Labi Exames.
Com 15 unidades na cidade de São Paulo e uma plataforma online, os valores para um hemograma, por exemplo, custam no máximo R$ 10 (caso seja agendado pelo site, o valor diminui). “Três quartos da população do Brasil não têm plano de saúde, e poucos têm acesso a exames. Tentamos trazer impacto social para a saúde”, completa Barboza.
E em tempos de isolamento social para conter a pandemia, os cuidados com a saúde mental precisam ser redobrados ou, no caso de muitos, iniciados. A Vittude, plataforma de terapia online criada em 2016, agiu rápido para trazer sua contribuição para os clientes e para os psicólogos. Assim que foram confirmados os primeiros casos no País, a plataforma passou a sugerir que os psicólogos cadastrados ainda com atendimentos presenciais agendados passassem a fazê-los apenas de forma online, sem custo adicional.
Com o avanço exponencial da doença, o próprio Conselho Regional de Psicologia de São Paulo decidiu suspender durante a pandemia o cadastro no e-Psi, obrigatório para a prestação de serviços online. O conselho já havia registrado 2 mil solicitações.
“Com essa resolução, começamos a trabalhar ontem em uma solução para que os psicólogos possam usar a nossa plataforma sem custo. Acabamos de lançar o plano trimestral gratuito, pois sabemos que Whatsapp, Skype e outros sistemas não atendem requisitos de segurança da informação. O conselho não se manifestou sobre segurança da informação, mas o código de ética do profissional deixa claro que é responsabilidade dele escolher um meio seguro para atender o paciente de forma online”, conta Tatiana Pimenta, fundadora da Vittude.
De acordo com ela, no período de uma semana (da semana passada para cá) cresceu 285% o número de cadastros de psicólogos na plataforma. Do lado dos clientes, aumentou a procura por planos corporativos, em que a empresa oferece a solução da Vittude como um benefício ao funcionário. Para empresas que já contrataram a Vittude, o número de ativações de colaboradores para fazer terapia aumentou de 11% para 15%.
Além do serviço em si, Tatiana ainda conta que estão produzindo conteúdos sobre o novo coronavírus para o site e as redes sociais, com lives diárias sempre às 20h. “Precisamos ajudar o psicólogo que, do dia para a noite, se viu obrigado a atender online e nunca havia atuado assim”, diz. O site da Vittude registrou a marca de 2 milhões de visitantes únicos desde o início da pandemia. O tema ansiedade é o mais buscado.
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